Com 80% dos votos contados, o candidato peronista Alberto Fernández vence as eleições na Argentina com 47,80%, de acordo com os dados fornecidos pela Direcção Nacional Eleitoral (DINE). O actual presidente, Mauricio Macri, soma 40,68% dos votos dos argentinos. Com este resultado, o candidato Alberto Fernández é eleito à primeira volta.
Fernández será, a partir de 10 de Dezembro, o 9.º presidente desde a conquista da democracia neste país (1983), com Cristina Fernández Kirchner como vice-presidente, e procurará recuperar a justiça social e igualdade para a Argentina.
«Vêm aí tempos difíceis», disse o peronista no discurso da vitória, criticando a herança de Macri que atirou o país para uma grave crise económica, com a economia em recessão há mais de um ano. Mas prometeu que o país será reconstruído a partir «das cinzas em que o deixaram».
Por fim, afirmou que irá governar «para toda a gente». «De agora em diante, tudo o que temos de fazer é cumprir as nossas promessas. Que os argentinos saibam que cada palavra que proferimos e cada compromisso que assumimos foi um compromisso moral e ético com o país que devemos cumprir», sublinhou.
Um país fragilizado
Os resultados oficiais das PASO [Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias] de Agosto passado, o ensaio geral para as presidenciais, já apontavam para uma significativa rejeição da política neoliberal e austeritária de Macri, também caracterizada como subserviente dos interesses económicos dos EUA, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do grande capital.
Recorde-se que Paul Singer, um dos bilionários americanos que mais contribui para o partido Republicano e para Donald Trump, levou a Argentina à falência em 2014, numa criticada decisão judicial de um tribunal de Nova Iorque, vista por alguns comentadores como um meio de derrubar Kirchner e abrir as portas a Macri, ao mesmo tempo proporcionando milhares de milhões de dólares de lucro àquele que é designado no meio como «o investidor-abutre».
A recessão económica e o peso (moeda argentina) altamente desvalorizado, o acordo celebrado entre o governo de Macri e o FMI – com os habituais «pedidos» de redução na despesa pública e de aprofundamento das políticas de austeridade –, os aumentos de preços nos serviços básicos, as subidas constantes dos preços da alimentação, os despedimentos, os encerramentos de inúmeras empresas, o elevado desemprego estão entre os factores que contribuíram para que a Argentina tenha atingido, este ano, o número recorde de pessoas em situação de pobreza.
Deputada ao Parlamento Europeu acompanhou o processo eleitoral
Sandra Pereira, a deputada do PCP no Parlamento Europeu, esteve presente a acompanhar o que considerou ser «uma jornada histórica», na qual 48% dos argentinos disseram «não» às políticas neoliberais que vinham a ser protagonizadas por Macri.
Em declarações ao AbrilAbril, a deputada afirmou que, com este resultado, fica claro que «é hora para mudar para uma Argentina mais solidária, que privilegie os que trabalham», acrescentando que «os argentinos exigem um corte com as políticas neoliberais e com o seguidismo aos EUA».
Num processo marcado pela transparência, em que o voto foi «livre e exercido democraticamente», as eleições contaram com 80 acompanhantes internacionais, entre os quais José Luis Zapatero, antigo primeiro ministro espanhol.
A deputada comunista disse ainda que, ontem, nos vários discursos de vitória, foi referido que «a experiência neoliberal está a falhar em todo o lado e que a prova disso é que os países onde essa política tem sido implementada têm mais desemprego, mais pobreza, mais desigualdades e aumento da dívida pública».
«Esta é a voz de mais um povo que se ergueu a dizer «não à austeridade», «não à ingerência externa», e que o caminho é pelo desenvolvimento do país, por proteger os argentinos e criar uma argentina solidária», concluiu.
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