|Israel

O fuzilamento de Shireen Abu Akleh

A perseguição e a limpeza étnica dos palestinianos prossegue na Palestina perante o silêncio dos poderes mundiais, a começar pela ONU e respectivo secretário-geral, e pelos incansáveis defensores dos direitos humanos.

Uma violenta carga policial à saída do Hospital de São Luís dispersou a multidão que acompanhava o funeral da jornalista Shireen Abu Akleh, assassinada quando cobria uma acção repressiva das tropas israelitas em Jenin, na Cisjordânia, e não poupou os palestinianos que transportavam o féretro, cuja queda esteve iminente. Jerusalém, 13 de Maio de 2022  
CréditosAhmad Gharabli / AFP

A primeira vez que estive em Jenin, na parte norte da Cisjordânia ocupada por Israel, foi em Fevereiro de 1988, já lá vão 34 anos. Vivia-se então o início do chamado primeiro Intifada ou a «revolta das pedras», o levantamento popular palestiniano que era já um sinal inequívoco de que o epicentro da resistência à ocupação tendia a deslocar-se para o interior dos próprios territórios ocupados.

Depois de uma explosão social na cidade de Gaza, inesperada pela dimensão, a intensidade e a espontaneidade da resposta popular a um atropelamento mortal de várias pessoas por um veículo conduzido por um colono israelita, a multidão começou a arremessar pedras ao dispositivo militar destacado para reprimir o movimento; o episódio funcionou como a gota que transbordou o cálice, o escape para tanta humilhação acumulada, o rastilho que incendiou a revolta até então contida. E não mais parou. Os soldados responderam às pedras disparando balas reais, fuzilando a eito, mas isso não impediu que os focos de inconformismo activo se espalhassem em poucos dias por todos os territórios palestinianos ocupados, de Gaza a Jerusalém Leste, de Jenin, Nablus a Hebron passando por Ramallah e Belém, aldeias e vilas ao longo desses caminhos milenares.

Pela primeira vez, talvez única até agora, meios corporativos de comunicação e alguma opinião pública tiveram contacto com uma realidade do problema israelo-palestiniano para lá da versão oficial do «terrorismo» árabe ameaçando a «segurança» do Estado de Israel. Afinal, balas contra pedras, tanques contra crianças, mortes de um lado e arranhões do outro incomodaram temporariamente algumas consciências e forçaram dirigentes ocidentais a sair episodicamente, em palavras, da sua cumplicidade institucional com o Estado de Israel.

Uma notícia com destaque no jornal Haaretz levou-me nesse dia até um subúrbio de Jenin: como resposta ao arremesso de pedras por garotos de uma escola, os soldados israelitas tinham enterrado vivos três dos perigosos «terroristas», com idades entre os nove e os 12 anos. Na verdade fora um sepultamento temporário, consumado com o auxílio de um bulldozer, uma cerimónia sádica de intimidação, coacção e terror que fazia jus à política de «quebra-ossos» decidida pelo primeiro-ministro Isaac Rabin contra os responsáveis por pedradas.

«Afinal, balas contra pedras, tanques contra crianças, mortes de um lado e arranhões do outro incomodaram temporariamente algumas consciências e forçaram dirigentes ocidentais a sair episodicamente, em palavras, da sua cumplicidade institucional com o Estado de Israel.»

A população resgatou os garotos mas já não conseguira salvar a vida de um dos colegas, abatido a tiro alguns minutos antes no pátio de recreio da própria escola. No velório sem corpo, o silêncio sepulcral e as faces inertes e inexpressivas dos anciãos da aldeia testemunhavam a certeza, ao contrário da ousadia dos mais novos ao desafiarem um dos exércitos mais poderosos do mundo, de que não havia volta a dar àquele destino de violência, opressão e supressão dos mais elementares direitos humanos de um povo esquecido.

O tempo, a experiência, o estado do mundo e a irresponsabilidade criminosa de quem nele manda não tiram a razão aos cidadãos mais velhos de Jenin. Agora, em 11 de Maio, 34 anos e alguns dias depois daquela manhã sombria, a jornalista Shireen Abu Akleh, com origem palestiniana e nacionalidade norte-americana, foi sumariamente executada em Jenin com uma bala no rosto disparada com precisão milimétrica por um soldado israelita. Tinha 51 anos e fazia o seu trabalho cobrindo para a estação de televisão Al Jazeera mais uma rusga da tropa sionista em busca de «terroristas» num campo de refugiados palestinianos.

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Tropas israelitas «atiraram a matar», diz colega de jornalista assassinada

Shatha Hanaysha estava com Shireen Abu Akleh quando esta foi atingida por fogo israelita, em Jenin, e referiu-se ao facto como uma «tentativa deliberada» de matar os jornalistas.

Um jornalista segura um cartaz com a imagem de Shireen Abu Akleh durante um protesto contra o seu assassinato, em Gaza, dia 11 de Maio 
CréditosAshraf Amra / APA / Electronic Intifada

Em declarações ao portal Middle East Eye, a jornalista palestiniana relata os factos até ao assassinato a sangue-frio da sua colega Abu Akleh, de 51 anos, que trabalhava para a Al Jazeera. Afirma que foi um «franco-atirador israelita» que disparou contra elas.

Abu Akleh e Hanaysha – e as respectivas equipas de apoio – estavam a fazer a cobertura de uma operação israelita no campo de refugiados de Jenin. As forças israelitas tinham cercado a casa de Abdallah al-Hosari, morto no passado dia 1 de Março, com o objectivo de prender o seu irmão.

«Tornámo-nos visíveis aos soldados que estavam a centenas de metros de nós. Não nos movemos durante uns dez minutos, para garantir que eles sabiam que estávamos ali como jornalistas», disse.

Como não foram disparados tiros de aviso, o grupo, usando capacetes e coletes anti-balas com a indicação «imprensa», sentiu-se seguro para subir até ao campo, mas, «do nada, ouvimos o primeiro disparo», disse Shatha Hanaysha.

Seguiu-se o caos e os jornalistas – um dos quais, Ali Samoudi, tinha sido atingido nas costas – tentaram encontrar um local que os protegesse dos disparos.

Então, acrescentou Hanaysha, «uma outra bala atingiu Shireen no pescoço e ela caiu no chão mesmo ao meu lado».

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Jornalista da Al Jazeera morta a tiro durante ataque israelita a Jenin

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh faleceu esta quarta-feira, depois de ser atingida com um disparo na cabeça, quando cobria um raide das forças israelitas em Jenin, no Norte da Cisjordânia ocupada.

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh (imagem de arquivo) 
Créditos / WAFA

O Ministério palestiniano da Saúde afirmou em comunicado que Abu Akleh, repórter da Al Jazeera de 51 anos, foi levada de urgência para um hospital próximo, onde faleceu.

Ali Samoudi, produtor da mesma cadeia televisiva, foi atingido a tiro nas costas e encontra-se em situação estável, segundo referiu o ministério.

Em declarações à agência WAFA, Samoudi disse que se encontrava com Abu Akleh e outros jornalistas nas escolas do campo de refugiados de Jenin, e que todos usavam coletes à prova de bala com a indicação «imprensa» quando foram atacados por soldados israelitas.

O produtor da Al Jazeera acusou as forças israelitas de os terem atingido de forma premeditada, na medida em que sabiam que todos os que se encontravam naquele local eram jornalistas e que ali não havia elementos armados ou confrontos.

Desta forma, Samoudi desmentiu as declarações de um responsável do Exército israelita a uma rádio em que negava qualquer responsabilidade dos militares na morte da jornalista.

Também a jornalista Shatha Hanaysha, que estava perto de Abu Akleh quando esta foi atingida, confirmou que os soldados israelitas dispararam contra eles, mesmo estando bem identificados.

Palestinianos denunciam assassinato

Governo palestiniano, partidos políticos e diversas organizações condenaram os factos ocorridos em Jenin.

O primeiro-ministro, Mohammad Shtayyeh, afirmou que Abu Akleh foi morta «quando exercia o seu dever jornalístico de documentar os crimes horrendos cometidos pelos soldados da ocupação contra o nosso povo».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros acusou Israel de ter atingido Abu Akleh e Ali Samoudi de forma «intencional e deliberada», e relacionou o facto com a implementação da política do governo israelita de matar a tiro os palestinianos.

Por seu lado, o responsável da pasta dos Assuntos Civis, Hussein al-Sheikh, disse que «se voltou a cometer o crime de silenciar a palavra, e a verdade é silenciada por balas da ocupação».

Responsáveis da Al Jazeera manifestaram-se «chocados e tristes», e o chefe do canal nos territórios ocupados, Walid al-Omari, afirmou que aquilo que se passou em Jenin «foi um assassinato premeditado por parte do Exército de ocupação».

Em Janeiro deste ano, a WAFA afirmou que, em 2021, foram registadas 384 situações de abuso por parte das forças israelitas contra jornalistas que trabalhavam nos territórios ocupados da Palestina.

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«Chamei por ela mas não se mexeu. Quando tentei esticar o braço para chegar até ela, outra bala foi disparada e tive de ficar escondida atrás de uma árvore», disse.

«Não fomos apanhados num fogo cruzado com combatentes palestinianos, como o Exército israelita alegou. O local do incidente fica numa zona relativamente aberta, longe do campo onde os combatentes palestinianos podem operar, porque ali estariam em situação de grande desvantagem», acrescentou.

A cortina de fumo lançada por Israel

O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, disse ser «provável» que a repórter da Al Jazeera tenha sido morta por tiros palestinianos e uma fonte do Exército israelita, que confirmou ter conduzido uma operação esta quarta-feira no campo de refugiados de Jenin, negou que as suas forças tenham visado jornalistas de forma deliberada: «O (Exército), claro, não visa os jornalistas.»

Israel publicou ainda imagens de vídeo para sustentar a tese de que havia fogo palestiniano na zona onde Abu Akleh foi morta, mas o B’Tselem, grupo israelita de defesa dos direitos humanos, foi rápido a desmontá-lo.

Esta versão foi também desmentida por Ali Samoudi, o produtor da Al Jazeera que acompanhava Shireen, que disse não haver presença de combatentes palestinianos armados no local.

Por seu lado, Hanaysha afirmou que os palestinianos usam habitualmente armas semi-automáticas, que disparam balas continuamente, enquanto as balas disparadas contra os jornalistas eram diferentes, «esporádicas» e «precisas», «uma de cada vez» e apenas quando se moviam.

«Aquilo que se passou foi uma tentativa deliberada de nos matar. Quem quer que tenha disparado contra nós atirou a matar», disse, frisando que «Israel não distingue entre velhos e novos, homens e mulheres, jornalistas civis e combatentes. Todos são alvos».

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Afinal, pouco ou nada mudou em mais de três décadas, a não ser que o incómodo internacional suscitado pela política de «quebra-ossos» foi passageiro e esfumou-se. A perseguição e a limpeza étnica dos palestinianos prossegue na Palestina perante o silêncio dos poderes mundiais, a começar pela ONU e respectivo secretário-geral, e pelos incansáveis defensores dos direitos humanos agraciados com uma selectividade finamente burilada. O assassínio de Shireen Abu Akleh, como os de mais 380 palestinianos, entre eles 90 crianças, em 2021; e os 34 em Março e Abril deste ano, incluindo mais seis crianças, foram recebidos com o silêncio banal das coisas rotineiras, inevitáveis, condenadas aos caixotes do lixo das redacções e das chancelarias. Vítimas, vítimas a sério pelas quais o nosso mundo civilizado chora, são os «mártires» nazis da cidade ucraniana de Mariupol.

Em memória de Shireen Abu Akleh

Diz quem conheceu a jornalista Shireen Abu Akleh que era uma profissional competente, apreciada pela coragem, integridade e pelas reportagens cuidadas e sensíveis sobre a vida das populações em situação de ocupação.

«Escolhi o jornalismo para estar perto das pessoas», diz Shireen num vídeo que a Al Jazeera divulgou depois de ter sido fuzilada. «Pode não ser fácil mudar a realidade, mas pelo menos consegui trazer a voz das pessoas para o mundo».

Deduz-se que Shireen praticava um jornalismo quase caído em desuso, centrado nas pessoas, guiado pela realidade, nem sempre coincidente com a opinião única formatada para a questão israelo-palestiniana, a mesma que vigora para a guerra na Ucrânia. A jornalista da Al Jazeera estava literalmente na mira do establishment do regime sionista de apartheid, que a acusava de situar-se do lado dos «terroristas». Da mesma maneira que os jornalistas informando sobre o aparelho nazi que controla o regime ucraniano não passam de «agentes de Putin».

