|50 anos do 25 de Abril

Peça-fado «50 Madrugadas» revisita Ary dos Santos e a sua Lisboa nos dias de Abril

O 25 de Abril e a vida nos bairros típicos dessa Lisboa são revisitados pela Companhia da Esquina, através da memória de Ary dos Santos, no espectáculo 50 Madrugadas, a estrear-se no dia 24, no Museu do Fado.

De acordo com o seu criador, o actor e encenador Jorge Gomes Ribeiro, «50 Madrugadas é uma peça-fado», com um texto «político, social, icónico e trágico», que se articula com as canções do poeta revolucionário

Gomes Ribeiro escreveu e encenou a «peça-fado», que tem interpretação de Sofia Ramos, Ricardo Abreu Raposo e Pedro Pernas, com os músicos António Martins, na guitarra portuguesa, e Pedro Saltão, na viola. O espectáculo estará em cena no Museu do Fado, em Lisboa, nos dias 24, 26, 29 e 30 de Abril, e 2 e 3 de Maio.

Questionado sobre esta «peça-fado», Gomes Ribeiro disse que aborda «um bocadinho aquilo que é a evocação do 25 de Abril e daquilo que são as memórias residuais, hoje em dia, a memoria afectiva que nos liga; quais são os principais legados que Ary dos Santos nos deixou, ou as lembranças típicas dos bairros, de um certo bairrismo, e faz alusão aos costumes da Lisboa da década de 1970».

Jorge Gomes Ribeiro destacou a obra de José Carlos Ary dos Santos (1936-1984) como «uma das representações mais fortes, a nível da poética, que tem a ver com tudo o que se cantou desta cidade [Lisboa]».

Para o encenador, o autor de temas como «Amêndoa Amarga» ou «Um beijo no Futuro», que assinou «mais de 600 canções e tem dos fados mais importantes que foram escritos até hoje como "Um Homem da Cidade" [com música de José Luís Tinoco], do repertório de Carlos do Carmo [1939-2021], "Meu Amor, Meu Amor", [musicado por Alain Oulman], criação de Amália Rodrigues [1920-1999], ou "Cavalo à Solta" [por Fernando Tordo]».

«José Carlos Ary dos Santos tem uma obra importantíssima, que os intelectuais da década de 1980 bloquearam. Nunca o consideraram um poeta, chamaram-lhe letrista de canções, quando ele tem uma obra poética fantástica em três ou quatro volumes com poemas maravilhosos. E hoje em dia é considerado um dos poetas mais importantes da última fase do Modernismo», argumentou.

Sobre a construção da «peça-fado», Gomes Ribeiro disse à Lusa: «Parti da poética dele, da evocação que ele faz que toca o 25 de Abril, e isso contamina-nos a memória e relembra-nos coisas importantes, como resistência, liberdade, [a realidade de] compartilhar com o outro. Inspira-nos um bocadinho, na alma pátria, defender esta lusitanidade do Tejo, cantar o Tejo. E é algo que está intrinsecamente ligado à liberdade».

Tudo isto faz com que 50 Madrugadas seja «um texto que retrata o lado passional da poesia sobre as canções», afirmou.

O encenador e autor realçou a característica da poesia de Ary dos Santos, «reconhecida hoje pelos músicos e escritores»: «Tinha um dom matemático e natural, de conseguir escrever as letras de modo a que as sílabas tónicas acentuassem nos compassos fortes da música», realçou.

Além de Carlos do Carmo, Amália Rodrigues e Fernando Tordo, outros cantaram poemas de Ary dos Santos, como Tonicha, Simone de Oliveira e Paulo de Carvalho.

Quatro canções com poemas seus venceram o Festival RTP da Canção: «Desfolhada» (1969) e «Menina» (1971), «Tourada» (1973) e «Portugal no Coração» (1977).

Sobre o festival de 1971, a escritora e jornalista Maria Teresa Horta escreveu: «Pelo menos, três poemas de José Carlos Ary dos Santos [no concurso] é já uma garantia de qualidade a que estamos pouco habituados».


Com agência Lusa

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