«Aproximar o filme das pessoas pelas quais Marighella lutou», e que «continuam lutando», foi o propósito que levou o actor e realizador Wagner Moura a escolher um acampamento do MST no interior do estado da Bahia para exibir o filme sobre o homem que deu a vida pela democracia no Brasil.
Numa entrevista a um programa da TV Cultura, esta segunda-feira, Wagner Moura afirmou que o ataque aconteceu precisamente no lugar onde será feita a exibição de Marighella, no dia 6 de Novembro, acreditando que os dois factos estão relacionados. «Nós vamos exibir o filme na cidade do Prado, no acampamento do MST. E ontem mesmo, 20 homens encapuzados chegaram ao acampamento, atiraram nos carros, fizeram gente do MST refém, e eu não posso descontextualizar esse ataque nesse lugar [da] exibição do filme da gente lá», afirmou.
Wagner Moura, que ficou conhecido pela sua participação no filme Tropa de Elite, apelou ao governador da Bahia para que tome as medidas necessárias para garantir a integridade das famílias do acampamento. Recuperando uma frase célebre do político comunista brasileiro, «Eu não tive tempo para ter medo», o realizador afirmou que não tem medo de ir para o acampamento. «Nós todos precisamos falar e tomar uma providência porque o estado das coisas é muito grave», disse.
O filme sobre o escritor e resistente antifascista Carlos Marighella (1911-1969), interpretado pelo carismático Seu Jorge, estreou-se no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 2019. Desde então, o governo do Brasil tem vindo a tentar impedir a sua exibição. «A gente não pode admitir um governo federal trabalhando para que um filme não aconteça. [...] É uma luta bruta, e isso diz mais sobre o estado das coisas do que sobre o filme», realçou Moura.
«Fazer um filme sobre Marighella no Brasil faz parte de um movimento contra o fascismo do qual me orgulho de participar», acrescentou.
Sendo um filme político, ele deve ser popular, afirmou Wagner Moura, em entrevista ao Brasil de Fato, na qual criticou a «destruição» do cinema brasileiro independente pelo governo de Jair Bolsonaro, que apelidou Marighella de «lixo panfletário».
A primeira longa-metragem do realizador retrata os últimos cinco anos de vida de Carlos Marighella, revolucionário baiano que passou de deputado federal pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) a líder da luta armada nos anos 1960. Considerado «inimigo número um» do regime, Marighella, que passou vários anos nos cárceres do fascismo, foi assassinado em Novembro de 1969 por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão de repressão da ditadura.
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