Segundo a lista divulgada pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e publicada em Diário da República, na passada sexta-feira, o total de vagas foi de 1758, das quais 1252 hospitalares, 462 para medicina geral e familiar e 44 de saúde pública.
Para estas vagas existiam 2466 jovens médicos, o que representa que 708 vão ficar sem formação específica. Um número atractivo para o Ministério da Saúde, que desta forma cria uma bolsa de médicos indiferenciados, com salários mais baixos e adstritos a tarefas de menor responsabilidade.
Em declarações à Agência Lusa, a presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), Rita Ramalho, sugere que, para este cada vez maior número de médicos impedidos de concluir a sua formação, as alternativas passam pela emigração, voltar a concorrer no próximo ano ou optar por carreiras menos comuns, como a gestão hospitalar, indústria farmacêutica, ciência e investigação ou jornalismo médico.
Apesar de este ser o maior número de sempre de vagas propostas de acordo com a capacidade de formação do País, o número de médicos sem vaga para a sua especialização também é o maior de sempre, subindo de 112 em 2015 para mais de 700 em 2017/18.
Rita Ramalho lamenta que um investimento público desta natureza – a formação de um médico custa cerca de 12 mil euros por ano – esteja a ser desperdiçado ou a ser aproveitado por outros países, como a Inglaterra e a Alemanha, que reconhecem a qualidade dos médicos portugueses e procuram-nos cada vez mais.
A presidente da ANEM sublinhou ainda que só um planeamento correcto assegura a melhor formação dos médicos e, por conseguinte, uma «maior qualidade dos serviços prestados à saúde dos portugueses».
A um passo da formação no sector privado
Entre as medidas que concorrem para que alguns hospitais não tenham condições para formar mais clínicos está o facto de muitos profissionais, que podiam garantir a formação de jovens médicos, abandonarem o Serviço Nacional de Saúde, não apenas pela idade, mas sobretudo pelo descontentamento com a forma como têm visto desvalorizada a sua profissão.
Recorde-se que, a 10 e 11 de Maio, os médicos realizaram uma greve com 90% de adesão para exigir à tutela um conjunto de medidas, entre as quais a reposição do pagamento das horas extraordinárias, as carreiras médicas, a redução do peso do trabalho extraordinário e das horas de serviço de urgência.
Entretanto, criam-se condições para que o sector privado comece a praticar a formação dos clínicos e a Universidade Católica já começou a dar cartas. Através de uma parceria com a Luz Saúde, que prevê a construção de um novo polo em Cascais, a Católica deverá ser a primeira universidade privada com uma faculdade de Medicina.
Segundo notícias reveladas em Setembro do ano passado, o polo universitário vai surgir no antigo Hospital de Cascais, onde será construído um pavilhão destinado às aulas teóricas dos cursos de Enfermagem e do novo curso de Medicina. Prevê-se que, através desta parceria, os alunos complementem a sua formação no Hospital da Luz, em Lisboa.
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