Podemos fugir da guerra, mas ela acaba por encontrar-nos.
É dado mais ou menos adquirido que, malgrado o esforço de alguns para contrariar a tendência ao longo destes nossos 40 anos pós-coloniais, o olhar de Portugal sobre o seu passado mais escuro e particularmente sobre a Guerra Colonial que ainda passeia cicatrizes entre nós, tem sido insuficiente, a meia-voz, a meia-luz.
É uma boa notícia, portanto, a curva que acaba de fazer a dupla Filipe Melo/Juan Cavia – que já nos tinham levado ao mundo de Dog Mendonça e de Pizza Boy – para fazer uma escala na fronteira entre a Guiné e o Senegal nos anos 70 e desenhar-nos uma história da guerra colonial, mais precisamente a partir de uma companhia de comandos que se autodenominava Os Vampiros.
Editado pela Tinta da China, «Os Vampiros» tem tudo para ser lido de um trago. A arte é belíssima, as personagens são tudo menos unidimensionais – como é aliás, apanágio da boa BD.
E o argumento não está cá para nos deixar sossegados. É um sonho ou será um filme, com imagens belíssimas e momentos muitos duros. No limite, é uma história de terror. Porque a guerra é a guerra e a guerra não é para meninos – embora seja sempre atirada para cima das crianças.
O colonialismo, como a memória, é uma coisa física
E cá se unem, então, as pontas. Porque Filipe Melo é um dos intervenientes na apresentação do «Projecto Memoirs», que terá lugar na quinta-feira, dia 24, às 18h30, no Teatro Maria Matos, em Lisboa.
O «Projecto Memoirs» é um projecto de investigação do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a decorrer até 2020, e debruça-se sobre o impacto na Europa das memórias coloniais e processos de descolonização e independência africanas, a partir das memórias de quem cresceu e vive em Portugal, França e Bélgica mas que, quer pela história familiar quer pelo contexto quotidiano, partilha marcas desses processos históricos.
À apresentação do projecto junta-se o lançamento do livro «Geometrias da Memória: Configurações Pós-Coloniais», organizado por António Sousa Ribeiro e Margarida Calafate Ribeiro, assim como um debate sobre representações artísticas destas mesmas pós-memórias, com a partipação de André Amálio, António Sousa Ribeiro, Filipe Melo, Júlia Garraio e Margarida Calafate Ribeiro.
A entrada é livre, mediante bilhete a levantar no próprio dia, a partir das 15h, e a lotação é ilimitada, uma vez que será transmitido por live streaming.
Mas se calhar é preciso fazer as pazes com as pontas soltas
Ainda no Maria Matos, o Teatro Cão Solteiro continua, juntamente com uns quantos leais cúmplices, a laborar sobre o que não fica, porque não pode ou não quer ficar.
Na verdade tem tudo muita graça, precisamente porque «Isto é uma tragédia», vai desaparecer como a vida, e é para não perder entre 17 e 20 de Novembro, ali à Avenida de Roma.
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