O Programa Alimentar Mundial estima que os efeitos da guerra e sanções empurrarão 47 milhões de pessoas para uma situação de insegurança alimentar em 2022. A grande maiora destas pessoas vive no continente africano, dependente dos cereais importados da Rússia e da Ucrânia (juntos, representam quase um 1/3 deste mercado).
Se a Ucrânia se vê impossibilitada de exportar os seus cereais – em consequência da situação de guerra em que se encontra actualmente –, os cereais russos, indispensáveis para milhões de pessoas (Ruanda, Tanzânia, Senegal, Egipto, Benim e Somália são, em diferentes graus, dependentes deste mercado), não chegam a quem deles necessita por causa das sanções aplicadas pela União Europeia (UE) e EUA.
As sanções são vistosas em matéria de propaganda. Na prática, não funcionam. Na guerra económica, o grande vencedor é os EUA e o maior derrotado é a UE. Já a Rússia, ganha dinheiro. O Ministério das Finanças da Rússia diz esperar receber até um bilião de rublos de receitas adicionais de petróleo e gás este ano. Isto foi declarado, pelo ministro, Anton Siluanov, no início desta semana. Os peritos ocidentais dizem que as receitas do petróleo e do gás da Rússia atingiram um nível recorde, apesar das sanções ocidentais sem precedentes. De acordo com Janis Kluge, especialista do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança, as receitas da Rússia provenientes da venda de transportadores de energia aumentaram mais de 50%. Em Abril, Moscovo recebeu 1,8 biliões de rublos provenientes da venda de petróleo e gás. Em Março, este valor foi de 1,2 biliões de rublos. Assim, a Rússia recebeu metade das receitas previstas de petróleo e gás para 2022 em apenas quatro meses. As sanções do Ocidente sobre a Rússia acabaram por beneficiar esta no sector da energia. É impossível retirar o mesmo petróleo russo do mercado sem permitir que o seu preço suba. E se o preço do barril continuar a crescer, então a procura de «ouro negro» russo subirá na mema proporção. Estes números confirmam a tendência já expressa nos dois primeiros meses de guerra, conforme tinha noticiado, a 27 de Abril passado, o jornal The Guardian: «A Rússia quase duplicou as suas receitas provenientes da venda de combustíveis fósseis à UE durante os dois primeiros dois meses de guerra na Ucrânia, beneficiando do aumento dos preços, mesmo com a redução dos volumes. A Rússia recebeu cerca de 62 mil milhões de euros das exportações de petróleo, gás e carvão nos dois meses desde o início da invasão, de acordo com uma análise dos movimentos e cargas marítimas efectuada pelo Centro de Investigação sobre Energia e Ar Limpo do Reino Unido. Para a UE, as importações foram de cerca de 44 mil milhões de euros nos últimos dois meses, em comparação com cerca de 140 mil milhões de euros durante todo o ano passado, ou cerca de 12 mil milhões de euros por mês. Os resultados demonstram como a Rússia tem continuado a beneficiar do seu estrangulamento sobre o abastecimento energético da Europa, mesmo enquanto os governos têm procurado freneticamente impedir Vladimir Putin de utilizar petróleo e gás como uma arma económica.» As sanções têm sido incapazes de reduzir, de facto, de uma forma eficiente, a dependência energética dos países da União Europeia em relação à Rússia. «As exportações para países estrangeiros distantes (não incluindo as 11 repúblicas, que antes integravam a URSS, da Comunidade dos Estados Independentes, CEI) atingiram 61 mil milhões de metros cúbicos, menos 27,6% (ou 23,2 mil milhões de metros cúbicos) do que para o mesmo período em 2021», disse a empresa russa Gazprom na rede social Telegram. O gigante empresarial russo garante que está a fornecer gás «de acordo com encomendas confirmadas». «As exportações de gás para a China através do gasoduto Power of Siberia estão a aumentar, como parte de um contrato a longo prazo entre a Gazprom e a China National Petroleum Corporation (CNPC)», acrescentou a empresa russa. Esta queda nas entregas é devida, alegadamente, ao boicote à Rússia dos países da União Europeia (UE). Devido à ofensiva da Rússia na Ucrânia, a UE está a tentar reduzir a sua dependência do gás russo — que anteriormente representava 40% das suas importações anuais de gás — e encontrou outros fornecedores nos Estados Unidos para um terço das suas compras. Nesse sentido, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, saudou na passada