Hoje recuperamos alguns dos momentos marcantes das suas gravações históricas, através da sua visão por outros músicos e produtores. A arte da remistura pode ser uma heresia para os mais puristas, na sua liberdade de re-utilização e reciclagem de elementos registados num determinado arranjo musical clássico, para cumprir a maioria das vezes uma única função: a satisfação dos corpos e das mentes na pista de dança.
Se o mundo pula e avança com esta transformação da realidade desenvolvida a partir do estúdio por um novo protagonista da mudança, o produtor, provavelmente nunca o saberemos. Mas a esta dialéctica própria da arte da remistura, devemos sem dúvida alguns dos melhores, mais divertidos e surpreendentes momentos de novas sínteses musicais proporcionadas pela música de dança.
Celebremos então Ella Fitzgerald uma das maiores vozes de sempre, transformada em instrumento para novas aventuras electrónicas das novas gerações, impensáveis aquando do seu nascimento há 100 anos.
Da Austrália, o duo de produtores Tiki Two criou esta pérola editada em rodela de vinil de sete polegadas, onde Ella e Duke Ellington aparecem envolvidos por uma subtil batida hip hop que, a esta distância, parece fazer parte do original clássico de Juan Tizol, Caravan de 1952.
Quase tão clássica como a versão original, a remistura dos ingleses Rockers Hi-Fi para a versão que Ella gravou em 1968 de Sunshine Of Your Love dos Cream, conseguiu o impensável – trazer para as pistas de dança daquele ano de 2000 a voz de Ella Fitzgerald, o jazz, o dub e um clássico do rock do grupo de Eric Clapton. Um improvável casamento perfeito, apenas possível através da magia do estúdio.
Delicioso! É tudo o que podemos dizer desta remistura do produtor norte-americano Ticklah, de Brooklyn, para uma gravação original de 1946 de Ella Fitzgerald com Louis Jordan, onde o jazz e o calypso do original encontram o dub do produtor por detrás de projectos como Sharon Jones & Dap Kings, Easy Star All Stars ou Antibalas.
K-os, é um dos valores seguros da nova geração do hip hop e uma das grandes figuras do movimento na actualidade. Em 2015 editou este single de sabor clássico a anos 90, onde instrumentos e uma batida simples se juntam ao sample da voz de Ella Fitzgerald, enquanto o rapper de Toronto, no Canadá, discorre sobre a necessidade de nos mantermos verdadeiros, fiéis à nossa natureza e convicções, de amarmos e respeitarmos a música e aquilo que fazemos.
Transformar um clássico de Cole Porter, gravado na voz de Ella Fitzgerald e acompanhada por um grupo de jazz, numa peça de folk contemplativo e de laivos psicadélicos, pode parecer bastante absurdo. Mas nas mãos de Jason Swinscoe e da sua Cinematic Orchestra, esta transformação de I get a Kick Out Of You soa tão natural como um respirar.
Música que parece retirada de um sonho, com Ella Fitzgerald como protagonista e a voz da «Primeira Dama da Canção» a sussurar-nos debaixo das estrelas. Momentos só possíveis através da magia do estúdio e da arte destes mestres da electrónica apaixonada pelo jazz e a música para filmes.
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