Ao anunciar a iniciativa no programa de TV Con Maduro+, na semana passada, Nicolás Maduro explicou que se trata de um grande projecto de produção, que abrange dez mil hectares de terreno em La Vegareña, no estado de Bolívar.
Disse também que a iniciativa comunal camponesa será promovida por Jorge Luis Valbuena Ferrer, presidente da Empresa Agropecuária da Força Armada Nacional Bolivariana (AgroFANB), em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Brasil.
O MST está presente no país há quase duas décadas, actuando em parceria com as comunas venezuelanas, ajudando em projectos de agroecologia e dando formação técnica. De acordo com o presidente venezuelano, foi constituída uma equipa para acompanhar o trabalho, liderada pelo ex-ministro da Agricultura, Castro Soteldo.
No seu portal, o MST lembra que o programa se segue ao apelo lançado por Nicolás Maduro no final de Agosto deste ano durante uma conferência de imprensa em que, usando o boné do MST, Maduro solicitou o envio de uma brigada de mil agricultores da organização brasileira para produzir em solo venezuelano.
Na apresentação do projecto produtivo, na semana passada, o presidente venezuelano destacou a sua dimensão e elogiou o trabalho do MST na Venezuela e no Brasil. «O MST tem uma experiência maravilhosa. Respeitam a terra, produzem na terra, praticam a solidariedade, os valores humanos. Bem-vindo, MST!», afirmou Nicolás Maduro.
A coordenadora da brigada do Movimento na Venezuela, Simone Magalhães, manteve um encontro com o chefe de Estado, no qual destacou o trabalho do MST no Brasil como «um sucesso». De acordo com Magalhães, além da produção de alimentos orgânicos, a organização também tem como ponto fundamental a formação teórica.
«Mais de 70% do que chega à mesa dos brasileiros é produzido pela agricultura familiar. O agronegócio não alimenta o povo brasileiro. Só produz commodities para a exportação. Para nós é importante mostrar que a agroecologia é uma ciência, por isso precisamos desenvolver teoria. Não basta produzir sem gerar conhecimento. Requer conhecer, estudar. Nós temos um método», afirmou.
Angel Prado, ministro das Comunas e um dos principais articuladores do trabalho realizado entre as comunas e o MST no país caribenho, também participou no encontro. Prado sublinhou a ideia de que o trabalho de produção de conhecimento feito pelo movimento brasileiro ajuda na busca de soluções inovadoras para a produção em zonas rurais.
«Os irmãos do MST não só produzem como estudam para inovar e tecnificar o campo, e transformam isso em educação. Nós temos propostas que vêm da base para debater tudo isso. Vamos desenvolver projectos em diferentes povos com áreas desocupadas, inclusive no perímetro de Caracas», disse.
Marlon dos Santos, militante do MST que está na Venezuela a contribuir para a produção na comuna El Maizal, destacou a parte educativa, o trabalho com a juventude.
«Temos trabalhado com os jovens das comunas, na parte educativa. A agroecologia é sumamente importante, inclusive está nas universidades, conseguimos aplicar isso aqui. A gente busca mostrar para os jovens que produzir alimentos não é algo retrógrado, de pessoas que não avançam no tempo. É possível produzir sem o uso de agrotóxicos», afirmou.
Agricultura familiar e «conuco»
Uma das metas do trabalho conjunto entre MST e governo venezuelano é o resgate do conceito de «conuco» (horta familiar). A ideia é proporcionar segurança alimentar às famílias num conceito agro-sustentável, agroecológico, de preservação, diversificação produtiva e cuidado da terra.
Nicolás Maduro, refere a VTV, destacou a intenção de integrar o trabalho do MST no conceito de «conuco» para desenvolver os dez mil hectares do projecto no estado de Bolívar.
Maduro defendeu a «filosofia do conuco», da pequena propriedade que produz alimentos saudáveis e que ajudou o venezuelano a sustentar-se. Em seu entender, trata-se de uma metodologia acertada, que é promovida pela agricultura familiar brasileira.
A ideia – vincou – é produzir em pequenas propriedades com diversidade de produtos, sem prejudicar a natureza, e, em conjunto com o MST, atingir um patamar que permita assegurar a distribuição alimentar em todo o país.
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