terça-feira o acordo «razoável» alcançado esta madrugada pelos líderes europeus, de embargo parcial do petróleo russo, lembrando as «longas e difíceis discussões diplomáticas». «[Tivemos] boas notícias. […] Tarde - como sempre - mas conseguimos e agora já temos um plano para proibir 90% das importações de petróleo para a UE, [pelo que] no final deste ano, estaremos a comprar menos 90%, embora com algumas excepções para os países sem litoral», declarou o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, o homem que numa visita a Kiev, depois do início da invasão, garantiu que a vitória da Ucrânia e a resolução do conflito ia ser decidida no terreno militar. Os chefes de governo e de Estado da UE chegaram na segunda-feira à noite a acordo para um embargo parcial ao petróleo russo, estando em causa dois terços das importações europeias à Rússia. Depois de difíceis discussões na UE para avançar com um embargo gradual e progressivo ao petróleo russo, como proposto pela Comissão Europeia, há quase um mês, o assunto esteve na agenda dos líderes europeus, havendo agora alterações face à proposta inicial, como de a medida abranger dois terços das importações europeias de petróleo russo, ou seja, todo o petróleo marítimo proveniente da Rússia. Isto significa que tanto a Hungria como outros países mais dependentes do petróleo russo, como a Eslováquia e a República Checa, conseguem continuar a importar por via terrestre. A guerra na Ucrânia expôs a excessiva dependência energética da UE face à Rússia, que é responsável por cerca de 45% das importações de gás europeias. A Rússia também fornece 25% do petróleo e 45% do carvão importado pela UE. No caso do petróleo, o efeito de um embargo será relativamente limitado, devido ao princípio de «vasos comunicantes». O mercado petrolífero é fluido e globalizado, com a maior parte dos volumes a deslocarem-se por navio, incluindo entre a Rússia e o Velho Continente. «Se a Europa deixasse de comprar petróleo russo, este iria para outros países, particularmente na Ásia, e isto libertaria volumes que a Europa poderia comprar a outros fornecedores», diz Morgan Crénès, coordenador de análise do mercado energético da Enerdata, à revista francesa Alternatives Economiques. Evidentemente, estes ajustamentos não seriam imediatos e estas tensões levariam, como hoje, a preços muito elevados, pelo menos temporariamente e sem que isto correspondesse fundamentalmente a uma escassez física. Uma interrupção do comércio de petróleo entre a UE e a Rússia poderia, portanto, ser mais penalizante para quem lança as sanções (através de aumentos de preços) do que para os sancionados (cujas perdas líquidas em volumes de exportação seriam de facto limitadas e compensadas pelo aumento do nível de preços). Em relação ao gás natural, Com um ano a decorrer e as reservas de gás com a necessidade de serem reabastecidas para se prevaver o próximo Inverno, as possibilidades de substituição entre 150 e 160 biliões de metros cúbicos de gás (bcm, iniciais em em inglês) russo são limitadas. Segundo a Agência Internacional de Energia, a UE dificilmente poderia contar com um aumento de 30 bcm nas importações de gás de outros países fornecedores (20 bcm por navio e 10 bcm por gasoduto). A aceleração da implantação de electricidade renovável, desde que os procedimentos de autorização de projectos sejam desbloqueados, permitiria substituir 6 mil milhões de metros cúbicos de gás adicional (dos 400 mil milhões de metros cúbicos de gás consumidos pelos europeus, pouco mais de 120 são utilizados para produzir electricidade), aos quais se poderiam acrescentar 13 mil milhões de metros cúbicos maximizando a produção dos actuais reactores nucleares e utilizando a capacidade não utilizada das centrais eléctricas alimentadas a lenha. Em termos de utilizações, acelerar a propagação das bombas de calor para substituir as caldeiras a gás pouparia 2 mil milhões de metros cúbicos. O mesmo poderia ser recuperado num ano através da aceleração dos ganhos de eficiência na habitação e na indústria. E se decidíssemos reduzir a temperatura de aquecimento das casas em 1°C, o ganho seria de 10 mil milhões de metros cúbicos adicionais. Se todas estas medidas fossem de facto postas em prática – o que não aconteceria com um estalar de dedos – o seu efeito, sobre a diminuição da dependência do gás russo, permaneceria assim limitado. Ir mais longe, implicaria