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Brigadas do MST levam solidariedade para fora do Brasil

As acções solidárias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ajudam a evitar o desabastecimento das populações vulneráveis no Brasil. Na América Latina, chegam também à Venezuela e ao Haiti.

Militância do MST trabalha no Haiti desde 2009
Créditos / Brigada Internacionalista Dessalines

Em tempos de pandemia, o MST montou uma campanha nacional para «combater as desigualdades do sistema capitalista» e «reduzir o impacto da crise económica que se acentua» no Brasil. Só em Abril, doou 500 toneladas de alimentos. Desde o início da crise sanitária, partiram mais de 1200 toneladas dos acampamentos e assentamentos com destino às camadas mais desfavorecidas.

Fora do Brasil, o MST tem brigadas internacionalistas a trabalhar noutros países latino-americanos – Haiti e Venezuela –, onde também ajudam a impedir o desabastecimento das populações no contexto do actual surto epidémico, mas cuja acção internacionalista e solidária teve início muito antes da Covid-19. Fora da América, a Brigada Internacionalista Samora Machel trabalha na Zâmbia, em África.

Brigada Dessalines no Haiti

A Brigada Internacionalista da Via Campesina Brasil no Haiti recebeu o nome de Jean-Jacques Dessalines, uma das figuras destacadas da luta que levou à independência do país caribenho, em 1804. Os trabalhos da Brigada tiveram início em Janeiro de 2009 e intensificaram-se no ano seguinte, após um terremoto que vitimou entre 200 e 300 mil pessoas, e deixou mais de um milhão de desalojados na capital do país, Porto Príncipe.

Pela brigada Dessalines passaram membros de vários movimentos brasileiros, incluindo o MST, que enviou para o Haiti alimentos produzidos no Brasil, ajudou a implantar sistemas de captação de água e construiu um centro nacional de agroecologia. A brigada também passou a coordenar um banco de sementes de arroz, milho e feijão, indica o Brasil de Fato.

No entender de Paulo Henrique, militante do MST e membro da brigada, o presidente Jovenel Moïse, eleito em 2016, «aprofundou a instabilidade política e a crise económica, piorando as condições de vida da população e provocando reacções populares em todo o país».

«É um governo que aplica a política neoliberal, com uma economia cada vez mais dependente do imperialismo dos Estados Unidos, e que nesse cenário de pandemia não está a fazer nada para proteger a população. Ou seja, é um Estado totalmente ausente da vida do povo haitiano», denuncia.

O militante do MST explica ainda que «o coronavírus se soma a um contexto de crises históricas, estruturais, e intensifica uma crise sanitária que já era grave desde os tempos da cólera».

A brigada trabalha em diversas frentes. Uma delas é a produção de alimentos em parceria com o Tet Kole ti Peyizan Ayisyen, movimento camponês que visa construir a soberania alimentar no Haiti. Também estimula o reflorestamento entre os camponeses, ajuda a distribuir máscaras à população e, numa outra frente de intervenção, leva a efeito articulações políticas com movimentos populares que se organizam para lutar contra a governação de Moïse.

Apoiar a Revolução Bolivariana

Na Venezuela, o trabalho do MST começou há 15 anos. A primeira tarefa era prestar apoio à Revolução Bolivariana ao nível da formação política e do cultivo de alimentos saudáveis.

A brigada internacionalista tem o nome de Apolônio de Carvalho, militante comunista brasileiro, falecido em 2005, que integrou as Brigadas Internacionais em Espanha, em 1937, e foi reconhecido em França como herói da Resistência na Segunda Guerra Mundial.

No contexto da guerra económica promovida pelos EUA contra o país sul-americano – que se agravou, inclusive, em tempos de pandemia –, o trabalho dos membros do MST passa por tentar garantir a soberania alimentar e evitar o desabastecimento das populações.

Em parceria com o Estado venezuelano e com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a brigada promove a produção de sementes crioulas e agroecológicas no país caribenho. A saúde alimentar continua a ser a prioridade, até porque, na Venezuela, a situação relacionada com o novo coronavírus permanece sob controlo, muito melhor do que a de países vizinhos.

Rafael Quiroga, técnico agrícola e militante do MST, trabalha nos municípios Andrés Bello e Campo Elías, no estado de Mérida. «O nosso trabalho aqui visa compartilhar conhecimentos e experiências em agroecologia para produção de sementes, hortaliças e grãos. Assessoramos as famílias na produção de sementes, extracção, limpeza, secagem e armazenamento», diz ao Brasil de Fato.

«Temos o sonho de ajudar a construir uma cooperativa semelhante à Bionatur, com a cara venezuelana. Temos aprendido muito das experiências de luta, resistência e organização do povo venezuelano», acrescenta Quiroga.

Por seu lado, a agrónoma Patricia Balbinotti trabalha na comuna El Maizal, no estado de Lara, e defende que o estímulo à produção de alimentos saudáveis é uma tarefa central na actual conjuntura venezuelana. «Estamos a tentar fazer um processo de transição agroecológica, recuperando o solo com a utilização de adubo orgânico», conta a militante, que também dá formação em agroecologia às famílias camponesas que vivem na comunidade.

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