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Artistas portugueses querem boicote ao Festival da Eurovisão em Israel

Artistas portugueses pedem à RTP que insista com a EBU para transferir o próximo festival da Eurovisão para outro país que não Israel. Caso contrário, afirmam, Portugal deve boicotar o certame.

Artistas portugueses apelaram, em carta aberta dirigida à RTP, ao boicote de Portugal à edição de 2019 do Festival Eurovisão da Canção, caso este decorra no local previsto, em Israel.

A carta aberta, sob o título «Eurovisão não combina com Apartheid», chama a atenção para o facto de aquele país, desde a aprovação da Lei do Estado-Nação Judeu, se ter tornado, efectivamente um estado segregacionista. O estado de Israel tem recebido o repúdio generalizado da comunidade internacional e acusado de ser o sucessor histórico do regime do apartheid sul-africano.

O título da carta remete para a luta dos artistas e intelectuais contra esse regime que, nos anos 80, lançaram o movimento de boicote Artistas Unidos Contra o Apartheid e promoveram a canção e o álbum Sun City, com o nome da cidade onde o regime sul-africano tolerava espectáculos miscigenados interditos no resto do país.

«Pedimos à RTP que aja dentro da União Europeia de Radiodifusão» (EBU-European Broadcast Union) para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra – incluindo assassinatos de jornalistas – não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019», lê-se na carta endereçada à empresa pública responsável pela candidatura portuguesa ao concurso.

No documento releva-se o facto de a participação portuguesa ser, de facto, uma forma de, «em nome do entretenimento», a estação pública de televisão ajudar a «encobrir a ocupação israelita do território palestiniano e a contínua negação dos direitos humanos do povo palestiniano», e a desviar a atenção «dos seus crimes», com os quais estes artistas não se querem tornar cúmplices, antes pretendendo «chamar a atenção do mundo para a colonização» da Palestina levada a cabo por Israel, «que a cada ano se torna mais violenta».

Os signatários são intervenientes em diversas áreas culturais, como a música, o teatro, o cinema, as artes plásticas ou a literatura, e entre eles contam-se o músico José Mario Branco e o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues – que já em Setembro tinham  aderido ao movimento internacional BDS (Boycott, Divestment, Sanctions) lançado e dirigido por organizações palestinianas –, a escritora Alexandra Lucas Coelho, a artista plástica Joana Villaverde, a cantora Francisca Cortesão, os actores João Grosso, Maria do Céu Guerra e Manuela de Freitas, a pintora Teresa Dias Coelho, a cineasta Susana Sousa Dias e o fotógrafo Nuno Lobito. Lembram que «organizações culturais e artistas palestinianos» têm vindo a apelar a que «se pressione Israel de forma não violenta, através do boicote, até que sejam cumpridas as suas obrigações segundo a lei internacional», apelo com o qual estão solidários.

Antecedentes

Israel recebe o Festival Eurovisão da Canção em 2019 depois de ter vencido a edição deste ano, em Lisboa, com o tema Toy, interpretado por Netta Barzilai. A cantora, que desde a sua juventude colabora em organizações sionistas, no final do concurso apelou publicamente à realização da próxima edição do festival em Jerusalém, assim participando na movimentação sionista que visa a anexação total daquela cidade pelo Estado de Israel, violando o direito internacional, as decisões das Nações Unidas e contra a esmagadora maioria da comunidade internacional.

As suas declarações foram convenientemente entendidas pela direita sionista. Foi um Benjamin Netanyahu eufórico que recebeu Netta Barzilai no regresso a Israel, após a sua vitória em Lisboa,e o Atlanta Jewish Times referiu-se ao facto em artigo sob o título «Thanks to Netta, Next Year in Jerusalem».

Posteriormente a União Europeia de Radiodifusão, organizadora do festival, pronunciou-se por um lugar «menos controverso» do que Jerusalém, para a realização do evento, mas continuou a ignorar o protesto das organizações culturais palestinianas, que apelaram ao boicote do concurso em Israel enquanto este estado continuar a manter a sua política de violência sobre os palestinianos e colonização da Palestina.

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