Naquela quarta-feira, 11 de Maio, Shireen estava com outros jornalistas no campo de refugiados de Jenin reportando mais uma manobra de repressão conduzida pelas tropas de ocupação. Os profissionais da comunicação presentes cumpriam todas as normas do protocolo que foi sendo apurado ao longo dos anos, pois são já 45 os jornalistas acompanhando a situação na Palestina abatidos desde 2000. Usavam colete à prova de bala, capacetes, dísticos de «PRESS» bem visíveis e situavam-se a cerca de 200 metros dos soldados israelitas.

«Deduz-se que Shireen praticava um jornalismo quase caído em desuso, centrado nas pessoas, guiado pela realidade, nem sempre coincidente com a opinião única formatada para a questão israelo-palestiniana, a mesma que vigora para a guerra na Ucrânia.»

Ouviram-se três tiros. Um atingiu nas costas o produtor da Al Jazeera, Ali Samoudi, que ficou ferido. O terceiro disparo provocou a morte imediata de Shireen: atingiu-a na face, precisamente entre o bordo do capacete e a gola do colete. Um tiro de sniper, preciso, fatal, efectuado deliberadamente para atingir um alvo escolhido no local exacto. Uma execução. «Um assassínio flagrante, a sangue-frio», denunciou a Al Jazeera. Uma operação idêntica às que no início surpreenderam os jornalistas em Fallujah, no Iraque, quando começaram a surgir cadáveres com um único tiro na cabeça entre as vítimas dos massacres norte-americanos.

Os especialistas que observaram a bala de 5,56 milímetros recolhida pelo lado palestiniano consideram que foi um tiro de uma M16, eventualmente uma M16A4s equipada com uma mira telescópica prismática de altíssima precisão. Porta-vozes oficiais israelitas afirmaram prontamente que os autores foram atiradores palestinianos – a canónica tese absurda que fazem circular sempre que acontecem situações deste tipo.

A versão, porém, foi desmontada e ridicularizada por um vídeo dos acontecimentos divulgado pelo Centro de Informação israelita B’Tselem para os direitos humanos. Ficou claro que se tratou de um crime cometido a partir da posição ocupada pelos soldados israelitas


A verdade oficial nunca se saberá concretamente. Israel recusa-se a autorizar um inquérito independente e, mais uma vez, o assassino ficará impune. Como aconteceu há um ano com o gang de colonos sionistas que, a exemplo das práticas das brigadas nazis ucranianas, assassinaram o cidadão palestiniano Musa Hassuna: o Ministério israelita do Interior «aconselhou» o Ministério Público a encerrar o caso por se tratar de uma situação «de autodefesa».

A morte de Shireen Abu Akleh parece não ter sido suficiente para satisfazer a ânsia de vingança do regime de apartheid. No funeral da jornalista, que juntou em Jerusalém uma multidão só comparável à que se despediu do lendário dirigente palestiniano Faiçal Husseini em 2003, a polícia antimotim assaltou o desfile, espancou participantes e fez tombar o caixão, uma imagem revoltante que corre mundo mas não sensibilizou os grandes meios corporativos. Assaltos e bombardeamentos contra funerais pareciam ser um exclusivo da Arábia Saudita no Iémen mas afinal não é assim: a «única democracia do Médio Oriente» segue o exemplo dos seus «inimigos» – aliados da maior petroditadura do Golfo.

Israel continua a rejeitar, com a impunidade que lhe está garantida pelos órgãos da «ordem internacional baseada em regras» guardada por Joseph Biden e os seus súbditos, e garantida pela NATO, qualquer responsabilidade no sucedido.

A desfaçatez, porém, vai mais longe. «Mesmo que Shireen Abu Akleh fosse morta pelo Exército israelita não haveria necessidade de pedir desculpa», sentenciou Avi Benyahu, ex-porta voz das tropas sionistas. Como explica o deputado Ben Gvir, «os jornalistas da Al Jazeera geralmente ficam no caminho do exército e impedem o seu trabalho». Nada que um tiro certeiro na altura exacta não resolva.

«Israel continua a rejeitar, com a impunidade que lhe está garantida pelos órgãos da «ordem internacional baseada em regras» guardada por Joseph Biden e os seus súbditos, e garantida pela NATO, qualquer responsabilidade no sucedido.»

Tal como há três quartos de século, vale tudo a Israel para tentar erradicar o «problema» palestiniano da face da Terra perante as mesmas sossegadas consciências que não se sobressaltaram quando a ex-secretária de Estado norte-americana Madeleine Albright garantiu que a morte de 500 mil crianças iraquianas «valeu a pena»; ou seja, as mesmas almas caridosas que acompanham tranquilamente o massacre de milhões de vidas humanas no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Síria, no Iémen só porque são da responsabilidade da NATO ou de exércitos de potências ocidentais, em aliança com terroristas islâmicos, que levam a civilização às terras da barbárie.

Na Ucrânia não, é diferente, há que mobilizar caridades, submissões e centenas de milhões de euros que, por exemplo, não há para salários, reformas, saúde e educação dos portugueses e entregá-los em mãos – e sem controlo do destino – ao regime mais corrupto da Europa. Mas é na Europa, são instituições que defendem a «pureza de sangue», estão em causa pessoas brancas, quanto mais louros os cabelos e azuis os olhos melhor. Afinal acusar apenas Israel da cultivar formas de apartheid talvez seja injusto.

O Nakba eterno

A Shireen Abu Akleh de nada valeram a competência profissional, o respeito pelo jornalismo, a prioridade dada às pessoas e os seus problemas, nem sequer o passaporte norte-americano. Tal como não valeu à voluntária Rachel Corrie em 2003, trucidada por um buldozzer quando se opunha à destruição de casas palestinianas; ou o passaporte britânico de nada serviu ao cineasta James Miller, abatido em 2003 por um soldado israelita quando testemunhava mais um dos corriqueiros massacres de pessoas indefesas em Gaza.

Os Estados Unidos, o Reino Unido, tal como todos os satélites orbitando a NATO, entre os quais Portugal, silenciaram a morte da jornalista da Al Jazeera.

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Autoridades documentam 50 mortes de palestinianos por forças israelitas este ano

O Ministério palestiniano da Saúde divulgou, esta segunda-feira, a lista com os nomes da meia centena de palestinianos mortos por Israel em 2022, na esmagadora maioria residentes na Cisjordânia ocupada.

Imagem de arquivo Créditos / Al Mayadeen

Do total de casos confirmados, refere a agência WAFA, 49 dizem respeito a pessoas provenientes da Margem Ocidental ou de Jerusalém Oriental ocupada e um da Faixa de Gaza cercada.

Da lista, hoje divulgada, constam duas mulheres, assassinadas no passado dia 10 de Abril, bem como dois homens com mais de 80 anos: Omar Assad, do distrito de Ramallah, e Suleiman Hathalin, do distrito de Hebron, ambos falecidos em Janeiro, como consequência de ataques do Exército de ocupação.

Segundo indica a WAFA, a lista do Ministério da Saúde inclui dois jovens com menos de 15 anos, um com 16, cinco com 17, quatro com 18 e dois com 19 anos.

Três assassinatos nas últimas horas e apelo urgente do primeiro-ministro

Este domingo, três palestinianos foram mortos a tiro pelas forças de ocupação em vários pontos da Cisjordânia. O primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, referiu-se aos factos como «crimes horrendos cometidos pelos soldados do regime israelita de ocupação contra o nosso povo» e solicitou a «intervenção urgente da comunidade internacional», de modo a travar «o terrorismo organizado».

Shtayyeh, refere a PressTV, acusou as forças israelitas de levarem a cabo uma «política de assassinatos intencional e arbitrária dos jovens palestinianos».

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Quatro palestinianos mortos em poucas horas por forças israelitas

No espaço de uma semana, pelo menos nove palestinianos foram mortos pelas forças de ocupação em vários pontos da Cisjordânia. A WAFA dá conta de dezenas de feridos e de detidos.

Na última semana, as forças de ocupação israelitas prenderam centenas de palestinianos na Margem Ocidental (imagem de arquivo) 
Créditos / WAFA

Esta manhã, as forças israelitas entraram nas localidades de al-Yamun e Kafr Dan, perto de Jenin, mataram dois palestinianos e feriram pelo menos seis.

Uma das vítimas mortais foi identificada como Shas Kamamji, irmão de Ayham Kamamji, um dos seis prisioneiros que em Setembro do ano passado conseguiram escapar da prisão de alta segurança de Gilboa.

O segundo assassinado é Mustafa Abu-Arub, informa a agência WAFA, acrescentando que as forças de ocupação dispararam sobre os jovens que lhes fizeram frente, tendo detido pelo menos quatro.

Ontem à noite, as forças israelitas mataram a tiro um rapaz de 14 anos na aldeia de Husan, nas imediações de Belém, durante um raide. O Ministério da Saúde identificou-o como Qusai Hamamra.

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Forças de ocupação mantêm Palestina a ferro e fogo

Os militares israelitas mataram um palestiniano e feriram perto de 20 durante operações de larga escala na Margem Ocidental ocupada. Há registo de fortes confrontos e várias detenções.

Créditos / Al Mayadeen

Um palestiniano, identificado como Muhammad Hasan Assaf, foi morto a tiro, esta manhã, durante uma incursão das forças de ocupação israelitas na cidade de Nablus e em aldeias circundantes.

O Ministério palestiniano da Saúde informou que Assaf, de 34 anos, faleceu no hospital, não resistindo aos ferimentos, depois de ser atingido com vários tiros no peito.

Por seu lado, Ahmad Jibril, chefe do Departamento de Emergências e Ambulâncias do Crescente Vermelho Palestiniano, referiu que outras cinco pessoas foram atingidas com fogo real e que mais cinco tinham ficado feridas devido ao impacto de balas de borracha.

Citado pela agência WAFA, Jibril disse ainda que nove pessoas receberam assistência por asfixia, devido ao gás lacrimogéneo lançado pelas forças israelitas durante os confrontos registados junto ao Túmulo de José.

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Forças israelitas matam um palestiniano e prendem dezenas na Cisjordânia

Um trabalhador palestiniano da construção civil, residente em al-Khalil (Hebron), foi morto a tiro esta madrugada pela Polícia israelita. Em Jenin, registam-se intensos confrontos com grupos da resistência.

Forças de ocupação prendem um jovem palestiniano na Cisjordânia (imagem de arquivo) 
Créditos / PressTV

O trabalhador da construção civil foi morto em Ashkelon, no Sul dos territórios ocupados em 1948, quando a Polícia israelita andava à procura de trabalhadores palestinianos sem autorização para trabalhar, segundo referem diversas fontes.

De acordo com o comunicado emitido pelas forças israelitas, o trabalhador recusou-se a mostrar a documentação e sacou de uma faca, ferindo um agente numa mão. Foi morto a tiro de imediato.

Este caso ocorre num contexto de tensão e violência crescentes nos territórios ocupados. No espaço de 24 horas, entre domingo e segunda-feira de manhã, quatro palestinianos foram mortos ao serem atingidos por disparos de militares israelitas – um deles faleceu por não resistir aos ferimentos.

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Mais um palestiniano morto por disparos israelitas, o quarto em 24 horas

Um rapaz de 17 anos morreu, esta segunda-feira, depois de ter sido atingido a tiro por militares israelitas em Jenin no dia anterior. Trata-se da quarta vítima mortal em 24 horas na Cisjordânia ocupada.

Forças de ocupação israelitas no interior de uma casa na cidade de Jenin, Cisjordânia ocupada 
Créditos / Ma'an / PressTV

Fontes médicas confirmaram à agência WAFA que Muhammad Zakarneh faleceu esta manhã no hospital onde estava a receber tratamento, depois de, no domingo, ter sido atingido por unidades especiais das forças de ocupação, que invadiram a zona industrial de Jenin.

Ontem, os militares israelitas mataram a tiro outros três palestinianos na Margem Ocidental ocupada.

Muhammad Ali Ghunaim, de 21 anos, foi atingindo fatalmente, ontem à noite, quando confrontava as forças de ocupação em al-Khader, a oeste de Belém.

Por seu lado, Ghada Sabatien, de 45 anos, viúva e mãe de seis, foi morta a tiro num dos postos de controlo próximos da aldeia de Husan, junto a Belém.

Uma outra mulher palestiniana, de 24 anos, foi morta a tiro em al-Khalil (Hebron), depois de ter tentado esfaquear um polícia israelita.

«Carta branca para matar civis»

A Autoridade Palestiniana acusou este domingo o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, de ter dado «carta branca» ao Exército para assassinar civis na Cisjordânia, onde as forças de ocupação levam a cabo uma grande operação repressiva.

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Palestinianos responsabilizam governo israelita pela escalada na Cisjordânia

O Ministério palestiniano dos Negócios Estrangeiros afirmou que o executivo de Naftali Bennett é «inteira e directamente» responsável pela escalada de violência na Margem Ocidental ocupada.

Forças israelitas de ocupação no campo de refugiados de Jenin 
CréditosAyman Noubani / WAFA

«A escalada israelita é uma tentativa de substituir a solução política negociada para o conflito por outras soluções […], que reflectem a negação de Israel dos direitos do povo palestiniano, o principal dos quais é o seu direito à autodeterminação», declarou este sábado o ministério, num comunicado citado pela WAFA.

A declaração seguiu-se à incursão dos militares israelitas no campo de refugiados de Jenin, à qual os palestinianos responderam. No decorrer dos confrontos, as forças de ocupação mataram um palestiniano e feriram outros 13, segundo referiu o Ministério palestiniano da Saúde.

As autoridades sanitárias informaram que o jovem assassinado, identificado como Ahmad Saadi, foi atingido com tiros no peito e na cabeça, falecendo de imediato. Dois dos feridos foram igualmente atingidos com fogo real e tiveram de ser submetidos a intervenções cirúrgicas.

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Forças israelitas prendem 22 palestinianos na Cisjordânia ocupada

Na noite de terça-feira e madrugada de quarta, as forças israelitas de ocupação prenderam 22 palestinianos em vários pontos da Margem Ocidental, incluindo na Porta de Damasco, em Jerusalém Oriental.

Palestiniano detido pelas forças de ocupação na zona de Bab al-Amoud ou Porta de Damasco, à entrada da Cidade Velha de Jerusalém 
Créditos / Al Mayadeen

Fontes oficiais comunicaram à agência WAFA que 12 pessoas foram detidas nas imediações de Bab al-Amoud, também conhecida como Porta de Damasco, à entrada da Cidade Velha de Jerusalém.

Desde o início do mês do Ramadão, milhares de palestinianos concentram-se ali e a Polícia israelita, fortemente armada, recorre a balas de aço revestidas de borracha, granadas atordoantes e bastões para os dispersar.

Além disso, veda o acesso a várias ruas das imediações e acossa os transeuntes, por vezes espancando-os com grande violência, gerando confrontos repetidos.

A WAFA refere que, no Bairro de Beit Hanina, também em Jerusalém, foram presos outros dois palestinianos,

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«Não consigo dormir»: o trauma dos raides israelitas em casas palestinianas

Partindo de um relatório recente sobre a questão, um jornalista do Activestills aborda as invasões das casas de palestinianos pelo Exército israelita, a sua natureza arbitrária e os danos psicológicos que geram.

Um palestiniano examina os estragos causados na sua casa após um raide nocturno israelita na aldeia de Salem, perto de Nablus, na Margem Ocidental ocupada, em Agosto de 2015
Créditos / activestills.org

Oren Ziv, fotojornalista e membro fundador do colectivo de fotografia Activestills, conta que há cerca de uma década se juntou a activistas israelitas na aldeia palestiniana de Asira al-Qibliya, na Margem Ocidental ocupada, localizada perto de Yitzhar, um posto avançado militar israelita que se viria a tornar um colonato nos anos 80.

«Chegámos poucas horas depois de os colonos terem assaltado a aldeia, atacado os residentes palestinianos e vandalizado as suas propriedades. Temendo que os colonos pudessem regressar, alguns residentes pediram-nos que ficássemos durante a noite», relata.

Os colonos não voltaram, mas, perto das duas da manhã, soldados israelitas invadiram a aldeia, avançando de uma casa para outra. «Acordámos com o som de batidas fortes na porta de metal da casa em que estávamos. Os soldados, que se mostraram surpreendidos ao encontrar israelitas numa aldeia palestiniana, juntaram-nos a todos, incluindo crianças, no jardim e realizaram um "interrogatório" rápido a cada pessoa», conta.

«ao não existir um procedimento oficial para as buscas domiciliárias na Cisjordânia ocupada, isto significa que, para o Exército israelita, qualquer casa palestiniana é um alvo legítimo a dado momento»

Os soldados foram «misericordiosos» com aquela família palestiniana, mas na casa ao lado reviraram tudo e tiraram de lá todos os pertences. «Cerca de uma hora depois, os soldados voltaram para os jipes militares e desapareceram na noite. Não apresentaram qualquer mandado de busca, nem deram qualquer explicação para o raide», diz Ziv.

Estas invasões militares de casas, que estão associadas à violência da ocupação de Israel, foram o tema de um estudo publicado recentemente, no final de Novembro, pelas organizações de direitos humanos Yesh Din, Breaking the Silence e Physicians for Human Rights-Israel (PHRI).

O relatório centra-se nos efeitos que estas operações têm na saúde mental dos palestinianos e no modo como, para lá dos objectivos declarados pelo Exército israelita, estas invasões se tornaram em si mesmas um objectivo. O jornalista denuncia que, ao não existir um procedimento oficial para as buscas domiciliárias na Cisjordânia ocupada, isto significa que, para o Exército israelita, qualquer casa palestiniana é um alvo legítimo a dado momento.

O estudo, intitulado «Uma vida exposta: invasões militares de casas palestinianas na Cisjordânia», baseia-se em 158 testemunhos de palestinianos cujas casas foram invadidas nos últimos anos; 31 entrevistas realizadas a famílias palestinianas afectadas, por especialistas na área da Saúde; e entrevistas a 40 soldados israelitas e cinco oficiais que participaram nestas operações.

«"Embora os israelitas tenham menos conhecimento deste fenómeno do que dos postos de controlo ou das demolições de casas, muitos palestinianos nascem e crescem numa realidade em que os soldados armados assaltam habitualmente as suas casas"»

Em 88% dos casos documentados no estudo, as famílias palestinianas afirmaram que os soldados as obrigaram a juntar-se numa só divisão, ou separaram os seus membros por diversas divisões, onde os mantiveram sob vigilância. Em 30% das invasões referidas, os palestinianos informaram que os soldados os ameaçaram com violência, e em 25% dos casos os palestinianos disseram que os soldados recorreram à força ou violência física contra um membro da família. Das famílias entrevistadas, 64% disseram que as suas casas foram invadidas mais que uma vez. Das invasões registadas, 88% tiveram lugar entre a meia-noite e as cinco da manhã.

«As invasões militares a casas palestinianas [na Cisjordânia ocupada] são das operações mais comuns e rotineiras sob a ocupação israelita», disse Ziv Stahl, directora do departamento de investigação da Yesh Din, que também trabalhou no relatório. «Embora os israelitas tenham menos conhecimento deste fenómeno do que dos postos de controlo ou das demolições de casas, muitos palestinianos nascem e crescem numa realidade em que os soldados armados assaltam habitualmente as suas casas», continuou. «É um instrumento violento e repressivo que se tornou fundamental para o mecanismo de controlo de Israel sobre os palestinianos», disse.

Uma demonstração de força

Os objectivos declarados destas invasões militares são realizar buscas, detenções ou recolher informação (mapping), mas os testemunhos registados descrevem uma realidade muito diferente. De acordo com as declarações dos soldados, o objectivo implícito destas operações é o que se descreve em coloquialismo militar como «demonstração de força» e «criar um sentido de perseguição». Visam dissuadir as pessoas, comunidades inteiras, de participar em actividades políticas que se opõem à ocupação.

«[estas operações] visam dissuadir as pessoas, comunidades inteiras, de participar em actividades políticas que se opõem à ocupação»

Um sargento israelita disse à Breaking the Silence que o «propósito principal é a dissuasão», sublinhando que a ideia é mostrar que o Exército israelita «está ali» e «pode entrar na sua casa a qualquer momento». Ao ser questionado se entravam em casas ao acaso, o soldado disse: «Absolutamente, é completamente um [jogo de] um-dó-li-tá».

Um dos pontos centrais do estudo é que, com base na lei militar, não há mandados judiciais nestas invasões, o que significa que também não estão sujeitas a qualquer revisão ou escrutínio judicial. Qualquer oficial ou soldado por ele autorizado têm o poder de ordenar uma invasão de uma casa na Cisjordânia ocupada.

Em Março, a Yesh Din, a PHRI e seis famílias palestinianas solicitaram ao Tribunal Superior de Israel que os militares cessassem as invasões e as buscas em casas palestinianas sem mandado judicial, excepto em casos urgentes. O tribunal decretou que deve ser o Estado a determinar se pode revelar os seus procedimentos confidenciais sobre invasões domiciliárias.

O propósito da petição é obrigar Israel a criar um mecanismo através do qual se possam autorizar as buscas domiciliários, refere Michael Sfard, assessor legal da Yesh Din e da Breaking the Silence. «Mesmo que seja apenas uma formalidade, o facto de haver um processo burocrático já é um avanço», explica. «Ocasionalmente, haverá um juiz que levará este proceso a sério», frisa.

«Os palestinianos estão a viver um trauma colectivo»

O relatório também examina o impacto psicológico dos raides israelitas nos palestinianos. Os adultos cujas casas foram invadidas reportam sintomas de perturbação de stress pós-traumático e ansiedade, incluindo perturbações do sono e hiperactividade. Por seu lado, as crianças e os adolescentes mostram maior dependência dos pais e um comportamento agressivo, além dos sintomas revelados pelos adultos, revela o texto.

«"os palestinianos estão a viver um trauma colectivo como resultado da ocupação em curso [...] As consequências negativas para a saúde mental estão entre as mais altas do mundo"»

«Não consigo adormecer antes da 1h ou 2h», diz RS, uma mulher da cidade de Sinjil, no Norte da Cisjordânia ocupada, citada no relatório. «Começo a ruminar e, mal ouço um barulho, espero os militares», acrescenta. «Às vezes, não muitas, sonho que eles vêm para levar o meu marido e que ele foge. Agora, fico a pensar até às 2h30 – 3h, e depois acalmo um pouco, assim que passa o tempo em que eles são esperados», diz.

De acordo com Jomanah Milham, psiquiatra e voluntária da PHRI, «as invasões militares de casas, habitualmente acompanhadas por violência verbal ou física, são uma experiência ameaçadora e podem causar perturbação de stress pós-traumático». Ela refere que os sintomas desta perturbação podem incluir flashbacks, pesadelos, perturbações do sono e estado de alerta excessivo.

«se os palestinianos apresentam uma queixa, o aparelho interno do Exército israelita justifica retroactivamente os danos à propriedade causados durante as buscas domiciliárias. Portanto, as investigações sobre vandalismo são encerradas sem que um só soldado seja julgado»

«As conclusões [do estudo] são consistentes com as de muitos outros estudos, que mostram que os palestinianos estão a viver um trauma colectivo como resultado da ocupação em curso», acrescenta Milham. «As consequências negativas para a saúde mental estão entre as mais altas do mundo», sublinha.

De acordo com o relatório, se os palestinianos apresentam uma queixa, o aparelho interno do Exército israelita justifica retroactivamente os danos à propriedade causados durante as buscas domiciliárias. Portanto, as investigações sobre vandalismo são encerradas sem que um só soldado seja julgado, e a procuradoria militar rejeita a queixa sem abrir qualquer investigação penal.

O relatório revela que todas as queixas apresentadas pelos palestinianos desde 2008 – com a ajuda da Yesh Din – relativas a danos à propriedade foram arquivadas sem que tenha havido qualquer acusação.

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No Sul da Cisjordânia ocupada, registaram-se várias incursões no distrito de Hebron e três palestinianos foram detidos.

No distrito de Nablus, a agência confirma a existência de um raide levado a cabo pelas forças israelitas, no âmbito do qual foi detido um palestiniano.

A sul da cidade de Qalqiliya, os soldados prenderam um menor, de 15 anos de idade, informa a mesma fonte, dando conta de vários raides no distrito de Jenin e da detenção de três ex-presos.

As forças israelitas levam a cabo estas operações de busca e captura num registo praticamente diário, quase sempre de madrugada. Alegando que «procuram» palestinianos, invadem as casas sem mandado de detenção onde e sempre que lhes apetece.

São frequentes os confrontos com os residentes palestinianos, os mais de três milhões que vivem na Margem Ocidental ocupada e que, lembra a WAFA, ficam completamente à mercê da autoridade militar que lhes é imposta pelos comandantes israelitas.

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O raide levado a cabo pelos militares israelitas este sábado contra a cidade de Jenin e o seu campo de refugiados visou sobretudo a residência da família de Raed Hazem, palestiniano que na quinta-feira passada atacou e matou três israelitas e feriu mais de uma dezena em Telavive.

