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Pancho Villa também esteve em Havana

Pancho Villa visitou esta quarta-feira a 31.ª Feira Internacional do Livro de Havana, pela voz de Paco Ignacio Taibo II, autor de vasta bibliografia sobre a lendária figura idolatrada no México.

Capa de 'Pancho Villa: una biografía narrativa' 
Créditos / PL

A propósito da apresentação, em Havana, de Pancho Villa: una biografía narrativa (Editorial Planeta), Taibo abordou o tecido de «lendas negras e brancas» que ainda rodeiam o militar e político (1878-1923), personalidade chave na história do país azteca e um dos líderes da Revolução mexicana, juntamente com Emiliano Zapata.

O escritor, refere a Prensa Latina, deteve-se numa lenda relacionada com a morte de Villa (em ano de centenário) e no facto de que cortaram a sua cabeça e esta nunca apareceu.

O director do Fondo de Cultura Económica (FCE) contou que, muitos anos depois, decidiram retirar do túmulo o suposto cadáver descabeçado de Villa, que, afinal, era o de uma mulher que seguramente sepultaram no mesmo local – e isso provocou rumores mal-intencionados sobre o herói.

Taibo, que possui extensa bibliografia sobre Villa (cujo nome verdadeiro era José Doroteo Arango Arámbula), afirmou recentemente que «o fantasma de Villa permanece, é nosso, está encarnado» nos villistas que acreditam que «a razão de ser é servir o povo, pôr-se do lado dos humildes, dos pobres, dos agraviados».

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A 107 anos do início da Revolução Mexicana

No México persistem «a desigualdade, a injustiça e a falta de democracia»

A desigualdade, a pobreza extrema, a concentração da terra, a falta de democracia levaram à eclosão da chamada Revolução Mexicana, a 20 de Novembro de 1910. Mais de cem anos volvidos, estas lutas permanecem vivas no país azteca.

«La revolución contra la dictadura porfiriana», obra de David Alfaro Siqueiros
Créditos / eluniversal.com.mx

Em conversa com a TeleSur, Luis García Ruiz, historiador e investigador do Instituto de Investigações Histórico-Sociais do México, sublinhou o facto de, «ao longo dos anos, este acontecimento histórico ter sido mitificado», pensando-se que, na origem do movimento revolucionário e armado, estivesse unicamente a «desigualdade social existente no final do século XIX e início do XX».

Contribuíram igualmente para a eclosão da Revolução Mexicana factores como a «injustiça, a desigualdade, o despojo, a falta de acesso a oportunidades e a falta de democracia», defende García, que sustenta que estes problemas continuam por resolver no país.

A Constituição de 1917 consagrou grandes avanços – ao nível da distribuição da terra, da divisão do Poder, dos direitos à Educação, à greve. Mas isto viria a ser posto em causa ao longo século XX.

Os direitos dos trabalhadores foram alvo de uma grande ofensiva com a aplicação de políticas neoliberais; o sector da Educação progrediu em direcção à mercantilização; o campo foi abandonado pelo Estado e as populações foram deixadas à sua sorte; entre outros, apareceram e desenvolveram-se fenómenos como a migração, o desemprego, o empobrecimento, a insegurança, resume o historiador.

Desigualdade social e concentração da riqueza

Alicia Bárcena, secretária executiva da Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas (Cepal), referiu à TeleSur que o México constitui um dos casos mais preocupantes no que à desigualdade social diz respeito, sendo que dois terços da riqueza estão em poder de 10% das famílias do país, e que 1% detém cerca de um terço.

«É fundamental avançar não apenas na superação da pobreza, mas também da concentração extrema da riqueza», declarou Laís Abramo, directora da Divisão de Desenvolvimento Social da Cepal.

No relatório «Desigualdade extrema no México», a Oxfam – ONG surgida no Reino Unido que luta contra a desigualdade e a pobreza em mais de 90 países –, refere que o país americano, sendo a 14.ª economia mais forte do mundo, possui 53,3 milhões de pessoas a viver em situação de pobreza e, em simultâneo, um número cada vez maior de multimilionários. De acordo com o estudo, o México encontra-se entre os 25 países com maiores índices de desigualdade social.

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A 107 anos do início da Revolução Mexicana
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Para Taibo, Pancho Villa está cravado nas entranhas da memória colectiva do país e sobre ele se atiram anedotas, histórias, trabalhos sérios de investigação, contos e «lendas negras» – «manipulando a história para mostrar o "selvagem que era", o "terrível que era", o "polígamo que era"».

Taibo lembrou então como Pancho Villa defendia que um professor primário devia ganhar o mesmo que um general, porque é mais útil, ou como mandou construir 50 escolas no seu primeiro mês como governador de Chihuahua, ou distribuir um milhão de pesos entre os trabalhadores das minas e as viúvas de Chihuahua – «porque o dinheiro é para gastar naquilo de que o povo precisa e não para o contar».

Ontem, em Havana, o autor de Pancho Villa: una biografía narrativa convidou os leitores a aproximar-se destas histórias que fazem parte do devir da América Latina e sublinhou a necessidade de que em Cuba, no México e em toda a região se conheça melhor o legado de próceres como Simón Bolívar, José de San Martín, Máximo Gómez, Antonio Maceo e tantos outros que marcaram a história continental.

Disse ainda que um dos grandes problemas da América Latina, que começa a ter peso e fundo, é «voltar a reconstruir-se como colectivo histórico e não colectivos nacionais isolados».

A actual edição da Feira Internacional do Livro de Havana decorre até dia 19, contando com a participação de 52 países e tendo a Colômbia como convidado de honra.

No encontro literário mais importante de Cuba, com tradições firmadas no panorama latino-americano, os leitores têm à disposição mais de quatro milhões de exemplares.

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