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Empresas «concedem crédito em troca da casa»

Famílias endividadas vítimas de esquema fraudulento

Este esquema envolve empresas que compram casas pelo valor das dívidas das famílias. Nos casos mais graves, os proprietários podem ficar sem a sua casa.

Uma rede de empresas leva clientes a assinar um contrato de compra e venda do seu imóvel em troca do valor das suas dívidas
Créditos / CC BY-SA 3.0

Foi hoje denunciado pelo jornal Público um «esquema complexo» e fraudulento protagonizado por «uma rede de empresas, muitas sem morada ou registo, que actuam através da Internet, de anúncios ou publicidade inserida nos jornais ou nas caixas do correio, e que se fazem passar por intermediários financeiros». No limite, o esquema leva a que pessoas endividadas possam perder a própria casa.

Segundo apurou o diário, geralmente estas empresas atraem as famílias endividadas afirmando, por exemplo, que concedem crédito urgente em 48 horas. É dito às famílias endividadas que há um investidor privado que irá emprestar o dinheiro necessário, sendo que a garantia do empréstimo acaba por ser a assinatura de um contrato de compra e venda do seu imóvel, pelo valor das dívidas.

O dinheiro da venda não chega a quem está endividado, ficando «supostamente» no intermediário financeiro, que assume o pagamento das dívidas e cobra «uma comissão de alguns milhares de euros». Aos ex-proprietários do imóvel é apresentado um outro contrato, de arrendamento ou comodato (empréstimo de imóvel), «que lhe vai permitir permanecer na casa pelo prazo estipulado, habitualmente entre um e dois anos».

Com este esquema, muitos clientes não conseguem pagar e são forçados a sair de casa e aos que resistem «é-lhes cortada a água, a electricidade, o gás, e feitas outras ameaças», revela o Público

O cliente também assume o compromisso de recomprar a casa «num determinado prazo e por um valor significativamente mais alto face ao valor de venda», chegando a subir mais de 30%. É definido um valor mensal, «propositadamente elevado, acima dos valores das reformas ou do rendimento disponível, a título de renda ou de antecipação do valor da recompra da casa».

Neste contrato fica ainda definido que, ao se verificarem-se três incumprimentos na mensalidade, mesmo que parciais, o cliente «tem que fazer a recompra imediata da casa ou perde-a definitivamente». Com este esquema, muitos clientes não conseguem pagar e são forçados a sair de casa e aos que resistem «é-lhes cortada a água, a electricidade, o gás, e feitas outras ameaças», revela o Público, com base em testemunhos anónimos.

O jornal avança que nesta «rede de empresas», muitas mudam de nome com frequência. Acrescenta que «os primeiros encontros podem decorrer na casa do proprietário, o que lhes facilita a avaliação do imóvel e da situação dos endividados». Entre as empresas referenciadas nas queixas a que o diário teve acesso, está a Rede Reúne, com actividade no Porto, que negou o seu envolvimento, a Multibiz, «que funciona, ou já funcionou, no mesmo piso da morada da Rede Reúne», ou a Credipoupa, «com morada na mesma sala da Multibiz».

A Procuradoria-Geral da República esclareceu que as vítimas podem apresentar queixa em qualquer departamento do Ministério Público (MP), sem ser necessária a contratação de advogado, sendo o próprio MP a abrir um inquérito-crime contra a entidade financeira. O Banco de Portugal apelou a que lhe sejam denunciadas as entidades que não estão habilitadas a conceder crédito.

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