Hazem foi morto a tiro pelas forças israelitas, perto de Jaffa, horas depois de ter realizado o ataque em Telavive. Ainda assim, os militares cercaram a casa dos familiares de Raed Hazem e intimaram-nos a sair e a entregar-se, segundo revelaram testemunhas à WAFA.

A mesma fonte refere que não estava ninguém em casa e que elementos do Exército começaram a tomar medidas para levar a cabo a demolição do edifício, seguindo o procedimento habitual da «punição colectiva» contra os familiares de atacantes.

Guerra «sem limites»

Na sexta-feira, horas depois do ataque em Telavive, o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, afirmou que «não há e não haverá limites para esta guerra».

Igualmente em tom inflamado, refere a PressTV, acrescentou que o Exército teria «total liberdade de acção», assim como o Shin Bet (serviço de segurança interna israelita) e as restantes forças de segurança.

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«Venceremos»: a história rebelde de Jenin contada pelos mais velhos

Vários habitantes desfiam memórias de resistência na cidade, onde histórias familiares e revolução andam de mãos dadas – a terra esteve na luta muito antes de seis palestinianos terem saído de uma prisão de alta segurança escavando um túnel com colheres.

Khadra Abu Sariyyi, agora com 84 anos, perdeu a casa da família no acampamento de Jenin duas vezes, demolida pelo Exército israelita 
CréditosMohammad Ateeq / MEE

Desde a invasão do exército de Napoleão Bonaparte até aos tiroteios recentes entre jovens armados locais e as forças de ocupação israelita, os habitantes da cidade do Norte da Cisjordânia falam com orgulho do seu histórico desafio.

«Cresci a ouvir a história heróica do meu tio-avô, Farhan al-Saadi e [Izz al-Din] al-Qassam, que espalharam as sementes da resistência e inspiraram a geração seguinte em Jenin, incluindo eu», disse Bassam al-Saadi, agora com 61 anos, ao jornalista Fareed Taamallah, do Middle East Eye (MEE).

Tal como as lembranças de Saadi, as histórias familiares que os residentes mais velhos partilham desenham um longo legado de luta contra a opressão e a ocupação que persiste na actualidade.

Jenin encontra-se na base das colinas escarpadas de Nablus, as Jabal an-Nar ou «as montanhas de fogo», como foram chamadas depois de os seus habitantes terem incendiado olivais e florestas para travar o avanço dos soldados franceses em 1799.

Quando os franceses ganharam a batalha, Napoleão ordenou aos seus soldados que queimassem e saqueassem Jenin, como represália pela ajuda aos otomanos.

A cidade de Jenin vista do acampamento de Jenin, hoje / Mohammad Ateeq / MEE

O tio revolucionário

Mais de um século passado, em Setembro de 1918, Jenin foi capturada por aliados britânicos, durante a Primeira Guerra Mundial, ficando sob domínio das autoridades do Mandato Britânico, tal como o resto da Palestina.

Foi neste período, em 1935, que Izz al-Din al-Qassam, um pregador muçulmano e «dirigente» social, organizou a primeira resistência armada palestiniana contra os britânicos na região de Jenin.

Em 1936, Jenin era um centro da rebelião contra as autoridades britânicas, liderada pelo amigo de Qassam, e tio-avô de Bassam al-Saadi, Farhan al-Saadi. Este, natural de uma aldeia próxima de Jenin, participou em manifestações contra os britânicos e no levantamento de al-Buraq, em 1929, que foi um confronto entre muçulmanos e judeus pelo acesso a um lugar sagrado em Jerusalém e que alastrou a todo o país.

Os dois homens tinham-se conhecido anos antes de que as autoridades britânicas metessem na cadeia Farhan al-Saadi, entre 1929 e 1932. «A minha mãe disse-me que viu al-Qassam visitar o meu tio-avô na sua casa, na aldeia de Almazar», disse Saadi ao MEE.

«Mas quando saiu da prisão, juntou-se a al-Qassam, que encontrou entre os camponeses de Jenin uma incubadora popular para a sua revolução», referiu.

Bassam al-Saadi conversando com o jornalista Fareed Taamallah, do MEE / Mohammad Ateeq / MEE

Meses antes do início da revolta árabe contra o Mandato Britânico, que apelava à independência palestiniana e ao fim da imigração judaica sem limites, al-Qassam foi morto num tiroteio com a polícia colonial britânica.

Mas Farhan al-Saadi continuou. No dia 15 de Abril de 1936, o seu grupo fez uma emboscada a um autocarro na estrada Nablus – Tulkarem, perto de Jenin. Dois passageiros judeus foram mortos como vingança pela matança de palestinianos por organizações judaicas, um incidente visto como o ponto de partida da revolta.

Bassam al-Saadi disse que a sua mãe era uma adolescente quando o seu tio-avô foi preso na casa da sua família, em 1937. Foi executado em Novembro desse ano, com 75 anos, mas a rebelião em Jenin continuou.

Em 1938, um dia depois de um alto comandante britânico ter sido assassinado no seu gabinete em Jenin, uma grande força britânica entrou na cidade com explosivos e dinamite, fazendo explodir aproximadamente um quarto da urbe.

A revolta terminou em 1939, quando os funcionários do Mandato Britânico emitiram um livro branco com a promessa de travar a imigração judaica para a Palestina, já com a maior parte dos líderes revolucionários palestinianos assassinados ou presos.

Reconstrução com lama e pedra

Em 1948, depois de Israel ter declarado a independência e milhares de palestinianos terem sido assassinados ou expulsos ​​de suas casas, por grupos paramilitares judaicos, o Exército israelita ocupou brevemente Jenin.

A cidade podia ter tido a mesma sorte que a cidade vizinha de Haifa, que foi ocupada por Israel e cujos residentes árabes foram expulsos. A maior parte dos residentes de Jenin viu-se obrigada a fugir, sob o intenso bombardeamento da sua cidade.

Mas, em vez de ser ocupada, Jenin foi defendida pelo Exército iraquiano e por voluntários palestinianos, incluindo Mohammad Qasrawi, da aldeia de Burqin, perto de Jenin. Agora, com 96 anos, Qasrawi falou sobre a «grande batalha» entre o Exército iraquiano e a milícia judaica.

Mohammed Qasrawi, de 96 anos, fala sobre a «grande batalha» entre o Exército iraquiano e as milícias judaicas, nos anos 40 / Mohammad Ateeq / MEE

«Muita gente morreu, incluindo três amigos meus, que enterrámos com os mártires iraquianos no cemitério de Al-Shuhada, mas ganhámos a batalha e derrotámos os bandos», disse.

Em 1949, Jenin ficou sob domínio jordano e, no início dos anos 50, foi criado o campo de Jenin, para albergar os palestinianos deslocados que haviam sido expulsos ​​durante a guerra de 1948 entre Israel e os países árabes.

O campo, localizado nos arrabaldes ocidentais de Jenin, tornou-se mais tarde um bastião da resistência à ocupação israelita.

Khadra Abu Sariyyi, de 84 anos, lembra-se de quando as milícias sionistas destruíram a aldeia de Zare'en, sua terra natal, forçando a sua família a viver como refugiados no acampamento de Jenin.

«Construímos uma casa de pedra e lama», disse, falando num acampamento onde ainda vive e onde a casa da sua família foi demolida duas vezes.

«O meu irmão Hassan, que foi um dos revoltosos contra os britânicos e se envolveu na revolução, foi morto a tiro, em 1969, por militares israelitas, que depois levaram o seu corpo», disse. Nunca foi devolvido à família. Até hoje, não sabem onde está enterrado.

Bassam al-Saadi também se lembra do tempo que passou no acampamento de Jenin, depois de os seus pais terem fugido da aldeia de Almazar, também arrasada por milícias judaicas, quando conta as histórias do seu tio-avô e de Qassam.

«A esperança deles era voltar»

Jenin caiu sob domínio israelita depois da guerra de 1967, o que levou muitos jovens locais, como Jamal Zobaidi, a juntar-se à resistência contra a ocupação.

Zobaidi, agora com 65 anos, disse que ele e a sua família, juntamente com muitos outros palestinianos, fugiram do acampamento de Jenin para as montanhas durante a guerra, para escapar aos bombardeamentos contínuos.

«A sua esperança era voltar às suas aldeias, mas, em vez disso, acabaram por regressar ao acampamento», disse Zobaidi, que lutou contra a ocupação palestiniana com recurso a actividades pacíficas nas décadas de 1970 e 1980. Foi preso seis meses sem acusações ou julgamento em 1987. A sua casa, disse, foi uma de várias que que o Exército israelita demoliu como punição colectiva.

Jamal Zobaidi / Mohammed Ateeq / MEE

Em Dezembro de 1987, quando rebentaram os protestos contra a ocupação israelita na Cisjordânia e em Gaza, os habitantes de Jenin resistiram. Joma'a Abu Jabal, de 54 anos, nascido no acampamento de Jenin depois de a sua família ter sido expulsa de Lid al-Awadeen, uma terra perto de Haifa onde viviam em 1948, lembra-se bem.

«O Exército israelita com jipes blindados não conseguiu invadir o acampamento durante 60 dias devido à feroz resistência», disse ao MEE. O irmão de Abu Jabal, Isam, foi morto a tiro por um franco-atirador israelita, quando o Exército acabou por entrar no campo, em Fevereiro de 1988.

Abu Jabal foi preso mais de dez vezes pelo Exército israelita entre 1987 e 2020, sendo acusado de pertencer ao Hamas. Passou, no total, mais de cinco anos na prisão e agora trabalha na construção.

A invasão de Jenin

Durante a segunda Intifada, o Exército israelita atacou o acampamento de Jenin no âmbito daquilo que foi designado como Operação Escudo Defensivo.

Em Abril de 2002, o Exército israelita cercou o acampamento, cortou-lhe a água, o acesso a alimentos e a electricidade, impedindo ainda a entrada de pessoal médico antes de o bombardear com aviões F-16 e artilharia.

A operação provocou a morte de dezenas de palestinianos e a destruição de dezenas de casas, além de milhares de deslocados, tornando-se um símbolo importante da opressão israelita e da resistência palestiniana.

Durante a invasão, Joma'a Abu Jabal estava a guardar comida e a distribuí-la aos residentes no acampamento quando um soldado israelita o atingiu na perna com uma bala explosiva que lhe desfez a rótula.

Joma'a Abu-Jabal, a quem as forças israelitas destruíram uma rótula usando uma bala explosiva / Mohammad Ateeq / MEE

Manteve-se escondido numa casa abandonada quatro dias, com as feridas a sangrarem, para evitar ser preso. No entanto, quando os militares israelitas invadiram o acampamento, levaram-no detido e mantiveram-no na cadeia seis meses.

«Levaram-me para a prisão, onde me deixaram a sangrar até o pé ficar infectado. Submeteram-se a interrogatórios e torturas batendo-me no pé ferido», disse. «Internaram-me num hospital, onde me amputaram a perna sem minha autorização», acrescentou.

Nessa mesma invasão, Jamal Zubaidi, de 65 anos, ficou encurralado em sua casa com 14 membros da sua família. A casa já tinha sido demolida na primeira Intifada.

«Os aviões israelitas bombardearam a nossa casa com três mísseis, transformando-a em escombros pela segunda vez, mas sobrevivemos milagrosamente», disse.

Embora a família de Zubaidi tenha sobrevivido ao bombardeamento, a operação foi devastadora noutros aspectos. A sua mãe, Sameera, foi morta a tiro pelas tropas israelitas pouco antes da invasão, em Março. E mataram o seu irmão Taha no mês seguinte, revelou.

A sua casa seria parcialmente demolida pela terceira vez em 2004, quando as tropas israelitas andavam à procura do seu irmão Zakariyya. Figura conhecida da resistência e ex-comandante das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, Zakariyya foi um dos seis prisioneiros que escaparam da prisão de Gilboa, em Israel, no início deste mês, antes de ser capturado.

Estava na cadeia desde 2019, acusado de participar em actividades armadas contra Israel, anos depois de aceitar baixar as armas, em 2007.

Três outros irmãos de Zubaidi também estão da cadeia por participarem nas actividades da resistência, principalmente em grupos ligados à Fatah: Yahya há 17 anos, Jibreel há 13 e Dawood há 20.

Hoje, o acampamento de Jenin é ainda um dos focos de resistência contra a ocupação israelita, e um local pouco comum, onde existe unidade entre todas as facções palestinianas, incluindo a Fatah e o Hamas.

«Estamos unidos na luta, e a divisão não é tanto entre as facções da resistência como entre a resistência e os inimigos da resistência», disse Abu-Jabal. «Mas havemos de ultrapassar isso.»

