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Ligeiro decréscimo no comércio mundial de armas, mas com grandes variações

Entre 2017 e 2021, países da Europa, da Ásia Oriental e da Oceânia aumentaram substancialmente as importações de armas, por comparação com o quinquénio anterior. Os EUA reforçam posição de maior exportador.

Um trabalhador do aeroporto internacional de Saná segura, no dia 21 de Dezembro, o que afirma ser o fragmento de um míssil, no interior de um edifício atingido pelos bombardeamentos da coligação liderada pelos sauditas 
Créditos / Middle East Eye

Os dados sobre o comércio mundial de armas foram actualizados esta segunda-feira pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), que registou um decréscimo de 4,6% neste tipo de comércio entre 2012-2016 e 2017-2021.

No entanto, o organismo alerta que esta descida «mascara» grandes variações a nível global, uma vez que, se a América do Sul registou o nível mais baixo de importações de armamento em 50 anos, noutras regiões se verificou um aumento entre os dois períodos de cinco anos referidos, nomeadamente no Médio Oriente (+2,8%), na Europa (+19%), na Ásia Oriental (+20%) e na Oceânia (+59%).

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Torquemadas do pensamento

A confraria transeuropeia de polícias de opinião deu finalmente corpo à assustadora profecia de George Orwell e criou o Ministério da Verdade.

Créditos / Bill Kerr Flickr (CC BY-SA 2.0)

Passam por estes dias 19 anos sobre a segunda invasão do Iraque pelos Estados Unidos e outras potências da NATO, mantendo-se ainda a ocupação militar estrangeira do país. Uma guerra limpa, admirável sobretudo quando é apreciada de uma varanda de hotel de Bagdade, lançada por gente com plena sanidade mental, sustentada por razões de uma verdade inquestionável, sem crianças mortas, sem civis bombardeados, sem destruição da maior parte das infraestruturas do país, sem tortura nem chacinas, sem roubos de recursos naturais, sem jornalistas bombardeados de helicópteros como se fossem alvos de um jogo de computador, com espectaculares, cirúrgicos e inofensivos fogos-de-artifício lançados por máquinas de autêntica ficção científica. Um deleite para orgulhosos chefes políticos, inebriados jornalistas esgotando os arsenais de adjectivos e embasbacados telespectadores agarrados aos ecrãs, sorvendo a mais recente superprodução de Hollywood. Solidários com as vítimas? Uns esparsos milhares.

Que diferença dos tempos de hoje!

Testemunhamos na Ucrânia a antítese desse episódio do início do século. Uma guerra à moda antiga, cruel como eram os conflitos armados nesses tempos, com destruição e vítimas mortais, desencadeada por um louco, travada na Europa e não em qualquer país do Terceiro Mundo, provocando refugiados com um visual civilizado e não esses maltrapilhos com pele escura vindos sabe-se lá de onde para perturbar a vida das sociedades civilizadas. Além disso, horrorizando os telespectadores não só com as imagens mas também com as palavras que as acompanham, brutais, acusadoras, aterrorizadoras e assentes em certezas que ninguém poderá pôr em causa.

Assim sendo, acha o leitor que a guerra tem a ver com o cerco da Rússia pela NATO, o mais poderoso exército do mundo e que vê em Moscovo o seu principal inimigo? Ou com o facto de a entrada da Ucrânia na NATO apertar esse cerco, encurralando ainda mais o território russo? Ou com a ameaça do presidente ucraniano de que poderá voltar a dotar o país com armas nucleares? Ou com o massacre das populações russas do Leste pelas forças militares ucranianas e que já dura há oito anos? Ou com o facto, amplamente comprovado, de que o Estado ucraniano e as suas forças militares assentam em organizações nazis apoiadas pela NATO e que têm como objectivo «acabar com a russificação» da população do país, pobre eufemismo para limpeza étnica? Ou com a rejeição prática de acordos de paz (Acordos de Minsk) pelas autoridades de Kiev com a cumplicidade da Alemanha e da França? Ou ainda com a lei sobre «os povos autóctones» promulgada pelo presidente Zelensky há menos de um ano, instituindo um sistema de apartheid de direitos, liberdades e garantias entre as populações ucranianas de origem escandinava e as comunidades eslavas, consideradas em linguagem comum como «os pretos da neve»?

Pois o leitor está proibido de achar qualquer coisa deste género; nem dizê-lo; e o mais seguro é mesmo não pensar porque incorre no crime de violação da opinião única estabelecida pelos dirigentes dos Estados Unidos e dos seus satélites da União Europeia, fiscalizada através de uma comunicação social sem dúvidas e que nunca se engana. Como nos idos tempos de Salazar, que julgávamos ultrapassados de vez, quem não está connosco está contra nós, neste caso a favor do déspota Putin. E se está de acordo com as asserções atrás expostas em forma interrogatória, mesmo que seja apenas de uma, saiba que poderia ser um habitante da «bolha» de Putin, como define o presidente ucraniano Zelensky. Bem pode o estimado leitor defender a negociação da paz como única saída possível e humana da situação que isso de nada lhe vale: é um agente russo, um troll do Kremlin, um desprezível eco de Moscovo.

