A decisão do governo australiano de declarar o Hezbollah como «organização terrorista» e banir todas as suas actividades no país foi anunciada a meio desta semana pela ministra do Interior, Karen Andrews.
Todo o partido, com forte representação no Líbano e grande popularidade a nível nacional e internacional, passa a ser designado como «terrorista» na Austrália. A ala militar já era assim considerada desde 2003.
A medida foi de imediato louvada no Twitter pelo primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, que «agradeceu» ao governo australiano e ao «seu amigo» Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano, pela decisão.
A libertação da Palestina é a grande prioridade, afirmou Nasrallah, num discurso que se centrou no Médio Oriente e no reforço do eixo da resistência para combater o obscurantismo e o imperialismo. Numa alocução televisiva transmitida esta quinta-feira, o secretário-geral do Hezbollah destacou que «confrontar a entidade sionista usurpadora continua a ser a nossa máxima prioridade», tendo afirmado que, para tal, é necessária a cooperação das forças da resistência palestinianas com o eixo da resistência na região. Nasrallah – refere a Al Mayadeen – renovou o apelo a todos para que apoiem o povo palestiniano na Cisjordânia, na Faixa de Gaza cercada, em Jerusalém e na diáspora, sublinhando o seu direito a «restaurar a sua terra desde o rio até ao mar» e a acabar com a ocupação sionista. A retirada norte-americana e da NATO simbolizada em Bagram, sob o signo da missão cumprida, deixa o Afeganistão como um país dilacerado e mergulhado na guerra civil. Um telegrama da insuspeita Associated Press, assinado por Kathy Gannon, testemunha o seguinte: em 2 de Julho «os Estados Unidos deixaram a base aérea de Bagram no Afeganistão ao cabo de quase 20 anos apagando as luzes e fugindo durante a noite sem notificarem o novo comandante afegão da base, que deu pela partida dos norte-americanos mais de duas horas depois, segundo fontes afegãs». «O secretismo cobarde da operação não esconde nem disfarça, porém, mais uma derrota militar dos Estados Unidos e dos aliados – entre os quais Portugal – desta feita na sua guerra mais longa, que duplicou o tempo de envolvimento no Vietname» O império e o seu aparelho de guerra, a NATO, escapuliram-se de fininho pela calada da noite tentando evitar a repetição das imagens de 1975 em Saigão, quando chefes militares e diplomatas norte-americanos treparam apressadamente para helicópteros na altura em que os patriotas vietnamitas estavam a entrar na cidade. O secretismo cobarde da operação não esconde nem disfarça, porém, mais uma derrota militar dos Estados Unidos e dos aliados – entre os quais Portugal – desta feita na sua guerra mais longa, que duplicou o tempo de envolvimento no Vietname. Para trás ficaram mais centenas de milhar de baixas – o número real provavelmente jamais será conhecido – biliões de dólares queimados, um país em guerra e completamente destruído. Mais um, a juntar ao Iraque, à Síria e à Líbia, para citar apenas os casos mais recentes. Missão cumprida, proclamou o comandante em chefe de turno da «civilização ocidental», Joseph Biden. «Os Estados Unidos fizeram o que vieram fazer… apanhar os terroristas que nos atacaram em 11 de Setembro; agora é hora de voltar para casa». Assim se escreve a história, falsificando-a, contando com a memória cada vez mais curta das opiniões públicas trabalhadas por uma comunicação social agindo em modo de propaganda. Segundo a narrativa oficial, o suposto responsável pelos atentados de 11 de Setembro, Osama bin Laden, foi assassinado por forças especiais norte-americanas em 2 de Maio de 2011, há dez anos: a «hora de voltar para casa» está, portanto, uma década atrasada. É verdade que também não pode ter-se a certeza sobre a morte de bin Laden nessa data, porque os matadores se apressaram a lançar o cadáver aos peixes. A operação serviu principalmente para honra e glória do presidente dos Estados Unidos que, até ao momento, terá cometido mais execuções extrajudiciais: Barack Obama. De quem Biden foi vice-presidente. No cenário de guerra enraizada no Afeganistão, o anúncio da retirada das forças norte-americanas e da NATO surge como uma grande operação de cosmética para gerir o conflito segundo outras metodologias. O presidente dos Estados Unidos anunciou que o seu país e a NATO vão retirar tropas do Afeganistão até 11 de Setembro deste ano. Independentemente do que possa dizer-se sobre a suposta grandeza do acto, estamos perante uma humilhante confissão de derrota numa guerra que, ao cabo de 20 anos, deixou a martirizada nação numa situação tão ou mais grave do que aquela em que se encontrava quando a invasão imperial se iniciou. Além disso, e para que conste desde já, a retirada de efectivos convencionais não significa o abandono do teatro de operações por agressores ao serviço dos mesmos interesses expansionistas que promoveram a invasão. Joseph Biden, como não poderia deixar de ser porque assim funciona a propaganda em que assenta a memória futura da história dominante, cantou vitória ao anunciar a decisão. Disse que «podemos acabar com esta guerra interminável» porque «Bin Laden está morto e a al-Qaeda enfraquecida». Sobre a figura de Bin Laden, velho colaborador dos Estados Unidos nas operações desenvolvidas no Afeganistão, são muito mais as histórias mal contadas do que as certezas; quanto à al-Qaeda, está bastante mais forte hoje porque expandiu-se do território afegão para o Médio Oriente, Norte de África e África Central, servindo até de braço armado à NATO para destruir a Líbia e tentar fazer o mesmo na Síria. «O anúncio da retirada da NATO do Afeganistão é, sem qualquer dúvida, uma confissão de derrota da maior organização militar mundial, com ambições globalistas; a invasão saldou-se por um fracasso de todos os objectivos que poderiam considerar-se positivos e pelo alento que deu às vertentes negativas – tráfico de droga e terrorismo dito «islâmico»» Biden fabricou uma «verdade» de acordo com as conveniências imperiais de propaganda, mas a realidade no teatro de operações afegão desmente-o palavra por palavra: os Talibã, inimigos a abater pela invasão da NATO, estão mais fortes do que há 20 anos e controlam mais de metade do território; os corpos de segurança criados de raiz pelos invasores são incapazes de estender a sua influência para lá da região de Cabul; o governo supostamente «democrático» instalado pelos ocupantes exerce o poder na capital e pouco mais, assenta na corrupção e no colaboracionismo e resulta de fraudes eleitorais das quais ninguém duvida, a começar pelos seus tutores estrangeiros. Por outro lado, há dois aspectos para os quais a invasão militar ocidental contribuiu de maneira determinante: os assombrosos números, jamais atingidos, de produção de ópio e consequente tráfico de heroína à escala mundial (o Afeganistão representa mais de 90% do total, segundo a ONU); e a transformação do Afeganistão numa espécie de base de rectaguarda do ISIS, Daesh ou Estado Islâmico: o Pentágono assegurou a operação de transferência e salvamento para território afegão dos terroristas deste grupo depois de derrotados na Síria – e parcialmente no Iraque – por acção conjunta dos poderes militares da Rússia e de Damasco. O anúncio da retirada da NATO do Afeganistão é, sem qualquer dúvida, uma confissão de derrota da maior organização militar mundial, com ambições globalistas; a invasão saldou-se por um fracasso de todos os objectivos que poderiam considerar-se positivos e pelo alento que deu às vertentes negativas – tráfico de droga e terrorismo dito «islâmico». Além disso, as tropas norte-americanas e aliadas deixaram no terreno uma situação que assegura a continuação da guerra entre o poder de Cabul tutelado pelos interesses ocidentais, o poder Talibã e a miríade de poderes oscilantes de senhores da guerra de índole tribal, regional e étnica medrando com diversos tráficos – drogas, fontes de energia, armas, influências. Uma confusão na qual se moverá o verdadeiro império de poder construído pela CIA no Afeganistão, com uma componente clandestina financiada pelo tráfico de estupefacientes, como aconteceu noutras paragens, por exemplo na América Central. «Entrámos juntos, adaptámo-nos juntos, saímos juntos», proclamou o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, aos seus colegas da NATO reunidos em Bruxelas. Na verdade, a retirada surge 200 mil mortos depois, com suspeitas de prática de crimes contra a humanidade, como investiga do Tribunal Penal Internacional, e deixando o teatro de operações em condições sociais e humanitárias piores do que as encontradas. É sempre assim por onde a NATO passa. A informação dominante insiste na tecla de que a guerra dos Estados Unidos contra o Afeganistão se iniciou há 20 anos. Não é verdade: a agressão iniciou-se há 42 anos, em 1979, quando o presidente James Carter, a conselho do seu assessor e estratego terrorista Zbigniew Brzezinski, começou a armar grupos «islamitas» de índole tribal e mentalidade medieval para combater o governo secular de Cabul, que mantinha relações privilegiadas com a União Soviética. Nasceram assim os «Mujahidines», a primeira vez em que o imperialismo norte-americano recorreu abertamente ao terrorismo de fachada «islâmica» como braço armado. Tratava-se, como explicou o próprio Brzezinski, de «proporcionar aos soviéticos o seu próprio Vietname». A verdade é que Moscovo mordeu o isco e depois foi o que se sabe: a intervenção no Afeganistão como passo determinante para o fim da própria União Soviética. Os Estados Unidos, através da CIA e de serviços secretos de países ocidentais e do Médio Oriente, refinaram a estratégia de intervenção islâmica e reforçaram o papel dos «Mujahidines» com a criação da al-Qaeda, iniciada com o recrutamento pela CIA do príncipe saudita Osama Bin Laden. Este foi também o caldo de cultura que deu origem aos Talibã, posteriormente aliados da administração Clinton, durante os anos noventa, na estratégia fracassada de fazer passar pelo Afeganistão um oleoduto para escoar petróleo do Cáspio contornando a Rússia e o Irão. Assim foi sendo transformado o território afegão no primeiro grande viveiro de organizações de mercenários «islâmicos», braços terroristas actuando hoje através do Médio Oriente, Magrebe e África do Norte, Central e Oriental, Balcãs, Cáucaso, Ásia Central e Meridional. O resto é história dos últimos 20 anos, uma nova fase da agressão norte-americana contra o Afeganistão iniciada com a invasão militar directa sob o pretexto da nunca demonstrada responsabilidade de Bin Laden nos atentados terroristas de Nova York em 11 de Setembro de 2001. Agora estamos à beira de uma «retirada militar» da NATO. Que é, afinal, uma espécie de «novo Vietname» para os Estados Unidos, uma vez que a opção militar pura e dura falhou e tem de ser substituída pela continuação da guerra sob novas roupagens. No dia 15 de Abril, isto é, algumas horas depois da proclamação de Joseph Biden anunciando a retirada do Afeganistão, o jornal New York Times (NYT) – muito bem informado nestas matérias – escreveu o seguinte: «O Pentágono, as agências de inteligência norte-americanas e os aliados ocidentais estão a refinar planos para instalar uma menos visível mas também poderosa força (no Afeganistão) para impedir que o país se transforme de novo numa base terrorista». «há dois aspectos para os quais a invasão militar ocidental contribuiu de maneira determinante: os assombrosos números, jamais atingidos, de produção de ópio e consequente tráfico de heroína à escala mundial (o Afeganistão representa mais de 90% do total, segundo a ONU); e a transformação do Afeganistão numa espécie de base de rectaguarda do ISIS» Ainda segundo o mesmo jornal, o Pentágono está