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Tudo isto ocorre num contexto de provocações e ataques constantes por parte dos colonos israelitas contra a população palestiniana, com a conivência do Exército, em vários pontos da Cisjordânia ocupada.

Igualmente no quadro da tensão crescente na Bab al-Amoud ou Porta de Damasco, em Jerusalém, onde há uma semana a Polícia reprime de forma brutal as concentrações dos palestinianos.

«Não existe alternativa a uma solução negociada do conflito, com base no direito internacional e nas suas resoluções», insiste o governo da Autoridade Palestiniana, sublinhando que as imposições de Israel estão destinadas ao fracasso.

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A operação em curso, que se estende a toda a Cisjordânia mas tem em Jenin o seu epicentro, segue-se ao ataque perpetrado na quinta-feira passada em Telavive por um palestiniano residente na cidade.

Na sexta-feira, horas depois do ataque, Naftali Bennett afirmou que «não há e não haverá limites para esta guerra» e acrescentou que o Exército teria «total liberdade de acção», assim como o Shin Bet (serviço de segurança interna israelita) e as restantes forças de segurança.

O Ministério palestiniano dos Negócios Estrangeiros referiu-se as estas declarações como uma «autorização oficial para praticar execuções extra-judiciais», numa «violação flagrante das normas do direito internacional».

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Esta escalada segue-se às declarações do primeiro-ministro israelita, Naftali Bennet, que na sexta-feira afirmou que «não há e não haverá limites para esta guerra», acrescentando que o Exército teria «total liberdade de acção», tal como o Shin Bet (serviço de segurança interna israelita) e as restantes forças de segurança.

As declarações de Bennet, após um ataque perpetrado por um palestiniano em Telavive, que provocou a morte a três israelitas e mais de uma dezena de feridos, foram classificadas pelo Ministério palestiniano dos Negócios Estrangeiros como uma «autorização oficial para praticar execuções extra-judiciais», numa «violação flagrante das normas do direito internacional».

Duas dezenas de detidos na Cisjordânia e fortes confrontos em Jenin

O palestiniano que, na quinta-feira, realizou o ataque numa zona nocturna de Telavive, residia em Jenin, no Norte da Cisjordânia. Desde então, a cidade tem sido alvo de raides sucessivos por parte das forças de ocupação.

Segundo refere a Al Mayadeen, têm-se registado intensos confrontos em vários bairros da cidade, com grupos da resistência a fazerem frente às forças especiais israelitas, que usam carros com matrículas palestinianas e colocam franco-atiradores no cimo de diversas casas.

No âmbito da ofensiva de larga escala levada a cabo pelas forças de ocupação em toda a Margem Ocidental, pelo menos 40 palestinianos foram presos entre domingo à noite e esta manhã.

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Forças israelitas prendem 22 palestinianos na Cisjordânia ocupada

Na noite de terça-feira e madrugada de quarta, as forças israelitas de ocupação prenderam 22 palestinianos em vários pontos da Margem Ocidental, incluindo na Porta de Damasco, em Jerusalém Oriental.

Palestiniano detido pelas forças de ocupação na zona de Bab al-Amoud ou Porta de Damasco, à entrada da Cidade Velha de Jerusalém 
Créditos / Al Mayadeen

Fontes oficiais comunicaram à agência WAFA que 12 pessoas foram detidas nas imediações de Bab al-Amoud, também conhecida como Porta de Damasco, à entrada da Cidade Velha de Jerusalém.

Desde o início do mês do Ramadão, milhares de palestinianos concentram-se ali e a Polícia israelita, fortemente armada, recorre a balas de aço revestidas de borracha, granadas atordoantes e bastões para os dispersar.

Além disso, veda o acesso a várias ruas das imediações e acossa os transeuntes, por vezes espancando-os com grande violência, gerando confrontos repetidos.

A WAFA refere que, no Bairro de Beit Hanina, também em Jerusalém, foram presos outros dois palestinianos,

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«Não consigo dormir»: o trauma dos raides israelitas em casas palestinianas

Partindo de um relatório recente sobre a questão, um jornalista do Activestills aborda as invasões das casas de palestinianos pelo Exército israelita, a sua natureza arbitrária e os danos psicológicos que geram.

Um palestiniano examina os estragos causados na sua casa após um raide nocturno israelita na aldeia de Salem, perto de Nablus, na Margem Ocidental ocupada, em Agosto de 2015
Créditos / activestills.org

Oren Ziv, fotojornalista e membro fundador do colectivo de fotografia Activestills, conta que há cerca de uma década se juntou a activistas israelitas na aldeia palestiniana de Asira al-Qibliya, na Margem Ocidental ocupada, localizada perto de Yitzhar, um posto avançado militar israelita que se viria a tornar um colonato nos anos 80.

«Chegámos poucas horas depois de os colonos terem assaltado a aldeia, atacado os residentes palestinianos e vandalizado as suas propriedades. Temendo que os colonos pudessem regressar, alguns residentes pediram-nos que ficássemos durante a noite», relata.

Os colonos não voltaram, mas, perto das duas da manhã, soldados israelitas invadiram a aldeia, avançando de uma casa para outra. «Acordámos com o som de batidas fortes na porta de metal da casa em que estávamos. Os soldados, que se mostraram surpreendidos ao encontrar israelitas numa aldeia palestiniana, juntaram-nos a todos, incluindo crianças, no jardim e realizaram um "interrogatório" rápido a cada pessoa», conta.

«ao não existir um procedimento oficial para as buscas domiciliárias na Cisjordânia ocupada, isto significa que, para o Exército israelita, qualquer casa palestiniana é um alvo legítimo a dado momento»

Os soldados foram «misericordiosos» com aquela família palestiniana, mas na casa ao lado reviraram tudo e tiraram de lá todos os pertences. «Cerca de uma hora depois, os soldados voltaram para os jipes militares e desapareceram na noite. Não apresentaram qualquer mandado de busca, nem deram qualquer explicação para o raide», diz Ziv.

Estas invasões militares de casas, que estão associadas à violência da ocupação de Israel, foram o tema de um estudo publicado recentemente, no final de Novembro, pelas organizações de direitos humanos Yesh Din, Breaking the Silence e Physicians for Human Rights-Israel (PHRI).

O relatório centra-se nos efeitos que estas operações têm na saúde mental dos palestinianos e no modo como, para lá dos objectivos declarados pelo Exército israelita, estas invasões se tornaram em si mesmas um objectivo. O jornalista denuncia que, ao não existir um procedimento oficial para as buscas domiciliárias na Cisjordânia ocupada, isto significa que, para o Exército israelita, qualquer casa palestiniana é um alvo legítimo a dado momento.

O estudo, intitulado «Uma vida exposta: invasões militares de casas palestinianas na Cisjordânia», baseia-se em 158 testemunhos de palestinianos cujas casas foram invadidas nos últimos anos; 31 entrevistas realizadas a famílias palestinianas afectadas, por especialistas na área da Saúde; e entrevistas a 40 soldados israelitas e cinco oficiais que participaram nestas operações.

«"Embora os israelitas tenham menos conhecimento deste fenómeno do que dos postos de controlo ou das demolições de casas, muitos palestinianos nascem e crescem numa realidade em que os soldados armados assaltam habitualmente as suas casas"»

Em 88% dos casos documentados no estudo, as famílias palestinianas afirmaram que os soldados as obrigaram a juntar-se numa só divisão, ou separaram os seus membros por diversas divisões, onde os mantiveram sob vigilância. Em 30% das invasões referidas, os palestinianos informaram que os soldados os ameaçaram com violência, e em 25% dos casos os palestinianos disseram que os soldados recorreram à força ou violência física contra um membro da família. Das famílias entrevistadas, 64% disseram que as suas casas foram invadidas mais que uma vez. Das invasões registadas, 88% tiveram lugar entre a meia-noite e as cinco da manhã.

«As invasões militares a casas palestinianas [na Cisjordânia ocupada] são das operações mais comuns e rotineiras sob a ocupação israelita», disse Ziv Stahl, directora do departamento de investigação da Yesh Din, que também trabalhou no relatório. «Embora os israelitas tenham menos conhecimento deste fenómeno do que dos postos de controlo ou das demolições de casas, muitos palestinianos nascem e crescem numa realidade em que os soldados armados assaltam habitualmente as suas casas», continuou. «É um instrumento violento e repressivo que se tornou fundamental para o mecanismo de controlo de Israel sobre os palestinianos», disse.

Uma demonstração de força

Os objectivos declarados destas invasões militares são realizar buscas, detenções ou recolher informação (mapping), mas os testemunhos registados descrevem uma realidade muito diferente. De acordo com as declarações dos soldados, o objectivo implícito destas operações é o que se descreve em coloquialismo militar como «demonstração de força» e «criar um sentido de perseguição». Visam dissuadir as pessoas, comunidades inteiras, de participar em actividades políticas que se opõem à ocupação.

«[estas operações] visam dissuadir as pessoas, comunidades inteiras, de participar em actividades políticas que se opõem à ocupação»

Um sargento israelita disse à Breaking the Silence que o «propósito principal é a dissuasão», sublinhando que a ideia é mostrar que o Exército israelita «está ali» e «pode entrar na sua casa a qualquer momento». Ao ser questionado se entravam em casas ao acaso, o soldado disse: «Absolutamente, é completamente um [jogo de] um-dó-li-tá».

Um dos pontos centrais do estudo é que, com base na lei militar, não há mandados judiciais nestas invasões, o que significa que também não estão sujeitas a qualquer revisão ou escrutínio judicial. Qualquer oficial ou soldado por ele autorizado têm o poder de ordenar uma invasão de uma casa na Cisjordânia ocupada.

Em Março, a Yesh Din, a PHRI e seis famílias palestinianas solicitaram ao Tribunal Superior de Israel que os militares cessassem as invasões e as buscas em casas palestinianas sem mandado judicial, excepto em casos urgentes. O tribunal decretou que deve ser o Estado a determinar se pode revelar os seus procedimentos confidenciais sobre invasões domiciliárias.

O propósito da petição é obrigar Israel a criar um mecanismo através do qual se possam autorizar as buscas domiciliários, refere Michael Sfard, assessor legal da Yesh Din e da Breaking the Silence. «Mesmo que seja apenas uma formalidade, o facto de haver um processo burocrático já é um avanço», explica. «Ocasionalmente, haverá um juiz que levará este proceso a sério», frisa.

«Os palestinianos estão a viver um trauma colectivo»

O relatório também examina o impacto psicológico dos raides israelitas nos palestinianos. Os adultos cujas casas foram invadidas reportam sintomas de perturbação de stress pós-traumático e ansiedade, incluindo perturbações do sono e hiperactividade. Por seu lado, as crianças e os adolescentes mostram maior dependência dos pais e um comportamento agressivo, além dos sintomas revelados pelos adultos, revela o texto.

«"os palestinianos estão a viver um trauma colectivo como resultado da ocupação em curso [...] As consequências negativas para a saúde mental estão entre as mais altas do mundo"»

«Não consigo adormecer antes da 1h ou 2h», diz RS, uma mulher da cidade de Sinjil, no Norte da Cisjordânia ocupada, citada no relatório. «Começo a ruminar e, mal ouço um barulho, espero os militares», acrescenta. «Às vezes, não muitas, sonho que eles vêm para levar o meu marido e que ele foge. Agora, fico a pensar até às 2h30 – 3h, e depois acalmo um pouco, assim que passa o tempo em que eles são esperados», diz.

De acordo com Jomanah Milham, psiquiatra e voluntária da PHRI, «as invasões militares de casas, habitualmente acompanhadas por violência verbal ou física, são uma experiência ameaçadora e podem causar perturbação de stress pós-traumático». Ela refere que os sintomas desta perturbação podem incluir flashbacks, pesadelos, perturbações do sono e estado de alerta excessivo.

«se os palestinianos apresentam uma queixa, o aparelho interno do Exército israelita justifica retroactivamente os danos à propriedade causados durante as buscas domiciliárias. Portanto, as investigações sobre vandalismo são encerradas sem que um só soldado seja julgado»

«As conclusões [do estudo] são consistentes com as de muitos outros estudos, que mostram que os palestinianos estão a viver um trauma colectivo como resultado da ocupação em curso», acrescenta Milham. «As consequências negativas para a saúde mental estão entre as mais altas do mundo», sublinha.

De acordo com o relatório, se os palestinianos apresentam uma queixa, o aparelho interno do Exército israelita justifica retroactivamente os danos à propriedade causados durante as buscas domiciliárias. Portanto, as investigações sobre vandalismo são encerradas sem que um só soldado seja julgado, e a procuradoria militar rejeita a queixa sem abrir qualquer investigação penal.

