As incongruências do BE, não só não surgiram agora, como materializam uma espécie de ADN do partido liderado por Catarina Martins. Mas quando as matérias são de elevado interesse nacional, o catavento que parece orientar as suas políticas sobressai.
Ainda nos lembramos do famoso relatório do BES, onde, de uma posição virulenta contra o resultado saído da comissão de inquérito na Assembleia da República, que resumiu a teia de má gestão e falta de regulação a uma questão de carácter moral, o BE acabou por se abster na votação do documento.
Agora foi a vez da saúde. Depois de ter anunciado o voto contra o Orçamento do Estado para 2021 na generalidade, com o principal argumento de não prever o necessário investimento no SNS – «quando tudo se pede ao SNS, este orçamento não foi capaz de o proteger», frisou Catarina Martins –, o partido passou à fase seguinte, amainou com a reivindicação (gritante) de um maior investimento na saúde pública e resolveu apelar à requisição do sector privado.
Assim foi, logo na sexta-feira, à saída do encontro com o primeiro-ministro, em São Bento. Disse então Catarina Martins que «o Governo deve utilizar todos os mecanismos ao seu dispor», e que o sector privado e social deve ser mobilizado «em condições de transparência, protecção do SNS e do serviço público».
A sério? Acham mesmo que a mobilização do sector privado, transferindo para este avultadas verbas, pode proteger o SNS? De que maneira? Em que medida é que os cerca de 50% do orçamento do serviço público, que são drenados anualmente para o sector privado, têm ajudado a melhorar o funcionamento do SNS?
Independentemente do que vier a acontecer mediante a evolução da pandemia, este não é o tempo de baixar os braços e alavancar argumentos atirados por quem tem interesses privados a defender, como aconteceu recentemente na carta assinada pelo actual e antigos bastonários da Ordem dos Médicos.
Este é antes o tempo de (continuar a) reclamar um investimento robusto no SNS. Um investimento que se traduza em mais profissionais de saúde, na construção de novos hospitais ou na recuperação de consultas, tratamentos e cirurgias em atraso. Um investimento capaz de atender a todos, de acordo com o preceito constitucional, independentemente da algibeira de cada um.
Sabemos que o surto epidémico de Covid-19 trouxe à tona desigualdades sociais e económicas, entretanto agravadas. Abandonar a reivindicação do reforço do SNS não é, portanto, para tomar de ânimo leve.
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