Corria o mês de Novembro, as manchetes davam conta da discussão do Orçamento do Estado, o Governo vendia o documento como o melhor de sempre, e assim como no caso do anterior executivo, o excedente orçamental fora o argumento mais utilizado para dourar a pílula.
Neste excedente podiam estar parte das respostas para responder a vasto conjunto de reivindicações sectoriais. Falava-se da luta dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos polícias, mas quem dominou a atenção mediática no final do passado mês foram os bombeiros sapadores.
A 25 de Novembro, em pleno processo negocial, os bombeiros sapadores deslocaram-se à sede do Governo em Lisboa e realizaram uma acção de protesto. O Governo, talvez pela falta de vontade de se sentar à mesa com os trabalhadores, viria a suspender todas as reuniões com bombeiros após protestos.
A comunicação social deixou a porta aberta para que tal acontecesse. Ao invés de se centrar nas justas e legítimas reivindicações que motivaram a acção de luta, escalpelizou a forma desta. As manchetes diziam «centenas de bombeiros sapadores protestam em Lisboa e lançam tochas e petardos»; ou «petardos, fumo vermelho e palavras de ordem. Tensão em protesto dos Bombeiros Sapadores leva à suspensão das negociações com o Governo».
Em nenhum dos casos o destaque era dado ao facto dos bombeiros sapadores reivindicarem a revisão do estatuto de pessoal; a actualização dos suplementos; o reconhecimento como profissão de desgaste rápido; a revisão do regime de aposentação; a criação de um sistema de avaliação específico e a compensação pelo trabalho em feriados.
O Governo emitiu uma nota na qual pouco ou nada disse sobre todas estas exigências. Disse que reuniu já por 12 vezes com sindicatos dos sapadores, quatro das quais no processo negocial formal e disse somente que apresentou propostas para a remuneração base do bombeiro sapador em período experimental e para a remuneração base do bombeiro sapador em início de carreira, assim como para o suplemento de função e suplemento de risco. A nota acaba por culpar os trabalhadores, considerando que estes exibiram «comportamentos perturbadores» «que não são minimamente compatíveis com um exercício ordeiro e tranquilo da liberdade de manifestação».
Mas, afinal, que bombeiros sapadores quer o Governo?
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