A iniciativa, que teve lugar na segunda-feira, no Fórum Lisboa, marca o arranque da campanha «Direitos humanos e erradicar a pobreza», assinalando o Dia Internacional da Justiça Social. O bispo emérito das Forças Armadas participou no debate com Inês Fontinha, que dirigiu a Associação «O Ninho».
Januário Torgal Ferreira afirmou que «erradicar a pobreza só depende da vontade política», considerando que «é necessário um modelo económico e social totalmente diferente daquele que tem governado» o nosso país. Referindo-se à solução política criada após as eleições de Outubro de 2015, sublinhou que «há agora algo, mas está a dar passos muitos pequenos», numa referência aos constrangimentos com que o Governo do PS não rompeu.
«Luta-se contra a pobreza com muitos meios, mas só se acaba com a pobreza acabando com a injustiça social», afirmou Torgal Ferreira. Para o bispo católico, o salário mínimo nacional é um exemplo do que ainda está por fazer no combate à pobreza. «Porque não subiu o salário mínimo nacional para 600 euros? Se há dinheiro para colocar nos bancos?», questionou.
Inês Fontinha, que trabalhou durante muitos anos com mulheres prostituídas, lembrou que o Dia Internacional da Justiça Social foi adoptado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, com o objectivo de «erradicar a pobreza, promover o pleno emprego e o emprego com direitos, a igualdade de género e o bem-estar e a justiça social para todos».
Dez anos depois, os objectivos «estão muito longe de estarem cumpridos e concretizados», sublinhou a ex-dirigente de «O Ninho». Em Portugal, «não há 2,5 milhões de pessoas em risco de pobreza, há 2,5 milhões de pobres», denunciou. «Quem ganha o salário mínimo e paga 300 euros de rende de casa é pobre. Quem vive com o Rendimento Social de Inserção (RSI), 183,84 euros, é pobre», concluiu.
«Os pobres têm fome. Mas têm fome porquê?»
Algumas das medidas de combate à pobreza foram alvo da crítica dos participantes no debate, ambos membros da comissão promotora do Movimento Erradicar a Pobreza. Inês Fontinha denunciou a «fiscalização da sua pobreza» a que são sujeitos os beneficiários do RSI, dando nota de que «o plano de inserção não é cumprido e as pessoas vão perdendo a esperança».
«Uma esmola pode curar uma situação, mas não cura o sistema», defendeu Januário Torgal Ferreira. Perante a constatação de que «os pobres têm fome», o prelado deixou uma questão: «Mas têm fome porquê?» Para o bispo, «o assistencialismo não é solução», sublinhando que «o que é necessário é curar as causas da pobreza».
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