Sabe-se que os grandes empresários e capitalistas portugueses gostam muito de fazer «greve». «Greve» à legislação laboral, «greve» às obrigações fiscais (ver resultados conhecidos da Operação Furacão). E, neste tempo de Governo PS, viabilizado na Assembleia da República por partidos de esquerda, sucedem-se as ameaças e, de facto, a prática de «greve» ao investimento.
A única greve de que não gostam mesmo é de verdadeiras greves, da greve dos trabalhadores! Que as fazem sempre, segundo os mesmos, sem motivo, quando não por motivações político-partidárias, orquestrados por tenebrosas potências anti-iniciativa privada!
Sabe-se que essa mesma gente e os seus representantes institucionais – algumas confederações do grande patronato – não gostaram do desfecho das eleições de 4 de Outubro de 2016! E não o disfarçaram, em manifestações públicas junto de órgãos de soberania, de invectivas e chantagens sobre o apocalipse que aí vinha com um possível governo PS, viabilizado por PCP, BE e PEV… e onde se fazia já o pré-aviso da «greve» ao investimento!
São muitas as notícias. Poderíamos começar por dizer que com a bênção do PSD e CDS, para quem vale tudo, até tirar olhos. Passos Coelho não tem papas na língua nem pudor político em afirmar: «Mas quem é que põe dinheiro num país dirigido por comunistas e bloquistas? Quem é o investidor que acredita que o futuro estará seguro naqueles que têm sanha, que não gostam, pelo contrário, que atacam aquilo que eles designam o capital (…)?».
Entre outras, registemos a de alguns ilustres representantes do grande capital. Pedro Queirós Pereira, em nome da Portucel, agora baptizada Navigator, depois de há meses, em entrevista ao Expresso, ter anunciado que não investia (120 milhões de euros numa nova unidade na área da pasta de papel) por causa do PCP no Governo, agora veio declarar que não o faz porque o Governo (conforme acordo com o Partido Ecologista Verdes/PEV) quer proibir a ampliação da área do eucalipto no País. (Expresso de 3 de Setembro). (Mas não há milhares de toneladas de eucalipto em pé no país, pese os incêndios florestais, para matéria-prima das celuloses? Há, mas têm que a ir buscar e pagar!).
«As empresas sentem-se inseguras com a influência crescente do Bloco de Esquerda e do PCP. E enquanto isso continuar a acontecer, dificilmente regressarão aos investimentos»
Rafael Campos, vice-Presidente da AIMMAP
Ribeiro da Silva, patrão da ENDESA, sente-se no direito de pôr fim à construção da Barragem de Girabolhos (um investimento de 400 milhões de euros), contratualizada com o Estado há cerca de dez anos, porque o Ministro do Ambiente terá anunciado uma reflexão e avaliação do Plano Nacional de Barragens! (É obrigatório que o Governo esclareça esta história!).
No mesmo Expresso, o patrão da FRULACT, João Miranda, acha que tal acontece por falta de incentivos, mas também porque «todos sabem que o BE e o PCP não simpatizam muito com a iniciativa privada». Numa peça do Jornal de Negócios, de 13 de Setembro, o Presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Paulo Vaz, afirma: «Os investidores nacionais e internacionais não confiam num Governo que, por muito assertivo que queira ser, tem por base de apoio partidos da extrema-esquerda, com contínuas exigências radicais (…)».
No mesmo jornal, Rafael Campos, vice-Presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) afirmou: «sei que há alguns casos de empresas que estão inclusivamente a pôr em causa a possibilidade de novos investimentos em Portugal» porque «existe desconfiança assumida nas forças políticas que apoiam o Governo. As empresas sentem-se inseguras com a influência crescente do Bloco de Esquerda e do PCP. E enquanto isso continuar a acontecer, dificilmente regressarão aos investimentos».
Fechem-se estas citações com chave de ouro. Para António Saraiva, Presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), «não há confiança na relação de forças que sustenta o governo e isso continua a gerar muita instabilidade que não atrai investimento essencial à criação de emprego e ao crescimento da economia» (Diário de Notícias de 6 de Julho)!
Diga-se em abono da verdade, e da justiça, que há quem assim não avalie a ausência de investimento privado. No mesmo Dossier do Jornal de Negócios (de 13 de Setembro), Vieira Lopes, Presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), refere que a banca não dá facilidades e que são restritivos os critérios de acesso ao crédito, ou os que, como Paulo Almeida, da Associação Empresarial de Portugal (AEP), falem da evolução negativa dos mercados externos! A par de referências à paralisia do Portugal 2020 e da falta de incentivos fiscais, sobretudo a não concretização das reduções do IRC do Governo anterior.