a «discutir com os aliados» os locais onde «reposicionar» forças num processo em que «as tropas da NATO se retiram formalmente» mas a Turquia, membro da aliança, «deixará efectivos para trás de modo a ajudar a CIA a recolher informações». Além disso, informa também o NYT, os Estados Unidos têm no terreno mais mil efectivos do que os 2500 oficialmente declarados: trata-se de membros de forças de elite para operações especiais que actuam sob comando duplo da CIA e do Pentágono. Infere-se que este lote de agentes de guerra não deverá retirar-se com o contingente oficialmente contabilizado. Joe Biden anunciou que estava «na hora de as tropas voltarem para casa». Outros foram mais precisos sobre os planos do Pentágono: mercenários, guerra à distância, operações especiais. A propósito da declaração do presidente norte-americano sobre o «fim» da guerra norte-americana no Afeganistão, no passado dia 14, Sonali Kolhatkar, que escreve para o Independent Media Institute, afirma que quase tudo o que Biden disse sobre o fim da intervenção no país asiático é «mentira». Pouco depois, o diário The New York Times (NYT) deixou antever os planos futuros: «o Pentágono, agências de espiões americanas e aliados ocidentais estão a apurar os planos para destacar uma força menos visível mas ainda assim potente na região.» Jeremy Kuzmarov, editor da CovertAction Magazine, também se refere ao anúncio de Biden como «enganador» e, reportando-se ao NYT, afirma que, depois da saída formal das tropas norte-americanas, os EUA se vão manter no Afeganistão por via de uma «combinação obscura de Forças de Operações Especiais clandestinas, mercenários a soldo do Pentágono e agentes secretos de inteligência». Passado e presente de um país ainda com futuro. História, política e economia de uma região na encruzilhada de continentes e de civilizações, devastada pela geoestratégia imperial dos EUA. Falar do Afeganistão, 16 anos depois de as Twin Towers ainda esperarem a verdade desse massacre fundador, é um percurso de dor e de uma consciência que se vai construindo, através das peças de um puzzle onde as pessoas parecem ser o que menos interessa. Mas também constitui uma oportunidade para recuperar hoje elementos essenciais da situação no Afeganistão para se compreender como tudo surgiu e porque muito ainda se mantém. Há duas semanas, no dia 29 de Janeiro, um ataque suicida perpetrado por cinco atacantes, contra um posto militar em Cabul, próximo da principal academia militar do país, deixou 11 soldados mortos e 15 feridos. Quatro dos atacantes foram mortos ou fizeram-se explodir e um quinto terrorista foi preso. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico (EI, Al-Qaeda e Talibans interpenetram-se num jogo de espelhos comandado por serviços secretos ocidentais que os criaram e/ou assessoraram). Foi mais um de uma série recente de ataques no Afeganistão. No sábado anterior, dia 27, outros terroristas usaram uma ambulância-bomba para matar 103 pessoas e ferir outras 235. O chefe da missão da ONU no Afeganistão, Tadamichi Yamamoto, classificou o ataque como uma «atrocidade». No dia 24, um grupo tinha atacado a sede da ONG «Save the Children» em Jalalabad, provocando três mortos e 24 feridos. No dia 20, um ataque armado ao luxuoso Hotel Intercontinental de Cabul causara 19 mortos, 14 dos quais estrangeiros, provocando um grande incêndio em vários andares do prédio. Para compreender esta agressividade assassina crescente, o jornalista afegão Masud Waganas referia, há dias, existirem fortes rivalidades geopolíticas entre poderes, imperialistas e hegemónicos, relativas aos recursos naturais do Afeganistão e às rotas comerciais e de trânsito, atendendo à localização geoestratégica do país, tendo essas rivalidades crescido de forma significativa nos últimos anos. Desde o século XVIII a Inglaterra deteve o monopólio da produção de ópio na Índia, que estendeu depois ao Afeganistão. No Afeganistão a resistência à ocupação malogrou uma primeira tentativa de os ingleses destronarem o rei Dost Mohammad. No início de 1842 os ingleses foram forçados a deixar Cabul e, na retirada para Jalalabad, deixaram na neve 17 mil corpos de militares e auxiliares. A Inglaterra torneou a questão cortando os acessos do Afeganistão ao mar, retirando-lhe o território para cá das cordilheiras do Hindu Kush. Preocupada com o vizinho Império Russo, a Inglaterra realizou novas intervenções e, sem consultar os afegãos, acabou por assinar com aquele uma convenção, em 1907, que retirou parcelas ao país e resultou no afastamento dos Pashtuns, que integravam o Afeganistão desde tempos imemoriáveis. Cerca de 90 anos tarde foi precisamente entre as rebeldes tribos Pashtun que nasceu o movimento Taliban, que, em poucos anos, ganhou a guerra civil e se estabeleceu no poder no Afeganistão. Desalojado do governo de Cabul pela intervenção americana, ainda hoje dominam boa parte do território afegão e mantêm em cheque o governo de Karzai e os seus aliados americanos. Em 22 de Novembro de 1917, menos de uma semana após a Revolução Bolchevique, o governo soviético denunciou e tornou públicos os tratados assinados pelo governo czarista, anulando os entendimentos entre britânicos e russos acerca do Afganistão. O rei Amanullah declarou a independência do país em relação ao império britânico em 1915 e tentou fazer regressar os Pashtun ao país mas os ingleses reagiram com mais uma guerra anglo-afegã (a terceira em 80 anos) e o objectivo não foi atingido. Face às tentativas de reunificação pacífica, os britânicos, em 1920, enviaram uma força conjunta de dois mil ingleses e indianos que mataram quatro mil habitantes de aldeias no Noroeste. O rei tornou-se um liberalizador: reforçou o exército; aboliu a escravatura e os trabalhos forçados; defendeu maiores liberdades para as mulheres, desencorajou o uso do véu e a opressão feminina; e introduziu oportunidades educativas para as mulheres. Em 1924 ocorreram violentas revoltas dos islamitas conservadores na cidade fronteiriça de Khost, que foi dominada pelo exército afegão. A revolta foi uma reacção às reformas sociais de Amanullah, particularmente a educação pública para meninas e uma maior liberdade para as mulheres. O historiador afegão Abdul Samad Ghaus escreveu em 1988: «A Grã-Bretanha foi vista como culpada no caso, manipulando as tribos contra Amanullah na tentativa de provocar a sua queda.» Em 1929 grandes revoltas das tribos conservadoras levaram à queda do rei, com a suspeição geral que os ingleses tinham estado por detrás disso. A intervenção norte-americana começa a ocorrer após a Segunda Guerra Mundial, em 1950, a partir da Directiva 68 de Segurança Nacional onde se afirmava que a URSS tinha o «desígnio do domínio do mundo». Em 1956 os EUA construíram em Kandahar um aeroporto internacional que servia a actividade de bombardeiros para a declarada eventualidade de um confronto com a URSS. No início dos anos 70 a CIA garantiu a retaguarda dos radicais islâmicos até ao início de 1973. Entretanto no Afeganistão, em 1978, ocorreu uma revolução dirigida pelo Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA), comunista. Em Agosto de 1979, um relatório classificado do Departamento de Estado afirmava: «os interesses maiores dos Estados Unidos (…) serão satisfeitos com o desaparecimento do actual regime afegão, apesar de quaisquer contratempos que isso possa significar para as futuras reformas sociais e económicas no Afeganistão.» Zbigniew Brzezinski, assessor de segurança nacional do presidente Carter, admitiu, após a guerra contra os soviéticos, que a CIA fornecia ajuda secreta aos Mujahideen afegãos seis meses antes da invasão soviética. E salientou que a intenção dos EUA ao fornecer essa ajuda era «atrair os russos para a armadilha afegã». No dia em que os soviéticos cruzaram oficialmente a fronteira, afirmou ter escrito ao presidente Carter: «agora temos a oportunidade de dar à URSS a sua Guerra do Vietname.» A intervenção soviética no Afeganistão, a 26 de Dezembro de 1979, a pedido do governo afegão, envolveu as forças soviéticas no apoio ao governo marxista do PDPA contra os fundamentalistas islâmicos, principalmente Mujahideen. Após a intervenção, os Estados Unidos foram rápidos em fornecer armas aos Mujahideen. Em Fevereiro de 1980, o Washington Post informou que eles estavam a receber armas provenientes do governo dos EUA. Os montantes foram significativos: 10 mil toneladas de armas e munições em 1983, que foram crescendo e atingiram 65 mil toneladas 1987, de acordo com Mohammad Yousaf, general paquistanês que supervisionou a guerra secreta de 1983 a 1987. Milton Bearden, chefe da estação da CIA no Paquistão de 1986 a 1989, que foi responsável por armar os Mujahideen, comentou: «Os EUA estavam a lutar contra os soviéticos até ao último afegão». Estima-se que os EUA e a Arábia Saudita deram 40 mil milhões de dólares em armas e dinheiro aos Mujahideen fundamentalistas ao longo da guerra. O dinheiro foi canalizado através do governo do Paquistão, que usou algum dele para criar milhares de escolas religiosas islâmicas fundamentalistas (madrassas) para as crianças refugiadas afegãs que inundaram o país. Estas tornaram-se as instituições de formação para os Talibans. Em Maio de 1988 a União Soviética começou a retirada das suas tropas do território afegão, uma retirada que só completou em Fevereiro de 1989. Porém, mesmo após a retirada, a guerra civil continuou no país até os rebeldes tomarem Cabul, em Abril de 1992, assassinando o presidente deposto, Mohamed Najibulah, que tivera o apoio dos soviéticos. O país passou a ser uma república islâmica e, no ano seguinte, uma assembleia nacional, composta por várias facções rivais, líderes tribais e religiosos, aprovou a criação de um novo parlamento. Esta união entre as várias facções durou pouco tempo. Violentas disputas internas favoreceram a ascensão de uma nova força política, os Talibans, grupo fundamentalista islâmico financiado pelo Paquistão. A partir daí foram anos de destruição do país, da sua cultura, dos direitos dos cidadãos, de assassinatos em massa que conduziram o país ao que hoje existe: um país de privações alimentares; de habitação, saúde, e de direitos democráticos condicionados; com regras rígidas para as mulheres e destruído por sucessivas guerras. As potências ocidentais mantiveram-se impávidas e serenas. Para elas o importante tinha sido a queda de um regime alinhado com a URSS e a saída desta do país. Assistiram a anos de uma loucura indescritível e os EUA só lá entraram em 2001 por razões relacionadas com os seus interesses económicos de exploração das riquezas naturais e estratégicos de expansão para leste. Atendendo ao que fui estudando nestes anos, de entre as diferentes narrativas sobre este período subscrevo a de Dana Visalli, agricultora biológica norte-americana e comentadora de política internacional. 