Mesmo que, como cantava o poeta, seja verdade que «não há machado que corte a raiz ao pensamento», o mais seguro, nestes tempos, parece ser não pensar e não contrariar o que lhe ordenam porque pode haver tentações «desviantes», como alguém já escreveu, e então lá estarão, para o enxovalhar e o que mais adiante se verá, a senhora Von der Leyen com a autoridade que lhe dá a ascendência nazi de pai, mãe e sobretudo do avô – que, como oficial das hordas de Hitler mandou fuzilar dezenas de resistentes polacos, judeus e soviéticos, por sinal na Ucrânia; ou os senhores Borrell e tantos dos seus colegas, entre eles um dos mais zelosos, o senhor Santos Silva, para quem a democracia é uma propriedade privada para pôr e dispor. E que não está preocupado com as repercussões na Europa das sanções impostas à Rússia: pois não, quem as vai sofrer são os povos, em primeiro lugar os mais desfavorecidos, não ele.

O Ministério da Verdade

Esta confraria transeuropeia de polícias de opinião deu finalmente corpo à assustadora profecia de George Orwell e criou o Ministério da Verdade. Nele se concentram torquemadas do espírito, mentirosos de profissão, esbirros das ideias, macartistas dos comportamentos e toda uma poderosa corte de analistas, especialistas, comentadores, pivôs e entrevistadores que gostam de se ouvir a si mesmos dizendo exactamente as mesmas coisas e empunhando, justiceiros, o «martelo dos hereges», como no século XV chamaram ao inquisidor-mor, o frade Tomás de Torquemada.

Sabendo nós que a imposição do neoliberalismo como sistema económico-político de abrangência global é acompanhada pela formatação da uma opinião única sobre o funcionamento da sociedade não deveríamos surpreender-nos com uma situação deste tipo.

Porém, o poder avassalador com que caiu sobre nós o surto de propaganda de guerra representa um salto qualitativo no processo de controlo do pensamento dos cidadãos, como que remetendo os «dissidentes», aqueles que habitualmente usam a capacidade de crítica perante os conceitos dominantes, para a categoria dos potenciais autores de delitos de opinião, criminosos passíveis de ser encarados como seres desprezíveis, traidores, até mesmo alvos de perseguições. Uma abordagem tão intensa como esta vem reforçar de maneira trituradora os ensaios autoritários e de extermínio dos mecanismos democráticos realizados durante as fases mais agudas da pandemia de Covid-19 .

A propósito da crise da Ucrânia, observem como os corajosos comentadores portugueses, sobretudo militares, que colocaram as suas competências, conhecimentos e experiências ao dispor de espaços de televisão dedicados ao assunto, e que expuseram ideias dissonantes da versão oficial e obrigatória, estão a desaparecer gradualmente de cena e se tornaram alvos dos aparelhos censórios ao serviço do Ministério da Verdade. A honestidade intelectual está, deste modo, sob vigilância rigorosa.

O semanário de Bilderberg, órgão oficial deste ministério orwelliano reforçado com um update do totalitarismo macartista, dedicou nutrida prosa contra os majores-generais Carlos Branco, Raul Cunha, Agostinho Costa e o coronel Carlos Matos Gomes por terem saído da formatura em que devemos todos estar alinhados no que diz respeito à invasão russa da Ucrânia. Eles explicaram objectivamente e com a qualidade de conteúdo própria de quem dedicou uma longa vida profissional às ciências e actividades militares, com muitos anos de presença em terrenos críticos, por exemplo na ex-Jugoslávia, circunstâncias que escapam à maioria dos leigos como nós. Não foram comentários mas sim verdadeiras lições que nos permitem usar a cabeça para reflectir e formar opiniões sobre uma guerra sem dúvida evitável. Ora esse é o problema: pensar – meio caminho andado para não engolir a verdade única.

Afirmando, sem pudor, que as opiniões daqueles militares coincidem com as «posições de Putin», o jornal cita fontes castrenses, algumas de cariz insultuoso, que não têm coragem de dar o nome e a cara, o que diz tudo sobre o seu carácter e o de quem lhes deu voz.

A censura, a manada e os jornalistas

Em terras portuguesas, garantidamente na Beira Baixa, costuma dizer-se que «quem quer conhecer o vilão basta pôr-lhe o pau na mão».

Foi exactamente o pau de um autoritarismo censório, ao mesmo tempo de uma mesquinhez ridícula, que levou os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia a proibir o acesso no espaço comunitário a publicações e emissões russas, entre elas o Russia Today e o Sputnik. Aliás a decisão antes de ser tomada já o era: o agora autêntico primeiro-ministro em exercício Santos Silva aconselhara de véspera os cidadãos portugueses a não frequentarem esses órgãos de comunicação do inimigo, o que demonstra algum défice de confiança em relação à solidez da opinião única mas, por outro lado, parece ser aquela última oportunidade paternalista que qualquer agente da repressão concede com benevolência cínica antes de zurzir o pau na vítima.

