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Quase 10 milhões de crianças podem abandonar a escola por causa da Covid-19

Uma ONG estima que, no final deste ano, 9,7 milhões de crianças «podem ver-se obrigados a abandonar a escola para sempre», em função do aumento da pobreza e dos cortes orçamentais associados à pandemia.

No pico das quarentenas e confinamentos, a nível mundial 1600 milhões de crianças e jovens não puderam ir à escola
Créditos / elnacional.com

O alerta foi dado esta segunda-feira num relatório divulgado pela organização não governamental (ONG) britânica Save the Children. O documento destaca que em 12 países, sobretudo da África Ocidental e Central, e também no Iémen e no Afeganistão, as crianças correm um risco extremamente alto de abandonar a escola; noutros 28 países esse risco é alto ou moderado.

O informe refere ainda que, no âmbito das medidas tomadas pelos governos para evitar a propagação do vírus, o encerramento das escolas foi um elemento central. No pico das quarentenas e confinamentos, a nível mundial 1600 milhões de crianças e jovens não puderam ir à escola – aproximadamente 90% de toda a população estudantil no mundo.

A ONG britânica alerta para o risco de que toda uma geração possa ficar sem escola devido à pandemia, sublinhando que o encerramento dos estabelecimentos de ensino «representa muito mais que a perda da educação», pois deixa as crianças «sem espaços seguros onde brincar, comer e aceder a serviços de saúde, onde se detectam eventuais abusos [cometidos] em casa e se dá protecção às vítimas».

Em declarações ao portal RFI, o director de Programas Internacionais da ONG, David del Campo, afirma estes 9,7 milhões de crianças «não vão ficar fora da escola de forma temporária, mas, sim, para sempre».

«O processo começa quando as crianças deixam de ir à escola porque ali a sua saúde está em risco. A seguir, os professores não conseguem receber salários por causa da crise económica. As escolas fecham, não há professores. Os jovens não só deixam de ir à escola umas semanas; na realidade, para alguns a Covid marca o fim do seu processo de escolarização», explica Del Campo.

Emergência educativa mundial sem precedentes

Inger Ashing, directora da Save the Children, qualificou a situação como uma «emergência educativa mundial sem precedentes», tendo sublinhado que «as crianças mais pobres e marginalizadas, que já estavam mais atrasadas, são quem sofreu a maior perda», indica a Xinhua.

Também se mostrou preocupada com o facto de a crise orçamental – que irá aprofundar o défice no sector da Educação – «gerar ainda maior desigualdade entre ricos e pobres, e entre rapazes e raparigas».

O abandono escolar irá empurrar muitas crianças para o trabalho infantil e a exploração, alerta a ONG. No caso das meninas e raparigas adolescentes, existe ainda o risco acrescido da violência de género, do matrimónio infantil e da gravidez prematura. Riscos que diminuem de forma substancial com a frequência escolar.

Para dar resposta a esta emergência, a ONG britânica insta governos e doadores a aumentar os fundos para o sector, colocando à disposição do Banco Mundial 35 mil milhões de euros.

Pede ainda aos países credores que suspendam o pagamento das dívidas dos países com baixos rendimentos, medida paliativa que poderia libertar 14 mil milhões de dólares para o investimento na Educação.

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