A informação sobre a tentativa de golpe de Estado que alguns sectores das Forças Armadas turcas levaram a cabo na noite de sexta-feira ainda são muito parciais, o que dificulta a leitura dos acontecimentos dessa noite e dos dias que se seguiram.
O desfecho e os recentes desenvolvimentos, falando-se já na reintrodução da pena de morte, com a prisão de vários milhares de militares, magistrados ou juízes e o afastamento de elementos das forças policiais, suscitam grande preocupação em relação aos direitos do povo turco e um alerta para a tomada de medidas antidemocráticas, de personalização do poder e de ataque às liberdades.
A tentativa terá sido conduzida pelos partidários do clérigo turco Fethullah Gülen, um ex-aliado do presidente Erdogan, com apoio de outros sectores nas Forças Armadas, mas ainda não é claro quem promoveu e precipitou o golpe, nem quais as suas reais intenções. No círculo presidencial já há quem aponte o dedo a sectores norte-americanos.
A Turquia é membro da NATO, tendo desempenhado um papel central no processo de agressão à Síria, no apoio ao Estado Islâmico e na pilhagem a vários países do Médio Oriente. As autoridades turcas vêm reprimindo a minoria curda, enquanto mantêm a ocupação ilegal de parte de um país-membro da União Europeia (UE) – Chipre.
Enquanto o faz, a Turquia negoceia a entrada na UE, com quem assinou um acordo para a repatriação de refugiados. Uma tragédia de que é uma das principais responsáveis, através da participação, directa e indirecta, em sucessivas guerras de agressão a países vizinhos.
A verdade é que, recentemente, surgiram gestos de reaproximação entre as autoridades turcas e a Rússia e outros países vizinhos, o que não terá caído bem junto dos oficiais mais próximos do alinhamento com a Aliança Atlântica e os EUA. Após as purgas nas Forças Armadas, o peso dos oficiais com reticências em relação à NATO e defensores de uma agenda própria turca cresceu, o que não deve agradar aos aliados, Por outro lado, o ensaio de golpe pode ser visto como um aviso aos que pensarem em desviar-se das orientações norte-americanas.
Num momento em que da Turquia chegam relatos de colapso no exército e na justiça, Erdogan mantém na polícia um importante aliado. Continuamos sem saber ao certo quais os objectivos últimos do golpe, quem o provocou e com que intenções, nem qual o alcance dos vários conflitos e contradições em causa – dentro e fora da Turquia.
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