Ora os senhores ministros sujaram-se por muito pouco.

Provavelmente confundiram o jornalismo com a actividade praticada por aquela manada de seres sem ética nem respeito pela profissão que os poderes têm à sua disposição para fazerem chegar a verdade indiscutível e as ordens à generalidade dos cidadãos, cada vez mais indefesos.

Acharam os senhores ministros que os jornalistas são uma espécie extinta de vez? Pensaram que os jornalistas que trabalham com opiniões, consciência e factos ficariam órfãos devido à censura de meios de comunicação russos? Ou que os jornalistas a sério são capazes de produzir informação com base apenas na versão de uma das partes em conflito, seja ela qual for? Sabemos que, como ministros, vivem numa realidade paralela, que perderam o contacto com a vida em sociedade tal como existe e chegam até a acreditar na comunicação social montada para os servir. Problema deles – mas também nosso, enquanto deixarmos.

Os censores falharam e ficaram a descoberto nas suas manobras repressivas. É óbvio que existem centenas de fontes credíveis sobre o conflito, significativamente muitas delas norte-americanas, da pátria adoptiva do senhor Santos Silva, que repelem a opinião única. Há também o contacto directo, o skipe, o zoom. E saibam os agentes macartistas que circulam pela net dezenas de links de acesso aos meios russos proibidos por Bruxelas. Como vêem, recursos não faltam e diversidade de fontes também não.

É certo que poderiam trancar a internet, por exemplo, o que certamente os tornaria ainda mais populares. Continuaria, porém, a haver telefone e até contactos pessoais directos, jornalistas competentes no terreno e dos dois lados da barricada, enfim uma panóplia de meios que alimentam uma informação independente – situada, segundo os torquemadas do pensamento, obviamente ao lado de Putin.

A mensagem é primária, mas beneficiando de colossais meios de expansão torna-se asfixiante, uma verdadeira censura institucionalizada apesar do fracasso patético dos censores a retalho. Goebbels dará certamente cambalhotas de inveja no meio das chamas infernais.

Pandemia de racismo e nazismo

Em 8 de Março, conforme testemunha a agência Getty Images, a NATO celebrou o Dia Internacional da Mulher fazendo circular, evocando todas as mulheres do mundo, a imagem de uma terrorista do batalhão nazi ucraniano Azov exibindo na farda o símbolo do grupo, um sol negro, oriundo do ocultismo nazi alemão e que resulta da sobreposição de três cruzes suásticas.

Para a Aliança Atlântica a mulher nazi representa uma «combatente da liberdade», tal como os ucranianos do Leste, resistentes à limpeza étnica, são «terroristas». Ao mesmo nível, por certo, dos «terroristas» palestinianos que resistem à matança, ao apartheid e ao confisco das suas terras.

Poderia ser um caso isolado, mas não é. O nazismo revanchista inspirado no colaboracionismo com Hitler nos anos quarenta do século passado e o racismo que lhe está associado são instrumentos que os Estados Unidos e a União Europeia têm manipulado, acarinhado e apoiado desde o golpe pela «democracia» cometido em Kiev no ano de 2014.

Os governantes europeus – os norte-americanos nem se dão a esse trabalho – e a comunicação social amestrada pretendem minimizar essas práticas fazendo crer que a presença nazi é insignificante no poder ucraniano.

Isso é totalmente falso e pretende esconder um colaboracionismo europeu e norte-americano com o nazismo para transformarem a Ucrânia numa ponta de lança contra a Rússia, enfraquecendo economicamente este país, isolando-o e tentando impedir que seja um empecilho à estratégia globalista conduzida no quadro do uniteralismo como ordem mundial inquestionável.

O facto de o presidente norte-americano Joseph Biden ter ameaçado a China de que irá «tomar medidas» no caso de Pequim não cumprir as sanções contra Moscovo revela, desde já, o que virá a seguir ao hipotético enfraquecimento da Rússia.

O nazismo ucraniano não é um instrumento recente dos Estados Unidos e seus satélites. Desde 1949 que a CIA (e a sua antecessora OSS) usa os grupos nazis ucranianos primeiro contra o poder soviético e, já depois da independência, sempre que o governo de Kiev não represente plenamente os interesses de Washington e Bruxelas. Assim aconteceu com a «revolução colorida» laranja de 2004 e com a mais eficaz e bem-sucedida conspiração terrorista de Maidan.

O primeiro governo saído do golpe de 2014 e as estruturas adjacentes integravam 10 representantes de grupos nazis, entre eles o primeiro-ministro adjunto, o ministro da Defesa, o ministro da Educação e Ciência, o ministro da Ecologia e Recursos Naturais, o ministro da Agricultura e Alimentação, o ministro da Juventude e Desportos e dois secretários do Conselho de Segurança e de Defesa.