1. Legislação. Direitos. O novo governo iniciou um programa de reformas que eliminou a usura, lançou uma campanha de alfabetização, eliminou a cultura do ópio, legalizou os sindicatos, estabeleceu um salário mínimo e diminuiu entre 20% e 30% os preços dos bens mais necessários, introduziu o ensino superior qualificado para os trabalhadores, aumentou os salários numa média anual de 26% e os salários mais baixos em 50%. O Estado subsidiou, para os manter, os preços de bens básicos, como a gasolina, o gasóleo, o querosene («petróleo») ou o açúcar, enquanto outros, como o trigo, a farinha e a lenha, passaram a ser vendidos a preços fixos. Quanto aos direitos das mulheres, o regime socialista concedeu a permissão para não usar véu, aboliu o dote, promoveu a integração das mulheres no trabalho (245 mil trabalhadoras, sendo 40% dos médicos mulheres) e a alfabetização (o analfabetismo feminino foi reduzido de 98% para 75%); 60% do corpo docente da Universidade de Cabul passou a ser de mulheres, 440 mil mulheres passaram a trabalhar na educação e 80 mil participaram na campanha de alfabetização. O mesmo aconteceu na vida política. As mulheres passaram a ter, por lei, direitos iguais aos dos homens. A taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos diminuiu de 38% em 1960 para 30% em 1988, 80% da população urbana passou a ter acesso aos serviços de saúde e a expectativa de vida, de 33 anos em 1960, passou para 42. Duplicou o número de camas hospitalares. Aumentou em 50% o número de médicos. Pela primeira vez foram criados jardins-de-infância e casas de repouso para os trabalhadores. Foi realizada a cobertura hospitalar e de centros de saúde, mesmo nas regiões rurais remotas. O acesso aos cuidados de saúde era gratuito e os medicamentos eram vendidos a preços acessíveis, e para os mais pobres, os medicamentos eram entregues gratuitamente. Centenas de milhares de pessoas foram alfabetizadas e 63% das crianças frequentaram o ano escolar em 1985. Foi fundada a Academia de Ciências (1980), o Instituto Pedagógico (1987) e universidades em Balha (1988), Herat (1988) e Kandahar (1990). O Afeganistão enviou para o espaço o primeiro e único cosmonauta da sua história, Abdul Ahad Mohmand, em 1988. Também desenvolveu a cinematografia nacional. Inicialmente a religião foi separada do Estado, mantendo-se a liberdade de culto. Mais tarde, foi criado um fundo estatal para a reparação e construção de mesquitas e anulada a expropriação de terras do clero. Em 1987, o Islão foi restaurado como a religião oficial do Estado. 2. Economia Depois da revolução, o governo Taraki nacionalizou sectores estratégicos da economia e a realizou uma reforma agrária, que incluiu a formação de cooperativas agrícolas e a expropriação de terras dos latifundiários e sua distribuição entre os camponeses (o limite da propriedade privada da terra era de seis hectares). A proporção de indústrias extractivas e transformadoras cresceu de 3,3% do PIB em 1978 para 10% em 1985. No mesmo período, o investimento na indústria nacional ultrapassou em 80% todos os investimentos nos vinte anos anteriores à Revolução. Em 1984, os investimentos em sectores estatais e mistos aumentou em 50%. Nesse ano foram criadas 100 novas empresas. Em 1984, as colheitas ultrapassaram significativamente as anteriores. O reforço do sector público não excluiu o sector privado. No governo Karmal foi fundada a Câmara de Comércio e Indústria, com o objectivo de reunir representantes de capitais privados de mais de vinte associações de comerciantes. Com a ajuda da União Soviética, no sector estatal da economia foram construídas cerca de 200 empresas, que passaram a fornecer a maior parte da produção global. Entre elas as empresas hidro-eléctricas e a Puli-Humri Naghlu, a fábrica de fertilizantes de azoto em Mazar-i-Sharif, uma empresa de panificação e outra de casas pré-fabricadas em Kabul. A Checoslováquia abriu um alinha de crédito para ser construída uma linha de eléctricos em Cabul, equipadas minas de carvão e construída uma fábrica de cimento em Herat. Com créditos da Bulgária, foi construída uma grande exploração aviária, explorações de ovinos e de seda, outras empresas de aves, de produtos lácteos, tijolo e curtumes, e duas empresas para o sector das pescas. A Alemanha Oriental participou da criação de uma central telefónica automática em Cabul, que estabeleceu as linhas de comunicação e a ampliação do sistema de fornecimento de electricidade em várias cidades. A Hungria participou da construção de uma empresa farmacêutica. Para além do comércio com o campo socialista, no início dos anos 80, o volume de comércio entre o Afeganistão e o Japão tinha aumentado 33% e ambos os países criaram a empresa comercial conjunta Nichi-afegã Lda. Também o comércio com a Índia aumentou em 50%. A guerra civil viria a provocar graves danos para a economia afegã. Só até 1985 o número de perdas tinha sido de 35 mil milhões de afegãos (moeda). Com os Talibans todos os avanços do país foram destruídos e regressou-se a um profundo obscurantismo. Em 2001, os EUA e a NATO invadiram o Afeganistão, fizeram dele um protectorado, com dirigentes que, apesar de formalmente eleitos, foram sendo afastados em função dos «superiores interesses dos EUA». O caso mais notório foi o de Hamid Karzai, que foi presidente do país entre 2004 e 2014, afastado por não aceitar o estatuto do Paquistão como base de grupos terroristas como os EUA queriam. Os EUA ensaiaram para 2014 uma «saída» das suas tropas que acabou por se traduzir apenas num outro modelo de protectorado, com os Talibans e outros grupos terroristas a servirem os interesses estado-unidenses de desestabilização regional, incluindo em outros países, como a Síria ou as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central que fazem fronteira com a Rússia e a China. Em 30 de Setembro de 2014, o Afeganistão, os Estados Unidos e a NATO assinaram um acordo para justificar formalmente a presença de um contingente militar limitado no estado da Ásia Central, após a retirada formal das forças internacionais. Uma força de seguimento de cerca de 12 mil soldados permaneceu em 2015 em tarefas de treino e apoio. No final desse ano, cerca de 41 mil soldados da NATO permaneciam no Afeganistão lutando contra a revolta de Talibans, ao lado de soldados e polícias afegãos, com o mandato de missão de combate da NATO a terminar em Dezembro. Os EUA falharam redondamente o seu programa de formação de polícias e os afegãos passaram a confiar ainda menos neles. Em Agosto passado Trump anunciou ir continuar a guerra no Afeganistão. Em reacção, um porta-voz dos Talibans condenou essa decisão de Trump e disse, citado pela France Press, que o grupo terrorista continuaria a jihad no país, afirmando ainda que o país se tornaria num «cemitério» dos EUA após a decisão de Trump de enviar mais tropas para o Afeganistão. Na sequência disso, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, declarou que o movimento Taliban seria incapaz de alcançar uma vitória militar no Afeganistão mas que, no entanto, poderia receber um estatuto legal através de negociações… A nova estratégia dos EUA no Afeganistão inclui a expansão de forças de autoridade para atacar terroristas. No entanto, Trump disse que os Estados Unidos não revelariam o número de tropas ou quaisquer futuros planos de acção militar no Afeganistão. A vaga de atentados em Janeiro de 2018 revela a falência dessas e anteriores estratégias e a liberdade de circulação dos Talibans, al-Qaeda e Estado Islâmico. Apesar de 16 anos de uma pesada presença dos EUA, a fim de estabelecer a sua hegemonia no Afeganistão e para além dele, a influência de potências regionais como a Rússia, China, Irão, Paquistão e a Índia está a crescer. No entanto, os EUA mantêm um papel desestabilizador na região, tendo em vista estabelecer um domínio imperial alargado numa situação internacional onde já não têm a mesma capacidade de influência. Esta estratégia tem girado em torno de variantes da chamada Doutrina Wolfowitz (subsecretário de Estado de George Bush pai), que visou «prevenir o surgimento de um poder regional ou global que pudesse desafiar o estatuto hegemónico único por parte dos EUA» e a sua cavalgada até à China, para garantirem recursos energéticos e minerais que implicariam uma ocupação logística de uma vasta parte da Eurásia, com governos de fidelidade garantida. Era um sonho louco, desmentido após as invasões do Iraque e do Afganistão, de várias «revoluções coloridas», da introdução do «caos» como melhor forma de gerir o terrorismo, do narcotráfico, da exploração sem regras de petróleo e riquezas minerais. Evitar um trajecto comercial normal entre países, para o deixar entregue a bandidos que fazem a administração desses imensos espaços, destruiu o Afeganistão e outros países, como a Líbia. Mas há fortes realidades que hoje pesam em sentido diferente desta cavalgada diabólica. Dezasseis anos depois da guerra mais longa da sua história, os EUA no Afeganistão tomam atitudes que dependem mais do que entendem ser a necessidade de reagirem à derrota na Síria, podendo acrescentar-se-lhe a do Iraque, onde hoje é significativa a influência da Rússia e do Irão, com a China mais distanciada, apesar de já estar a fechar contratos com o Afeganistão. Trump pode estar a transformar esta guerra «em aberto» desde 2001 numa guerra em termos qualitativos e quantitativos muito diferentes da dos seus antecessores na Casa Branca. Mas está limitado, pese embora a pressão do Pentágono para o aventureirismo sem medir consequências. Vale a pena lembrar aqui a história do comércio de drogas do Crescente Dourado, que está intimamente relacionado com as operações secretas da CIA na região desde a guerra contra os soviéticos e as consequências que isso teve. Ate à revolução socialista a cultura do ópio (papoila) era vasta e controlada pelos ingleses. Depois da revolução, a produção de ópio foi proibida no Afeganistão e no Paquistão, e foi dirigida a pequenos mercados regionais. Não existia produção local de heroína (Alfred McCoy, «Drug Fallout: quarenta anos de cumplicidade da CIA no comércio de narcóticos», The Progressive, 1/08/1997). A economia afegã de narcóticos foi um projecto cuidadosamente preparado pela CIA, apoiado pela política externa dos EUA e intimamente relacionado com as operações secretas da CIA na região, desde a guerra contra os soviéticos. Conforme revelado nos escândalos Irão-Contra e Bank of Commerce e Credit International (BCCI), as operações secretas da CIA em apoio aos Mujahideen afegãos foram financiadas através da lavagem de dinheiro da droga. O «dinheiro sujo» foi reciclado - através de várias instituições bancárias (no Médio Oriente), bem como através de empresas anónimas da CIA, com «dinheiro encoberto» usado para financiar vários grupos insurgentes durante a guerra contra os soviéticos. Em «The Dirtiest Bank of All» pode ler-se que «os EUA queriam fornecer aos rebeldes Mujahideen no Afeganistão mísseis stinger e outros equipamentos militares, E precisavam da cooperação total do Paquistão. Em meados da década de 1980, a estação da CIA em Islamabad era uma das maiores estações de inteligência dos EUA no mundo. A revista Time de 29/07/1991, a páginas 22, revelava que «os EUA se voltaram para o tráfico de heroína no Paquistão», citando um oficial dos serviços secretos dos EUA. O estudo do investigador Alfred McCoy confirmou que, depois da operação secreta da CIA no Afeganistão em 1979, «as fronteiras do Paquistão e o Afeganistão tornaram-se o maior produtor de heroína do mundo, fornecendo 60% da procura dos EUA. No Paquistão, a população viciada em heroína passou de quase zero em 1979 para 1,2 milhões em 1985, um aumento muito mais acentuado do que em qualquer outra nação». E que «os activos da CIA controlaram novamente esse comércio de heroína. À medida que os guerrilheiros Mujahideen ocuparam território dentro do Afeganistão, pediram que os camponeses plantassem o ópio como um "imposto revolucionário". Em toda a fronteira no Paquistão, líderes afegãos e grupos de bandidos locais, sob a protecção dos serviços secretos do Paquistão, faziam funcionar centenas de laboratórios de heroína. Durante esta década de 1979 a 1989 de tráfico aberto de drogas, a Agência de Controle de Drogas (DEA) dos EUA em Islamabad não levantou processos ou fez prisões». Continua McCoy: «funcionários dos EUA recusaram-se a investigar acusações de heroína por parte de seus aliados afegãos porque a política de narcóticos dos EUA no Afeganistão foi subordinada à guerra contra a influência soviética. Em 1995, o ex-diretor da CIA em operação no Afeganistão, Charles Cogan, admitiu que a CIA realmente sacrificou