agir muito mais fortemente a pedido, ou substituir o petróleo e o carvão por gás russo (com o problema dos «vasos comunicantes» acima mencionado, associado a um impacto climático). Segundo os articulista do Le Monde Diplomatique Mathias Reymond e Pierre Rimbert, na sua gestão da crise ucraniana, Bruxelas cometeu dois erros. O primeiro, foi reduzir precipitadamente a sua forte dependência do gás russo (45% até ao início de 2022) e do petróleo (27%) à pressa e não de forma planeada, sem ter uma alternativa de fiabilidade e custo equivalentes. Já em 8 de Março de 2022, a Comissão Europeia delineou o plano da REPowerEU para «eliminar a nossa dependência dos combustíveis fósseis russos» até 2027 e, mais concretamente, para reduzir o fornecimento de gás russo em dois terços até ao final deste ano. Generosamente imaginado com o crescimento da energia retirada do «hidrogénio verde», solar, eólico e biometano. O projecto para diminuir o gás russo, na UE, depende, por enquanto, do GNL (gás natural liquefeito). Transportado por navio petroleiro - para se perceber o gigantismo da tarefa, cada petroleiro leva em média o equivalente apenas a um dia de consumo em França -, esta fonte de energia, que é principalmente exportada pelos Estados Unidos, Austrália e Qatar, é objecto de todo o tipo de cobiça, uma vez que um terço do comércio internacional não é realizado ao abrigo de contratos a longo prazo, mas sim numa base pontual: o que oferece mais dinheiro ganha a carga. O que faz prever que os custos da importação do gás de xisto vindo dos EUA serão várias vezes superiores ao importado da Rússia nos países europeus. As justificações morais do executivo da UE para diversificar os seus abastecimentos, antes da invasão da Ucrânia, seriam cómicas se não fossem graves. «O nosso pensamento estratégico é este», explicou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, «queremos construir o mundo de amanhã com democracias e parceiros com os mesmos valores»: Azerbaijão, Egipto e Qatar... Além disso, as conversações não se traduzirão em fluxos de gás, para a Europa, significativos durante meses, se não anos: os Estados Unidos não têm capacidade de exportação suficiente para substituir o gás russo; a carteira de encomendas do Qatar, que está maioritariamente orientada para a Ásia, está preenchida até 2026; o Egipto exporta a maior parte da sua produção para a China e Turquia. Com a agitação na Líbia e o agudizar do conflito no Sahara Ocidental que implica a Argélia e Marrocos, que levou ao encerramento do gasoduto Magrebe-Europa, o Norte de África pouco oferece no caminho para uma solução. Como resultado, os preços do gás na Europa eram seis vezes mais altos, em 27 de Abril, do que um ano antes. Em termos dos interesses europeus, o alinhamento da Alemanha e da Comissão com as posições americanas é um segundo erro. Washington pode tanto mais facilmente declarar um embargo aos hidrocarbonetos russos (8 de Março) quanto não sofre com estas sanções. Para a Comissão Europeia seguir o exemplo, o anúncio a 4 de Maio da «eliminação gradual dos fornecimentos de petróleo bruto russo no prazo de seis meses e dos produtos refinados até ao final do ano» equivale a sancionar as populações do Velho Continente, especialmente as que têm os mais baixos padrões de vida. Por exemplo, mais de metade do gasóleo importado pela Europa vem da Rússia. No entanto, as medidas governamentais destinadas a evitar uma crise como a dos «coletes amarelos», em França, à escala continental não compensam o aumento dos preços dos combustíveis. Assim, quando diversifica correctamente o seu aprovisionamento energético, a União tem pouco interesse económico em boicotar Moscovo. Sobre este assunto, está já a emergir uma divisão: por um lado, a Polónia e os estados Bálticos, alinhados com Washington e determinados a cortarem-se imediatamente aos hidrocarbonetos «que financiam a guerra de Putin»; e por outro lado, a Hungria e a Eslováquia, dois países abastecidos de petróleo por um oleoduto russo, recusam o hara-kiri energético proposto por von der Leyen. Só o caso da Alemanha resume a incoerência da Europa. A Alemanha tinha baseado a sua segurança energética em gás barato, contratos a longo prazo e infra-estruturas sustentáveis (os gasodutos Nord Stream 1 e 2). Esta estratégia remonta ao início dos anos 2000: a presença de uma Rússia enfraquecida e dócil nas suas margens, onde