Mas o mais interessante desta anunciada «greve política» ao investimento é que, no dito Dossier do Jornal de Negócios, se refiram Inquéritos do INE junto de empresários, onde se verifica que mais de 50% das respostas dizem que as razões para o não investimento radicam-se na perspectiva da falta de vendas, isto é, de mercado solvável para as mercadorias, ou seja, de crescimento económico! (o que também acontece por falta de investimento privado!).
«Ignorantes, pensávamos que gestores experimentados e de excelência, empresários empreendedores e amigos do risco, investiam quando sentiam (através dos seus sensores “empreendedorísticos”) uma oportunidade de negócio»
E só depois aparece, como segundo motivo, a rentabilidade dos investimentos (20% das respostas), a que se segue a capacidade do autofinanciamento (11%), e depois o crédito (8%)! Nada de «greve política»! Uma conclusão: há líderes do capital muito dessincronizados da classe!
Aliás, um inquérito do Expresso de Outubro/Novembro de 2014 (em pleno reinado de Passos e Portas) a quatro mil empresários de pequenas e médias empresas, à pergunta: «Tem planeado um investimento relevante na sua empresa?», 54% respondia que não tinha planeado qualquer investimento relevante, 41%, na melhor das hipóteses, só a partir de Outubro de 2016!
A primeira coisa a perguntar aos «grevistas» seria porque não investiram eles quando o Governo era o do PSD/CDS, de Passos Coelho e Paulo Portas, que tinha toda a sua confiança política?! Farsantes… Os dados conhecidos não deixam margens para dúvidas: durante o mandato desse Governo (2011/2015) o Investimento Privado caiu, em termos reais, 24,6%!
Mas se não houve disponibilidade para o investimento, ou pelo menos para reduzir a dívida empresarial, houve e muita para distribuir dividendos, nem que seja por recurso a novos empréstimos… Em 2015 (prosseguindo 2014) 8 das 12 empresas cotadas na Bolsa/PSI-20, distribuíram aos accionistas mais de 70% dos lucros… que tinham subido em 2015 para 2,91 mil milhões de euros (mais 280 milhões que em 2014)!
Não por acaso, Cristina Casalinho, Presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), falando das diferenças entre o comportamento do empresário português e o estrangeiro na «retoma económica», sublinhava: «Uma das maiores diferenças prende-se com o menor contributo de lucros retidos para o financiamento das empresas e menos desalavancagem em Portugal» (Jornal de Negócios de 13 de Maio).
Devemos questionar a nossa ignorância. Ignorantes, pensávamos que gestores experimentados e de excelência, empresários empreendedores e amigos do risco, investiam quando sentiam (através dos seus sensores «empreendedorísticos») uma oportunidade de negócio, quando julgavam azado o momento para a expansão das actividades, ou para a modernização de um projecto industrial! Afinal, é tudo muito mais simples: trata-se de ter no Governo gente amiga da «iniciativa privada», que dê confiança, da que não falta com os benefícios fiscais, e mesmo uma reduçãozita do IRC, e chorudos subsídios comunitários e outros… enfim, gente do peito. Ou seja, que garanta um Estado mínimo, que dê o máximo de facilidades e ajudas ao capital privado! Porque sem isso, ele não se mexe… Parasitas!
O que diria essa gente se ontem ou amanhã (longe vá o agoiro!), organizações de trabalhadores invocassem como causa da luta, motivo de uma greve, a composição partidária, por exemplo PSD/CDS, de um governo…
E finalmente, compreendermos como é essencial a titularidade pública de empresas estratégicas ou equipamentos estruturantes. Como um País não pode estar dependente na realização desses investimentos, da boa vontade ou humor do capital privado, quando eles se movem com uma exclusiva agenda política e ideológica (como é da sua natureza!) destinada a maximizar os seus lucros!
Por exemplo na fileira florestal (onde a pasta de papel tem o peso decisivo), que assume uma natureza estratégica pelos seus impactos na balança comercial, no emprego directo e indirecto, nos rendimentos de milhares de pequenos proprietários rurais, na ocupação do território (embora em geral só se façam contas depois do desastre dos incêndios florestais), e onde a privatizada Portucel tem um papel central, pode um país como Portugal aceitar que os investimentos necessários estejam dependentes dos interesses do capital monopolista de Pedro Queirós Pereira?
Pode um país como Portugal permitir que os investimentos em grandes centros electroprodutores, como grandes barragens, ou em redes de transporte de energia, se realizem ou não, conforme os negócios e interesses do capital privado?
Não, não pode!
E podemos também perceber como é absolutamente decisivo, neste momento difícil que Portugal atravessa, o investimento público! Até para fazer arrancar e dinamizar o investimento privado!
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