|Palestina

Não abrandam os protestos contra a ocupação e os colonatos

As tropas israelitas reprimiram os protestos desta sexta-feira contra os colonatos. Um rapaz não resistiu aos ferimentos em Gaza. A Unicef informou que Israel matou 9 crianças palestinianas em 2 meses.

Manifestantes palestinianos repelem latas de gás lacrimogéneo disparadas por forças israelitas durante os confrontos que se seguiram à manifestação contra o colonato de Eviatar, na localidade de Beita, no Norte da Cisjordânia ocupada, a 27 de Agosto de 2021 
Créditos / PressTV

Pelo menos dois manifestantes foram atingidos com balas de borracha disparadas pelas tropas israelitas na localidade de Beita, a sul de Nablus. O serviço de ambulâncias do Crescente Vermelho Palestiniano revelou que outros 26 palestinianos sofreram problemas respiratórios devido à inalação de gás lacrimogéneo.

Desde Maio, Beita tem sido palco de fortes confrontos entre as forças de ocupação e a população palestiniana, que protesta contra a construção do colonato judaico de Eviatar no cimo do Monte Sabih, bem como contra o confisco de terras dos aldeãos da região.

Também na sexta-feira, as forças israelitas dispararam numerosos cartuchos de gás lacrimogéneo, balas de borracha e granadas de atordoamento contra manifestantes palestinianos em Kafr Qaddum, no distrito de Qalqiliya (Margem Ocidental ocupada), ferindo dezenas deles.

Pelo menos oito foram atingidos por balas de borracha e dezenas sofreram de asfixia devido à inalação de gás lacrimogéneo lançado pelas forças israelitas, refere a PressTV.

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Dezenas de palestinianos feridos por forças israelitas em protestos contra colonatos

As forças israelitas reprimiram com violência, esta sexta-feira, os protestos dos palestinianos contra os colonatos na localidade de Beita, perto da cidade de Nablus, na Margem Ocidental ocupada.

Palestinianos durante os protestos em Beita contra a ocupação israelita, 25 de Junho de 2021 
CréditosAyman Nubani / WAFA

Pelo menos 18 palestinianos foram atingidos com balas de aço revestidas de borracha, incluindo dois paramédicos, durante um protesto realizado esta sexta-feira para denunciar a construção do novo colonato judaico de Eviatar no cimo do Monte Sabih, perto da localidade palestiniana de Beita, revelaram fontes locais e médicas.

Várias dezenas de manifestantes sofreram ainda sintomas de asfixia devido às granadas de gás lacrimogéneo lançadas pelas forças de ocupação, que, nas últimas semanas, têm reprimido com violência os protestos crescentes dos residentes contra a criação do colonato referido.

A população de Beita e das aldeias circundantes, informa a WAFA, tem levado a cabo marchas semanais, todas as sextas-feiras, denunciando igualmente o confisco de terras dos aldeãos de Beita, Huwarra e Za'tara para que as autoridades israelitas possam ali inaugurar uma estrada apenas para colonos judeus.

De acordo com a WAFA, em quase um mês de protestos, as forças de ocupação israelitas usaram fogo real para dispersar as marchas, tendo morto cinco palestinianos de Beita e ferido 618.

Além do colonato no Monte Sabih, as forças israelitas criaram, há alguns meses, um posto avançado no cimo do Monte al-Arma, a norte de Beita, na medida em que ambas as elevações gozam de uma localização estratégica, com vista para o distrito de Nablus e o Vale do Jordão, uma faixa de terra fértil a oeste do Rio Jordão que representa aproximadamente 30% da Cisjordânia ocupada.

O controlo dos montes a sul e a norte de Beita, e a construção de uma estrada só para colonos são medidas com as quais, nota a agência, as forças israelitas pretendem tornar as aldeias e vilas palestinianas em «enclaves e guetos apinhados, cercados por muros, colonatos e instalações militares», cortando a contiguidade geográfica com outras partes da Margem Ocidental ocupada.

