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Milhares de pessoas regressam ao Norte de Gaza… onde falta tudo

Centenas de milhares de deslocados palestinianos teimam em não abandonar a sua terra – uma terra devastada onde não há electricidade, infra-estruturas e onde fazem falta tendas.

Deslocados palestinianos regressam a pé ao Norte de Gaza, depois do acordo de cessar-fogo, a 28 de Janeiro de 2025 CréditosMohamed Saber / EPA

Foram obrigados a andar de um lado para o outro, para longe das suas casas e perdendo os seus haveres, correndo risco de vida permanente sob a ofensiva de limpeza étnica levada a cabo pelas forças sionistas de ocupação ao longo de 15 meses. Mas agora estão a regressar ao Norte da Faixa de Gaza.

De acordo com The Cradle, desde segunda-feira fizeram-no mais de 300 mil palestinianos, que agora necessitam urgentemente de sítios para dormir e de todo o apoio restante – porque a guerra de extermínio deixou ali quase tudo arrasado.

As autoridades no enclave costeiro afirmaram esta terça-feira que são «necessárias pelo menos 120 mil tendas».

«Existe uma sala de operações dedicada à monitorização das condições dos deslocados. Mais de 33 campos foram preparados para [os] acolher», acrescentou o gabinete de imprensa, sublinhando que «as caravanas de retornados para norte se estendiam por centenas de metros».

A propósito deste regresso massivo, o deputado palestiniano Mustafa Barghouti escreveu no Twitter (X) que, «apesar da morte, destruição e punição colectiva, centenas de milhares de palestinianos deslocados regressam aos seus bairros destruídos no Norte de Gaza, derrotando os esforços do governo israelita para levar a cabo uma limpeza étnica na Faixa de Gaza».

«Milhares de palestinianos reuniram-se finalmente com as suas famílias. Regressam às suas casas destruídas totalmente determinados a reconstruir as suas vidas e o seu futuro de liberdade», acrescentou.

Milhares de palestinianos deslocados à força pelos ocupantes sionistas continuam a regressar ao Norte, vindos do Sul, a 28 de Janeiro de 2025 // Hassan Jedi / Anadolu

Pessoas que falaram com a Al Jazeera esta terça-feira disseram que as instalações e as infra-estruturas estão totalmente destruídas. Disseram ainda que precisam de geradores, devido à completa falta de electricidade e que todos os tanques de água nos telhados dos edifícios foram destruídos ou severamente danificados – acrescentando que regressaram a uma «terra devastada».

Os hospitais, em particular, encontram-se num estado terrível, em virtude da campanha israelita contra as instalações de saúde em toda o enclave – que se intensificou de forma significativa nos meses finais da guerra, e sobretudo no Norte.

A destruição é geral

Também no extremo Sul, em Rafah, a destruição é generalizada – e as munições por detonar são uma enorme ameaça para os residentes, refere The Cradle.

«Os serviços de saúde, incluindo o resto da ajuda humanitária e a reconstrução da cidade, são necessários para que a vida possa regressar a Rafah, mas ainda é muito perigoso para as pessoas regressarem na maioria das áreas», disse esta segunda-feira Pascale Coissard, dos Médicos Sem Fronteiras (MSF).

«Quando íamos à antiga clínica Shabboura, em Rafah, vimos uma criança a brincar com uma bomba na zona de Mawasi. Embora já não ouçamos as bombas, ainda há perigos», explicou.

Rafah albergou anteriormente o maior grupo de palestinianos deslocados – cerca de 1,5 milhões de pessoas –, que foram arrancados de diferentes áreas de Gaza devido a ataques aéreos israelitas, ordens de evacuação forçada e operações terrestres devastadoras.

De acordo com a MSF, a remoção de munições não detonadas só em Rafah levará anos.

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