Nada de novo. Como disse há dias o actor norte-americano Denzel Washington, «se não lemos os jornais não estamos informados, se lemos os jornais ficamos mal informados». «Jornais», bem entendido, é um termo usado por Denzel Washington em sentido figurado, pois todos sabem que inclui televisões, rádio, os «observadores» acoitados na internet e outras corruptelas mediáticas.
Pelo que poucos se terão apercebido de que o secretário de Estado norte-americano cessante, John Kerry, confessou durante uma reunião com os «moderados» sírios – cuja gravação foi citada pelo The New York Times (mas não na íntegra) – que os Estados Unidos apoiaram o Daesh ou Estado Islâmico para que derrubasse o governo da Síria, «mas a intervenção dos russos, infelizmente, alterou a equação».
O facto era conhecido, mas exposto assim de voz própria começa a tornar legítimo que a Administração Obama seja associada a crimes contra a humanidade.
É também a propósito de crimes contra a humanidade que se evoca aqui a outra situação grave omitida ou, no máximo, apenas ciciada: o governo francês deteve e colocou em residência vigiada o ex-primeiro ministro dessa invenção da NATO chamada Kosovo, Ramush Haridinaj.
O chefe terrorista do Exército de Libertação do Kosovo (UCK) foi detido no aeroporto de Mulhouse na sequência de um pedido de captura internacional emitido pela República da Sérvia. Haridinaj já foi, entretanto, absolvido pelo Tribunal Internacional de Haia, a tal instituição onde a justiça é vesga e em cujas celas os réus, aguardando sentenças, morrem em série de «suicídio» ou por tomarem medicamentos assassinos, como aconteceu em 2006 com o dirigente sérvio Slobodan Milosevic.
No caso de Haridinaj, a absolvição foi facilitada pelo facto de a NATO se ter recusado a entregar à procuradora Carla dal Ponte a documentação que incriminava o chefe terrorista nas provocações sanguinárias que conduziram aos ainda mais sanguinários bombardeamentos de Belgrado pelos «libertadores atlantistas», em 1999.
Pegando por esta ponta do processo do antigo primeiro-ministro kosovar penetra-se, inevitavelmente, num dos mais fedorentos pântanos da NATO, que é o da secessão arbitrária e xenófoba do Kosovo por interesses estratégicos próprios e expansionistas.
«Assim, limpo e inocente, Ramush Haridinaj foi empossado pela NATO como primeiro-ministro do Kosovo, à cabeça de um governo dos terroristas do UCK aperaltados de fato e gravata.»
Ramush Haridinaj foi absolvido porque, além da sonegação de provas pela NATO, mais de uma dezena de testemunhas que se preparavam para depor contra ele tiveram contratempos em série que ceifaram a vida a cada uma delas.
Assim, limpo e inocente, Ramush Haridinaj foi empossado pela NATO como primeiro-ministro do Kosovo, à cabeça de um governo dos terroristas do UCK aperaltados de fato e gravata. Os mercenários islamitas do UCK foram criados e treinados na Turquia pela KSK alemã, a unidade de operações especiais do exército alemão, depois de recrutados pela mafia albanesa.
Tal como num dia de 1994, o próprio Bin Laden foi visto por jornalistas a entrar no gabinete do então presidente islamita do protectorado atlantista da Bósnia, Alija Izetbegovic, também a solução da NATO para o Kosovo foi encontrada através dos terroristas islâmicos.
Tanto Haridinaj como o actual primeiro ministro do Kosovo, Hacim Taci, têm demonstrado que a corrente ideológica a que chamam «fundamentalismo islâmico» é compatível com o tráfico de droga – neste caso como entreposto – e também com o tráfico de órgãos humanos.
Factos probatórios desta actividade assassina constam de uma investigação que jaz há longos anos no Conselho da Europa sem dar origem a qualquer apreciação, conclusão ou medida.
Por que foi então Haridinaj detido em território francês? Porque o mandado sérvio pretende fazer justiça em nome das testemunhas silenciadas antes de contarem em Haia o que sabiam sobre um dos fundadores do Kosovo. A decisão final sobre o envio ou não do terrorista Haridinaj para Belgrado será do governo francês, pelo que são escassas as hipóteses de que a justiça triunfe.
A polícia cumpriu a sua parte, mas é improvável que a política parisiense, apesar de estar «em guerra contra o terrorismo», contribua para remexer na pestilência que tem sido a acção da NATO na destruição da Jugoslávia, tal como do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Síria…
Tanto mais que, enquanto os terroristas reconvertidos fazem o que querem no Kosovo, a NATO usufrui da transformação do território amputado à Sérvia numa esplêndida, ampla e funcional base militar balcânica defensora da democracia, da liberdade e da justiça. Uma mão lava a outra. Porque não há decomposição pantanosa que incomode o olfacto dos heróicos e viris generais atlantistas.
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