O historiador António Borges Coelho vai ser distinguido na sexta-feira com a Medalha de Mérito Cultural, anunciou hoje o Governo, que justificou a atribuição pelo percurso de vida «caracterizado pela intensa actividade política e académica».
O anúncio foi feito pelo Ministério da Cultura que, em comunicado, destaca o percurso profissional e pessoal deste historiador, poeta e ensaísta, e enaltece também o seu «constante compromisso com a cultura e língua portuguesas, nas quais e para as quais ajudou a preservar e a compreender, com a sua obra, uma parcela fundamental da memória nacional».
«Para além da relevância do seu percurso científico no âmbito da historiografia portuguesa, foi sublinhada a grande erudição e acessibilidade da sua obra, e o seu comprometimento com a cultura e a língua, evidenciado no modo como integra na narrativa dos acontecimentos a caracterização detalhada de instituições, informações demográficas e estruturas económicas, sociais e culturais», acrescenta a nota.
Nascido em Murça, Trás-os-Montes, a 7 de Outubro de 1928, António Borges Coelho frequentou o Seminário de Montariol (Braga), que abandonou por falta de vocação para o sacerdócio, segundo a nota biográfica disponibilizada pelo Ministério da Cultura.
Borges Coelho mudou-se para Lisboa para estudar Direito, mas acabou por frequentar o curso de História. Em 1962 retomou a sua licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa, que concluiu, em 1969, com uma tese sobre Leibniz.
Ex-militante do Partido Comunista, António Borges Coelho actuou na clandestinidade antes do 25 de Abril, tendo feito parte da oposição ao regime político, o que lhe valeu perseguições e a prisão durante vários anos, para além do impedimento de dar aulas no ensino oficial.
Em 1974, após a revolução, iniciou a sua actividade de docente no Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde leccionou largos anos e participou em numerosas provas de mestrado, de doutoramento e de agregação.
Passou a professor catedrático dessa faculdade, em 1993, com uma tese sobre a Inquisição de Évora.
A sua vasta bibliografia inclui, também, poesia, teatro e ficção. Foi também repórter do jornal A Capital, então dirigido por Norberto Lopes e Mário Neves, entre Fevereiro de 1968 e Dezembro e 1969.
António Borges Coelho desenvolveu também investigação de diversos temas da História de Portugal, de que resultaram obras como Raízes da Expansão Portuguesa (1964), A Revolução de 1383 (1965), Comunas ou Concelhos (1973), da série Questionar a História (seis volumes, 1983-2007), Quadros para Uma Viagem a Portugal no Século XVI (1986), A Inquisição de Évora (dois volumes, 1987), O Vice-Rei Dom João de Castro (2003), Ruas e gentes da Lisboa Quinhentista (2006).
Desde 2010 que, com Donde Viemos, iniciou a publicação de uma História de Portugal que conta, até agora, seis volumes publicados – o mais recente dos quais dedicado ao período que vai da Restauração ao Ouro do Brasil.
Nos anos 1970, organizou a obra Portugal na Espanha Árabe (1972-1975), em quatro volumes, considerada uma obra de referência nas investigações sobre o período árabe em Portugal.
Como ensaísta, é autor de títulos como Alexandre Herculano (1965), Leibniz. O Homem. A Teoria da Ciência (1969) e O 25 de Abril e o Problema da Independência Nacional (1975).
Como poeta publicou Roseira Verde (1962), Ponte Submersa (1969), Fortaleza (1974), No Mar Oceano (1981) e Ao Rés da Terra (2002), entre outros.
Escreveu ainda peças para teatro, como Príncipe Perfeito (1988) e Sobre os rios de Babilónia (2001). Na área da ficção é autor de Tempo de Lacraus (1999) e de Youkali é o País dos Nossos Desejos (2005), entre outros títulos.
Fundou e dirigiu a revista História e Sociedade, participou em diversos congressos e reuniões científicas, e durante 24 anos leccionou na Faculdade de Letras, onde deu a Última Lição no dia 11 de Dezembro de 1998.
Actualmente com 90 anos, António Borges Coelho continua a dedicar-se aos estudos de história e à investigação de novas temáticas para a sua História de Portugal e está a preparar uma antologia dos seus poemas.
No ano passado foi distinguido com o Prémio da Universidade de Lisboa, tributo de consagração pelo trabalho que desenvolveu naquela instituição, e com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, entregue pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
António Borges Coelho já havia sido agraciado anteriormente com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’lago da Espada e com o Prémio da Fundação Internacional Racionalista.
com Agência Lusa
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