A propósito de Cidades e Mobilidade, leio diagnósticos que cheiram a bolor de tão envelhecidos e grandes ideias que antecipam o futuro e nos seduzem pela descrição de como será a nossa mobilidade numa Lisboa a construir.
É uma evidência que as condições para a mobilidade no espaço citadino e metropolitano, ao invés dos objetivos afirmados pelas políticas que as precederam, continuamente agravam e dificultam a vida dos milhares de pessoas que diariamente vão e regressam. Não é exagerado estimar em 3 horas o tempo médio em que os horários de trabalho da esmagadora maioria são onerados para acomodar as necessidades de deslocação casa/trabalho/casa.
O tema integrou a campanha para as últimas eleições autárquicas no concelho de Almada, onde resido, e promessas existem de, no aplicável e na oportunidade de renegociação das concessões, encontrar uma solução mais benéfica para os utentes dos Transportes Sul do Tejo (TST), Metro Transportes do Sul, FERTAGUS, CARRIS (destaque para a linha Almada-Centro-Sul/Lisboa-Praça José Fontana) e Transtejo. Não antecipo bons resultados e acompanham-me sérias dúvidas de que se assista a melhorias do ponto de vista do passageiro – lá chegaremos ao porquê.
A situação da oferta de transporte por parte da empresa TST na ligação Almada-Lisboa é muito má, seja no que toca aos horários publicados e conforto oferecido aos passageiros, seja na fiabilidade dos autocarros (avarias são difíceis de evitar mas a rapidez em substituir autocarros avariados pode e deve ser parametrizada, planeada, controlada e verificada).
Observando o que se passa com os transportes públicos em Lisboa-cidade, a situação, ainda que melhor do que a que se referiu em relação aos TST, deixa muito a desejar no tocante a intervalo entre carreiras e cumprimento de horários.
Entre o idílico cenário de transportes públicos «on demand»1 (palavras do Presidente da Câmara de Lisboa) e a realidade vai uma distância inalcançável, por muitas passadas que Fernando Medina dê enquanto tiver responsabilidades políticas neste domínio. Tais palavras só se compreendem como miragem que pretende iludir e só colherá incauta gente que se possa dar ao luxo de viver sonhos em leitos de algodão açucarado.
Sejamos realistas. O que se impõe fazer não é eleger o sonho que comanda a vida para nos distrair do amanhã a que se tem obrigação de dar resposta. O que se impõe é reforçar o investimento naquilo que já existe para resolver os constrangimentos identificados (ex: os que levaram a Administração da SOFLUSA a sugerir aos passageiros que procurassem alternativas de transporte às horas de ponta na ligação Barreiro-Lisboa!!!; colocar em circulação as composições do Metro a aguardar reparação e disponibilidade de condutores qualificados; ser mais interventor no controle do serviço prestado pelas concessionárias (i.e. TST) e, quando a oportunidade surgir, definir termos de concessão que facultem ao concessionário formas mais eficazes de controlo e avaliação do serviço prestado, naturalmente na ótica do utente.
Agora que a campanha eleitoral está dormente, observemos como e se as promessas se cumprem mas mantenhamos a exigência pela qualidade dos serviços que pagamos, cuja prolongada ausência nos obriga muitas vezes a ter de recorrer ao táxi.
- 1. Em função da procura... No caso, diria procura instantânea. Dá elevação usar anglicanismos... Lembro-me da exposição de Zeinal Bava na Comissão de Ética da Assembleia da República, 10 de Março de 2010.
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