Uma vez eu tive um cravo...
Uma vez eu tive um cravo
cravado no coração,
e eu não me acordo já se aquele cravo era
de ouro, de ferro ou de amor.
Só sei que ele me fez um mal tão frndo,
que tanto me atormentou,
que eu dia e noite sem cessar chorava
qual chorou Madalena na Paixão.
"Senhor, Vós que podeis tudo
— pedi a Deus numa ocasião —
dai-me valor para arrancar de um golpe
cravo de tal condição".
E deu-mo Deus e arranquei-mo.
Mas. quem pensara?... Depois
já não senti mais tormentos
nem mais soube o que era dor;
soube só que não sei quê me faltava
onde o cravo me faltou,
e até penso que tive saudades
ai, meu Deus! da antiga dor.
Este barro mortal que envolve o espírito
quem o entenderá, Senhor! ...
Rosalía de Castro
(Versão portuguesa de Ernesto Guerra da Call)
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui