Deu uma nova «brisa à vela» do caso de Tancos. Não é a primeira vez e talvez não seja a última. Tudo o que importa já foi escrito: do não se saber exactamente o que tinha sido surripiado até ao aparecimento de uma lista; do estado das instalações até à mudança de instalações; da suspensão de comandantes (figura estranha) até à sua reconfirmação e recente nomeação para o curso para oficial general; do conhecimento há muitos anos do estado das instalações a que anteriores responsáveis políticos e militares não passaram cartão; da falta de efectivos para cuidar das guardas e da existência de efectivos para irem frequentar formação para combater incêndios; do gravoso desaparecimento (com informação aos aliados e tudo) até à conclusão de que afinal não era assim tão grave porque era material com defeito; do milagroso telefonema a dar conta do achado, com prémio, e o natural regozijo – sim, porque ninguém quer que material daquela natureza, mesmo com defeito, ande por aí –; do incompreensível resgate do material por parte das Forças Armadas sem «passar cavaco» ao Ministério Público, que tinha aberto processo e constituído equipa para investigar o crime; da dificuldade deste mesmo Ministério Público e da Policia Judiciária em acederem ao referido material localizado, até às noticias recentes que dizem que, afinal, parece haver material em falta; das declarações que, perante tal questão, dizem que compete ao Ministério Público esclarecer já que o processo está em segredo de justiça.
Por fim, o décimo apelo do Presidente da República para que tudo seja esclarecido e mais uns soundbites do PSD e do CDS-PP que, quando no Governo, nada fizeram para cuidar do estado de degradação das instalações, já para não falar (não vem aqui ao caso) do seu contributo para a degradação mais geral das Forças Armadas, em vários planos.
Como se verifica, sem sermos exaustivos, de tudo já se escreveu e disse. A única coisa que falta referenciar é quem levou o material do paiol de Tancos, havendo, contudo, quem desde o início tenha dito, com convicção, que tudo não passaria de um problema de inventário.
O apuramento do que ocorreu e de quem praticou o crime em nada bule com o apuramento dos responsáveis que, ocupando determinado tipo de cargos ao longo dos anos e tendo conhecimento das debilidades nada fizeram, potenciando o que veio a ocorrer. Teria sido pedagógico. Mas esta é, porventura, uma opinião estranha nos tempos que correm. Instalou-se a política de uma mão lava à outra. A frontalidade deu lugar à frugalidade. Os valores propiciadores da coesão passaram a ser de geometria variável.
Daí que, a partir das afirmações do ministro da Defesa Nacional na Comissão Parlamentar de Defesa, não confirmando nem desmentido, antes pelo contrário, as afirmações feitas pelo chefe do Estado-Maior do Exército na conferência de imprensa em que anunciou a recuperação do material roubado, e refugiando-se na investigação do Ministério Público, possamos concluir que todas responsabilidades ficarão nos ombros dos militares já castigados: um cabo, um sargento e um capitão!
O assunto é sério mas a época da silly season não ajuda. Até lá o melhor é redescobrir os livros de «Onde está Wally?».
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