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Incêndios Florestais-Rurais e ventanias deram num «ciclone de fogo»

E os dias, meses e anos depois?

Sim, a tragédia anunciada, entretanto vista e revista, provocada pelos incêndios florestais/rurais, justifica agora que também se antevejam…os dias «seguintes»… os meses «seguintes»…os anos «seguintes»… e mesmo que em projecções gerais!

CréditosPaulo Novais / Agência Lusa

Mas ainda podemos começar por dizer que, antes deste Verão (18 Junho) e início de Outono (15 e 16 de Outubro), a Região Centro –  Pedrógão Grande, Leiria (incluindo o Pinhal de Leiria), Castelo Branco, Coimbra, Viseu e Guarda – era uma «coisa», apesar das dificuldades de território «interior» e da seca, e que, depois de 15 e 16 de Outubro de 2017, é outra «coisa»: mais triste, mais  escura-cinza, mais  pobre, mais deprimente!

Vai ser preciso mobilizar todos os recursos (financeiros – estruturais),  toda a energia disponível (biológica a doutra natureza), e todas as reservas (físicas – anímicas) para nos fazer renascer das cinzas e dos lutos. Enfim, para emergirmos deste desastre brutal, mais reconfortados e ainda mais solidários. Capazes de recuperar a «verde» esperança em dias e noites melhores. Para podermos finalmente assegurar que nunca mais se repita algo sequer parecido! Em nome da própria vida!

Podemos ainda afirmar que no tempo dos que estão vivos nunca acontecera uma «coisa» assim, nunca nada assim tinha sido visto ou vivido! As pessoas que viveram mais directamente estes acontecimentos – marcados a «ventos, fumo, fogo e tragédia» – não mais se vão esquecer deles e vão continuar a ter pesadelos, a sonhar ou acordadas. Estivemos dentro de um autêntico «Ciclone de Fogo»! Enfim, parecido com isso, «só» o «inferno» que a Madeira sofreu com os incêndios no ano passado…

Pelo seu lado, o «ciclone» de ventos (superiores a 100 Km/hora), a 15 de Fevereiro de 1941 – de que aquelas pessoas que na altura o viveram e hoje ainda estão vivas continuam a falar – esse «ciclone» causou mais de 100 mortes e pesados prejuízos em habitações, infra-estruturas e Floresta (sobretudo Pinhais) e em Olivais, a nível nacional, de Norte a Sul, e também passou (vindo desde os Açores), a «varrer» pela Madeira…

E, nas nossas Histórias passadas como Povo e Região Centro – pelo menos em tão curto espaço de tempo, apenas em quatro meses –,nunca se viveu tamanha desgraça desde logo em perda de vidas e de teres e haveres.

Enfim, à excepção das mortandades havidas em várias batalhas, mas estas em situação de várias guerras declaradas ao longo da nossa História. Ou com as mortandades causadas por epidemias terríveis como o foram as «Pestes» na Idade Média e no início do século passado.

Mas, seguramente, nunca o desastre económico e ambiental foi desta envergadura e com tantas e tão severas repercussões – mais dificuldades – durante os próximos anos até à distância de uma ou mais gerações (enfim, gostaríamos de ser um pouco menos pessimistas…).

Secretário de Estado do Ambiente não sabe do que fala…

Já fez declarações disparatadas em dois tempos e modos, sobre seca e incêndios…

Há uns tempos atrás, o Secretário de Estado do Ambiente veio dizer, e de entre outros dislates, que perante a seca (extrema), então, os agricultores que não façam culturas para, pelo menos, não perderem esse investimento ?!...

Por estes dias, já depois dos violentos incêndios de 15 e 16 de Outubro, veio ele dizer que a situação do abastecimento e da qualidade da água da Região não lhe causava grandes preocupações, assim como também o não preocupava a erosão dos terrenos (mesmo dos inclinados) varridos pelos incêndios ?!...

Ou seja, ou ele anda noutro país ou não sabe do que fala, o que é inadmissível !

Ministro da Agricultura faz declarações inoportunas e mesmo contraproducentes

É neste contexto de dificuldades extremas e de todo o tipo que o Ministro da Agricultura vem a público propagandear os 500 milhões de euros que os agricultores «vão receber nas suas contas bancárias ainda este mês de Outubro», através da antecipação das ajudas da PAC, Política Agrícola Comum, nomeadamente no âmbito do RPB – Regime de Pagamento Base.

