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Apesar do circo, Guaidó deixou de ser presidente da Assembleia Nacional

O mandado de Washington, que há um ano se autoproclamou «presidente interino», perdeu este domingo o assento na presidência do Parlamento, num processo que evidencia grandes divisões no seio da oposição.

Juan Guaidó a tentar passar a vedação do Parlamento venezuelano, este domingo. Os outros deputados da oposição (alguns do seu partido) entraram pela porta da frente, mas o mandado de Washington preferiu o «show» para se vitimizar
Créditos / Pinterest

A Assembleia Nacional (AN) da Venezuela elegeu ontem, para o período 2020-2021, uma nova direcção, ainda dominada pela oposição ao chavismo, mas sem Juan Guaidó e na qual prevalece a vontade de levar a cabo um trabalho «ao serviço dos venezuelanos», de «reconciliar o povo» e «evitar acções violentas ou confrontos», segundo afirmou o segundo vice-presidente, José Gregorio Noriega.

Para a presidência da AN foi eleito Luis Parra, que denunciou os entraves colocados ao processo de eleição pelo ex-presidente, Juan Guaidó, uma vez que a oposição se encontrava dividida e o autoproclamado não ia alcançar os votos necessários à reeleição.

Em declarações à imprensa, Francisco Torrealba, membro do Partido Socialista Unido da Venezuela e líder do Bloco da Pátria (que inclui forças políticas que apoiam a Revolução Bolivariana), sublinhou que, com esta nova direcção, a AN poderá reentrar na ordem constitucional do país – uma vez que ainda se encontra em situação de «desobediência jurídica» perante o Supremo Tribunal de Justiça.

Sobre a ausência de Juan Guaidó na AN, Torrealba – um dos deputados chavistas que voltaram a ocupar os seus assentos em Setembro último, após um acordo entre o governo e sectores da oposição – afirmou que se tratou de um facto «inédito mas previsível, já que Guaidó não tinha os votos para ser reeleito», e destacou a «divisão existente no seio da oposição».

Torrealba disse ainda que a nova mesa, apesar se ser constituída por elementos da oposição, «responde aos interesses do país e não acata ordens da administração dos EUA», tendo por isso considerado que se inicia uma nova etapa, refere a Prensa Latina.

Também presente na sessão, esteve o secretário-geral do Partido Comunista da Venezuela, Oscar Figueroa, tendo expressado no final à imprensa que este processo abre as portas «à recuperação da legitimidade do Parlamento».

Acrescentou ter testemunhado uma importante «fractura» na oposição e disse ter apoiado este sector – com o qual mantém «importantes divergências» – porque se opõe aos «entreguistas» e defende «a soberania do país» face ao intervencionismo imperialista norte-americano.

O «show» de Guaidó

Entretanto, no lado de fora, o mandado de Washington, a quem os correligionários da oposição fazem graves acusações de corrupção, tentou fazer parecer que os guardas da «ditadura de Maduro» o estavam a impedir de entrar na AN, de tal modo que até chegou a subir por uma vedação acima.


Contudo, registos videográficos mostram que, ao falar com efectivos da Guarda Nacional Bolivariana, é Guaidó quem se recusa a entrar nas instalações parlamentares a não ser que Gilberto Sojo, deputado que o acompanha, sobre o qual pendem diversos processos e que se encontra inabilitado, pudesse entrar também. Mas esse, como Guaidó bem sabia, estava impedido de entrar.

Depois deste episódio, o autoproclamado há cerca de um ano realizou uma acção em que é especialista: uma assembleia «paralela», nas instalações do jornal pró-oposição El Nacional, onde foi «reeleito» pelos seus apoiantes, segundo indica a RT.

Apesar de tudo isto, figuras como a autoproclamada na Bolívia – Jeanine Áñez – e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, já deram os parabéns a Guaidó pela sua «reeleição», com críticas a Maduro.

Na sua conta de Twitter, o ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza, denunciou a tentativa de os EUA «prolongarem a ficção de um governo falso e inexistente», bem como o «falhanço completo» da «estratégia do golpe» em 2019.

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