O relatório revela que todas as queixas apresentadas pelos palestinianos desde 2008 – com a ajuda da Yesh Din – relativas a danos à propriedade foram arquivadas sem que tenha havido qualquer acusação.

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No Sul da Cisjordânia ocupada, registaram-se várias incursões no distrito de Hebron e três palestinianos foram detidos.

No distrito de Nablus, a agência confirma a existência de um raide levado a cabo pelas forças israelitas, no âmbito do qual foi detido um palestiniano.

A sul da cidade de Qalqiliya, os soldados prenderam um menor, de 15 anos de idade, informa a mesma fonte, dando conta de vários raides no distrito de Jenin e da detenção de três ex-presos.

As forças israelitas levam a cabo estas operações de busca e captura num registo praticamente diário, quase sempre de madrugada. Alegando que «procuram» palestinianos, invadem as casas sem mandado de detenção onde e sempre que lhes apetece.

São frequentes os confrontos com os residentes palestinianos, os mais de três milhões que vivem na Margem Ocidental ocupada e que, lembra a WAFA, ficam completamente à mercê da autoridade militar que lhes é imposta pelos comandantes israelitas.

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De domingo para segunda-feira, as forças israelitas prenderam 23 palestinianos, segundo refere a WAFA, incluindo cinco em Jerusalém, nas imediações da Mesquita de al-Aqsa e da Bab al-Amoud (Porta de Damasco), onde a Polícia israelita tem reprimido com grande violência as concentrações de palestinianos.

Nesta última madrugada, refere a mesma fonte, as forças de ocupação prenderam 17 palestinianos na Margem Ocidental, mantendo a operação repressiva.

Quatro foram detidos em Jenin e outros tantos em Nablus; em Belém, foram presos dois, tal como em al-Khalil (Hebron) e Tulkarem, havendo ainda registo de detenções em Tubas e Salfit.

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Um outro palestiniano ficou ferido depois de ser atropelado por uma viatura militar israelita, acrescentou.

Esta manhã, as forças de ocupação invadiram zonas na cidade de Nablus e várias aldeias vizinhas, como Beita, al-Lubban al-Sharqiya e Urif, onde prenderam vários jovens.

Em Beita, dezenas de soldados entraram de madrugada em cerca de vinte casas e usaram fogo real contra as pessoas que protestavam contra o raide, provocando seis feridos, indicou o autarca da localidade, Mahmoud Barham.

Repressão, detenções e confrontos em vários pontos da Cisjordânia

Ontem à noite, registaram-se confrontos com as forças de ocupação a norte de Ramallah, em al-Khalil (Hebron), al-Khader (a sul de Belém) e na zona de al-Tal da Cidade Velha de Jerusalém, com as forças israelitas a usarem balas de borracha, gás lacrimogéneo e granadas atordoantes contra os manifestantes. Há registo de vários feridos, alguns dos quais tiveram de ser hospitalizados.

Em Beit Ummar, a norte de al-Khalil, realizou-se uma manifestação solidária com a cidade de Jenin e o seu campo de refugiados, que há vários dias é alvo de raides por parte das forças de ocupação.

Os militares israelitas atacaram os manifestantes com gás lacrimogéneo e granadas atordoantes, e seguiram-se fortes confrontos.

Nos últimos dias, as tropas israelitas intensificaram as incursões na Cisjordânia ocupada, tendo matado cinco palestinianos desde o fim-de-semana.

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O rapaz foi atingido a tiro durante confrontos com os militares israelitas, depois de estes terem cercado a localidade e vedado os acessos a ela.

O autarca de Husan, Mohammad Sabatin, disse à WAFA que, ao saberem da morte de Hamamra, os habitantes se revoltaram ainda mais e os confrontos se intensificaram. Pelo menos quatro pessoas foram feridas com fogo real e dezenas sofreram de asfixia por inalação de gás lacrimogéneo.

Em Silwad, ontem à noite registaram-se fortes confrontos nas ruas, depois de as forças israelitas entrarem na localidade, junto a Ramallah, com grande violência, recorrendo a fogo real e gás lacrimogéneo.

O Ministério palestiniano da Saúde confirmou a existência de uma vítima mortal dos disparos israelitas, identificada como Omar Elayan, de 20 anos, e de pelo menos 11 feridos, alguns dos quais tiveram de ser hospitalizados.

Os soldados prenderam ali três pessoas, indica a WAFA, que dá conta de outras 14 detenções ao longo do dia. A estas há que juntar as 17 verificadas durante a madrugada de terça para quarta-feira.

Já hoje, a agência refere que foram presos 33 palestinianos durante a madrugada, em vários pontos da Cisjordânia. Neste sentido, os palestinianos falam em «onda» de detenções e raides em grande escala.

Tensão crescente e mais avisos das facções, unidas

A tensão na Cisjordânia ocupada tem vindo a aumentar desde o início do mês do Ramadão, com a Polícia israelita a reprimir de forma violenta as concentrações de palestinianos na zona de Bab al-Amoud (Porta de Damasco), em Jerusalém Oriental ocupada.

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Palestinianos responsabilizam governo israelita pela escalada na Cisjordânia

O Ministério palestiniano dos Negócios Estrangeiros afirmou que o executivo de Naftali Bennett é «inteira e directamente» responsável pela escalada de violência na Margem Ocidental ocupada.

Forças israelitas de ocupação no campo de refugiados de Jenin 
CréditosAyman Noubani / WAFA

«A escalada israelita é uma tentativa de substituir a solução política negociada para o conflito por outras soluções […], que reflectem a negação de Israel dos direitos do povo palestiniano, o principal dos quais é o seu direito à autodeterminação», declarou este sábado o ministério, num comunicado citado pela WAFA.

A declaração seguiu-se à incursão dos militares israelitas no campo de refugiados de Jenin, à qual os palestinianos responderam. No decorrer dos confrontos, as forças de ocupação mataram um palestiniano e feriram outros 13, segundo referiu o Ministério palestiniano da Saúde.

As autoridades sanitárias informaram que o jovem assassinado, identificado como Ahmad Saadi, foi atingido com tiros no peito e na cabeça, falecendo de imediato. Dois dos feridos foram igualmente atingidos com fogo real e tiveram de ser submetidos a intervenções cirúrgicas.

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Forças israelitas prendem 22 palestinianos na Cisjordânia ocupada

Na noite de terça-feira e madrugada de quarta, as forças israelitas de ocupação prenderam 22 palestinianos em vários pontos da Margem Ocidental, incluindo na Porta de Damasco, em Jerusalém Oriental.

Palestiniano detido pelas forças de ocupação na zona de Bab al-Amoud ou Porta de Damasco, à entrada da Cidade Velha de Jerusalém 
Créditos / Al Mayadeen

Fontes oficiais comunicaram à agência WAFA que 12 pessoas foram detidas nas imediações de Bab al-Amoud, também conhecida como Porta de Damasco, à entrada da Cidade Velha de Jerusalém.

Desde o início do mês do Ramadão, milhares de palestinianos concentram-se ali e a Polícia israelita, fortemente armada, recorre a balas de aço revestidas de borracha, granadas atordoantes e bastões para os dispersar.

Além disso, veda o acesso a várias ruas das imediações e acossa os transeuntes, por vezes espancando-os com grande violência, gerando confrontos repetidos.

A WAFA refere que, no Bairro de Beit Hanina, também em Jerusalém, foram presos outros dois palestinianos,

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«Não consigo dormir»: o trauma dos raides israelitas em casas palestinianas

Partindo de um relatório recente sobre a questão, um jornalista do Activestills aborda as invasões das casas de palestinianos pelo Exército israelita, a sua natureza arbitrária e os danos psicológicos que geram.

Um palestiniano examina os estragos causados na sua casa após um raide nocturno israelita na aldeia de Salem, perto de Nablus, na Margem Ocidental ocupada, em Agosto de 2015
Créditos / activestills.org

Oren Ziv, fotojornalista e membro fundador do colectivo de fotografia Activestills, conta que há cerca de uma década se juntou a activistas israelitas na aldeia palestiniana de Asira al-Qibliya, na Margem Ocidental ocupada, localizada perto de Yitzhar, um posto avançado militar israelita que se viria a tornar um colonato nos anos 80.

«Chegámos poucas horas depois de os colonos terem assaltado a aldeia, atacado os residentes palestinianos e vandalizado as suas propriedades. Temendo que os colonos pudessem regressar, alguns residentes pediram-nos que ficássemos durante a noite», relata.

Os colonos não voltaram, mas, perto das duas da manhã, soldados israelitas invadiram a aldeia, avançando de uma casa para outra. «Acordámos com o som de batidas fortes na porta de metal da casa em que estávamos. Os soldados, que se mostraram surpreendidos ao encontrar israelitas numa aldeia palestiniana, juntaram-nos a todos, incluindo crianças, no jardim e realizaram um "interrogatório" rápido a cada pessoa», conta.

«ao não existir um procedimento oficial para as buscas domiciliárias na Cisjordânia ocupada, isto significa que, para o Exército israelita, qualquer casa palestiniana é um alvo legítimo a dado momento»

Os soldados foram «misericordiosos» com aquela família palestiniana, mas na casa ao lado reviraram tudo e tiraram de lá todos os pertences. «Cerca de uma hora depois, os soldados voltaram para os jipes militares e desapareceram na noite. Não apresentaram qualquer mandado de busca, nem deram qualquer explicação para o raide», diz Ziv.

Estas invasões militares de casas, que estão associadas à violência da ocupação de Israel, foram o tema de um estudo publicado recentemente, no final de Novembro, pelas organizações de direitos humanos Yesh Din, Breaking the Silence e Physicians for Human Rights-Israel (PHRI).

O relatório centra-se nos efeitos que estas operações têm na saúde mental dos palestinianos e no modo como, para lá dos objectivos declarados pelo Exército israelita, estas invasões se tornaram em si mesmas um objectivo. O jornalista denuncia que, ao não existir um procedimento oficial para as buscas domiciliárias na Cisjordânia ocupada, isto significa que, para o Exército israelita, qualquer casa palestiniana é um alvo legítimo a dado momento.

O estudo, intitulado «Uma vida exposta: invasões militares de casas palestinianas na Cisjordânia», baseia-se em 158 testemunhos de palestinianos cujas casas foram invadidas nos últimos anos; 31 entrevistas realizadas a famílias palestinianas afectadas, por especialistas na área da Saúde; e entrevistas a 40 soldados israelitas e cinco oficiais que participaram nestas operações.

«"Embora os israelitas tenham menos conhecimento deste fenómeno do que dos postos de controlo ou das demolições de casas, muitos palestinianos nascem e crescem numa realidade em que os soldados armados assaltam habitualmente as suas casas"»

Em 88% dos casos documentados no estudo, as famílias palestinianas afirmaram que os soldados as obrigaram a juntar-se numa só divisão, ou separaram os seus membros por diversas divisões, onde os mantiveram sob vigilância. Em 30% das invasões referidas, os palestinianos informaram que os soldados os ameaçaram com violência, e em 25% dos casos os palestinianos disseram que os soldados recorreram à força ou violência física contra um membro da família. Das famílias entrevistadas, 64% disseram que as suas casas foram invadidas mais que uma vez. Das invasões registadas, 88% tiveram lugar entre a meia-noite e as cinco da manhã.

«As invasões militares a casas palestinianas [na Cisjordânia ocupada] são das operações mais comuns e rotineiras sob a ocupação israelita», disse Ziv Stahl, directora do departamento de investigação da Yesh Din, que também trabalhou no relatório. «Embora os israelitas tenham menos conhecimento deste fenómeno do que dos postos de controlo ou das demolições de casas, muitos palestinianos nascem e crescem numa realidade em que os soldados armados assaltam habitualmente as suas casas», continuou. «É um instrumento violento e repressivo que se tornou fundamental para o mecanismo de controlo de Israel sobre os palestinianos», disse.

Uma demonstração de força

Os objectivos declarados destas invasões militares são realizar buscas, detenções ou recolher informação (mapping), mas os testemunhos registados descrevem uma realidade muito diferente. De acordo com as declarações dos soldados, o objectivo implícito destas operações é o que se descreve em coloquialismo militar como «demonstração de força» e «criar um sentido de perseguição». Visam dissuadir as pessoas, comunidades inteiras, de participar em actividades políticas que se opõem à ocupação.