Um manifestante palestiniano é evacuado do local dos protestos durante os confrontos com as forças israelitas no contexto de uma mobilização contra o colonato de Eviatar, recentemente construído, perto da localidade de Beita, a sul de Nablus, a 25 de Junho de 2021 / PressTV

Outros protestos anti-colonatos e mais repressão

Também esta sexta-feira, as forças israelitas atacaram os manifestantes no protesto semanal contra os colonatos na aldeia de Kafr Qaddum (distrito de Qalqiliya). Durante os confrontos, as forças de ocupação israelitas atingiram dois palestinianos com fogo real e prenderam um deles, refere a PressTV.

Dezenas de manifestantes sofreram dificuldades respiratórias devido à inalação de gás lacrimogéneo, enquanto outros quatro, incluindo dois jornalistas, foram atingidos com balas de borracha, indica a mesma fonte.

Houve ainda protestos contra os colonatos na região de al-Ras, perto da cidade de Salfit, onde dezenas de palestinianos sofreram dificuldades respiratórias devido à inalação de gás lacrimogéneo.

A sul de Hebron (al-Khalil), as tropas israelitas atacaram uma mobilização contra a expansão dos colonatos israelitas, a ocupação e a limpeza étnica em Masafer Yatta.

Mais de 600 mil israelitas vivem colonatos só para judeus em Jerusalém Oriental e na Margem Ocidental ocupada. Todos os colonatos israelitas são considerados ilegais à luz do direito internacional.

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As tropas israelitas também atacaram um protesto na aldeia de Umm al-Shaqhan, a sul de al-Khalil (Hebron), contra a expansão de um colonato e os ataques frequentes de colonos israelitas tanto a palestinianos como às suas propriedades.

No protesto, revela a fonte, os manifestantes vincaram a sua determinação em proteger a terra e minar os planos israelitas de expandir os colonatos, que são ilegais à luz do direito internacional. Vários palestinianos, activistas solidários estrangeiros e oito jornalistas foram presos.

Rapaz de Gaza, atingido a tiro por forças israelitas, sucumbe aos ferimentos

Omar Hasan Abu an-Neel, de 12 anos, faleceu este sábado, depois de ter ficado gravemente ferido na semana passada, em protestos junto à vedação com que Israel cerca a Faixa de Gaza.

Fontes médicas disseram à WAFA que o rapaz, residente no bairro de Tuffah, na cidade de Gaza, não resistiu aos ferimentos, depois de ter sido atingido a tiro pelas forças israelitas, uma semana antes, num protesto no Nordeste do enclave cercado, junto à vedação.

O jovem, ferido na cabeça, foi levado de imediato para um hospital, onde foi operado e se manteve em estado crítico.

Abu an-Neel é o segundo palestiniano a morrer dos ferimentos sofridos naquele protesto, em defesa de Jerusalém, contra os ataques frequentes dos israelitas à mesquita de al-Aqsa e para assinalar o incêndio desta mesquita, há 52 anos.

Osama Khaled Deij, de 32 anos, do campo de refugiados de Jabaliya, perto da cidade Gaza, faleceu no Hospital al-Shifa poucos dias de ter sido atingido a tiro pelas tropas israelitas, não resistindo aos ferimentos.

Pelo menos 41 palestinianos ficaram feridos no protesto de 21 de Agosto, a maior parte dos quais com disparos nos membros, nas costas e no abdómen, informou o Ministério da Saúde em Gaza.

Mais de quatro dezenas de palestinianos ficaram feridos e dois faleceram na sequência dos disparos efectuados pelas forças israelitas contra o protesto junto à vedação do enclave no passado dia 21 / Al Jazeera

Unicef: Israel matou nove crianças e feriu 556 na Margem Ocidental em dois meses

Num relatório divulgado esta semana, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revelou que nove crianças palestinianas tinham sido mortas na Margem Ocidental ocupada e Jerusalém Oriental pelas forças israelitas entre 7 de Maio e 31 de Julho.

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ONU refere «graves» violações cometidas por Israel contra menores palestinianos

O relatório do secretário-geral da ONU sobre crianças e conflitos regista mais de mil «violações» contra crianças palestinianas. Mas Israel, como a Arábia Saudita, volta a ficar de fora da «lista negra».