Este foi o governo criado sob orientação directa do falecido senador fascista norte-americano John McCain, da secretária de Estado Adjunta Victoria Nuland, por sinal uma norte-americana de ascendência ucraniana e judaica, e do então vice-presidente de Obama, Joseph Biden.

Actualmente o presidente do Parlamento de Kiev é o nazi Andrei Paruby, fundador do Partido Nacional-Socialista da Ucrânia e que, embora esteja sob a capa de outro partido, faz questão de dizer que não alterou as suas posições.

E o principal conselheiro do comandante em chefe das Forças Armadas ucranianas, general Valeri Zoluzhni, é Dmitro Yarosh, que antes disso dirigia o Batalhão Azov, um regimento nazi das tropas de Kiev que se tem destacado na limpeza étnica no Leste e, presentemente, na perseguição e fuzilamento de civis que tentam sair das cidades através de corredores humanitários. Além de instalarem armamento pesado em zonas residenciais, usando os civis como escudos humanos.

As simpatias nazis não são muito relevantes como expressão da sociedade ucraniana, mesmo na maior parte das regiões ocidentais, mas estão firmemente incrustadas desde 2014, a nível de poder político e militar, nas estruturas do Estado ucraniano.

O presidente Zelensky gosta de repetir que não é simpatizante nazi porque é judeu.

Essa circunstância não o impediu, porém, de agraciar recentemente com o título de «herói da pátria», em pleno Parlamento, o actual comandante do Sector de Direita e, por inerência, do Batalhão Azov, Dmytro Kotsubaylo. Este nazi fez questão de receber a homenagem em farda operacional.

O nazismo como pilar das estruturas político-militares do Estado ucraniano reflecte tendências racistas enraizadas no país e que cinde totalmente a região Ocidental da região Oriental.

No dia 21 de Julho de 2021, portanto há menos de um ano, o presidente Zelensky promulgou a chamada lei dos «povos autóctones», que só reconhece direitos plenos aos ucranianos de origem escandinava, segregando, com espírito de apartheid, os de origem eslava, em grande parte russófonos, os «pretos da neve». Recorda-se que uma das consignas dos grupos nazis ao assumirem o poder em Kiev depois do golpe de Maidan era «travar a russificação» do país, o que depois passaram à prática com a guerra e a limpeza étnica imposta no Leste, onde as populações, como forma de autodefesa, criaram as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

De acordo com a lei dos «povos autóctones», a língua russa é suprimida dos serviços públicos e estatais, não pode ser ensinada, aprendida e falada.

O exaltado reconhecimento desta singular forma de «democracia», no entender da NATO e da União Europeia, expandiu-se como uma pandemia pela Europa e os Estados Unidos através da histérica reacção à agressão russa, como se as acções criminosas de índole militar fossem uma novidade nos pouco mais de vinte anos deste século.

Por exemplo, clubes de futebol que em tempos exibiram bandeiras da Palestina e foram multados por isso agora são exuberantemente felicitados quando enfeitam os equipamentos com símbolos ucranianos; aquele que é considerado o maior maestro vivo do mundo, Valery Georgiev, foi despedido das orquestras que dirigia por ter ficado em silêncio perante os acontecimentos na Ucrânia, e a célebre cantora lírica russa Anna Netrebko teve o mesmo destino; o futebolista mais internacional de sempre da Ucrânia foi apagado dos anais desportivos do país por não se ter pronunciado sobre o conflito; e se por acaso o leitor tiver a ousadia de hospedar um gato russo como companhia saiba que não pode registar a respectiva raça na Federação Internacional Felina, ficando o pobre bichano sem pedigree.

São aspectos ainda assim menores, quase caricaturais, que traduzem uma gigantesca vaga de racismo, xenofobia, segregação e perseguição – atingindo até crianças russas vítimas de bullying nas escolas – que se expande na Europa como uma peste, atingindo os níveis da irracionalidade e da crueldade pura, na esteira daquilo que agora Biden finalmente confessou ser o objectivo de toda a campanha: «a guerra económica contra a Rússia».

Onde se recorda Pulitzer

Provavelmente o cidadão comum não se apercebe do significado profundo destes comportamentos porque consome, na maioria dos casos sem defesas, as mensagens inquinadas ou simplesmente mentirosas dos dirigentes políticos e da comunicação social dominante. São eles que disseminam o racismo e a xenofobia aproveitando-se da situação ucraniana.

Na verdade, a solidariedade manifestada através da onda de acontecimentos e comportamentos em massa, regra geral plenos de boa vontade, é parcelada por circunstâncias perversas e destina-se apenas a parte dos cidadãos ucranianos, os de «primeira», de origem escandinava, segregando os restantes ucranianos, os que afinal têm sido vítimas da guerra conduzida há oito anos em boa parte por grupos nazis treinados e financiados pela NATO.