«[estas operações] visam dissuadir as pessoas, comunidades inteiras, de participar em actividades políticas que se opõem à ocupação»

Um sargento israelita disse à Breaking the Silence que o «propósito principal é a dissuasão», sublinhando que a ideia é mostrar que o Exército israelita «está ali» e «pode entrar na sua casa a qualquer momento». Ao ser questionado se entravam em casas ao acaso, o soldado disse: «Absolutamente, é completamente um [jogo de] um-dó-li-tá».

Um dos pontos centrais do estudo é que, com base na lei militar, não há mandados judiciais nestas invasões, o que significa que também não estão sujeitas a qualquer revisão ou escrutínio judicial. Qualquer oficial ou soldado por ele autorizado têm o poder de ordenar uma invasão de uma casa na Cisjordânia ocupada.

Em Março, a Yesh Din, a PHRI e seis famílias palestinianas solicitaram ao Tribunal Superior de Israel que os militares cessassem as invasões e as buscas em casas palestinianas sem mandado judicial, excepto em casos urgentes. O tribunal decretou que deve ser o Estado a determinar se pode revelar os seus procedimentos confidenciais sobre invasões domiciliárias.

O propósito da petição é obrigar Israel a criar um mecanismo através do qual se possam autorizar as buscas domiciliários, refere Michael Sfard, assessor legal da Yesh Din e da Breaking the Silence. «Mesmo que seja apenas uma formalidade, o facto de haver um processo burocrático já é um avanço», explica. «Ocasionalmente, haverá um juiz que levará este proceso a sério», frisa.

«Os palestinianos estão a viver um trauma colectivo»

O relatório também examina o impacto psicológico dos raides israelitas nos palestinianos. Os adultos cujas casas foram invadidas reportam sintomas de perturbação de stress pós-traumático e ansiedade, incluindo perturbações do sono e hiperactividade. Por seu lado, as crianças e os adolescentes mostram maior dependência dos pais e um comportamento agressivo, além dos sintomas revelados pelos adultos, revela o texto.

«"os palestinianos estão a viver um trauma colectivo como resultado da ocupação em curso [...] As consequências negativas para a saúde mental estão entre as mais altas do mundo"»

«Não consigo adormecer antes da 1h ou 2h», diz RS, uma mulher da cidade de Sinjil, no Norte da Cisjordânia ocupada, citada no relatório. «Começo a ruminar e, mal ouço um barulho, espero os militares», acrescenta. «Às vezes, não muitas, sonho que eles vêm para levar o meu marido e que ele foge. Agora, fico a pensar até às 2h30 – 3h, e depois acalmo um pouco, assim que passa o tempo em que eles são esperados», diz.

De acordo com Jomanah Milham, psiquiatra e voluntária da PHRI, «as invasões militares de casas, habitualmente acompanhadas por violência verbal ou física, são uma experiência ameaçadora e podem causar perturbação de stress pós-traumático». Ela refere que os sintomas desta perturbação podem incluir flashbacks, pesadelos, perturbações do sono e estado de alerta excessivo.

«se os palestinianos apresentam uma queixa, o aparelho interno do Exército israelita justifica retroactivamente os danos à propriedade causados durante as buscas domiciliárias. Portanto, as investigações sobre vandalismo são encerradas sem que um só soldado seja julgado»

«As conclusões [do estudo] são consistentes com as de muitos outros estudos, que mostram que os palestinianos estão a viver um trauma colectivo como resultado da ocupação em curso», acrescenta Milham. «As consequências negativas para a saúde mental estão entre as mais altas do mundo», sublinha.

De acordo com o relatório, se os palestinianos apresentam uma queixa, o aparelho interno do Exército israelita justifica retroactivamente os danos à propriedade causados durante as buscas domiciliárias. Portanto, as investigações sobre vandalismo são encerradas sem que um só soldado seja julgado, e a procuradoria militar rejeita a queixa sem abrir qualquer investigação penal.

O relatório revela que todas as queixas apresentadas pelos palestinianos desde 2008 – com a ajuda da Yesh Din – relativas a danos à propriedade foram arquivadas sem que tenha havido qualquer acusação.

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A sul da cidade de Qalqiliya, os soldados prenderam um menor, de 15 anos de idade, informa a mesma fonte, dando conta de vários raides no distrito de Jenin e da detenção de três ex-presos.

As forças israelitas levam a cabo estas operações de busca e captura num registo praticamente diário, quase sempre de madrugada. Alegando que «procuram» palestinianos, invadem as casas sem mandado de detenção onde e sempre que lhes apetece.

São frequentes os confrontos com os residentes palestinianos, os mais de três milhões que vivem na Margem Ocidental ocupada e que, lembra a WAFA, ficam completamente à mercê da autoridade militar que lhes é imposta pelos comandantes israelitas.

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O raide levado a cabo pelos militares israelitas este sábado contra a cidade de Jenin e o seu campo de refugiados visou sobretudo a residência da família de Raed Hazem, palestiniano que na quinta-feira passada atacou e matou três israelitas e feriu mais de uma dezena em Telavive.

Hazem foi morto a tiro pelas forças israelitas, perto de Jaffa, horas depois de ter realizado o ataque em Telavive. Ainda assim, os militares cercaram a casa dos familiares de Raed Hazem e intimaram-nos a sair e a entregar-se, segundo revelaram testemunhas à WAFA.

A mesma fonte refere que não estava ninguém em casa e que elementos do Exército começaram a tomar medidas para levar a cabo a demolição do edifício, seguindo o procedimento habitual da «punição colectiva» contra os familiares de atacantes.

Guerra «sem limites»

Na sexta-feira, horas depois do ataque em Telavive, o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, afirmou que «não há e não haverá limites para esta guerra».

Igualmente em tom inflamado, refere a PressTV, acrescentou que o Exército teria «total liberdade de acção», assim como o Shin Bet (serviço de segurança interna israelita) e as restantes forças de segurança.

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«Venceremos»: a história rebelde de Jenin contada pelos mais velhos

Vários habitantes desfiam memórias de resistência na cidade, onde histórias familiares e revolução andam de mãos dadas – a terra esteve na luta muito antes de seis palestinianos terem saído de uma prisão de alta segurança escavando um túnel com colheres.

Khadra Abu Sariyyi, agora com 84 anos, perdeu a casa da família no acampamento de Jenin duas vezes, demolida pelo Exército israelita 
CréditosMohammad Ateeq / MEE

Desde a invasão do exército de Napoleão Bonaparte até aos tiroteios recentes entre jovens armados locais e as forças de ocupação israelita, os habitantes da cidade do Norte da Cisjordânia falam com orgulho do seu histórico desafio.

«Cresci a ouvir a história heróica do meu tio-avô, Farhan al-Saadi e [Izz al-Din] al-Qassam, que espalharam as sementes da resistência e inspiraram a geração seguinte em Jenin, incluindo eu», disse Bassam al-Saadi, agora com 61 anos, ao jornalista Fareed Taamallah, do Middle East Eye (MEE).

Tal como as lembranças de Saadi, as histórias familiares que os residentes mais velhos partilham desenham um longo legado de luta contra a opressão e a ocupação que persiste na actualidade.

Jenin encontra-se na base das colinas escarpadas de Nablus, as Jabal an-Nar ou «as montanhas de fogo», como foram chamadas depois de os seus habitantes terem incendiado olivais e florestas para travar o avanço dos soldados franceses em 1799.

Quando os franceses ganharam a batalha, Napoleão ordenou aos seus soldados que queimassem e saqueassem Jenin, como represália pela ajuda aos otomanos.

A cidade de Jenin vista do acampamento de Jenin, hoje / Mohammad Ateeq / MEE

O tio revolucionário

Mais de um século passado, em Setembro de 1918, Jenin foi capturada por aliados britânicos, durante a Primeira Guerra Mundial, ficando sob domínio das autoridades do Mandato Britânico, tal como o resto da Palestina.

Foi neste período, em 1935, que Izz al-Din al-Qassam, um pregador muçulmano e «dirigente» social, organizou a primeira resistência armada palestiniana contra os britânicos na região de Jenin.

Em 1936, Jenin era um centro da rebelião contra as autoridades britânicas, liderada pelo amigo de Qassam, e tio-avô de Bassam al-Saadi, Farhan al-Saadi. Este, natural de uma aldeia próxima de Jenin, participou em manifestações contra os britânicos e no levantamento de al-Buraq, em 1929, que foi um confronto entre muçulmanos e judeus pelo acesso a um lugar sagrado em Jerusalém e que alastrou a todo o país.

Os dois homens tinham-se conhecido anos antes de que as autoridades britânicas metessem na cadeia Farhan al-Saadi, entre 1929 e 1932. «A minha mãe disse-me que viu al-Qassam visitar o meu tio-avô na sua casa, na aldeia de Almazar», disse Saadi ao MEE.

«Mas quando saiu da prisão, juntou-se a al-Qassam, que encontrou entre os camponeses de Jenin uma incubadora popular para a sua revolução», referiu.

Bassam al-Saadi conversando com o jornalista Fareed Taamallah, do MEE / Mohammad Ateeq / MEE

Meses antes do início da revolta árabe contra o Mandato Britânico, que apelava à independência palestiniana e ao fim da imigração judaica sem limites, al-Qassam foi morto num tiroteio com a polícia colonial britânica.

Mas Farhan al-Saadi continuou. No dia 15 de Abril de 1936, o seu grupo fez uma emboscada a um autocarro na estrada Nablus – Tulkarem, perto de Jenin. Dois passageiros judeus foram mortos como vingança pela matança de palestinianos por organizações judaicas, um incidente visto como o ponto de partida da revolta.

Bassam al-Saadi disse que a sua mãe era uma adolescente quando o seu tio-avô foi preso na casa da sua família, em 1937. Foi executado em Novembro desse ano, com 75 anos, mas a rebelião em Jenin continuou.

Em 1938, um dia depois de um alto comandante britânico ter sido assassinado no seu gabinete em Jenin, uma grande força britânica entrou na cidade com explosivos e dinamite, fazendo explodir aproximadamente um quarto da urbe.

A revolta terminou em 1939, quando os funcionários do Mandato Britânico emitiram um livro branco com a promessa de travar a imigração judaica para a Palestina, já com a maior parte dos líderes revolucionários palestinianos assassinados ou presos.

Reconstrução com lama e pedra

Em 1948, depois de Israel ter declarado a independência e milhares de palestinianos terem sido assassinados ou expulsos ​​de suas casas, por grupos paramilitares judaicos, o Exército israelita ocupou brevemente Jenin.

A cidade podia ter tido a mesma sorte que a cidade vizinha de Haifa, que foi ocupada por Israel e cujos residentes árabes foram expulsos. A maior parte dos residentes de Jenin viu-se obrigada a fugir, sob o intenso bombardeamento da sua cidade.

Mas, em vez de ser ocupada, Jenin foi defendida pelo Exército iraquiano e por voluntários palestinianos, incluindo Mohammad Qasrawi, da aldeia de Burqin, perto de Jenin. Agora, com 96 anos, Qasrawi falou sobre a «grande batalha» entre o Exército iraquiano e a milícia judaica.

Mohammed Qasrawi, de 96 anos, fala sobre a «grande batalha» entre o Exército iraquiano e as milícias judaicas, nos anos 40 / Mohammad Ateeq / MEE

«Muita gente morreu, incluindo três amigos meus, que enterrámos com os mártires iraquianos no cemitério de Al-Shuhada, mas ganhámos a batalha e derrotámos os bandos», disse.

Em 1949, Jenin ficou sob domínio jordano e, no início dos anos 50, foi criado o campo de Jenin, para albergar os palestinianos deslocados que haviam sido expulsos ​​durante a guerra de 1948 entre Israel e os países árabes.

O campo, localizado nos arrabaldes ocidentais de Jenin, tornou-se mais tarde um bastião da resistência à ocupação israelita.

Khadra Abu Sariyyi, de 84 anos, lembra-se de quando as milícias sionistas destruíram a aldeia de Zare'en, sua terra natal, forçando a sua família a viver como refugiados no acampamento de Jenin.

«Construímos uma casa de pedra e lama», disse, falando num acampamento onde ainda vive e onde a casa da sua família foi demolida duas vezes.

«O meu irmão Hassan, que foi um dos revoltosos contra os britânicos e se envolveu na revolução, foi morto a tiro, em 1969, por militares israelitas, que depois levaram o seu corpo», disse. Nunca foi devolvido à família. Até hoje, não sabem onde está enterrado.

Bassam al-Saadi também se lembra do tempo que passou no acampamento de Jenin, depois de os seus pais terem fugido da aldeia de Almazar, também arrasada por milícias judaicas, quando conta as histórias do seu tio-avô e de Qassam.