De acordo com o Ministério palestiniano da Informação, 12 mil crianças foram detidas pelos israelitas nos últimos 17 anos
Jovem palestiniano é detido pelas forças israelitas (imagem de arquivo) Créditos / addameer.org

Em Junho de 2020, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, anunciou que a a Arábia Saudita seria retirada da «lista negra» onde foi incluída em 2017 por matar e ferir crianças no decurso das suas operações militares de agressão ao Iémen. E este ano voltou a não ser incluída na «lista das partes que violam os direitos dos menores durante os conflitos». Esse facto, bem como a não inclusão de Israel «na lista de regimes que matam crianças», mereceu a condenação do Irão.

Por seu lado, o Estado da Palestina lamentou que «o relatório anual mais uma vez falhe ao não incluir, de forma justa, as forças de ocupação de Israel na lista das partes que cometem violações graves contra as crianças» – uma realidade que o relatório refere nos seus próprios termos.

«Esta falha persiste – nota a agência WAFA –, apesar da documentação exaustiva e provas dos crimes de Israel contra os menores palestinianos», e do facto de que esses «crimes não só continuam, como estão aumentar», tendo-se registado a morte de 69 crianças palestinianas nos últimos dois meses (66 das quais no «massacre a Gaza», em Maio último»).

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A «viagem ao inferno» dos jovens palestinianos detidos por Israel

Uma comissão da ONU reafirmou denúncias expostas em vários relatórios sobre detenções de menores palestinianos por Israel – quase sempre presos de noite, algemados e vendados. É o início da «viagem ao inferno».

Um jovem palestiniano é preso na Cisjordânia, na sequência dos protestos contra a decisão norte-americana sobre Jerusalém
Créditos / palestinalibre.org

A instância, composta por especialistas independentes das Nações Unidas, expressou particular preocupação pela expansão dos colonatos e o aumento da violência dos colonos israelitas, em que se incluem ataques a crianças e às suas escolas.

Segundo se pode ler no portal oficial de notícias da ONU, na semana passada diversas organizações informaram a comissão sobre as operações nocturnas levadas a efeito pelas forças israelitas com o propósito de deter crianças e adolescentes na Cisjordânia ocupada, com «graves consequências para o seu bem-estar e gozo dos seus direitos».

«Mais de 300 crianças estão detidas no sistema militar israelita. A maioria por delitos menores, como atirar pedras e publicações nas redes sociais», assinala a comissão, que denuncia o facto de os menores serem «levados para locais desconhecidos, presos em viaturas militares e sujeitos a ameaças e abusos verbais», bem como o facto de, por vezes, serem «obrigados a assinar confissões em hebraico, uma língua que não costumam entender».

Estas preocupações reafirmam as que têm sido veiculadas, ao longo do tempo, por várias entidades, nomeadamente a Comissão dos Prisioneiros Palestinianos, órgão dependente da Autoridade Palestiniana que, em diversas ocasiões (também este ano), alertou para o facto de os menores serem torturados e sofrerem abusos nos cárceres israelitas, bem como para o facto de serem espancados, insultados e pressionados no momento da detenção.

No final de Março, um relatório publicado pelo Ministério palestiniano da Informação denunciava também esta realidade, afirmando que «95% das crianças palestinianas presas pelas autoridades israelitas foram torturadas durante a detenção».

De acordo com o relatório, até 2015 foram documentadas anualmente 700 detenções de menores palestinianos. Já em 2017, Israel prendeu 1467 crianças e adolescentes; 1063 no ano seguinte e, nos dois primeiros dois meses deste ano, 118. Entre 2000 e 2018, foram presos mais de 16 mil menores.

Uma «viagem sem fim ao inferno»

Numa peça intitulada «“Endless Trip to Hell”: Israel Jails Hundreds of Palestinian Boys a Year. These Are Their Testimonies», publicada em Março e plenamente actual, o periódico israelita Haaretz aborda esta realidade, em que as crianças, algumas com idades inferiores a 13 anos, «são detidas pela calada da noite, vendadas e algemadas, alvo de abusos e constrangidas» a confessar «crimes» que não cometeram.

A peça, que reúne testemunhos de sete jovens da Margem Ocidental ocupada com idades compreendidas entre os dez e os 15 anos, revela as diversas fases do processo de detenção, que começa nas operações nocturnas e passa pelo interrogatório, a prisão, o julgamento e a proposta de um acordo.