O cenário assim montado é de uma coerência comovente. A Polónia, que ainda há semanas corria à bastonada os refugiados que pretendiam entrar no país – vítimas das muitas guerras provocadas pelos Estados Unidos, a NATO e a União Europeia – recebe agora de braços abertos os fugitivos ucranianos, obviamente ocidentais e de «primeira», como definiria Zelensky.

A União Europeia, que para não receber refugiados financia campos de concentração na Líbia onde, depois de desapossadas dos seus bens, pessoas que fogem das guerras e do colonialismo são torturadas e mesmo assassinadas; que persegue seres humanos à deriva no Mediterrâneo, deixando que milhares deles se afoguem, pois agora essa União Europeia está pronta a receber os refugiados ucranianos, sejam eles quantos forem.

É sempre mais reconfortante, pelos vistos, acolher gente com boa aparência, de preferência seres louros e de olhos azuis, do que maltrapilhos de pele escura, esfomeados que pretendem viver às custas dos serviços sociais dos países civilizados. Trata-se de injecções de «sangue puro», como dizia o inquisidor Torquemada, seguido depois por Hitler e agora, na Ucrânia, pelo «fuhrer branco», Andriy Biletsky, fundador das milícias Corpo Nacional e depois do Batalhão Azov, cuja obra inspira os acampamentos de crianças que recebem formação nazi e treino militar, e que tem como objectivo «conduzir as raças brancas na cruzada final». Biletsky, também ele inspirado pelo agora herói nacional da região ocidental da Ucrânia, Stepan Bandera, que inspirou o assassínio em massa dos seus compatriotas, judeus ou não, a soldo de Hitler. Biletsky, enfim, ponta de lança da grande fraternidade ocidental.

Até as autoridades portuguesas, tão parcas em receber refugiados das guerras e das catástrofes naturais em África e no Médio Oriente, apesar de Portugal ser dos países da União com as portas mais entreabertas mas onde um imigrante ucraniano foi assassinado por agentes policiais no aeroporto de Lisboa, está agora pronto a receber os refugiados da Ucrânia ocidental «que for preciso». O governo português é, portanto, parte da grande vaga xenófoba.

A comunicação social desempenha papel essencial nesta cavalgada. Uns de maneira encapotada, sabendo o que estão a fazer mas não dando o flanco para não perderem eficácia nos objectivos; outros, delirantes, com o coração ao pé da boca desvendam o que lhes vai na alma. De certa maneira, a situação actual é um campo inexplorado: pela primeira vez neste século os media corporativos estão do lado das vítimas da guerra (mas só de algumas) e não do lado dos agressores – circunstância esta em que podem considerar-se rotinados.

Diz Charlie D’Agata, correspondente em Kiev da CBS News norte-americana: «Este não é um lugar, com todo o respeito, como o Iraque ou o Afeganistão, onde há décadas os conflitos se arrastam. Esta é uma cidade relativamente civilizada, relativamente europeia, onde isto não é de esperar».

Xenofobia, mas «com todo o respeito».

A palavra agora para Peter Dobbie, do canal inglês da Al-Jazeera, sobre os refugiados: «O que é convincente é que só de olhar para eles, da maneira como estão vestidos, são pessoas prósperas, de classe média, não são obviamente refugiados tentando fugir de áreas do Médio Oriente que ainda estão em grande estado de guerra; não são pessoas tentando fugir de áreas do Norte de África: parecem-se com qualquer família europeia que seja nossa vizinha».

Note-se que, apesar de tudo, os refugiados do Médio Oriente e do Norte de África ainda são considerados «pessoas».

A BBC deu voz a um ex-procurador adjunto da Ucrânia, David Sakarelidze, para afirmar «que é muito emocionante para mim porque vejo europeus com olhos azuis e cabelos louros que estão a ser mortos». E Lucy Watson, da ITV News britânica, admira-se porque «o impensável aconteceu: esta não é uma nação em desenvolvimento do Terceiro Mundo, isto é a Europa».

A emoção é compartilhada por Daniel Hannan, ex-deputado europeu, em declarações ao Daily Telegraph: «Eles parecem-se tanto connosco, é isso que torna isto tão chocante. A guerra deixou de ser uma coisa que atinge populações empobrecidas e remotas, pode acontecer a qualquer um».

Também Michel Knowles, identificado como jornalista do Daily Wire, foi abalado pelo choque. «Acabou agora de me ocorrer», surpreendeu-se, «que esta é a primeira grande guerra entre nações civilizadas na minha vida».

Guerra é coisa de pobres, de gente a quem a violência militar é levada pelos ricos para que fiquem finalmente civilizados e democratizados. Desde 24 de Fevereiro, início da invasão da Ucrânia pela Rússia, houve mais bombardeamentos aéreos da Arábia Saudita contra o Iémen, com apoio norte-americano, do que de russos sobre o território ucraniano.

Entretanto, Jeremy Bowen, jornalista do modelo de independência e circunspecção que é a BBC, divulgou instruções sobre «onde e como» lançar cocktails Molotov, «um guia para os voluntários ucranianos».