a guerra contra as drogas para fazer a Guerra Fria.» De acordo com um relatório conjunto do Pentágono, do U.S. Geological Survey (USGS) e a USAID, revelaram-se no Afeganistão em 2010 reservas de minerais «anteriormente desconhecidas» e inexploradas, estimadas na ordem dos mil milhões de dólares («EUA identificam grandes riquezas minerais no Afeganistão», New York Times, 14/06/2010; veja-se também a BBC, 14/06/2010): «os depósitos anteriormente desconhecidos - incluindo grandes veias de ferro, cobre, cobalto, ouro e metais para industrias críticos como o lítio - são tão grandes e incluem tantos minerais que são essenciais para a indústria moderna, que o Afeganistão poderia eventualmente ser transformado num dos mais importantes centros mineiros mundiais, acreditam os funcionários dos Estados Unidos.» Um memorando interno do Pentágono, por exemplo, afirma que o Afeganistão poderia tornar-se a «Arábia Saudita do lítio», uma matéria-prima chave na fabricação de baterias para laptops e blackberrys. A vasta escala da riqueza mineral do Afeganistão foi descoberta por uma pequena equipa de funcionários do Pentágono e geólogos americanos. O governo afegão e o presidente Hamid Karzai foram posteriormente informados, segundo afirmaram autoridades americanas. Embora possa levar muitos anos para desenvolver uma indústria de mineração, o potencial é tão grande que funcionários e executivos da indústria acreditam que isso poderia atrair investimentos pesados mesmo antes de as minas se tornarem lucrativas, proporcionando a possibilidade de empregos que acabassem com o estado de guerra. O valor dos depósitos minerais recém-descobertos diminui o peso relativo da economia de guerra do Afeganistão, baseada em grande parte na produção de ópio e tráfico de narcóticos, e poderá abrir perspectivas para uma economia livre dessa actividade criminosa. Rematemos, regressando ao título deste artigo: «Afeganistão, onde as pessoas parecem ser o que menos interessa». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Com uma constelação de bases aéreas na região do Golfo Pérsico, os EUA mantêm uma posição privilegiada para bombardear ou lançar ataques com drones no Afeganistão. Um ex-agente da CIA e especialista em contra-terrorismo, Marc Polymeropoulos, foi bem mais preciso do que Biden sobre o modo como as coisas se devem passar daqui para a frente e disse-o ao NYT: «Aquilo de que estamos a falar de facto é sobre como recolher informações secretas e, depois, agir contra alvos terroristas sem [termos] qualquer infra-estrutura ou pessoal no país para lá da embaixada em Cabul.» O secretário da Defesa, Lloyd Austin, fez questão de sublinhar a capacidade dos EUA para levar a cabo a guerra sem tropas no terreno, tendo afirmado que «provavelmente, não há um local no Planeta que os Estados Unidos e os seus aliados não consigam alcançar», nota Sonali. Outra coisa a que Biden não se referiu no seu discurso à nação foi aos «privados» que os EUA empregam no Afeganistão. O NYT diz que são mais de 16 mil; Jeremy Kuzmarov afirma que, em Janeiro, estavam no país da Ásia Central 18 mil mercenários, segundo um relatório do Departamento da Defesa. Para cada soldado norte-americano presente no Afeganistão havia sete mercenários, uma proporção que, segundo Kuzmarov, reflecte a estratégia norte-americana de proceder ao outsourcing da guerra, para beneficiar empresas privadas de mercenários e como forma de distanciar a guerra do público, tornando-a menos visível e controlando-a à distância, como os EUA fizeram noutros países. A existência de empresas de mercenários com dimensão para privatizar uma guerra é um sinal da ligação entre a guerra e interesses económicos privados e um motivo de preocupação para os amantes da paz. A ficção oferece exemplos de mercenários heróicos e defensores do bem, como em Os Sete Samurais, de Kurosawa, ou na série televisiva Soldados da Fortuna (The A Team). Na verdade, a história de soldados a soldo, dispostos a lutar onde e para quem paga melhor é plena de episódios onde figuras ou nações ricas contratam mercenários para impor a sua vontade, reprimir, conquistar e aniquilar. A título de exemplo, recorde-se o uso dos gurkhas nepaleses pela Companhia das Índias Ocidentais, ou da Pinkerton, uma força privada de segurança dos EUA usada por vários empresários, incluindo Andrew Carnegie, para combater o movimento de trabalhadores, incluindo infiltrar sindicatos, intimidar «agitadores», proteger os fura-greves e reprimir grevistas. À semelhança de outras áreas de actividade económica, também os mercenários, nas suas diferentes formas, têm ganho dimensão e evoluído à medida que o capitalismo, e a sua fase de imperialismo, se desenvolve. A britânica G4S desenvolve actividades em 125 países (incluindo a segurança em Jerusalém Ocidental e a gestão de cinco prisões israelitas, com conhecidos casos de tortura de presos palestinianos) e emprega mais de 570 mil pessoas, sendo o segundo maior empregador do mundo a seguir à Walmart. Tudo isto apesar da Convenção das Nações Unidas sobre Mercenários, que entrou em vigor em 2001, a qual proíbe o recrutamento, treino, uso e financiamento de mercenários. Será necessário acrescentar que os EUA, Reino Unido e França, assim como a China, Rússia, Índia e Japão, são signatários? Hoje grandes empresas colocam os seus «colaboradores» nos mais variados cenários de conflito, para executar funções distintas, desde a reparação automóvel e preparação alimentar em bases militares até segurança e assassinatos. Ainda esta semana foi reportado que os Emiratos Árabes Unidos (EAU) contrataram a Spear Operations Group – fundada por Abraham Golan, um israelita residente nos EUA – para executar um programa de assassinatos no Iémen. Um dos alvos dos mercenários estadunidenses, ex-forças especiais, foi um líder da al-Islah, organização que os EAU classificam de terrorista, mas que é reconhecido como um partido político legítimo, que se opõe à intervenção estrangeira no Iémen e conta entre os seus membros Tawakkul Karman, vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2011. Um dos mercenários, ex-SEAL da Marinha dos EUA, Isaac Gilmore, é claro: «É possível que o alvo seja alguém que o Príncipe Herdeiro Mohammed bin Zayed não goste.» Refira-se que, desde 2009, os EUA aprovaram 27 mil milhões de dólares para os EAU em vendas de armas e «serviços de defesa». Apesar dos muitos milhares de milhões gastos mundialmente em forças armadas nacionais e seu armamento, a área militar e de segurança privada tem crescido nas recentes décadas, ilustrando mais uma forma que o capitalismo encontrou para desviar fundos públicos para os bolsos dos privados. O exemplo anterior mostra também como o contra-terrorismo moderno se tem afastado de bombardeamentos estratégicos para a execução de indivíduos específicos, usando drones ou forças especiais. Ilustra também como as longas guerras ao Afeganistão e Iraque, a as forças especiais aí usadas, produziram indivíduos altamente treinados, prontos para serem recrutados pelas empresas privadas. Guerras que foram palco para o crescimento destas mesmas empresas, que receberem contratos multimilionários. A empresa Blackwater1, hoje denominada Academi e tendo integrado, em 2014, o grupo Constellis Holdings, foi durante a segunda guerra ao Iraque a empresa que mais cresceu e beneficiou dos contratos públicos, e também a que mais claramente demonstrou o perigo do envolvimento de forças privadas em cenários de guerra, tendo sido documentados inúmeros casos de mortes de civis inocentes e tortura de capturados, mas também tráfego ilegal de armas e fraude. Não estando protegidos pelas Convenções de Geneva nem podendo beneficiar dos apoios nacionais dados a ex-combatentes, estes modernos mercenários trabalhando em cenários de grande perigo físico e grande exigência psicológica carecem muitas vezes de garantias e apoios em caso de danos em combate. Por outro lado, funcionando paralelamente às forças regulares, estas empresas paramilitares funcionam à margem dos códigos que balizam a conduta das forças militares e até das leis nacionais do país de origem do mercenário e empresa contratante. Diversos incidentes associados à Blackwater e outras empresas, levaram as Nações Unidas a estabelecer um Grupo de Trabalho sobre o Uso de Mercenários, tendo este concluído que, embora estas empresas muitas vezes sejam contratadas para fazer segurança, estão a realizar tarefas militares, e alerta para as «novas formas, manifestações e modalidades» das actividades mercenárias. Nada disto impede porém o Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE) da União Europeia de estar a decidir que empresa contratar, ao som de 100 milhões de euros, para realizar serviço de segurança no Afeganistão, país na prática ocupado pela NATO2. Mas nada disto se compara com o plano de 5 mil milhões de dólares de Erik Prince – fundador da Blackwater e irmão da secretária de Educação de Trump, a bilionária Betsy DeVos – para privatizar a guerra no Afeganistão. Após a guerra na península Coreana, que formalmente ainda não terminou, e a guerra do Vietname, a guerra no Afeganistão é a terceira mais longa guerra em que os EUA alguma vez estiveram envolvidos (17 anos), levantando desafios militares e políticos a três presidentes. As actuais forças dos EUA no país totalizam 15 mil tropas, apoiadas por 20 mil privados (ou mercenários, paramilitares, como preferirem), o que corresponde já a uma redução desde o pico de mais de 140 mil tropas dos países da NATO em 2009/2010. Prince propõe-se substituir boa parte destas tropas por 2500 soldados das forças especiais e 6000 privados, apoiados por uma força aérea privada, eliminando as missões da NATO e apontando uma figura oficial dos EUA como «vice-rei para liderar todos os esforços do governo dos EUA e coligação – incluindo comando, orçamento, política, promoção e contratação – e reportar directamente ao presidente» dos EUA3. Segundo Prince, este plano podia acabar com a guerra em seis meses. Prince já havia apresentado a proposta a Trump em 2017 e este e os seus conselheiros haviam então recusado a proposta. Mas face às mudanças no gabinete, Prince tem voltado a insistir na proposta durante os últimos dois meses, com várias reuniões e entrevistas nos EUA e no Médio Oriente, provocando inclusivamente uma reacção por parte do governo afegão, o qual caracterizou o plano como «destrutivo e divisivo», e que nunca permitiriam que «o combate contra o terrorismo se tornasse um negócio privado com fins lucrativos, afirmando ainda que «as forças de segurança e defesa afegãs, no quadro das leis nacionais, têm a responsabilidade e autoridade principal». Existem algumas indicações de que Trump estará a dar alguma consideração ao plano de Prince. O Times de Londres reporta, em 5 de Outubro de 2018, que Prince atribui a recusa inicial de Trump como causada pelo rescaldo político da marcha neo-nazi em Charlottesville. Segundo Prince, Trump «disse logo a seguir “eu devia ter feito a mudança”». A substituição do comandante das forças dos EUA no Afeganistão pelo General Scott Miller, um veterano de operações especiais que serviu como fonte para as ideias de Prince, será indicação adicional de Trump estar a reconsiderar o seu plano. Este plano em particular poderá ser ou não implementado, mas o mero facto de ser proposto – e portanto haver uma empresa de mercenários com a dimensão para privatizar uma guerra – e de estar a merecer alguma consideração é um sinal de alerta, para todos os amantes da paz, de que a interligação entre a guerra e interesses económicos privados se aprofunda, levando a novas formas de intervenção e alargamento dos conflitos no mundo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O editor da CovertAction Magazine afirma que, na