E o Ministro da Agricultura diz isto assim, a «seco», como se estas ajudas fossem algo de novo ou de específico para acudir aos prejuízos da seca ou dos incêndios – que é este o contexto dentro do qual vivemos e pensamos, os agricultores e a generalidade dos portugueses…

A verdade é que se trata da «antecipação» – em apenas dois meses e em processo que já é rotineiro – de 70% dessas ajudas já «normais» da PAC e que são pagas exclusivamente pelo Orçamento da União Europeia. Assim, os agricultores recebem aquilo a que têm direito já instituído e, ao receberem agora os adiantamentos das ajudas, já não as vão receber em Dezembro e nada de verdadeiramente novo terá entretanto acontecido nesta matéria.

Acrescente-se que a Agricultura Familiar e as pequenas e médias explorações agrícolas recebem as «migalhas» destas ajudas e que os maiores entre os maiores proprietários e o grande agro-negócio as embolsam a níveis escandalosos…de tão injustos !

Ora, o Ministro da Agricultura sabe bem que, neste contexto tão difícil, ao vir a público propagandear os «milhões» da verba em que falou, vai «recarregar» a opinião pública com aquela ideia perversa segundo a qual os agricultores até recebem «milhões e milhões» e ainda por cima se queixam… Por isso, estas declarações, aliás deliberadas, do Ministro da Agricultura, merecem o maior repúdio da nossa parte, ademais vindas de quem deveria ser o Ministro dos Agricultores e não uma espécie de «porta-voz» dos seus delatores !

«Mão pesada» mas para bater na consciência de alguns, por sinal bem conhecidos

Na «ressaca» dos incêndios florestais/rurais, sobretudo até quando as tragédias não deixam fugir o tema da ordem do dia, é habitual altos responsáveis governamentais e de outros órgãos de soberania, e também «opinadores encartados» sobre o tema, virem a público arranjar «bodes expiatórios»…

A «receita» que prescrevem também passa, quase sempre, pela exigência da «mão pesada» sobre os eventuais «incendiários» e, embora com mais alguma «habilidade», também chegam aos agricultores e proprietários florestais porque, acusam-nos, não limpam e não cuidam das suas parcelas como deve ser e, assim, criam condições para estes incêndios…

Ou seja, o «sistema dominante» tende para engendrar um processo – perverso – de criminalizar as vítimas maiores destes incêndios – os pequenos e médios agricultores e produtores florestais – pelo menos enquanto os incêndios ardem nas zonas rurais e (ainda) não nas urbanas! É aquela «coragem» que os leva a querer bater… mas nos mais «fracos»…

Então, e que fazer com os maiores responsáveis pelas políticas «incendiárias» que estão na base mais profunda da criação das condições – políticas e sócio-económicas – para que todos estes anos surjam incêndios florestais e rurais cada vez mais violentos, extensos e devastadores»???

Aliás, a CNA e outras entidades têm vindo a alertar, os sucessivos Governos e outros órgãos de soberania, para essas condições – que destruíram e destroem a nossa Agricultura Familiar e a Floresta Multifuncional – há pelo menos 30 anos seguidos sem que, lamentavelmente, tenhamos sido devidamente ouvidos por quem de direito. Mas nós conhecemos os principais responsáveis (durante mais de três décadas), a maioria dos quais está viva e tranquila…

Então, e que fazer com três ou quatro «grandes famílias» dos detentores da indústria de transformação de madeiras, a começar pelas celuloses, que têm imposto o seu interesse estratégico – cada vez mais madeira para as suas fábricas ao mais baixo preço à produção? E que assim têm feito desvalorizar a floresta/madeira (não-industrial ou não-intensiva) e provocado o plantio, por dezenas de milhar de hectares em contínuo, de floresta monocultural e intensiva, principalmente de eucalipto, árvore altamente combustível neste tipo de incêndios? Pois a maioria destes «grandes» também é conhecida e continua viva e a recomendar-se…

Já agora, que fazer com os maiores accionistas da PT e dos CTT, cujos postes de suporte dos cabos das telecomunicações são, quase sempre, em pinho tratado e, por isso, se transformam em potenciais focos de incêndios florestais e urbanos?

Portanto, «mão pesada»… precisa-se… mas para bater nas consciências de todos eles! E fiquemo-nos por aqui…

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