Marta Pinho Alves

As ideias de colaboração passam a ser exploradas por um número crescente de empresas, com objetivos comerciais, «são domesticadas por processos que mercadorizam as relações livres entre os indivíduos»

No novo modelo cultural, o consumidor de conteúdos detém um papel híbrido, combinando a função de receptor com a de produtor, função recentemente adquirida através das aplicações da web.

A retórica participativa acentua o poder atribuído ao recetor, concebido como substituto das clássicas instâncias de produção e difusão e liberto das suas normas, determinações ou critérios de seleção

Contemporaneamente, o cinema elaborado por telemóveis é uma prática comum entre não profissionais e profissionais, mesmo para filmes de longa duração. 

Depois de as câmaras dos telemóveis serem usadas em registos pessoais e quotidianos, eis que se tornavam instrumentos de escrita fílmica com resultados aparentemente indistintos dos de outras câmaras.

Varda viu-se como uma coletora de instantes, traduzidos em imagens pela sua pequena câmara digital e, simultaneamente, como selecionadora daqueles que iriam posteriormente integrar a versão final do filme

A forma de filmar tornada possível pelas pequenas câmaras digitais permite eliminar a artificialidade enraizada nos modos de operar do cinema industrial e construir uma ética e uma estética cinematográficas que antes não conseguira alcançar. Em 10 sobre Dez Abbas Kiarostami faz a apologia daquelas.

Eliminar o cânone de produção alienante do modelo industrial e ensaiar novos caminhos estéticos.  De Jean-Luc Godard ao Dogma 95 de Lars von Triers e Thomas Vinterberg, das pioneiras Aaton ao formato MiniDV.

Em 1994, Manovich iniciou um projeto artístico com o propósito declarado de testar as possibilidades de produção cinematográfica originadas pela digitalização.

A expressão aqui adotada para nomear o cinema de pequena escala tem sido utilizada para fazer alusão a um conjunto amplo de fenómenos. Contemporaneamente, esta é utilizada para referir-se a salas de exibição alternativas e de baixo orçamento, e a plataformas de aquisição e difusão de cinema independente.

Romper com o texto implica abdicar do hábito de contar histórias. Acabar com a tirania do ator pressupõe assumir que o ator não é essencial ao cinema.

Em 2008, a questão sobre o futuro do cinema tão enfaticamente colocada no filme Quarto 666, de 1982, motivada pela emergência das imagens eletrónicas, surgiu novamente, agora estimulada pela ubiquidade da tecnologia digital.

A noção de um elo de ligação entre as imagens em movimento e a realidade, e a ameaça da sua rutura em consequência da digitalização, tem sido outro fator identificado como potenciador da morte do cinema.

É conhecida a declaração atribuída a Antoine Lumière, pai dos autores do cinematógrafo e produtor dos seus espetáculos, alegadamente proferida na génese da então nova tecnologia: «O cinema é uma invenção sem futuro».

O que é o Cinema? Esta questão, tantas vezes formulada, mais do que procurar encerrar o seu objeto numa definição categórica, tem assumido o propósito de evidenciar a complexidade e vastidão do território das imagens em movimento.