os hidrocarbonetos eram abundantes, ofereceu à União Europeia uma vantagem comercial em relação aos fornecedores argelinos e do Médio Oriente. Ao decidir em 2011 parar a indústria de energia nuclear, a Chanceler alemã Angela Merkel acentuou a dependência de Berlim de Moscovo, contando com uma rápida transição para os chamados recursos «verdes». Quatro anos após a anexação da Crimeia por Moscovo, Merkel ainda resistia à pressão dos EUA para abandonar o Nord Stream 2. Berlim concordou com Moscovo em apresentar o seu comércio e infra-estruturas de gás como estritamente comerciais, a fim de o proteger o mais possível dos caprichos da situação internacional e da política anti-russa de Washington. As pressões da Casa Branca e a presença dos Verdes na nova coligação no poder em Berlim, depois a invasão da Ucrânia, abalaram este status quo. A 7 de Fevereiro, o Presidente Joseph Biden declarou na presença do Chanceler Olaf Scholz que a política energética alemã foi agora decidida em Washington e não em Berlim: «Se a Rússia invadir, ou seja, se tanques e tropas atravessarem novamente a fronteira para a Ucrânia, então não haverá mais Nord Stream 2. Vamos fechá-lo». Podemos imaginar a reacção da Casa Branca se a Alemanha tivesse ameaçado «fechar» uma grande infra-estrutura dos EUA no caso de uma invasão do Iraque. Apesar de ter mudado de posição, Scholz está a ser esmagado pelos opinadores na comunicação social: «A sua recusa em cortar o fluxo de gás russo faz da Alemanha um cúmplice de facto do assassinato em massa», afirma o economista democrata Paul Krugman (The New York Times, 7 de Abril de 2022). É necessário «pôr fim ao gás russo», brama o editorial do Le Monde (8 de Abril de 2022), mesmo que isto implique «paragens de produção com a sua quota-parte de trabalho a tempo reduzido e cortes de postos de trabalho, para não falar de custos mais elevados tanto para os fabricantes como para os consumidores». Este é o resumo da situação: por enquanto, as sanções contra Moscovo decididas em Washington e endossadas obedientemente por Bruxelas estão a pesar principalmente sobre os europeus. A Secretária do Tesouro dos EUA Janet Yellen admitiu sem rodeios que um embargo europeu ao petróleo russo «terá de facto muito pouco impacto negativo na Rússia», mas fará subir os preços, o que até beneficiará Moscovo a curto prazo. Entretanto, o consenso ocidental sobre a necessidade de asfixiar economicamente a Rússia para a forçar a deixar a Ucrânia está a ter lugar à custa da transição para a chamada energia «verde». Um dos papas do pensamento petrolífero, Daniel Yergin, disse aos europeus como passar sem o gás russo: «Pode-se queimar mais carvão para produzir electricidade» e ressuscitar o campo de gás holandês em Gronigen, que foi encerrado por razões ambientais», Le Monde Diplomatique, citando o Financial Times, 30 de Abril de 2022. Sob pressão, tanto Berlim como Roma estão a pensar em reactivar as centrais eléctricas alimentadas a carvão, fechadas para «salvar o planeta». Desde a invasão russa, o hidrocarboneto mais poluente tem vindo a voltar com pompa e circunstância. Perante a crise energética, o consumo global está a explodir ao ponto de os gigantes mineiros estarem a lutar para satisfazer a procura de carvão. Concluindo, são sanções ineficientes, que penalizam os pobres, aumentam o aquecimento global e fazem lucrar as grandes empresas do costume. A guerra não continuava se não houvesse gente que ganhava com ela. São a única explicação para estas políticas. 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A Rússia a lucrar, nos combustíveis, com as sanções europeias
As exportações russas descem, os preços sobem, e as sanções derrapam
Os resultados do embargo para além da propaganda
Precipitação europeia e subordinação aos EUA
Política alemã decidida em Washington
Quando a guerra extermina a ecologia
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Um relatório da Global Crisis Response Group, divulgado ao fim de três meses de guerra, alerta para os impactos «sistémicos, severos e acelerados» da guerra na segurança alimentar, na energia e nas finanças do mundo, ressalvou António Guterres, secretário-geral do ONU. Ao «derramamento de sangue e sofrimento» das populações civis, acresce «uma onda sem precedentes de fome e destituição», afectando, sobretudo, as populações em situação de maior fragilidade, económica e social.