Joseph Pulitzer, grande jornalista norte-americano falecido em 1911, escreveu um dia que «com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica, corrupta formará um público tão vil como ela».

Pulitzer era realmente um visionário, alguém que percebeu há mais de um século o potencial de manipulação e degradação social que havia num instrumento tão indispensável como a comunicação social.

O cenário montado a propósito da Ucrânia é exemplar. E ainda há quem se surpreenda com a veloz reactivação de correntes neofascistas e neonazis através da Europa. Pois se os próprios dirigentes da NATO e da União Europeia, proclamados defensores da democracia, lhes dão a mão para defenderem os seus interesses – que não os dos povos dos seus países – fica tudo explicado. Daí que nada haja de escandaloso em vermos em Portugal bandeiras da Juventude Socialista juntas com as do Chega e do Sector de Direita ucraniano em manifestações sobre a Ucrânia. Tal como Borrell e Santos Silva tomam atitudes censórias enquanto sustentam objectivamente o terrorismo do «führer branco» que se prolonga há oito anos.

Nada disto tem a ver com a paz ou a defesa da paz, única maneira de interromper a nova fase do conflito ucraniano aberta com a também criminosa agressão russa. Nesta guerra não há inocentes, a não ser as vítimas civis a Ocidente e Oriente do país, tal como poderá não haver vencedores.

Mas até a defesa da diplomacia urgente, do respeito por acordos assinados e assumidos pela ONU, da procura de soluções pacíficas como única saída desta tragédia significa um apoio a Putin para aqueles que incitam Zelensky a não se envolver seriamente no processo negocial, de modo a que a guerra se prolongue.

As castas dirigentes e os seus megafones estão a actuar cada vez mais irresponsavelmente ao nível internacional.

José Goulão, Exclusivo AbrilAbril

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Na nota de imprensa relacionada com o relatório, o SIPRI destaca a Europa como um dos pontos quentes no que toca à importação de armamento, com o Reino Unido, a Noruega e os Países Baixos à cabeça da lista de países importadores. A região representou 13% das transferências de armas a nível global.

Segundo o organismo, «também se espera que outros países europeus aumentem significativamente as suas importações de armas na próxima década», depois de, recentemente, terem realizado grandes encomendas, sobretudo de aviões de combate, aos Estados Unidos.

Menos armas importadas na região Ásia-Oceânia, mas com variações notáveis

No período 2017-2021, a grande região Ásia-Oceânia manteve-se destacada como a maior importadora de grandes armas (43%) e seis países da região entram na lista dos dez maiores importadores a nível mundial: Índia, Austrália, China, Coreia do Sul, Paquistão e Japão. Ainda assim, nota o SIPRI, entre 2017-2021 e 2012-2016 registou uma ligeira diminuição (-4,7%).

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Venda de armas aos sauditas é sinal «preocupante» do arrastar da guerra no Iémen

O Departamento de Estado dos EUA aprovou o primeiro grande negócio de venda de armas aos sauditas na administração de Biden, algo que pode revelar a intenção de Riade de prolongar a agressão ao Iémen.

Edifícios destruídos e danificados após um bombardeamento saudita no Iémen; a agressão da coligação liderada pelos sauditas começou em Março de 2015 
Créditos / PressTV

Num comunicado emitido quinta-feira passada, o Pentágono deu conta da aprovação, pelo Departamento de Estado norte-americano, da venda de 280 mísseis ar-ar à Arábia Saudita, no valor de 650 milhões de dólares, para que Riade pudesse fazer frente a ameaças actuais e futuras.

Para o académico norte-americano Richard Falk, especialista em direito internacional e relações internacionais, o primeiro grande negócio de vendas de armas da era Biden aos sauditas, «os chamados mísseis defensivos ar-ar», constitui «um sinal preocupante das intenções sauditas de prosseguimento das suas políticas cruéis de devastação do Iémen».

Numa entrevista à PressTV, Falk, que foi professor na Universidade de Princeton durante mais de três décadas, afirmou que «a posse de uma defesa anti-mísseis mais segura permite aos sauditas continuarem a sua intervenção armada no Iémen, e possivelmente noutros locais, com menor temor de ataques de retaliação».

Richard Falk destacou as «relações especiais» entre Washington e Riade, afirmando que os EUA procuram defender os interesses sauditas e desviar as críticas que são dirigidas a Riade nas Nações Unidas.

EUA usam a sua influência para proteger a Arábia Saudita

«Os Estados Unidos estão a usar a sua influência geopolítica para proteger a Arábia Saudita da crítica na ONU e noutros lugares, gozando novamente com os compromissos colectivos de segurança e com a proibição incondicional da Carta das Nações Unidas do uso de força não defensiva. Estas relações especiais deixam claro que as relações internacionais continuam a ser moldadas pela primazia da geopolítica e não pelas normas internacionais», disse o académico.

