«Muito ruído tem inundado o espaço público da Região dos Açores» sobre as muitas lutas dos trabalhadores da Atlânticoline. O Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pesca (SIMAMEVIP/CGTP-IN) só lamenta que «os intervenientes, alguns com altas responsabilidades na administração regional», raramente se refiram aos motivos que levam dezenas de trabalhadores a cumprir, com grande prejuízo pessoal, tantos dias de greve.
Uma das vozes que ignora as razões que levam a uma falta de entendimento entre os trabalhadores e a administração é a de Paulo Silveira, deputado jorgense do PSD Açores, que em declarações à Rádio Lumena diz que os trabalhadores «têm o direito a defender os seus interesses», embora essa postura «esteja já a ultrapassar os limites quando o Governo tem respondido às reivindicações do sindicato».
A greve de quatro dias dos trabalhadores da operadora de ferries açoriana terminou este domingo, voltando a registar 100% de adesão, por aumentos salariais e contra a posição intransigente da empresa. Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pesca (Simamevip/CGTP-IN) relatou que a greve, iniciada a 5 de Julho e que terminou ontem, voltou a registar uma adesão total, à parte dos serviços mínimos, dando continuidade às anteriores. Os trabalhadores da operadora de ferries, que opera no triângulo Faial, Pico e São Jorge, exigem aumentos salariais, tendo já existido um consenso entre ambas as partes para a tabela salarial a vigorar até ao fim de 2020. Porém, o sindicato acusa a empresa de ter quebrado o acordo e imposto novas condições. Segundo o Simanevip, a greve «acontece porque na reunião de conciliação, apesar dos esforços do sindicato, a empresa mostrou-se intransigente na sua posição de só aceitar uma revisão do Acordo de Empresa, desde que se implemente um sistema de progressão de carreiras, indexado a uma avaliação de desempenho». O novo sistema de avaliação e progressão de carreiras que a empresa quer implementar é amplamente rejeitado pelos trabalhadores, que afirmam já serem avaliados «no âmbito do sistema de gestão da segurança (código ISM)», resultando em dois modelos em simultâneo. O sindicato frisou ainda que não pode assinar um acordo que «discrimina os próprios trabalhadores» e salienta que a empresa quer impor um modelo em que as «futuras remunerações e progressões» estão «dependentes dos resultados líquidos positivos da empresa no ano anterior». O braço-de-ferro entre marinheiros e a empresa já caminha para os dois meses, com o próximo conjunto de protestos marcado entre 10 e 12 de Julho, além de 20 a 22 e 27 a 29 deste mês. Em Agosto, há greve no dia 6 e entre 10 a 12. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Greve na Atlânticoline com adesão total
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Quais são então as razãos dos trabalhadores que, por exercerem os seus direitos laborais, ultrapassam estes supostos «limites»? Simples: «a administração da Atlânticoline não quer cumprir a lei e apresenta propostas inaceitáveis e feridas de legalidade, para contornar a falta de trabalhadores e embarcações», recorrendo, «e abusando» do trabalho extraordinário.
Esta realidade foi comprovada pela Inspecção Regional de Trabalho, que confirmou as denúncias dos sindicatos, «os limites contemplados no Código de Trabalho foram ultrapassados», assim como foi identificado o «desrespeito dos tempos de descanso entre turnos».
«No que diz respeito à revisão da tabela salarial, os trabalhadores estão dispostos a abdicar dos retroactivos a Abril de 2021», com a contrapartida de que sempre que o valor do Salario Mínimo Nacional for actualizado, «tal alteração repercutir-se á, em igual percentagem, nas diferentes categorias da tabela
salarial».
Preparados para mais um período de greve, desta vez, ininterruptamente, até ao dia 31 de Março, cumprindo sempre serviços mínimos, os trabalhadores e o seu sindicato, o SIMAMEVIP, apelam para que os novos membros da administração da empresa «não façam tábua rasa das reivindicações dos trabalhadores, e acabem com este impasse». «Cumpram a Lei, cumpra-se o Código de Trabalho», reclamam.
A Atlânticoline foi constituída em 2005, por decisão do Governo Regional dos Açores, com capitais exclusivamente públicos. A empresa garante, todos os anos, o transporte marítimo de quase 600 mil passageiros e mais de 30 mil viaturas em todo o arquipélago dos Açores.
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