Guterres anunciou, na sessão de apresentação do relatório, a criação de duas task forces coordenadas por Rebeca Grynspan, responsável da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), e Martin Griffiths, responsável pela ajuda humanitária. Estes grupos já estão no terreno, a trabalhar com as partes envolvidas, para garantir o acesso de alimentos e fertilizantes russos e ucranianos aos mercados globais.
As partes envolvidas na limitação do acesso aos cereais foram, de resto, identificadas nessa mesma conferência: Moscovo e Kiev, em guerra; Ancara, que se tem estabelecido como mediadora na relação entre os dois estados e, claro está, os proponentes das políticas sancionatórias, Bruxelas e Washington.
União Africana à procura de «tréguas» na Rússia
Macky Sall, presidente do Senegal e da União Africana, visitou a Rússia no início do mês de Junho, procurando «contribuir para uma trégua do conflito na Ucrânia e para a libertação das reservas de cereais e fertilizantes, cujo bloqueio afecta especialmente os países africanos».
As medidas coercivas unilaterais, mais conhecidas como sanções, devem acabar, na medida em que afectam populações vulneráveis, defendeu o Conselho de Direitos Humanos da ONU em votação recente. O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução intitulada «As repercussões negativas das medidas coercivas unilaterais no gozo dos direitos humanos», apresentava pelo Movimento dos Países Não-Alinhados. Apesar das denúncias repetidamente realizadas por organismos internacionais sobre os seus efeitos no desenvolvimento económico e político dos povos e sobre o modo como afectam a vida diária das populações, os Estados Unidos e a União Europeia fizeram das sanções uma arma comum e impuseram-nas a dezenas de países. De acordo com the MintPress News, em Março de 2020, um quarto da população mundial residia em países a que haviam sido impostas sanções. Numa sessão do Conselho de Direitos Humanos celebrada a 31 de Março, mais de metade dos 47 membros votaram contra as medidas coercivas unilaterais, ilegais à luz do direito internacional. A resolução A/HRC/49/L.6 contou com 27 votos favoráveis (57%), 14 contra (30%) e seis abstenções (13%). A maioria dos países do Sul global posicionou-se contra a imposição de sanções, enquanto a maioria dos chamados países ocidentais se posicionou contra a resolução. Os 27 países que votaram a favor da resolução, condenando as sanções, foram: Argentina, Benim, Bolívia, Catar, Cazaquistão, China, Costa do Marfim, Cuba, Emirados Árabes Unidos, Eritreia, Gabão, Honduras, Índia, Indonésia, Líbia, Malawi, Malásia, Mauritânia, Namíbia, Nepal, Paquistão, Rússia, Senegal, Somália, Sudão, Uzbequistão e Venezuela. Os 14 países que votaram contra a resolução foram: Alemanha, EUA, Finlândia, França, Ilhas Marshall, Japão, Lituânia, Luxemburgo, Montenegro, Países Baixos, Polónia, Reino Unido e Ucrânia. Os seis países que se abstiveram foram: Arménia, Brasil, Camarões, Gâmbia, México e Paraguai. O texto insta «todos os estados a deixar de adoptar, manter ou implementar medidas coercivas unilaterais» que não respeitam o direito internacional, o direito internacional humanitário e a Carta das Nações Unidas. China, Rússia, Irão, Síria, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela e Nicarágua enviaram uma carta conjunta ao secretário-geral das Nações Unidas, exortando-o a solicitar o levantamento imediato das sanções. Na missiva que dirigiram esta quarta-feira a António Guterres, os representantes permanentes junto das Nações Unidas de China, Rússia, Irão, Síria, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela e Nicarágua sublinham que hoje existe «um inimigo comum: a Covid-19» e que os seus governos «agiram com responsabilidade», adoptando «as medidas de precaução necessárias para conter a disseminação» da pandemia. Contudo, a «vontade política e moral» dos governos, a dedicação dos seus médicos e profissionais