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O Banco Mundial e o modelo de crescimento da China

David Malpass, o novo presidente da instituição, apontou a China como responsável pela elevada dívida mundial. Esqueceu ter sido a China a  sustentar a economia mundial após a recessão de 2007/2008.

 David Malpass foi designado por Donald Trump representante dos EUA no Banco Mundial e publicamente proposto para a presidência do mesmo, na Casa Branca, Washington, 6 de Fevreiro de 2019. Dois meses depois, a 5 de Abril de 2019, foi eleito para a presidência do Banco Mundial.
CréditosEPA/JIM LO SCALZO / LUSA

Em entrevista a Sara Eisen, da cadeia televisiva norte-americana CNBC, o novo presidente do Banco Mundial (World Bank Group), David Malpass, advertiu que há muita dívida no mundo e que a culpa disso é da China e não dos EUA.

«Existem desafios, que o mundo enfrenta, em termos de como ter projectos transparentes e de alta qualidade, onde a dívida seja transparente. A China moveu-se tão rapidamente que em algumas partes do mundo existe muita dívida», afirmou Malpass naquela que foi a sua primeira entrevista após ter entrado em funções. «Isso é algo que podemos trabalhar com a China», acrescentou.

A China, de facto, emprestou milhões de milhões de dólares a outros países, incluindo aos EUA. Desde Janeiro de 2019 a China é detentora de USD 1,12 milhões de milhões em títulos do Tesouro dos EUA, segundo dados do Departamento do Tesouro deste país.

Malpass tem criticado os esforços de empréstimos da China para financiar a infra-estrutura «Cinturão e Rota» (mais conhecida na sua versão inglesa, Belt and Road)1 de sua iniciativa. No ano passado, disse que esses empréstimos deixam os países mais fracos com «uma dívida excessiva e projectos de baixa qualidade». Agora referiu que a China está disposta a reduzir esses esforços, observando: «Eles [os chineses] querem ter um melhor relacionamento com os outros países e fazer parte do sistema mundial. Espero ter sucesso [nas negociações com os chineses] e ter um bom relacionamento com a China»2.

Malpass também criticou a China por obter empréstimos de baixo custo do Banco Mundial, apesar de ser a segunda maior economia do mundo e superar o limite do banco para empréstimos de baixo custo, em 2016.

«A China reconhece que o seu papel como destinatário de empréstimos no banco precisa diminuir», disse Malpass. Mas também reconheceu que os empréstimos do Banco Mundial à China já têm vindo a diminuir, acrescentando esperar que isso continue a acontecer nos próximos três anos.

David Malpass foi eleito para o cargo na sexta-feira, dia 5 de Abril, por unanimidade, depois de o seu nome ter sido proposto para o cargo por Donald Trump. Antes de ingressar no Banco Mundial, era subsecretário de assuntos internacionais do Departamento do Tesouro dos EUA no governo de Trump e já exercera funções nos governos de Ronald Reagan e George w. Bush3.

É evidente a distorção dos factos na declaração de Malpass anterior à referida entrevista à CNBC. É conhecido o papel que a China teve no salvamento do sistema financeiro mundial depois da crise iniciada em 2006/2007, que ainda hoje se repercute à escala universal. Quando se referia a «projectos de baixa qualidade» referia-se a quê? Às infra-estruturas de muitos países dos continentes mais pobres, mais vitimados por guerras, que são, na realidade, veículo para o desenvolvimento – que é a mais sólida condição para a existência, neles, da paz? Serão os projectos de investimento e outras formas de cooperação económica já estabelecidas com muitos países, mais desenvolvidos ou menos, como os anunciados recentemente com a Croácia, a Sérvia, a Eslováquia, a Eslovénia, o Japão, a Bulgária e a Albânia?…

A nova política económica da China

Na China estão a decorrer encontros em que legisladores nacionais e consultores políticos estão a rever e a discutir medidas específicas para um crescimento mais estável e verde da economia chinesa.