«A esperança deles era voltar»

Jenin caiu sob domínio israelita depois da guerra de 1967, o que levou muitos jovens locais, como Jamal Zobaidi, a juntar-se à resistência contra a ocupação.

Zobaidi, agora com 65 anos, disse que ele e a sua família, juntamente com muitos outros palestinianos, fugiram do acampamento de Jenin para as montanhas durante a guerra, para escapar aos bombardeamentos contínuos.

«A sua esperança era voltar às suas aldeias, mas, em vez disso, acabaram por regressar ao acampamento», disse Zobaidi, que lutou contra a ocupação palestiniana com recurso a actividades pacíficas nas décadas de 1970 e 1980. Foi preso seis meses sem acusações ou julgamento em 1987. A sua casa, disse, foi uma de várias que que o Exército israelita demoliu como punição colectiva.

Jamal Zobaidi / Mohammed Ateeq / MEE

Em Dezembro de 1987, quando rebentaram os protestos contra a ocupação israelita na Cisjordânia e em Gaza, os habitantes de Jenin resistiram. Joma'a Abu Jabal, de 54 anos, nascido no acampamento de Jenin depois de a sua família ter sido expulsa de Lid al-Awadeen, uma terra perto de Haifa onde viviam em 1948, lembra-se bem.

«O Exército israelita com jipes blindados não conseguiu invadir o acampamento durante 60 dias devido à feroz resistência», disse ao MEE. O irmão de Abu Jabal, Isam, foi morto a tiro por um franco-atirador israelita, quando o Exército acabou por entrar no campo, em Fevereiro de 1988.

Abu Jabal foi preso mais de dez vezes pelo Exército israelita entre 1987 e 2020, sendo acusado de pertencer ao Hamas. Passou, no total, mais de cinco anos na prisão e agora trabalha na construção.

A invasão de Jenin

Durante a segunda Intifada, o Exército israelita atacou o acampamento de Jenin no âmbito daquilo que foi designado como Operação Escudo Defensivo.

Em Abril de 2002, o Exército israelita cercou o acampamento, cortou-lhe a água, o acesso a alimentos e a electricidade, impedindo ainda a entrada de pessoal médico antes de o bombardear com aviões F-16 e artilharia.

A operação provocou a morte de dezenas de palestinianos e a destruição de dezenas de casas, além de milhares de deslocados, tornando-se um símbolo importante da opressão israelita e da resistência palestiniana.

Durante a invasão, Joma'a Abu Jabal estava a guardar comida e a distribuí-la aos residentes no acampamento quando um soldado israelita o atingiu na perna com uma bala explosiva que lhe desfez a rótula.

Joma'a Abu-Jabal, a quem as forças israelitas destruíram uma rótula usando uma bala explosiva / Mohammad Ateeq / MEE

Manteve-se escondido numa casa abandonada quatro dias, com as feridas a sangrarem, para evitar ser preso. No entanto, quando os militares israelitas invadiram o acampamento, levaram-no detido e mantiveram-no na cadeia seis meses.

«Levaram-me para a prisão, onde me deixaram a sangrar até o pé ficar infectado. Submeteram-se a interrogatórios e torturas batendo-me no pé ferido», disse. «Internaram-me num hospital, onde me amputaram a perna sem minha autorização», acrescentou.

Nessa mesma invasão, Jamal Zubaidi, de 65 anos, ficou encurralado em sua casa com 14 membros da sua família. A casa já tinha sido demolida na primeira Intifada.

«Os aviões israelitas bombardearam a nossa casa com três mísseis, transformando-a em escombros pela segunda vez, mas sobrevivemos milagrosamente», disse.

Embora a família de Zubaidi tenha sobrevivido ao bombardeamento, a operação foi devastadora noutros aspectos. A sua mãe, Sameera, foi morta a tiro pelas tropas israelitas pouco antes da invasão, em Março. E mataram o seu irmão Taha no mês seguinte, revelou.

A sua casa seria parcialmente demolida pela terceira vez em 2004, quando as tropas israelitas andavam à procura do seu irmão Zakariyya. Figura conhecida da resistência e ex-comandante das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, Zakariyya foi um dos seis prisioneiros que escaparam da prisão de Gilboa, em Israel, no início deste mês, antes de ser capturado.

Estava na cadeia desde 2019, acusado de participar em actividades armadas contra Israel, anos depois de aceitar baixar as armas, em 2007.

Três outros irmãos de Zubaidi também estão da cadeia por participarem nas actividades da resistência, principalmente em grupos ligados à Fatah: Yahya há 17 anos, Jibreel há 13 e Dawood há 20.

Hoje, o acampamento de Jenin é ainda um dos focos de resistência contra a ocupação israelita, e um local pouco comum, onde existe unidade entre todas as facções palestinianas, incluindo a Fatah e o Hamas.

«Estamos unidos na luta, e a divisão não é tanto entre as facções da resistência como entre a resistência e os inimigos da resistência», disse Abu-Jabal. «Mas havemos de ultrapassar isso.»

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Tudo isto ocorre num contexto de provocações e ataques constantes por parte dos colonos israelitas contra a população palestiniana, com a conivência do Exército, em vários pontos da Cisjordânia ocupada.

Igualmente no quadro da tensão crescente na Bab al-Amoud ou Porta de Damasco, em Jerusalém, onde há uma semana a Polícia reprime de forma brutal as concentrações dos palestinianos.

«Não existe alternativa a uma solução negociada do conflito, com base no direito internacional e nas suas resoluções», insiste o governo da Autoridade Palestiniana, sublinhando que as imposições de Israel estão destinadas ao fracasso.

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Entretanto, as várias facções da resistência têm lançado avisos repetidos de que poderão responder a esta violência, num contexto que faz lembrar o de Abril/Maio do ano passado.

Ontem, as facções palestinianas em Gaza declararam uma «mobilização popular geral» em todas as localidades onde haja palestinianos, tanto «na diáspora como nos territórios ocupados», informa a Al Mayadeen.

Em comunicado, afirmaram que decidiram manter o gabinete conjunto de operações em sessão permanente «para seguir os desenvolvimentos e tomar as medidas necessárias», acrescenta a fonte.

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Segundo indica a WAFA, Mahmoud Aram, proveniente da Faixa de Gaza, foi morto a tiro, ontem à tarde, perto do posto de controlo militar de Jbara, nas imediações de Tulkarem, ao tentar passar o muro de separação.

Um outro palestiniano, Mutasem Mohammad Atallah, de 17 anos, foi morto a tiro, ontem à noite, no interior do colonato ilegal de Tekoa, nas imediações de Belém.

Ainda no domingo, segundo aponta a PressTV, um terceiro jovem palestiniano foi morto por soldados israelitas na Bab al-Amoud, conhecida como Porta de Damasco, em Jerusalém Oriental, alegando que levava uma faca e tentou atacar um militar israelita.

Recorde-se que, a anteceder o mês do Ramadão e ao longo desse período, as forças israelitas promoveram a escalada de violência na Margem Ocidental ocupada e em Jerusalém Oriental, nomeadamente na zona da Bab al-Amoud, na Cidade Velha e na Mesquita de al-Aqsa.

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O mesmo aconteceu com a generalidade dos jornalistas desses países que, em boa verdade, há muito se despediram do jornalismo, se é que alguma vez o frequentaram.

O próprio Sindicato dos Jornalistas em Portugal não arranjou mais do que meia dúzia de linhas para noticiar burocraticamente a morte de Shireen, limitando-se, muito circunspectamente, a informar que «foi baleada» e «em serviço». E que venha o «inquérito internacional independente», sabendo-se muito bem que tal não existirá. Missão cumprida.

Em boa verdade, o assassínio de Shireen foi um episódio, apenas mais um, de uma extensa tragédia de décadas a que os palestinianos chamam Nakba, a catástrofe. Um drama alimentado não apenas para impedir que os palestinianos tenham acesso ao exercício dos seus direitos nacionais, cívicos e humanos mas também, em última instância e conhecendo-se a essência do sionismo, para consumar a eliminação do próprio povo palestiniano.

Resoluções sobre resoluções da ONU, declarações e mais declarações dos sucessivos dirigentes das grandes, médias e pequenas potências, entre elas as mais civilizadas de todas, vários acordos de paz para rasgar e centenas de reuniões de negociações a fingir não têm travado a marcha da Nakba através de 74 anos assinalados agora. A chamada «comunidade internacional» convive muito bem com a Nakba. A hipocrisia da casta dirigente mundial – e de grande parte das nacionais – não tem limites.

A Nakba é a mais criminosa, prolongada e sistemática limpeza étnica dos nossos tempos. O meticuloso extermínio de um povo: chacinas e expulsões em massa; desaparecimento do mapa de centenas de cidades, vilas e aldeias e destruição arbitrária de habitações; confinamento em campos de refugiados eternos e mesmo em campos de concentração, como acontece em toda a Faixa de Gaza; assassínios selectivos, muros que separam núcleos habitacionais, familiares e propriedades; roubo de bens, colonização por imigrantes sionistas de territórios de onde são expulsos os habitantes com raízes seculares, humilhações, perseguições, meios de repressão e controlo que tornam impossível a circulação das pessoas, mesmo para ir trabalhar; condenação ao desemprego, tortura, detenções perpétuas sem julgamento, assassínio e prisão de crianças e adolescentes – a lista de crimes sionistas alegadamente para garantir a «existência» e a «segurança» do Estado de Israel é infinita.

«O próprio Sindicato dos Jornalistas em Portugal não arranjou mais do que meia dúzia de linhas para noticiar burocraticamente a morte de Shireen, limitando-se, muito circunspectamente, a informar que "foi baleada" e "em serviço".»

E o mundo assiste, impávido, à negação mais absoluta de todos os princípios e valores que se pregam a cada passo e que, por sinal, chegam a ser invocados por quem gere o planeta para justificar outras atrocidades. Afinal há uma lógica perversa e totalitária em tudo isto e estamos a ser vítimas dela, cercados por um ambiente de intimidação poucas vezes atingido.

Os palestinianos contam apenas com eles próprios para resistir ao extermínio organizado. E também com a solidariedade de cidadãos e organizações corajosas tratadas como párias ou lunáticas pelos meios dominantes – governos e comunicação social.

Ao contrário, o Estado de Israel é um parceiro de excelência da NATO, tem acordos preferenciais com a União Europeia, as suas embaixadas usufruem do direito a barricar ruas – visitem o colonato da Rua António Enes em Lisboa – a sua polícia política sobrepõe-se a polícias nacionais, está imune a sanções, participa em todos os acontecimentos culturais e desportivos internacionais, chegando mesmo a organizá-los. Há casos em que o crime compensa. E assim exemplificam-se muito bem as regras em que assenta a «ordem internacional baseada em regras».

Apesar de tudo isto, os palestinianos teimam em resistir e continuar a existir. «Uma história gloriosa foi apagada; as pessoas não conhecem a longa e impressionante história desta terra», lamenta Miko Peled, cidadão israelita natural de Jerusalém, filho de um general que se distinguiu em grandes campanhas sionistas, mas que tem a honestidade intelectual e humanista para compreender a realidade em que vive e na qual os palestinianos estão presentes. «Esta terra era a Palestina, é a Palestina e será sempre a Palestina», assegura. O contrário, afinal, da tese mistificadora do pai do sionismo, Theodor Herzl, quando proclamou a ideia de «uma terra sem povo para um povo sem terra». Esvaziar a Palestina do seu povo original continua a ser, como se percebe, a meta do apartheid sionista quase 140 anos depois de ditada a máxima herzliana.

O povo palestiniano continua, porém, do lado da história, mesmo desamparado pelos senhores do mundo, tão modernistas nas suas arengas cada vez mais ocas mas tão anacrónicos e retrógrados, mesmo que imersos na «transição digital».

Abu Shireen Akleh fazia por contar a história incómoda que os poderes planetários querem apagar das vistas e das consciências dos cidadãos. Pagou com a vida essa ousadia, tal como milhões vêm pagando, década após década, por quererem viver libertos da canga dos opressores que não conhecem fronteiras. São três milhões na Palestina e mais de sete milhões de refugiados (estes refugiados existem há mais de setenta anos!) que não desistem dos seus direitos enquanto quase tudo em volta, na prática, não os reconhece.

Porém, haverá sempre uma Shireen que, contra a corrente de grande parte dos seus companheiros de profissão e contra as balas teleguiadas pelos oligarcas e respectivos amanuenses que ditam as regras de uma intimidante verdade paralela, continuarão a manter vivo o direito aos seus direitos.

Outras e outros continuarão a «trazer a voz das pessoas para o mundo», como fazia Shireen. Mesmo para os que não a querem ouvir.

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