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Reedição de «Venham Mais Cinco» de Zeca Afonso nomeada para prémio da crítica alemã

Prestes a celebrar 50 anos, o disco de Zeca Afonso surge ao lado de álbuns como o mais recente trabalho de Björk, Fossora, de Memento Mori, dos Depeche Mode, ou de 12, de Ryuichi Sakamoto. 

Zeca Afonso
Créditos / Antena Miróbriga

A reedição do álbum Venham Mais Cinco, de José Afonso (José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos) pela editora Mais 5, está entre os nomeados para os prémios dos críticos de discos da Alemanha.

A lista completa consiste em 96 produções gravadas que tenham sido lançadas no mercado alemão nos últimos 12 meses, de qualquer género, incluindo audiolivros, a partir de propostas do júri, que depois vai decidir quais os dez vencedores, a anunciar no dia 27 deste mês.

De acordo com o site dos prémios, os jurados deste ano foram Laura Aha, Manuel Brug, Ralf Dombrowski, Jörn Florian Fuchs, Julia Kaiser, Sabrina Palm, Petra Rieß, Isabel Steppeler, Markus Thiel, Albrecht Thiemann e Matthias Wegner.

Zeca Afonso, sempre

No dia em que passam 30 anos da morte de Zeca Afonso lembramos a música do professor, autor e músico que esteve do lado certo da História.

Zeca Afonso morreu aos 57 anos
Créditos / Glosas

Falar de José Afonso (José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos) dispensa apresentações. Já muito se escreveu sobre a sua vida e pormenores dela. Já conhecemos a sua música e, através dela, a realidade do País amordaçado pela ditadura.

Nas muitas linhas que se escrevem sobre esta figura maior da música portuguesa e de intervenção, invariavelmente tropeçamos na sua opção pela não militância. Mas raramente lemos que algumas das suas músicas foram um acto militante de denúncia e de força, de quem sabe que só pela luta é que vamos.

Em 1961, José Dias Coelho, artista plástico e militante comunista, foi assassinado numa rua de Lisboa pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE). «O pintor morreu», anunciou Zeca Afonso na canção que lhe dedicou: «A morte saiu à rua».

Em 1965, a militante comunista Conceição de Matos, com 29 anos, foi presa e levada para a sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, onde foi alvo de diversos métodos de tortura. Zeca Afonso homenageou a sua coragem e determinação.

Em 1964, o também músico de intervenção, Adriano Correia de Oliveira gravou um disco de quatro faixas, onde se incluía um poema do luso-moçambicano Reinaldo Ferreira, musicado por José Afonso: «Menina dos olhos tristes». A censura rapidamente proíbe o disco mas não consegue apagar a música. 

Em 1969, Zeca aventura-se a gravar um single com o mesmo título que também foi retirado pela censura. Em causa, a guerra colonial e os muitos soldados que nela jaziram.

Ainda em 1969, integrado no álbum Contos Velhos Rumos Novos, Zeca Afonso denuncia um dos métodos praticados pela PIDE, que invadia casas noite dentro. «Era de Noite e Levaram», musicou Zeca.

Em 1971, no álbum Cantigas de Maio, homenageia a mulher que «o Alentejo a viu nascer» e «Baleizão a viu morrer». Catarina Eufémia, assim se intitula também a música dedicada à mulher que a 19 de Maio de 1954 foi assassinada pelas forças do regime fascista enquanto lutava por pão e trabalho.

Em 1973, Zeca actua um pouco por todo o lado mas vê muitas sessões proibidas pela PIDE. Em Abril é preso e vai para Caxias, onde fica até finais de Maio. Neste período escreve o poema «Era Um Redondo Vocábulo» que viria a integrar o álbum Venham Mais Cinco, gravado em Paris e publicado pelo Natal.

«Grândola, Vila Morena» é uma canção incontornável no reportório de Zeca Afonso e da vida democrática portuguesa, ou não tivesse sido esta a segunda senha de sinalização da Revolução de Abril, escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA).

«Mas se há um camarada à tua espera, não faltes ao encontro sê constante». A letra é da música «Tinha uma sala muito mal iluminada», integrada no álbum Enquanto há força, gravado em 1978.

Galinhas do Mato, editado em 1985, foi o seu último álbum. José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982.

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O disco do músico português de intervenção, prestes a celebrar 50 anos, surge ao lado de álbuns como o mais recente trabalho de Björk, Fossora, ou de Memento Mori, dos Depeche Mode, Ay, de Lucrecia Dalt, 12, de Ryuichi Sakamoto, e Sequana, de Souad Massi.

Gravado em Paris e editado pela Orfeu originalmente em 1973, Venham Mais Cinco inclui temas como «Era um Redondo Vocábulo», que o crítico e músico de jazz Manuel Jorge Veloso considerou uma das melhores composições de José Afonso, «Rio largo de profundis», «Nefretite não tinha papeira», «Que amor não me engana», «A Paz, o poeta e as pombas», «Se voaras mais ao perto» e «Gastão era perfeito», além da canção que dá nome ao álbum.

Venham Mais Cinco foi o último dos discos de Zeca, «gravado e publicado nos interstícios da ditadura», como se pode ler na página da Associação José Afonso. A obra do professor, autor e músico português começou a ser lançada na Alemanha em Maio de 2022. 


Com agência Lusa

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