Para muitos dos habitantes de Mumbai – uma das grandes metrópoles da Índia – as portas e as janelas para qualquer oportunidade continuam bem fechadas, afirma The Indian Express numa reportagem hoje publicada.
Trabalhadores dos serviços domésticos, das limpezas, empregados de lojas, funcionários de pequenas empresas deixaram de contar com um salário fixo há sete meses, com a imposição do lockdown (confinamento) no país para conter a pandemia. E, se alguns tinham conseguido poupar algo a partir dos seus magros salários, a poupança entretanto foi-se.
Muitas famílias estão agora no «limiar da pobreza urbana», indica o periódico, sublinhando que são agora obrigadas a fazer o que antes lhes parecia impossível – pedir dinheiro emprestado, não conseguir pagar a renda, cortar nas despesas essenciais, empenhar bens nas lojas de penhores, esperar por uma refeição ou ração nas filas do Município ou de organizações não governamentais.
Um caso é o de Isaque Khan, alfaiate de 42 anos que perdeu o emprego em Março. Ganhava um ordenado mensal de 15 mil rupias (172 euros) e, desde então, passou a depender de associações de caridade para comer. «Vendi uvas, vendi hortaliças. Tentei aquilo que pude, mas não chegava. Tenho cinco filhos para sustentar», disse.
Começou a coser roupa e a vendê-la porta a porta no seu bairro de lata, Ambujwadi. «Com grande dificuldade, alguns dias consigo fazer 300-400 rupias [3,5-4,5 euros]», referiu Khan.
«Não há dinheiro extra para gastar»
Por seu lado, Santosh Sathe, habitante de 34 anos no bairro de lata de Mankhurd, no extremo Leste da cidade, estudou Arte até ao terceiro ano da faculdade e trabalhava num centro comercial de Navi Mumbai. Nos primeiros dois meses do confinamento, recebeu metade do salário (6250 rupias; 71,5 euros), depois o centro comercial fechou. Quando reabriu, em Agosto, a administração pediu-lhe que não voltasse. «Ficaram apenas com um de cada sete funcionários, alegando que não havia negócio», disse Santosh, que agora tenta arranjar trabalho, todos os dias, como «ajudante», por 500 rupias (5,7 euros).
Anita, uma cunhada de Santosh, diz que, há um ano, montou uma máquina de costura, para ajudar a aumentar o rendimento da família. «Aquela máquina esteve parada vários meses durante o confinamento. Agora, muito poucas mulheres aparecem para vir buscar um vestido ou uma camisola. Não há dinheiro extra para gastar nestas coisas», diz Anita, que tem dois filhos em regime escolar em casa, mas apenas um telemóvel.
Kishan Singh Rajput é dono de uma loja de penhores no bairro de lata de Janu Pada e, sublinha The Indian Express, poucos como ele têm uma noção tão clara do mal-estar das pessoas. Ele diz que se senta em jóias de ouro empenhadas, no valor de sete milhões de rupias (cerca de 80 mil euros), desde o início do confinamento.
«Eles levam o dinheiro pelo qual pagam juros de 2% ao mês. Alguns disseram que era para pagar a renda, outros uma conta do hospital, outros tinham de pagar as propinas dos filhos», diz Rajput.
«Tubarões nos bairros de lata» e «espiral das dívidas»
Além de empenharem bens, muitos vêem-se obrigados a contrair empréstimos a «agentes privados», uma vez que os bancos não lhos concedem. Bilal Khan, da associação Ghar Bachao, Ghar Banao Andolan, que trabalha em defesa do direito à habitação nos bairros de lata de Mumbai, afirma que, sem trabalho há meses, «algumas pessoas não têm outra hipótese senão pedir dinheiro emprestado» a privados, alertando que «alguns tubarões dos bairros de lata, que antes cobravam 5% de juros, subiram a taxa para 10% e, em certos locais, para 20%.
Antes da pandemia, Vanita Pawar, empregada doméstica de 40 anos de Khairani Road, tinha um ordenado mensal de 9000 rupias (103 euros), trabalhando em três casas. Depois da morte do marido, há seis anos, pediu um empréstimo de 500 mil rupias a uma sociedade de crédito e a amigos, para aumentar as divisões da casa e poder alugá-las a três inquilinos. Era a forma de poder pagar a educação dos seus filhos.
Depois do confinamento, perdeu o emprego nas três casas onde trabalhava e deixou de ter inquilinos. Ainda conseguiu pagar as propinas da filha, no valor de 5000 rupias (57 euros), mas afirma que não vai ser capaz de pagar as do filho, relativas ao ano lectivo anterior, no valor de 40 mil rupias (458 euros).
Entretanto, continua sem trabalho, mas a espiral das dívidas é implacável: «Há seis meses que não pago a conta da luz. Não consigo juntar as 5000 rupias por mês para pagar ao crédito. Recebo chamadas de todo o lado a pedir-me dinheiro», diz.
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