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Amadora: Famílias imigrantes foram mais afectadas pela pandemia

Um estudo do Centro de Investigação em Saúde Global e Medicina Tropical avaliou as consequências do surto epidémico em famílias imigrantes e nativas no concelho da Amadora.

Créditos / Sapo

Os resultados do estudo «Resposta à pandemia de covid-19 num contexto de desigualdades sociais em saúde: um estudo transversal na população nativa e imigrante da Amadora», publicados hoje no DN, ainda são preliminares, mas já dão uma ideia do que foram os últimos meses para muitas famílias imigrantes deste concelho da Área Metropolitana de Lisboa. As desigualdades estavam lá, a gestão do surto epidémico do novo coronavírus veio agravá-las. 

«Os nossos resultados mostram que a situação é difícil para todos, mas ela é ainda mais negativa para as famílias imigrantes, que estão mais expostas aos problemas socioeconómicos causados pela crise sanitária», revela a investigadora Maria do Rosário Martins, do Centro de Investigação em Saúde Global e Medicina Tropical do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), que coordenou a investigação, citada pelo diário.

No total foram avaliadas 420 famílias residentes na Amadora, 217 imigrantes e 203 nativas, através de inquérito telefónico realizado pelos investigadores do IHMT e que contou também com a participação decisiva do ACES, o Agrupamento dos Centros de Saúde da Amadora, e da ONG AJPAS – Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde. 

A perda de emprego e de ordenado, a diminuição do rendimento por quebra de salário, dificuldades acrescidas no acesso aos cuidados de saúde, e até na impossibilidade de pagar contas e comprar alimentos, são alguns dos aspectos percebidos pela investigação.

Segundo Maria do Rosário Martins, 72% das famílias imigrantes dizem que o rendimento mensal do seu agregado familiar diminuiu devido à situação de pandemia, enquanto nos nativos esse valor é 49%».

Uma diferença «muito grande, tendo em conta, por exemplo, os níveis de escolaridade de ambas as comunidades, que são de nível mediano e comparáveis entre si», frisa investigadora, que segue estas famílias há dois anos no âmbito de outra investigação para avaliar a evolução da saúde infantil em ambas as populações (ver caixa).

Do total dos entrevistados que tinham emprego antes da pandemia, 46% tiveram de ficar sem trabalhar e sem receber ordenado, ou uma parte do ordenado, durante algum tempo, mas nos imigrantes o valor foi superior: 57%, em comparação com 35% nos nativos. Na perda de rendimento líquido mensal essa diferença agudizou-se ainda mais.

Em consequência disso, 30% de todos os agregados familiares referem que tiveram de adiar o pagamento de rendas, prestações de crédito ou despesas de água, gás e luz, mas mais uma vez esse valor «é consideravelmente superior nos imigrantes (39%) do que nas famílias nativas (23%)», nota a coordenadora do estudo.

Em relação ao confinamento e às aulas à distância, o número de famílias imigrantes que dizem não ter um local em casa para os filhos terem aulas à distância chega a 20%. Quanto à necessidade de as crianças fazerem uma refeição na escola, os valores são de 8% para os imigrantes e de 3% para os nativos.

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