Na sua maioria, os jovens são presos por, alegadamente, terem atirado pedras ou queimado pneus, mas, como sublinha a advogada Farah Bayadsi o objectivo das detenções «é mais para mostrar controlo do que para aplicar a lei».

A experiência traumática é fundamentada por tudo aquilo por que as crianças passam durante uma detenção. Arrancadas de casa quando dormem, são algemadas e vendadas, levadas em veículos militares para colonatos e bases israelitas, passando por todo um processo que envolve intimidação, ameaças, agressões físicas, afastamento da família e pressão para «confessar».


O nível de brutalidade varia. Khaled Mahmoud Selvi, preso quando tinha 15 anos, foi levado para a prisão e despido (o que, de acordo com o jornal, ocorre em 55% dos casos), tendo sido obrigado a permanecer dez minutos nu, em pé, durante o Inverno.

De acordo com os dados recolhidos pela organização não governamental (ONG) British-Palestinian Military Court Watch, 97% dos jovens palestinianos detidos pelas forças militares israelitas (IDF) vivem em pequenas localidades a menos de dois quilómetros de um colonato.

O advogado Gerard Horton, da ONG referida, afirma que a ideia é «assustar toda a aldeia» e que se trata de um «instrumento eficaz» para controlar uma comunidade. Acrescenta que, do ponto de vista dos ocupantes e opressores, a pressão «tem de ser constante»: «Cada geração tem de sentir a mão pesada das IDF.»

A experiência é traumática. O pai de Khaled Shtaiwi, preso com 13 anos em Novembro do ano passado, contou ao periódico que criou na sua aldeia o «dia da psicologia», porque o seu filho não é capaz de falar sobre o que se passou e porque quer ajudar todas as crianças que foram presas pelos israelitas.

Em Beit Ummar, Omar Ayyash foi preso com dez anos de idade, em Dezembro último. Agora, as crianças que brincam nas ruas da aldeia afastam-se assim que se apercebem da aproximação de soldados israelitas. Tornou-se um hábito desde que as tropas levaram Omar.

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No seu relatório, relativo a 2020, o secretário-geral das Nações Unidas reporta 1031 casos confirmados de violência das forças israelitas contra 340 crianças palestinianas. Dá ainda conta de 11 mortos e 324 feridos, bem como de 361 detenções (87 crianças reportaram maus-tratos e violações ao processo legal devido, sob custódia, por parte das forças israelitas, e 83% referiram violência física). Foram ainda registados 30 ataques a escolas e hospitais, perpetrados pelas forças israelitas de ocupação e colonos judeus, de acordo com o relatório.

O Estado da Palestina, refere a WAFA, lamenta que o secretário-geral da ONU, reunindo estes dados, «ignore» as «provas das graves violações e crimes cometidos por Israel», sublinhando que «esta omissão voluntária» de Israel da lista só reforça a sua «impunidade».

Constitui, além disso, um «desvio grave das responsabilidades confiadas ao secretário-geral», que o Estado da Palestina insta «a corrigir sem demora», porque as «crianças palestinianas têm direito à protecção, segurança, dignidade e liberdade».

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«As tensões continuam na Margem ocidental, incluindo Jerusalém Oriental. Nove crianças palestinianas foram mortas entre 7 de Maio e 31 de Julho, e 556 crianças foram registadas como feridas, também por fogo real, balas de aço revestidas de borracha, granadas de atordoamento e gás lacrimogéneo», aponta o informe da Unicef.

No mesmo período, pelo menos 170 crianças foram presas em Jerusalém Oriental ocupada, segundo o documento.

De acordo com a agência das Nações Unidas, 2,5 milhões de pessoas, incluindo 1,2 milhões de crianças, a viver na Faixa de Gaza cercada e na Margem Ocidental ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, necessitam actualmente de ajuda humanitária.

O organismo sublinhou que a situação humanitária se deteriorou recentemente com a escalada da tensão em Jerusalém Oriental, a agressão israelita a Gaza em Maio e a pandemia de Covid-19.

«Tendo em conta a escalada recente, o apelo humanitário para as necessidades das crianças em 2021 aumentou para 46,2 milhões de dólares no total, sendo que 31,5 milhões (68%) estão por financiar», referiu.

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