É conhecido que a economia chinesa tem vindo a efectuar uma transição de uma fase de crescimento rápido para um patamar de crescimento de qualidade e está a transformar o modelo de crescimento, a melhorar a estrutura económica e a promover novos catalisadores de crescimento.

«Este é um momento crucial para transformar o nosso modelo de crescimento, melhorar a nossa estrutura económica e promover novos catalisadores de crescimento», afirma a China.

Estas discussões em curso precisarão o que significa o novo padrão para o crescimento da China e do mundo, definido em termos gerais pelo Partido Comunista Chinês (PCC), e como devem os negócios globais e os investidores prever e tomar medidas quanto às alterações na economia mundial.

Os números relativos ao crescimento foram estáveis durante os últimos cinco anos, acompanhando a ênfase na qualidade e na tolerância ao abrandamento do crescimento do PIB.

Os economistas prevêem que a China mantenha o seu crescimento próximo dos 6.5% este ano, fruto dos esforços em melhorar a qualidade e a performance da sua economia. De facto, algumas autoridades provinciais suavizaram as suas metas neste âmbito, durante as sessões locais realizadas em Janeiro.

Embora a China tenha vindo a abandonar a sua expansão desenfreada, o país continuará assumindo o seu compromisso de estabilizador da economia global. Dados do Banco Mundial revelam que a China contribuiu em 34% para o crescimento mundial entre 2012 e 2016, mais do que os EUA, a União Europeia (UE) e o Japão juntos.

Na China, o consumo superou o investimento como principal motor de desenvolvimento económico.

Juntamente com outras políticas económicas referidas pelo governo, a meta anual de crescimento está sujeita à aprovação do topo da legislatura que, juntamente com o principal órgão consultivo, desempenha uma parte importante na formulação de políticas nacionais, da empregabilidade ao ambiente.

O livre comércio é outro dos tópicos em discussão, acompanhando a tendência de desenvolvimento de qualidade da China, a qual estará na base da criação de um enorme mercado de consumo e sua respectiva procura de produtos do resto do mundo.

Detentora da primeira zona de livre comércio do país, Shanghai está na vanguarda do comércio internacional, procurando ainda mais oportunidades. Shanghai prepara-se para impulsionar a sua zona de comércio livre, para atingir padrões internacionais de alto nível, e para apresentar medidas para desenvolver o «porto de comércio livre», com medidas mínimas de controlo comercial.

O Ministério do Comércio chinês previu também, em Novembro de 2018, que a China iria importar mais de 10 milhões de milhões de dólares em bens e serviços durante os próximos cinco anos.

À sombra da explosão das importações chinesas, cresceu a classe média do país que, com uma população de cerca de 300 milhões de pessoas, perfaz 30% do total mundial. A sua influência tem-se reflectido na sua crescente preponderância em comandar o crescimento e o comércio.

A China deverá dar continuidade à abolição de tarifas em produtos como automóveis. No ano passado foram eliminados impostos aduaneiros em 187 produtos, com uma descida média de 17.3% para 7.7%.

Os analistas preconizam medidas mais específicas para alargar o acesso ao mercado a negócios internacionais. Durante o encontro do Fórum Económico Mundial, a China irá suscitar medidas para garantir uma maior abertura financeira, das indústrias transformadoras e do sector de serviços da China, reforçando a protecção da propriedade intelectual.

A lista que determina os sectores onde a participação estrangeira é proibida ou limitada tornar-se-á mais reduzida. As empresas estrangeiras continuarão a receber um tratamento igualitário, com os seus interesses adequadamente salvaguardados. A iniciativa do Cinturão e Rota será impulsionada, mantendo o seu foco na cooperação industrial internacional.

O investimento directo estrangeiro na parte continental da China atingiu o maior valor de sempre, com 878 mil milhões de yuan apurados no ano passado, o que contrasta com a tendência de quebra global. Um total de 35 652 negócios internacionais foram estabelecidos no país.

O banco central da China anunciou há dias a abolição de regulamentos antigos, de modo a agilizar manobras de negócios estrangeiros no país. Por seu turno, um regulador bancário anunciou também medidas, nesses dias, para facilitar a operação de empresas estrangeiras na China.

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