Foi assinado ontem o protocolo que prevê a construção de uma linha de metropolitano ligeiro nos concelhos de Loures e Odivelas. Com uma extensão total de cerca de 12 quilómetros, terá uma bifurcação: um dos lados com término no Hospital Beatriz Ângelo e outro no Infantado.
A concretização da obra ronda os 250 milhões de euros e será suportada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, como foi anunciado durante a sessão pelo primeiro-ministro António Costa. A expansão do metro para Loures foi uma promessa eleitoral frequente do PS que, na prática, chumbou consistentemente esta proposta, incluindo nos últimos Orçamentos do Estado.
O primeiro-ministro dá a sua palavra: «Temos três anos para assumir compromissos e mais três para os executar. Aqui não pode haver atrasos. Aqui não pode haver mais passos atrás».
O debate aceso na sequência do voto do Orçamento do Estado para 2020 não esconde que incumbe agora ao Governo suspender a construção da linha circular e promover a expansão de Alcântara até Loures. Depois de o PS ter ficado isolado na votação em sede discussão de especialidade do Orçamento do Estado (OE) para 2020, da qual resultou a imediata suspensão da obra que visava a implementação de uma linha circular no Metro de Lisboa (entre o Cais Sodré e o Campo Grande), o debate público sobre a questão intensificou-se. Esta era uma opção que há muito vinha sendo criticada por utentes, autarcas, técnicos e especialistas na matéria, por se tratar de uma visão da mobilidade urbana estrategicamente errada e contrariar os interesses das populações. Em reacção imediata, o PS acusou todos os outros partidos de «irresponsabilidade», iniciando uma acção de chantagem política, com o anúncio de que levará a questão ao Tribunal Constitucional. Foram diversas as críticas avançadas por dirigentes do PS e do seu Governo, acusando os restantes partidos de, com esta decisão, estarem a dar um passo para o desperdício de fundos da União Europeia (UE). Ao que se soma a ideia de que esta decisão terá consequências dramáticas para cidade, como referiram nomeadamente o ministro do Ambiente, José Matos Fernandes, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina. Não obstante, declarações de ontem, do ministro do Planeamento, contradizem esta tese. Nelson de Souza garantiu que a verba de fundos comunitários destinada ao projecto da linha circular do Metro de Lisboa não ficará por utilizar, porque ainda faltam quatro anos para a execução do orçamento dos programas operacionais, o que permite ao Governo a possibilidade de ainda utilizar estas verbas. O que assenta no facto de o programa Portugal 2020 estar sujeito à regra n+3, que determina que, sendo o prazo de vigência dos programas o final de 2020, o orçamento pode ser executado até três anos depois – a chamada regra da «guilhotina financeira». Acresce que, até ao momento, não há qualquer verba gasta quanto a expropriação de terrenos, e tão-pouco existe qualquer adjudicação feita para novo material circulante ou para o sistema de sinalização. A única decisão tomada que poderá ter eventuais repercussões financeiras é o facto de se ter adjudicado a primeira fase de construção da linha circular, mas apenas no que respeita ao concurso de projecto de execução. Não obstante, perante a decisão do Parlamento, tanto o Governo como o Metro de Lisboa não podem prosseguir a adopção de contratos ou compromissos que agravem os encargos. Recorde-se que, para além da suspensão da linha circular, foi também aprovada a proposta do PCP, apenas com os votos contra do PS, que determina que seja dada prioridade à expansão da rede metropolitana abrangendo as freguesias de Campo de Ourique, Campolide e Alcântara, e que possa chegar até Loures. Esta decisão obriga o Executivo a promover as medidas necessárias para a construção desta obra, o que aumentará significativamente o número de utentes que podem vir a beneficiar destes serviços, melhorando a mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa e contribuindo para a diminuição significativa de automóveis no concelho de Lisboa. Recorde-se que a Assembleia da República já tinha assumido a 19 de Julho de 2019, sem quaisquer votos contra, uma resolução, que deu voz a uma petição assinada por cerca de 31 mil cidadãos exigindo este investimento. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
A expansão de que o Metro de Lisboa necessita não é circular
O Governo tem de adoptar outra opção de expansão da linha
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Bernardino Soares, presidente da Câmara Municipal de Loures (CML), por seu turno, reconhece a importância desta conquista, relembrando que esta sempre foi uma reivindicação da câmara:«no mandato anterior retomámos o tema do metro para Loures e para Sacavém, que estava há anos abandonado no Município. Muitos consideravam este objectivo impossível de alcançar, outros desvalorizavam as nossas iniciativas na convicção de que o assunto estava encerrado».
«É um dia histórico para este concelho», sublinhou, referindo que, para além da reivindicação política e mobilização das populações e entidades do concelho, o seu executivo foi capaz de «trabalhar para encontrar soluções possíveis e eficazes e para construir consensos. Comparticipámos financeiramente os trabalhos de execução dos projectos e aceitámos a tipologia do metro ligeiro de superfície».
Este transporte será uma resposta eficaz no único concelho adjacente a Lisboa que não dispunha de um transporte ferro-carril, permitindo agora a Loures desenvolver um conjunto de outros projectos importantes para o concelho: «O metro será um factor de desenvolvimento e de apoio à actividade económica, no Planalto da Caldeira, junto ao Hospital, e também na zona nascente de Loures».
«Está concretizado o planeamento de uma zona de actividades na área tecnológica e de serviços avançados, bem como vários equipamentos, incluindo uma Loja do Cidadão, um novo mercado e o futuro centro cultural», concretizou Bernardino Soares.
A CML retoma agora a reivindicação da criação de uma linha, também em metro ligeiro de superfície, para unir Santa Apolónia a Loures, com passagem por Moscavide, Portela e Sacavém. A autarquia tem a expectativa de que este investimento seja integrado no próximo quadro comunitário de apoio.
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