Na semana que passou, Marcelo Rebelo de Sousa esteve nos EUA e falou para empresários na Câmara de Comércio Luso-Americana. No mesmo dia em que o FMI veio alertar para as «consequências» da reversão de políticas, ou seja, dizer que os salários não deveriam aumentar, que não se deveria avançar com as 35 horas para todos os trabalhadores e que se deveriam diminuir os funcionários públicos, o Presidente da República avança com a ideia da «inevitabilidade» de mudanças na política fiscal e nas leis laborais.
Tudo em prol da «atracção de investimento», diz Marcelo, que no discurso da direita tem sido um dos argumentos usados contra uma política de reposição de direitos e rendimentos.
Afirma mesmo que, quanto à necessidade de reformas laborais, «a realidade é mais forte do que a ideologia». E deixa o aviso: «se for necessário, Portugal irá no futuro fazer as mudanças necessárias para atrair investimento... Inevitavelmente». Ora, o que a realidade mostra é o desastre da política de direita, que levou a que 42% de trabalhadores tenham salários inferiores a 600 euros; a que, em 2015, em cada dez empregos criados, oito tivessem um vínculo precário; a que 500 mil trabalhadores, grande parte deles jovens, fossem obrigados a emigrar; a que a pobreza afecte 41% dos desempregados, 11% dos trabalhadores no activo e cerca de 25% das crianças e jovens até aos 17 anos. Esta é a realidade que mostra a necessidade de inversão de políticas e que faz com que se tenha que avançar muito mais.
O Presidente da República defendeu ainda que Portugal precisa de «um novo tipo de Estado, de funcionários públicos e de Administração Pública», declarando a necessidade de reformas estruturais. Avança ainda dizendo: «Não podemos ter um Estado muito pesado e dispendioso, não mais, isso acabou». Quererá o Presidente da República dizer, tal como defende a direita, o FMI e as instâncias europeias, que se deve diminuir o número de funcionários públicos? Ou será que se fala de um Estado dispendioso tendo na mira a privatização de serviços públicos?
Que defende então, para o País, o Presidente dos «consensos» e dos «afectos»?
Marcelo ainda fez questão de «bajular» os EUA, afirmando que Portugal tem sido «um amigo confiável e aliado dos Estados Unidos» e continuará a ser: «Foi assim no passado, é assim no presente, será assim no futuro. Militarmente, economicamente, socialmente, financeiramente». Pois sim, que fique também clara a sua conivência com aquele que é o maior pólo imperialista do mundo.
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