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EUA são o maior exportador de armas e a Arábia Saudita o maior importador

Um relatório recente revelou que os EUA foram responsáveis por mais de um terço da venda de armamento a nível mundial nos últimos cinco anos, enquanto os sauditas foram os que mais importaram.

Donald Trump, president dos EUA, num encontro na Casa Branca com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, em Washington, Março de 2018
Créditos / CGTN

As exportações de armas que tiveram como origem os EUA, entre 2016 e 2020, representaram 37% de todos os negócios registados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Metade das exportações norte-americanas de armamento teve como destino o Médio Oriente, e a Arábia Saudita foi de longe o principal parceiro de negócio no período referido, representando quase um quarto de todas as vendas dos EUA (24%).

O instituto sediado em Estocolmo afirma que, entre 2016 e 2020, as exportações de armas dos EUA aumentaram 15% em comparação com o período 2011-2015.

A Rússia foi o segundo maior exportador de armas a nível global, representando um quinto do total de exportações registadas (com menos 22% de vendas que no período 2011-2015).

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Empresas francesas continuam a treinar tropas sauditas para matar no Iémen

Várias empresas francesas especializadas em treino militar participam na formação de oficiais sauditas e nunca deixaram de o fazer desde o início da guerra de agressão ao Iémen, revela uma reportagem.

Quartel da Polícia destruído após o bombardeamento da aviação saudita
A guerra de agressão ao Iémen tem dado lucros de milhares de milhões às empresas de armamento Créditos / mintpressnews.com

A notícia foi divulgada esta segunda-feira no portal da cadeia iemenita al-Masirah, que cita uma reportagem realizada conjuntamente pelos órgãos Lighthouse Reports, Arte e Mediapart, em parceria com o EUobserver.

De acordo com a investigação, o DCI Groupe, detido maioritariamente pelo Estado francês, está a dar treino de artilharia a membros da Guarda Nacional da Arábia Saudita numa escola militar em Draguignan, no Sudeste de França.

As mesmas fontes revelam que a multinacional francesa Thales Group e a filial francesa da RUAG, com sede na Suíça, estão envolvidas no treino de tropas sauditas, facultando-lhes o equipamento de simulação necessário à operação do sistema de artilharia Caesar, desenvolvido pela França, e que pode atingir quase meio milhão de iemenitas.

A al-Masirah refere ainda uma reportagem do meio de comunicação Disclose, de acordo com a qual um cargueiro deverá carregar munições para o sistema Caesar. O mesmo órgão revelou que a França irá entregar mais de cem caesars à Arábia Saudita até 2023.

Este sistema de artilharia é produzido pela Nexter Systems, uma empresa estatal francesa de fabrico de armamento. No final de 2018, 48 destes sistemas móveis estavam posicionados na fronteira da Arábia Saudita com o Iémen.

A reportagem refere que um documento interno filtrado pela agência militar francesa de inteligência – DRM – já então alertava para os riscos que os Caesars representavam para a população civil no Iémen. «A população abrangida por potencial fogo de artilharia: 436 370 pessoas», referiu o documento, datado de 25 de Setembro de 2018.

O mesmo documento dizia que os Caesars também desempenham um papel no apoio às «tropas lealistas e Forças Armadas sauditas no seu avanço em território iemenita».

Se não fosse o negócio das armas...

No ano seguinte, o fogo da artilharia das forças da coligação liderada pelos sauditas atingiu um mercado iemenita perto da fronteira, provocando a morte a 89 civis. Em Setembro, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, debruçando-se sobre o Iémen, sublinhou que a venda de armamento apenas serve para perpetuar o conflito.


«Se não fosse o negócio das armas, a guerra não se prolongaria como está a acontecer, a guerra não continuaria a destruir o povo do Iémen como o tem feito», disse Ardi Imseis, um dos autores da reportagem.

A comunicação social britânica já tinha revelado informações semelhantes sobre a ampla participação de empresas do Reino Unido na monitorização dos ataques aéreos e na preparação de aviões, armas e munições da coligação invasora, refere a al-Masirah, notando que o mesmo é válido para os EUA, cujo envolvimento se tornou público e documentado.

Para a cadeia iemenita, esta reportagem vem confirmar que a «coligação» liderada pelos sauditas foi desde o início uma fachada para as potências ocidentais, que dirigem as operações que atingem o Iémen.

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A França, com 8% das vendas, é o terceiro maior exportador. Seguem-se a Alemanha (5,5%) e a China (5,2%), para fechar a lista dos cinco países que mais armas venderam entre 2016 e 2020. Na parte inferior do «top dez» situam-se Reino Unido, Espanha, Israel, Coreia do Sul e Itália.

O SIPRI nota que, por comparação com 2011-2015, os últimos cinco anos registaram um pequeno decréscimo no volume de vendas de armamento (menos 0,5%), pondo fim a mais de uma década de aumentos sucessivos.