de saúde, e a colaboração de cada povo torna-se «difícil, se não impossível», nos países que «actualmente enfrentam a aplicação de medidas coercitivas unilaterais, que são ilegais e violam flagrantemente o direito internacional e a Carta das Nações Unidas», alertam os firmantes da carta. «O impacto destrutivo de tais medidas a nível nacional […] dificulta a capacidade dos governos nacionais de, entre outras coisas, ter acesso regular ao sistema financeiro internacional ou ao livre comércio», denunciam os embaixadores, destacando que, deste modo, ficam comprometidos «os esforços envidados pelos governos nacionais para atacar a Covid-19», nomeadamente no que respeita à «aquisição efectiva e oportuna de equipamentos e suprimentos médicos, incluindo equipamentos de teste e medicamentos», que são fundamentais para o tratamento dos pacientes. «Não podemos permitir que cálculos políticos impeçam a salvação de vidas humanas», afirmam os subscritores, sublinhando que o momento actual «não é para fomentar o caos, mas para a solidariedade, a cooperação e a prudência; para unir forças a nível nacional, regional e internacional, sem qualquer tipo de discriminação». Em plena «pandemia global resultante da Covid-19», o «impacto negativo no bem-estar» dos povos «está-se a agravar e a multiplicar ainda mais» com a «promulgação e aplicação de medidas coercitivas unilaterais», que «afectam mais de um terço da humanidade», denunciam. Neste sentido, solicitam a António Guterres, enquanto máximo representante da ONU, que «solicite o levantamento total e imediato dessas medidas ilegais, coercitivas e arbitrárias de pressão económica», de modo a garantir uma «resposta completa, eficaz e eficiente de todos os membros da comunidade internacional à Covid-19». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A resolução também insta todos os estados «a abster-se de impor medidas coercivas unilaterais», bem como a remover tais medidas, uma vez que «são contrárias à Carta e às normas e princípios que regem as relações pacíficas entre os estados a todos os níveis», e lembra que «tais medidas impedem a plena concretização do desenvolvimento social e económico dos países, ao mesmo tempo que afectam a plena concretização dos direitos humanos». O documento sublinha que estas sanções são particularmente destrutivas para as pessoas pobres, as mulheres, as crianças, os idosos e as pessoas com deficiência. Neste sentido, o Conselho exorta ainda os países a adoptarem medidas concretas para mitigar as repercussões negativas das sanções na assistência humanitária, bem como a promoverem o multilateralismo e o reforço da cooperação. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. 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As sanções violam os direitos humanos e devem ser levantadas
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Sanções afectam «mais de um terço da humanidade» e dificultam combate à pandemia
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Em declarações proferidas no encontro, Sall denunciou a forma como as «sanções contra a Rússia agravaram a situação do abastecimento de cereais e fertilizantes aos países africanos. (…) provocando consequências em termos da segurança alimentar no continente».
A posição assumida pela União Africana expõe toda uma outra perspectiva, frequentemente ignorada pelos meios de comunicação ocidental e os responsáveis políticos da «comunidade internacional»: os UE e os EUA não podem continuar a jogar com a vida de milhões de pessoas para afectar economicamente o seu inimigo, a Rússia.
A dissonância entre os príncipios da UE e EUA e as vidas de centenas de milhões de pessoas no países em desenvolvimento ficou clara na votação que responsabilizava Moscovo pela crise humanitária: Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, da CPLP, por exemplo, optaram pela abstenção.
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