sua maioria, os mercenários são antigos militares, embora haja um contingente de outros países, a quem são pagos baixos salários. Uma das maiores empresas de mercenários, aponta, é a DynCorp International, de Falls Church (Virgínia), que em 2019 tinha recebido mais de sete mil milhões de dólares por contratos firmados com o governo para treinar o Exército afegão e para gerir as bases militares no país. Entre 2002 e 2013 – afirma ainda Kuzmarov –, a DynCorp recebeu 69% de todos os fundos atribuídos pelo Departamento de Estado. «A Forbes Magazine chamou-lhe "uma das grandes vencedoras das guerras do Iraque e do Afeganistão" – sendo os perdedores quase todos os outros», disse. Sonali Kolhatkar lembra outras coisas não ditas por Biden citando Hakeem Naim, professor no Departamento de História da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nomeadamente que «os EUA criaram o caos ao apoiarem os grupos mais corruptos da elite e ao criarem um sistema económico mafioso gerido pelos senhores das drogas, os senhores da guerra e os mercenários». Ao contrário do que se pretende fazer crer, Kolhatkar recorda que o «envolvimento destrutivo» dos EUA no Afeganistão não teve início em 2001, mas dura há mais de 40 anos, com a CIA a armar os mujahidin em guerra contra a tropas soviéticas. Quando Biden, no seu discurso, afirmou que os EUA alcançaram os objectivos «claros» a que se propunham, a autora diz que os Estados Unidos fizeram muito mais que isso: «montaram um governo fantoche, impingiram a sua ideia de democracia a um povo que lutava com senhores da guerra armados e apoiados pelos EUA e, assim, garantiram que os movimentos democráticos seculares permaneciam fracos.» Membros das forças especiais da Austrália «executaram ilegalmente» pelo menos 39 pessoas no Afeganistão, entre 2005 e 2016, revelou esta quinta-feira o chefe das Forças Armadas australianas. Angus Campbell admitiu os factos ao apresentar os resultados de uma investigação realizada pelo inspector-geral das Forças Armadas, Paul Brereton, sobre má conduta militar no Afeganistão, afirmando que existiam «provas credíveis» de que as forças especiais australianas tinham morto «ilegalmente» pelo menos 39 civis e prisioneiros afegãos em mais de uma década. Numa conferência de imprensa que teve lugar esta quinta-feira em Canberra, Campbell afirmou que uma cultura de impunidade «destrutiva» entre as tropas de elite conduziu a uma cadeia de assassinatos e encobrimentos, perpetrados por 25 membros das forças especiais australianas em 23 incidentes separados. De acordo com as conclusões do extenso relatório hoje apresentado – 465 páginas –, nenhum dos assassinatos, na sua maioria de prisioneiros, teve lugar durante combates, pelo que podem constituir um crime de guerra. Além disso, a investigação descobriu que, em várias ocasiões, alguns soldados, novos na patrulha, foram coagidos a disparar contra um prisioneiro para alcançarem «a sua primeira morte», uma prática de iniciação conhecida como «sangramento». Também foram encontradas provas de que, consumado o assassinato, as tropas especiais australianas por ele responsáveis encenavam um local de combate, colocando armas, rádios, granadas não registadas junto aos cadáveres, para dar a impressão de que representavam uma ameaça militar ou eram um alvo legítimo. O texto documenta ainda a competição entre algumas patrulhas para terem um registo superior de «soldados inimigos» abatidos em combate. O relatório, no entanto, exonera a chefia do Exército da responsabilidade pelos assassinatos, uma vez que Brereton não encontrou «provas» de que militares de alta patente tivessem conhecimento dos «homicídios ilegais», refere a RT. Campbell afirmou que a morte ilegal de civis e prisioneiros jamais seria aceitável e pediu desculpas ao povo do Afeganistão pela «tragédia». Também pediu perdão ao povo da Austrália. Scott Morrison, primeiro-ministro australiano, telefou esta quarta-feira a Ashraf Ghani, presidente afegão, para expressar o seu «mais profundo pesar», depois de o governo australiano ter passado anos a tentar silenciar vozes de alerta e relatórios sobre má conduta do pessoal militar do país. O assassinato brutal de civis – alguns deles crianças – no Afeganistão ganhou notoriedade em 2017, quando o ABC publicou os chamados «The Afghan Files» [Os ficheiros afegãos], que trouxeram a público os crimes de guerra cometidos pelas tropas australianas no país asiático. A Áustralia teve um papel activo no Afeganistão desde que os EUA e mais alguns aliados invadiram o país, em 2001. Seguiu-se a ocupação e a devastação, e a guerra continua até hoje. Se o regime dos talibãs saiu do poder, a sua actividade militar prosseguiu e, num caos em que nunca se instalou a segurança, o Daesh ganhou terreno. Desde que tropas norte-americanas entraram no Afeganistão para combater os seus antigos aliados na guerra contra a República Democrática e o bloco socialista, muitos milhares de afegãos perderam a vida. Muitas dezenas de milhares. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Despejaram milhares de milhões numa guerra contra a droga para depois incentivarem a produção de drogas. Derrotaram os Talibã para depois escolherem o grupo rebelde como parceiro para a paz. Pelo caminho, mataram mais de 40 mil civis afegãos – provavelmente uma estimativa por baixo», diz Sonali Kolhatkar. O presidente norte-americano não se referiu a nada disto, como não mencionou o facto de o actual governo afegão, profundamente corrupto, estar totalmente dependente dos EUA e à mercê da violência dos talibã, cada vez mais fortes, e de outros grupos fundamentalistas. Em vez disso, Biden disse que, em 2001, «a causa era justa... E eu apoiei aquela acção militar». Décadas de guerra e de destruição de um país parecem justificadas pela abordagem «simplista»: «Nós fizemos justiça a Bin Laden há uma década e ficámos no Afeganistão mais uma década desde então.» Os elevados custos que a população norte-americana teve de suportar para manter a guerra no Afeganistão, em termos económicos e humanos, não acabaram, destaca Kolhatkar. Milhares de milhões de dólares não bastaram e continuar-lhe-á a ser apresentada a conta dos ataques com drones e dos mercenários. E os afegãos continuarão a ser feridos, mutilados e mortos. «Um verdadeiro processo de paz no Afeganistão depende da saída das forças estrangeiras do país», frisa Matthew Hoh, ex-combatente, deficiente e que em 2009 se demitiu do Departamento de Estado em protesto contra a guerra. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Não é segredo que ao longo dos últimos quarenta anos a CIA construiu um verdadeiro império operacional no Afeganistão, alicerçado nas ligações profundas resultantes da criação, desenvolvimento e actuação de grupos terroristas «islâmicos» e também nas comunidades do narcotráfico – que nunca foram tão florescentes como durante a ocupação militar da NATO. A ampla e complexa estrutura da CIA inclui um exército privado formado com base em elementos contratados às forças especiais afegãs e que operam independentemente do exército regular, respondendo apenas perante os serviços secretos, controlados directamente pela agência de espionagem norte-americana. Este corpo operacional dedica-se especialmente à captura, sequestro, tortura e aos assassínios cometidos com drones. As informações oficiais norte-americanas, por outro lado, são omissas quanto ao destino dos cerca de seis mil mercenários contratados a empresas multinacionais de segurança para engrossar o aparelho de guerra da NATO no Afeganistão. De Washington chegam apenas ecos das preocupações dessas organizações quanto à continuação ou não desses contratos. «ao longo dos últimos quarenta anos a CIA construiu um verdadeiro império operacional no Afeganistão, alicerçado nas ligações profundas resultantes da criação, desenvolvimento e actuação de grupos terroristas «islâmicos» e também nas comunidades do narcotráfico – que nunca foram tão florescentes como durante a ocupação militar da NATO» No cenário de guerra enraizada no Afeganistão, o anúncio da retirada das forças norte-americanas e da NATO surge como uma grande operação de cosmética para poder gerir o conflito segundo outras metodologias e furtá-lo ao escrutínio das opiniões públicas dos Estados Unidos e de nações aliadas. Disse Joseph Biden: «Manter milhares de tropas no terreno e concentradas num único país, à custa de milhares de milhões de dólares por ano, faz pouco sentido para mim e para os nossos líderes». Uma «fonte oficial» do presidente descodificou esta mensagem ao jornal Washington Post: «A realidade é que os Estados Unidos têm grandes interesses estratégicos no mundo; o Afeganistão não tem, neste momento, o mesmo nível de outras ameaças». Como a China e a Rússia, poderá acrescentar-se sem receio de adulterar o espírito da mensagem. Em linhas e entrelinhas há certezas que emergem do cenário criado pelo anúncio do presidente norte-americano sobre a saída de tropas do Afeganistão: a guerra vai prosseguir, mantendo-se o envolvimento ocidental ainda que sob outras formas; o país vai continuar a funcionar como viveiro de grupos «islâmicos» – como pode deduzir-se da sua utilização como centro de acolhimento de contingentes do ISIS ou Daesh retirados de outras frentes e agora usados na guerra contra os Talibã e na desestabilização da Ásia Central. A maior de todas as certezas neste momento, porém não explicitada no discurso oficial, é a de que o anúncio da retirada de efectivos da NATO significa uma confissão de fracasso militar da aliança. A força bruta mobilizada há 20 anos para esta guerra não conseguiu derrotar os inimigos então identificados – os Talibã – e aprofundou a deriva política, social e humanitária do país. Uma operação que iria demorar alguns dias, segundo as promessas do presidente George W. Bush feitas em Outubro de 2001, já vai em 20 anos. A anunciada retirada não significa o fim do conflito mas tem implícita a derrota de quem executou a invasão, a Aliança Atlântica. Acima de tudo arrasa o mito propagandístico segundo o qual a paz e a democracia podem nascer de guerras de agressão provocadas alegadamente para as instaurar. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. E não é necessário fazer uma grande pesquisa de documentação para concluir que os objectivos oficiais declarados da invasão do Afeganistão, iniciada no Outono de 2001, prometiam um país reconstruido, democrático e estável, livre de terroristas uma vez derrotados os Talibã e os seus protegidos. Ora os Talibã controlam hoje 80% do Afeganistão – apenas menos 5% do que em 2001 –, em Cabul (e pouco mais) reinam um presidente e uma classe política corrupta, as eleições, quando as há, são exemplos de falsificação; e, segundo as notícias mais recentes, os ex-ocupantes e os seus homens de mão estão a ressuscitar as milícias terroristas fundadas pela CIA nos anos oitenta e que foram exterminadas pelos Talibã entre 1992 e 1996. A fuga imperial de Bagram é um episódio que marca, como nenhum outro, a derrota dos Estados Unidos e da NATO no Afeganistão. A base de Bagram era um símbolo e um centro operacional da ocupação. Situada apenas a 60 quilómetros de Cabul, era também o principal ponto de apoio militar ao regime instalado na capital e que nunca conseguiu estender a sua acção muito para lá do perímetro da principal cidade do país. «a intervenção norte-americana no país iniciou-se muito antes, há 42 anos, ainda na administração do presidente democrata James Carter e do seu chefe do Conselho de Segurança Nacional, o estratego Zbigniew Brzezinski» Bagram era também um dos principais centros de tortura que caracterizam as guerras eternas impostas pelos Estados Unidos e aliados como sustentáculos de uma ordem mundial unipolar assente no imperialismo e no colonialismo militar da NATO ao serviço da globalização do regime único neoliberal. Embora a fuga de Bagram marque o fim de 20 anos de invasão e ocupação do Afeganistão pela NATO, a intervenção norte-americana no país iniciou-se muito antes, há 42 anos, ainda na administração do presidente democrata James Carter e do seu chefe do Conselho de Segurança Nacional, o estratego Zbigniew Brzezinski. Foi nessa altura que os Estados Unidos, por intermédio da CIA e também do Paquistão, França, Reino Unido e Arábia Saudita criaram a malha de terrorismo de fachada islâmica para combaterem indirectamente a presença militar da União Soviética no apoio ao governo progressista de Cabul. É impossível ter a noção do que seria hoje o Afeganistão sob a acção continuada dos governos da República Democrática – designadamente em áreas como a educação, a saúde, as vias de comunicação, o abastecimento de água e energia e os direitos das mulheres – se a sua actividade não tivesse sido sabotada pelo terrorismo disseminado pelos Estados Unidos e que deu origem a aberrações como Bin Laden, a al-Qaeda e os gangues de criminosos conhecidos como Mujahidines. É importante recordar que a República Democrática do Afeganistão sobreviveu três anos à retirada militar soviética, em 1989, e apenas foi derrotada quando a Rússia do inqualificável Boris Ieltsin e da sua corte de «reformadores» lhe retirou apoio, dando assim alento às várias facções terroristas, que não tardaram em entrar numa destruidora guerra civil. Por outro lado, ao contrário da narrativa oficial consumida no Ocidente, a retirada soviética não foi descoordenada, nem desordenada, nem um caos, muito menos uma debandada pela calada da noite. Escreve o analista Lester W. Grau na publicação Slavic Militay Studies: «Há uma narrativa e uma percepção comum de que os soviéticos foram derrotados e expulsos do Afeganistão. Isso não é verdade. Quando os soviéticos deixaram o Afeganistão em 1989 fizeram-no de forma coordenada, deliberada e profissional, deixando para trás um governo a funcionar, uma situação militar melhorada e um esforço consultivo e económico que garantiu a viabilidade e a continuidade do governo. A retirada foi baseada num plano diplomático, económico e militar coordenado, permitindo que as forças soviéticas se retirassem em boa ordem e que o governo afegão sobrevivesse». Pelo contrário, a acção norte-americana baseada nos grupos terroristas islâmicos com mentalidade medieval, que hoje funcionam como braços supletivos da NATO, por exemplo nas guerras eternas na Síria e no Iraque, tal como aconteceu na Líbia, foi o princípio do fim da experiência modernizadora do Afeganistão, afundando o país num caos ingovernável só travado transitória e parcialmente pelos Talibã em 1996. Da mesma maneira, a retirada norte-americana e da NATO simbolizada em Bagram, sob o signo da missão cumprida, deixa o Afeganistão como um país dilacerado e mergulhado na guerra civil. Mas a partida da guarnição da base pela calada da noite significa uma retirada de facto ou uma transição para a continuação da influência norte-americana agora sob o formato de guerra híbrida, tal como acontece na Síria e em grande parte do Iraque? Muitos indícios apontam para esta metamorfose da ocupação, mas os Talibã, progredindo no terreno sobre a ineficácia e o desmoronamento das forças de segurança montadas pelos ocupantes, têm muito a dizer quanto às próximas etapas no país. Desde os anúncios da retirada da NATO do Afeganistão os avanços dos Talibã em direcção a Cabul tornaram-se ainda mais fulgurantes. Os antigos «estudantes de teologia» da etnia pashtun, fundados em 1994 em Kandahar, mas com raízes também no Paquistão, controlam hoje mais de metade dos 421 distritos afegãos, que correspondem a uma área de 80% do território. Nos últimos tempos os avanços não têm sido feitos com base em combates mas sim em negociações, rendições, deserções e fugas dos efectivos das forças de segurança criadas e treinadas pela NATO. Em Cabul teme-se que o Exército Nacional Afegão possa desintegrar-se em algumas semanas. «As missões Estados Unidos/NATO no Golfo, especialmente no Iraque, manterão o Afeganistão sob mira, inclusivamente para bombardear o país, se necessário. O comandante do dispositivo não será já um general colocado no Afeganistão mas o general Frank McKenzie do CentCom, responsável operacional do Médio Oriente» Segundo mensagens que os dirigentes Talibã têm feito circular, por exemplo na sequência de uma recente visita a Moscovo, o grupo não pretende atingir Cabul através da guerra, mantendo-se no quadro das lentas negociações de Doha, no Qatar, para encontrar uma coligação governativa que possa pacificar e estabilizar o país. O grupo islâmico alega, por outro lado, que deixou de ser etnicamente homogéneo e que actualmente cerca de 30% dos seus quadros dirigentes são não-pashtuns, designadamente tajiques, usbeques e até xiitas hazaras, seus inimigos jurados durante os anos noventa. A direcção Talibã adverte, contudo, que tem «linhas vermelhas» como a de não tolerar que o actual clã governativo do presidente Ashraf Ghani faça parte de uma futura coligação governamental e a de não permitir quaisquer tropas da NATO no terreno, sejam forças especiais norte-americanas, mercenários contratados por Washington ou Bruxelas ou mesmo as tropas turcas que actualmente fazem segurança ao aeroporto de Cabul. «Qualquer membro da NATO será considerado ocupante», definem os Talibã. O mais provável, porém, é que o grupo islamita venha a confrontar-se não com o precocemente decrépito exército afegão mas sim com os braços multifacetados de uma guerra híbrida montada em Washington e que terá como meta principal manter a instabilidade no Afeganistão para que o país não possa inserir-se nos enquadramentos regionais euroasiáticos e, sobretudo, da Ásia Central, que estão a der desenvolvidos pela Rússia e a China, muitas vezes através da cooperação mútua e de forma complementar. Os documentos secretos do Ministério britânico da Defesa encontrados recentemente num caixote do lixo numa paragem rodoviária no Sudeste de Inglaterra e divulgados pela BBC especificam que Washington e Londres devem cuidar da permanência de forças especiais no Afeganistão que lhes permitam manter o controlo das rotas do ópio que nas últimas duas décadas financiaram os serviços secretos britânicos e norte-americanos, por exemplo na execução de operações clandestinas. Nunca o Afeganistão deu origem a tanta heroína produzida a partir do ópio como durante a ocupação da NATO – responsabilizando-se, segundo dados da ONU, por cerca de 90% do mercado mundial. Neste contexto cabem duas perguntas: será que a CIA consegue conservar a sua rota da heroína afegã para sustentar as operações clandestinas? Se não conseguir, para onde será transferido esse esforço? Não há que ter muitas dúvidas quanto à autenticidade dos documentos secretos encontrados «por acaso» em Inglaterra. Neles está descrita a provocação contra a Rússia protagonizada pela passagem do destroyer britânico HMS Defender pelas águas da Crimeia em prontidão de combate, operação entretanto consumada. Além das forças especiais são várias as componentes encaradas pelos estrategos norte-americanos para o aparelho de guerra híbrida contra o Afeganistão. O jornal USA Today revelou que o Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos está a debater «as novas formas consideradas necessárias para manter vários milhares de contratados ocidentais», isto é, mercenários, de modo permitir a actividade de «helicópteros e aeronaves cruciais para a movimentação das pequenas mas excelentes forças especiais afegãs». Além disso, ainda segundo o USA Today, «uma vez que as tropas terrestres da NATO se tenham retirado, o poder aéreo da aliança baseado na região pode servir para ajudar a recém-criada Força Aérea afegã a apoiar as suas tropas no solo quando estiverem sob ataque». Não se trata, contudo, apenas de «apoio». As missões Estados Unidos/NATO no Golfo, especialmente no Iraque, manterão o Afeganistão sob mira, inclusivamente para bombardear o país, se necessário. O comandante do dispositivo não será já um general colocado no Afeganistão mas o general Frank McKenzie do CentCom, responsável operacional do Médio Oriente. Trata-se de utilizar a «capacidade além horizonte», segundo a terminologia do Pentágono. Ainda de acordo com o USA Today, nas reflexões do Conselho de Segurança Nacional sugere-se que «algumas áreas que permaneçam sob o controlo dos Talibã devem ser contra-atacadas sempre que haja alvos da liderança do grupo importantes para as forças afegãs». Além disso, «as mais apropriadas das muitas milícias afegãs», os grupos mujahidines em fase de ressurreição promovida pelo governo de Cabul, «deverão ser colocadas na folha de pagamentos do governo e integradas num plano geral de campanha. Os pagamentos devem ser condicionados» – o cúmulo do cinismo – «a alguma medida de contenção e respeito por vidas inocentes por parte desses grupos». Os Mujahidines ficaram conhecidos pelos saques e chacinas cometidos sob os olhos dos tutores da CIA. Sabe-se igualmente que a Turquia está a transferir para o Afeganistão cerca de dois mil mercenários islâmicos do contingente da al-Qaeda que ocupa Idleb, na Síria, provavelmente uigures originários da região chinesa de Xijiang, reforçando as bolsas do ISIS e da organização fundada pela CIA e Bin Laden que se reactivaram no Afeganistão sob a ocupação da NATO. Parte desses efectivos foram transferidos numa operação especial montada pela CIA quando o Isis perdeu a sua «capital» na Síria, a cidade de Raqqa2. Não deixou ainda de ser uma ideia acarinhada na sede da NATO, em Bruxelas, a de continuar a manter o Afeganistão como um paraíso para o terrorismo islâmico e respectiva exportação, funcionando sob controlo do Paquistão. De tudo isto resulta muito claro que a nova fase da influência militar e política dos Estados Unidos e da NATO sobre o Afeganistão se orienta pela necessidade de alimentar a guerra civil, prolongar os conflitos interétnicos e interconfessionais, perpetuar a instabilidade e impedir a reconstrução do país. Ou seja, um foco de caos para dificultar as acções que se orientam pela reconstrução do país, a integração e o desenvolvimento regional. Neste quadro, parece natural que se registem aproximações da China, da Rússia e do próprio Irão em relação aos Talibã, a organização que parece em melhores condições para assumir um papel estabilizador no Afeganistão. Em Junho realizou-se uma reunião trilateral entre representantes da China, dos Talibã e do Paquistão a propósito da qual o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros saudou «o rápido retorno» do grupo afegão «à vida política no país», fez votos de «uma recuperação pacífica do Afeganistão» e prometeu «expandir laços económicos e comerciais». «Não deixou ainda de ser uma ideia acarinhada na sede da NATO, em Bruxelas, a de continuar a manter o Afeganistão como um paraíso para o terrorismo islâmico e respectiva exportação, funcionando sob controlo do Paquistão» A China está interessada em estender ao Afeganistão o seu projecto de corredor económico com o Paquistão integrado na nova rota da seda ou Iniciativa Cintura e Estrada (ICE). O primeiro passo seria a construção de uma autoestrada ligando Cabul a Peshavar através da passagem do Khyber. O troço seria um sector do corredor económico China-Paquistão, que inclui a construção do estratégico aeroporto de Tashkurgan do lado do Xijiang na estrada do Caracórum, a apenas 50 quilómetros do Paquistão e também nas proximidades do Afeganistão e do porto de Gwadar, no Balochistão. Pequim entende também que a pacificação do Afeganistão seria muito importante para reduzir as acções desenvolvidas por terroristas do Isis contra a região uigur do Xijiang. Moscovo tem sido palco de reuniões interafegãs e recebeu recentemente a visita de uma delegação Talibã ao mais alto nível – o que faz admitir uma próxima retirada do grupo islamita da lista de organizações consideradas terroristas pela Rússia. Um Afeganistão pacificado é igualmente um objectivo que se enquadra nos esforços de integração regional desenvolvidos pela Rússia através da Organização de Cooperação de Xangai e da União Económica Euroasiática, que incluem projectos sintonizados com acções da China na região. A fuga da NATO de Bagram pela calada da madrugada de 2 de Julho não foi, na perspectiva norte-americana, um movimento para induzir a pacificação do Afeganistão. Há perspectivas claras sobre o futuro do país em termos de guerra e paz. O colonialismo ocidental continuará a privilegiar a guerra, ainda que em novos formatos, mas tanto em Washington como em Bruxelas seria aconselhável reflectir sobre a tradição afegã de ser um cemitério de impérios. O mais certo, porém, é que a cegueira geopolítica prevaleça. José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril 2No original: «por acção conjunta do exército regular sírio e da Força Aérea russa». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Abordando a situação no Médio Oriente, apontou «as sucessivas administrações norte-americanas» como «a cabeça da tirania e da injustiça», ressaltando que «a soberania na região deve pertencer aos seus povos e países», que é quem deve usufruir «dos seus recursos, da água, do petróleo e da terra». Tendo destacado a necessidade de acabar com a opressão no Bahrain e que «a guerra de agressão dos Estados Unidos e da Arábia Saudita contra o Iémen tem de parar», o dirigente do movimento de resistência libanês centrou-se no Iraque, na Síria e no Líbano. Referindo-se à derrota da NATO e dos EUA no Afeganistão e à tomada do poder pelos talibãs, Nasrallah disse que os iraquianos devem apressar os seus planos de expulsar as forças de ocupação do país, tendo qualificado a decisão iraquiana de correr com elas como «uma grande conquista». O movimento Kata'ib Hezbollah, que faz parte das Unidades de Mobilização Popular, sublinhou que os militares norte-americanos têm de sair do Iraque e alertou para as operações de falsa bandeira. O movimento da resistência antiterrorista e anti-imperialista, que integra as Unidades de Mobilização Popular (UMP), também conhecidas pela designação árabe Hashd al-Shaabi, anunciou na quinta-feira, em comunicado, que se irá opor com firmeza ao domínio das potências coloniais sobre os recursos naturais do país árabe. O texto, refere a PressTV, destaca a disposição do Kata'ib Hezbollah para continuar a levar a cabo as suas funções, independentemente das pressões e desafios com que se possa deparar. «Todos os grupos da resistência se tornaram um espinho para o inimigo americano. Estamos inteiramente preparados para, mais uma vez, expulsar as forças dos EUA para fora do Iraque, com humilhação», lê-se também no texto, citado pela fonte. Jafar al-Hussaini, representante do Kata'ib Hezbollah, disse que os movimentos da resistência no Iraque não atacariam missões diplomáticas no país, e descreveu os ataques à Embaixada dos Estados Unidos na zona «fortificada» de Bagdade como operações de falsa bandeira, tendo como objectivo enganar os iraquianos. O presidente norte-americano decretou os ataques aéreos perpetrados esta sexta-feira contra instalações pertencentes a grupos da resistência antiterrorista na fronteira entre o Iraque e a Síria. O porta-voz do Pentágono, John F. Kirby, disse à imprensa que Biden decretou os ataques aéreos que hoje de madrugada terão destruído várias instalações num controlo de fronteira utilizado pelos combatentes das Unidades de Mobilização Popular iraquianas (Hashd al-Sha'abi, em árabe), incluindo membros das milícias Kata'ib Hezbollah e Kata'ib Sayyid al-Shuhada. O número de vítimas mortais e de feridos varia consoante as fontes. Kirby afirmou que os ataques foram realizados em resposta a ataques recentes contra tropas norte-americanas e aliadas no Iraque. No último ano, aumentou o número de ataques, na maior parte dos casos sem grande impacto, contra alvos dos EUA no Iraque, sobretudo depois de o Parlamento iraquiano ter aprovado uma lei a exigir a saída das tropas estrangeiras do país. As tropas norte-americanas têm atacado o grupo de resistência antiterrorista Kata'ib Hezbollah desde 2019, tanto no Iraque como na Síria, onde, integrado nas Unidades de Mobilização Popular (UMP), coopera com o Exército Árabe Sírio no combate a elementos dispersos do Daesh, que operam na vasta região desértica de al-Badya. A 3 de Janeiro do ano passado, o general iraniano Qassem Soleimani, o subcomandante das UMP Abu Mahdi al-Muhandes e vários combatentes perderam a vida, junto ao aeroporto de Bagdade, num ataque ordenado pelo ex-presidente Donald Trump. As UMP iraquianas – apresentadas pela imprensa ocidental como milícias pró-iranianas – estão integradas nas forças regulares do Iraque e destacadas ao longo da fronteira com a Síria, onde ajudam a combater os terroristas do Daesh. O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros condenou o ataque norte-americano na fronteira sírio-iraquiana, sublinhando que se trata de uma «violação inaceitável do direito internacional», refere a SANA, citando a agência russa Novosti. Por seu lado, o primeiro vice-presidente da Comissão de Assuntos Externos do Conselho da Federação Russa, Vladimir Dzhabarov, condenou a acção norte-americana, destacando que «é ilegal e constitui um ataque ao território de um Estado soberano», a Síria. A agressão à Síria «é grave e poderá conduzir a uma escalada da situação em toda a região», disse o funcionário russo, advertindo que pode levar a «um conflito enorme». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «As instalações diplomáticas no Iraque não estão na lista de alvos das forças da resistência. Os ataques à Embaixada dos EUA em Bagdade visam criar desequilíbrios e enganar o povo iraquiano», disse Hussaini à cadeia libanesa de TV al-Mayadeen, esta quinta-feira. Acrescentou que «os responsáveis pelos ataques à embaixada seguem interesses destrutivos» e que «as suas filiações são suspeitas». Qais al-Khazali, líder do movimento Asa'ib Ahl al-Haq, disse que os Estados Unidos não fazem tenções de retirar as suas forças do Iraque, tendo sublinhado que o custo da sua permanência no país será elevado. «Os voos norte-americanos no país têm objectivos de espionagem. As negociações entre Bagdade e Washington não terão como resultado a retirada das tropas norte-americanas do Iraque. Trata-se apenas de um jogo de enganos», acrescentou. Khazali qualificou as negociações do governo iraquiano com os Estados Unidos, bem como o acordo que supostamente põe fim às missões de combate norte-americanas no Iraque no final deste ano, como «enganadoras» e «falsas». Entre os aspectos criticados está o facto de o acordo não afirmar explicitamente a retirada das forças dos EUA do Iraque e não se referir às violações do espaço aéreo pela aviação militar norte-americana. «Os voos sobre território iraquiano estão a ser realizados para espiar os grupos da resistência. A nossa exigência no que respeita à saída das tropas estrangeiras é legítima», disse Khazali, citado pela PressTV. Na segunda-feira passada, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Iraque, Mustafa al-Kadhimi, chegaram a um acordo sobre o fim da presença formal da missão de combate dos Estados Unidos no país árabe, que deverá ocorrer no fim de 2021, mais de 18 anos depois de as tropas dos EUA terem sido enviadas para o Iraque. Milhões de pessoas juntaram-se na capital iraquiana para denunciar a presença militar dos EUA no país. A mobilização é vista como a segunda grande marcha na história do Iraque contra a ocupação estrangeira. Iraquianos de «todas as províncias» juntaram-se em Bagdade esta sexta-feira, indica a PressTV, referindo-se à informação divulgada pela cadeia iraquiana al-Ahd. Os manifestantes exibiram cartazes e gritaram palavras de ordem contra Isreal e os EUA, e a exigir a expulsão das forças militares norte-americanas. Sobre o número de participantes na marcha, o comandante da Polícia Federal iraquiana, Jafar al-Batat, afirmou que havia «mais de um milhão de pessoas a manifestar-se nas ruas de Bagdade». Por seu lado, o portal Iraq & Middle East Updates afirmou que a marcha tinha «mais de oito quilómetros de ruas cheias de gente» e referiu-se a «milhões de iraquianos que exigem a retirada total das forças norte-americanas do Iraque». A mobilização desta sexta-feira surge na sequência do apelo feito na semana passada pelo clérigo xiita Moqtada al-Sadr para que os seus compatriotas realizassem uma «marcha de um milhão, forte, pacífica e unida, para condenar a presença americana e as suas violações». Dirigindo-se aos iraquianos esta quinta-feira, al-Sadr pediu-lhes que defendam «a soberania e a independência do país», e que expulsem «os tiranos», refere a PressTV. Recorde-se que o Parlamento iraquiano votou a favor de uma resolução em que se exige a retirada do país árabe das tropas norte-americanas e das demais forças por elas comandadas, no passado dia 5 de Janeiro, dois dias depois de Washington ter assassinado, nas imediações do aeroporto de Bagdade, o general Qassem Soleimani, comandante da Força Quds dos Guardiães da Revolução Islâmica iraniana, e Abu Mahdi al-Muhandis, subcomandante das Unidades de Mobilização Popular iraquianas (UMP; Hashd al-Shaabi, em árabe). Em declarações ao canal de TV libanês Al-Mayadeen, Jaafar al-Husseini, porta-voz do grupo de resistência Kata'ib Hezbollah (que integra as UMP), disse que serão usados «outros meios» contra as tropas norte-americanas se estas não saírem do país. Por seu lado, Firas al-Yasser, membro da comissão política do movimento Harakat Hezbollah al-Nujaba, disse numa entrevista à agência iraniana Tasnim que as mobilizações de hoje marcam «um novo capítulo» nas relações do Iraque com os EUA. «Acreditamos que chegámos à hora zero no confronto com os EUA», afirmou. Qais al-Khazali, líder do Asa'ib Ahl al-Haq, organização da resistência que também integra as UMP, referiu-se às manifestações de hoje como uma «segunda revolução», um século depois da Grande Revolução Iraquiana de 1920. Então, os iraquianos levaram a cabo enormes marchas contra a ocupação estrangeira, exigindo que os ocupantes britânicos saíssem do país. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O acordo prevê que as forças norte-americanas continuem a operar no Iraque no âmbito daquilo que foi classificado como «papel de aconselhamento». O sentimento anti-EUA cresceu bastante no Iraque na sequência do assassinato, em Bagdade, a 3 de Janeiro de 2020, de Abu Mahdi al-Muhandis, subcomandante das Unidades de Mobilização Popular iraquianas, juntamente com uma figura de proa na luta antiterrorista e anti-imperialista em todo o Médio Oriente, o general iraniano Qassem Soleimani. Foram mortos, com outros companheiros, perto ao Aeroporto Internacional de Bagdade, num ataque com drones autorizado pelo então presidente norte-americano Donald Trump. Dois dias depois, a 5 de Janeiro de 2020, o Parlamento iraquiano aprovou uma resolução a exigir ao governo que pusesse fim à presença no país de todas as forças militares estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos da América. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Com a derrota dos EUA no Afeganistão, os olhos estão postos na ocupação norte-americana no Iraque e na Síria», disse, tendo louvado em seguida as Unidades de Mobilização Popular (Hashd al-Sha'abi, em árabe), que agrupam a resistência e garantem «a segurança real» do país contra o Daesh e outras forças extremistas. No que respeita à Síria, Nasrallah afirmou que é «falsa e enganadora» a «desculpa dos norte-americanos para ficar no Nordeste do país», que é «para ajudar a combater o Daesh», acrescentando que existem «provas irrefutáveis» de que os EUA «reproduzem o Daesh» e «transferem os terroristas de uma região para outra». A presença norte-americana a leste do Eufrates «tem de acabar», uma vez que as tropas dos EUA «estão a roubar os recursos da Síria», disse o dirigente do Hezbollah, destacando que o governo sírio e os demais governos da região «são capazes de pôr fim ao fenómeno do Daesh sem a ajuda norte-americana», refere a fonte. Noutra parte do seu discurso, Nasrallah referiu-se à actual situação socioeconómica libanesa e afirmou que existe no país uma «guerra económica», que é gerida pela Embaixada dos Estados Unidos em Beirute, para benefício de Israel. O secretário-geral do movimento de resistência libanês, Hassan Nasrallah, acusou os EUA de serem responsáveis pela criação do Daesh e de terem dado luz verde a países da região para que apoiassem e financiassem o grupo terrorista. Numa declaração transmitida ontem à noite pela televisão libanesa, Sayyed Hassan Nasrallah enalteceu a vitória das tropas iraquianas sobre o Daesh em Mossul, no final de uma batalha de nove meses pelo controlo da que fora a segunda cidade do país e que se tornara um dos principais bastiões dos terroristas no Médio Oriente. O dirigente do Hezbollah considerou «controversa» a ajuda dos Estados Unidos ao Exército iraquiano e responsabilizou os norte-americanos pela criação do Daesh, afirmando que funcionários daquele país «reconheceram que a administração Obama criou o Estado Islâmico», informa a Prensa Latina. Nasrallah considerou decisiva, para a vitória em Mossul, a «unidade» dos iraquianos, bem como a sua «recusa a obedecer a ordens estrangeiras». Quando isso aconteceu, conseguiram derrotar o Daesh, sublinhou. «A libertação de Mossul é um passo muito, muito grande para a erradicação do Daesh», salientou, ao mesmo tempo que exortou a região e o mundo a «aproveitar esta oportunidade histórica». Nasrallah rejeitou a perspectiva defendida pelo Exército norte-americano de que a batalha contra o terrorismo irá durar anos, pois «esta, na verdade, apenas requer um esforço internacional concertado», disse, criticando ainda alguns órgãos de comunicação social árabes por «tentarem acirrar o sectarismo e incentivarem os terroristas a matar gente inocente». Na sua alocução, Nasrallah enalteceu, de forma especial, o papel assumido pelas forças paramilitares xiitas iraquianas, conhecidas em árabe como Al-Hashd al-Sha'abi (Unidades de Mobilização Popular, UMP), criadas para apoiar o governo na sua luta contra o Daesh, na sequência de um edicto religioso do Grande Aiatola, Ali al-Sistani. Milhares de voluntários integraram as UMP, que, juntamente com o Exército iraquiano, foram decisivas para expulsar os terroristas de Mossul. No que respeita ao Líbano, o secretário-geral do Hezbollah confirmou a presença de forças do Daesh e da Frente al-Nusra no Nordeste do país, junto à fronteira com a Síria, e lançou um ultimato: «É a última vez que falo sobre este assunto. [...] Se os terroristas não se renderem, o Hezbollah dará início a uma campanha militar para os erradicar», disse. Na segunda-feira à tarde, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, declarou que as forças iraquianas haviam triunfado sobre o Daesh em Mossul. «A vitória sobre o Daesh que estamos agora a celebrar deve-se ao sacrifício e à frente unida da nação iraquiana», disse, assinalando os esforços de uma ofensiva que teve início a 17 de Outubro de 2016, refere a PressTV. Estima-se que cerca de 900 mil pessoas tenham fugido de Mossul neste período. Muitos milhares ficaram encurraladas na cidade e morreram durante a batalha. Nos seus bombardeamentos sobre a cidade iraquiana, a coligação liderada pelos Estados Unidos foi acusada de provocar centenas de vítimas entre a população civil e de cometer atrocidades, nomeadamente recorrendo a bombas de fósforo branco em áreas densamente povoadas. No início de Junho, confrontado com as acusações, um coronel norte-americano afirmou que estas munições eram usadas «de acordo com as leis da guerra». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «A Embaixada dos EUA não é uma missão diplomática no Líbano, mas uma embaixada da conspiração contra o povo libanês», disse, avisando aqueles que confiam nos americanos e na sua embaixada em Beirute que aprendam a lição com aquilo que se passou no Afeganistão. O secretário-geral do Hezbollah referiu-se ainda a um petroleiro que estava para chegar ao Líbano, com petróleo iraniano, e disse que o movimento de resistência o estava a seguir de perto, assim como o faria em relação a outros navios com destino ao Líbano, naquilo que pareceu um aviso a Israel e aos Estados Unidos. O navio – esclareceu – transporta diesel, que é uma prioridade máxima para a vida quotidiana dos libaneses, e será seguido por outros com mais combustível. «Não aceitamos a humilhação do nosso povo», frisou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Num comunicado divulgado pelo canal Al-Manar, o Hezbollah criticou fortemente a decisão, sublinhando ao mesmo tempo que ela não irá afectar o posicionamento do partido, bem como o seu direito a defender o país e o povo, e a apoiar a resistência contra «a agressão e a ocupação sionista».
Num discurso transmitido pela TV na sexta-feira, o secretário-geral, Hassan Nasrallah, afirmou que a decisão da Austrália está ligada a questões regionais e às eleições legislativas que vão ter lugar no Líbano.
«Enquanto o Líbano estiver sob a ameaça constante de Israel, estaremos no coração da batalha pela independência, a soberania e a liberdade», disse.
Um movimento de resistência anti-imperialista
Num texto de opinião intitulado «A Austrália caminha para uma agressão não provocada contra o Líbano», publicado no portal Al Mayadeen em Julho deste ano, o professor e escritor australiano Tim Anderson afirmava que «as acusações de terrorismo internacional vertidas contra o Hezbollah não têm fundamento».
Sublinhava, ainda, que o grupo é odiado por causa das derrotas que infligiu ao invasor israelita no Líbano, em 2000 e 2006.
O Hezbollah caracterizou-se pela defesa firme da soberania do Líbano e dos países da região face ao imperialismo. Na Síria, lutou ao lado das tropas do Exército Árabe Sírio, da Rússia e do Irão, entre outras, contra o terrorismo alimentado pelas potências ocidentais, Israel, a Turquia e os países do Golfo.
Representantes dos governos sírio, iemenita e iraniano condenaram a decisão das autoridades alemãs de incluir o movimento de resistência libanês Hezbollah na «lista negra de organizações terroristas». «A República Árabe da Síria condena da forma mais veemente a decisão de Berlim de incluir o Hezbollah na lista negra», disse um representante do Ministério sírio dos Negócios Estrangeiros à agência SANA esta quinta-feira. As declarações foram feitas depois de, nesse dia, o ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, ter proibido a actividade daquilo que designou como «organização terrorista xiita» Hezbollah no país europeu e ter ordenado várias operações policiais contra locais alegadamente ligados ao movimento de resistência. A medida é uma «medalha de honra», uma vez que «efectivamente reconhece o papel destacado do Hezbollah» ao afrontar «os esquemas sionistas e ocidentais na região», disse ainda à SANA o representante da diplomacia síria, sublinhando que a decisão evidencia «a submissão da Alemanha ao "sionismo mundial"». A «proibição» do Hezbollah era exigida por Israel e pelos Estados Unidos. Em Dezembro último, o Parlamento alemão aprovou uma moção em que instava o governo da chanceler Angela Merkel a banir quaisquer actividades do Hezbollah em território alemão. Antes, o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, tinha afirmado numa viagem à Alemanha que esperava que o país seguisse as passadas do Reino Unido – havia ilegalizado o movimento de resistência libanês em Fevereiro. O governo iemenita e o movimento popular Huti Ansarullah também classificaram a medida de Berlim como um sinal da sua «submissão a Washington e Telavive», informa a PressTV. O Ministério da Informação do Iémen referiu-se à decisão como «injusta» e «alinhada» com os objectivos dos EUA e Israel. Por seu lado, a comissão política do Ansarullah emitiu um comunicado em que acusa a «Alemanha de aceder à vontade de norte-americanos e israelitas ao normalizar o sionismo e opor-se às nações livres que procuram resistir à tirania e arrogância globais». Há mais de cinco anos que o Ansarullah faz frente à guerra de agressão que a coligação liderada pelos sauditas lançou contra o povo iemenita – com forte apoio ocidental, incluindo o da Alemanha, cujas empresas de armamento lucraram milhares de milhões em vendas ao valioso parceiro saudita. O movimento popular reafirmou o apoio ao Hezbollah e instou os países árabes e muçulmanos a repudiarem a decisão de Berlim. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Abbas Mousavi, disse que, «ao que parece, os países europeus tomam posições sem ter em conta as realidades da região da Ásia Ocidental e apoiam-se na máquina propagandística do regime sionista e do confuso governo norte-americano». A «decisão alemã não respeita o governo e o Líbano, pois o Hezbollah faz parte do executivo e do Parlamento» desse país, afirmou Mousavi, que acusou o governo da Alemanha de mostrar uma «total imprudência» ao ir contra «uma força-chave na luta contra o grupo terrorista Daesh», refere a Prensa Latina. O Hezbollah integra o conjunto de forças aliadas que, na Síria, combateram o terrorismo alimentado ao longo da guerra de agressão imperialista pelos EUA, as potências ocidentais, as petro-ditaduras do Golfo, a Turquia e Israel. Logo na quinta-feira, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, louvou efusivamente a decisão alemã, que classificou como «muito importante», insistindo na necessidade de os outros países da UE fazerem o mesmo. O movimento de resistência libanês goza de grande prestígio – e popularidade – no mundo árabe e fora dele, entre outros aspectos, pelo papel decisivo que teve na luta contra o terrorismo na Síria e no Médio Oriente, e por ter expulsado o todo poderoso Exército israelita do Sul do Líbano, em 2006. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Síria, Iémen e Irão condenam «submissão» da Alemanha a Washington e Telavive
«A Alemanha adere cegamente às maquinações destrutivas de EUA e Israel»
Irão condena decisão alemã de «absoluta imprudência»
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Esta luta contra a ingerência externa na Síria também não merece «perdão» – como se nota facilmente pela lista de países que baniram parcial ou totalmente o Hezbollah. Além dos aliados próximos dos EUA no Ocidente, encontram-se, por exemplo, os países do Conselho de Cooperação do Golfo.
Tim Anderson destacava, em Julho, a pressão do «lobby israelita» em Canberra. E Washington – o grande amigo de Telavive – ia fazendo apelos aos seus aliados para apertarem o cerco ao movimento de resistência libanês.
Em Maio último, a Casa Branca afirmou que o Hezbollah constitui uma «ameaça para os Estados Unidos, os seus aliados e os seus interesses no Médio Oriente e a nível global».
A administração liderada por Joe Biden pôs então na sua «lista negra» sete pessoas acusando-as de estarem ligadas ao Hezbollah e, aplaudindo os países que na Europa e na América Latina tomaram medidas contra o partido libanês nos últimos anos, pediu a outros governos que seguissem essa via. O governo australiano já o fez.
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