Foi a primeira vez desde o período 2001-2005 que o volume de trocas de armas entre países – um indicador da procura – não registou um aumento por comparação com o período anterior de cinco anos.

Arábia Saudita, o maior importador

Os países do Médio Oriente registaram o maior aumento de importações de armas a nível mundial entre 2016 e 2020, importando mais 25% que nos cinco anos anteriores. Arábia Saudita (61%), Egipto (136%) e Catar (361%) registam os maiores aumentos.

Quatro dos dez maiores importadores de armas são desta região, que representa 33% das importações a nível global: aos três países referidos juntam-se os Emirados Árabes Unidos. Só a Arábia Saudita representa 11% de todo o volume de armas importadas mundialmente nestes cinco anos.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Os EUA foram responsáveis por mais de metade das armas exportadas para a região (52%), seguindo-se a Rússia (13%) e a França (12%).

A região do mundo que mais armas importou foi a Ásia e Oceânia (42%). Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Paquistão foram os países que mais armas importaram na região.

O SIPRI afirma que é cedo para dizer se uma recessão associada à pandemia de Covid-19 pode fazer abrandar os negócios de armas. «O impacto económico da Covid-19 podia levar alguns países a diminuir as importações de armas nos próximos anos. No entanto, ao mesmo tempo, mesmo no auge da pandemia, em 2020, vários países assinaram grandes contratos de armamento», releva o SIPRI.

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Questionado sobre se este negócio «é consistente com a promessa do governo dos EUA de liderar a diplomacia com vista a pôr fim ao conflito no Iémen», Falk respondeu que não, rejeitando a declaração como uma alegação «falsa».

«Esta é uma afirmação claramente falsa», acusou, acrescentando que os mísseis ar-ar protegem o espaço político nacional saudita, dando ao reino a liberdade de fazer a guerra fora de seu território com expectativas substancialmente reduzidas de ver o seu país atacado. «Por outras palavras, o objectivo do armamento defensivo é muitas vezes isolar a guerra ofensiva da retaliação e, dado o historial saudita, esse parece ser o caso», frisou Richard Falk.

Não há «incentivo para a via diplomática»

«Tal militarismo parece fazer aumentar a capacidade de combate da Arábia Saudita e não apresenta nenhum incentivo para acabar com o conflito no Iémen pela via diplomática. Se a intenção fosse uma mudança no sentido da diplomacia, poderia ter sido sinalizada oferecendo às forças opositoras iemenitas capacidades militares equivalentes ou condicionando a venda dos mísseis a um esforço de boa-fé para resolver o conflito através de negociações. Não houve nenhum esforço tangível ou credível nessa direcção», acrescentou.

O académico norte-americano criticou a incapacidade da ONU para pôr fim ao conflito no Iémen, afirmando que «estamos a assistir a mais um caso em que a ONU e a segurança internacional são incapazes face aos alinhamentos geopolíticos que se dedicam a encontrar soluções militares para conflitos políticos».

«Nesta perspectiva, não há um ponto final à vista para o conflito e o sofrimento humano no Iémen, e é provável que não surja nenhum, a não ser que a Arábia Saudita se sinta ameaçada por outras fontes ou enfrente pressões internas significativas. A morte dos iemenitas, infelizmente, não faz parte dos cálculos políticos realizados pelos cínicos criadores dos objectivos da política externa de Riade», sublinhou.

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As variações na região são enormes. Se se verificou uma queda nas importações de armamento tanto na Ásia do Sul (21%) como no Sudeste Asiático (24%), já a Ásia Oriental (sensivelmente o Extremo Oriente) registou um aumento de 20% e a Oceânia de 59% (em grande medida devido ao crescimento de 62% nas importações de armas por parte da Austrália).

No que respeita à Índia, a nota adverte que, apesar da diminuição verificada neste período (-21%), o país está a preparar importações em larga escala de diversos fornecedores, para os próximos anos.

A Índia é o maior importador de armas do mundo, seguida da Arábia Saudita e do Egipto, cujas importações de armamento cresceram 73% entre 2017-2021 e o quinquénio anterior.

EUA reforçam posição como maior exportador

As exportações de armas por parte dos Estados Unidos registaram um aumento de 14% entre 2012-2016 e 2017-2021, alcançando agora 39% da quota mundial (subida de sete pontos em relação aos 32% da fatia global no período anterior).

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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A Federação Russa, o segundo maior exportador de armas em 2017-2021, registou uma diminuição de 26% nas suas exportações, e representa 19% da fatia global do negócio.

Por seu lado, a França foi responsável por 11% das exportações de armamento, situando-se como terceiro maior exportador a nível mundial, tendo registado um aumento de 59% entre 2017-2021 e o quinquénio anterior.

Segundo os dados do SIPRI, a China é o quarto maior exportador mundial de armamento e a Alemanha o quinto, tendo registado quedas de 31% e 19%, respectivamente.

Seguem-se, na lista dos dez maiores exportadores, Itália, Reino Unido, Coreia do Sul, Espanha e Israel.

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