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ONU reconhece governo de Maduro como legítimo representante da Venezuela

O embaixador venezuelano junto das Nações Unidas, Samuel Moncada, destacou o reconhecimento, afirmando que se trata de uma «vitória» contra «as agressões coloniais dos EUA».

Centenas de milhares de venezuelanos encheram as ruas de Caracas, a 23 de Fevereiro último, em resposta ao apelo do presidente Nicolás Maduro para uma grande marcha «em defesa da paz e da soberania»
Centenas de milhares de venezuelanos encheram as ruas de Caracas, a 23 de Fevereiro de 2019, em resposta ao apelo do presidente Nicolás Maduro para uma grande marcha «em defesa da paz e da soberania» Créditos

«Hoje, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o reconhecimento das credenciais do governo do presidente Nicolás Maduro como representante legítimo da Venezuela. Uma vitória do povo soberano contra as agressões coloniais dos Estados Unidos», sublinhou Moncada, esta segunda-feira, na sua conta Twitter.

O diplomata destacou o escasso apoio internacional a Juan Guaidó, membro da oposição que, a mando de Washington, se autoproclamou presidente interino do país sul-americano, em Janeiro de 2019, num acto que Caracas classificou como uma tentativa de golpe de Estado.

«Em 2019, o escravo colonial criado pelos EUA para saquear a Venezuela teve apoio de 60 países. Hoje na Assembleia Geral da ONU apenas 16 de 193 países se recusaram a reconhecer o presidente Maduro. É a vitória do direito internacional e da autodeterminação dos povos», disse ainda Samuel Moncada.

De acordo com a agência Associated Press, a resolução sobre o reconhecimento das credenciais dos representantes à 76.ª sessão da Assembleia Geral foi aprovada por consenso, mas com os Estados Unidos a distanciarem-se desse acordo geral no que respeita à aceitação das credenciais do governo da Venezuela liderado por Nicolás Maduro.

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«Na Venezuela os estadistas não se autoproclamam, nem são impostos por Washington»

A embaixadora da Venezuela na Bolívia afirmou que no seu país há um presidente eleito democraticamente, sublinhando que a direita, que não quis participar nas eleições, sem apoio, recorre ao golpismo.

Manifestação de apoio a Nicolás Maduro e em defesa da soberania, esta quarta-feira, 23 de Janeiro, em Caracas
Créditos / Twitter

Numa entrevista à Prensa Latina, Chris González, embaixadora da Venezuela na Bolívia, alertou para os planos intervencionistas dos Estados Unidos contra o seu país, em cumplicidade com aquilo que designou como «cartel de Lima» [em alusão ao Grupo de Lima].

«O mais terrível é [ver] como as aves de rapina se vão juntando à decisão tomada pelos EUA de intervir na Venezuela, de impor um golpe de Estado», afirmou a diplomata, frisando, ao mesmo tempo, que a administração norte-americana «mostra desespero», na medida em que «não tem uma oposição dentro da Venezuela capaz de juntar as pessoas, com o apoio da maioria».

Referindo-se à autoproclamação de Juan Guaidó – máximo representante do partido de extrema-direita Voluntad Popular, com ligações amplamente expostas a acções de grupos violentos em 2017 na Venezuela – como presidente interino do país, a embaixadora sublinhou a profunda ingerência por parte dos EUA.

«Foi o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que tomou a decisão de que, neste 23 de Janeiro, uma data tão importante para nós, se fizesse tamanha barbaridade», denunciou.

A este respeito declarou que «na Venezuela os estadistas não se autoproclamam, nem são impostos por Washington; temos um presidente eleito democraticamente», sublinhando que os venezuelanos «não darão o seu braço a torcer, pois ninguém lhes pode decretar, a partir do estrangeiro, um presidente anticonstitucional».

Uma manobra que pode incendiar a região

Chris González sublinhou os múltiplos perigos que esta «manobra» traz para a região, alertando que o propósito de Washington de controlar os recursos estratégicos de toda a zona Norte da América do Sul pode provocar «um incêndio» em vários países.

Lembrando o que «estes defensores da liberdade» fizeram na Líbia, no Afeganistão, na Síria – «onde fracassaram mas, à sua passagem, deixaram mais de 500 mil mortos e uma grande destruição material» –, a diplomata disse que «o mesmo pode acontecer na América Latina» e, por isso, fez um apelo aos povos, às organizações sociais e partidos políticos «para que travem esta manobra».

Venezuela corta relações diplomáticas com os EUA

Em resposta às pretensões da Casa Branca de impor um governo paralelo no país sul-americano, Nicolás Maduro anunciou, perante milhares de pessoas reunidas frente ao Palácio de Miraflores, em Caracas, a ruptura de relações diplomáticas e políticas com os EUA, tendo dado 72 horas a todo o pessoal diplomático e consular norte-americano para abandonar o país.

A decisão foi tomada num dia de grandes mobilizações anti-imperialistas, em Caracas e noutros pontos do país, em defesa da soberania e em apoio ao presidente da República, Nicolás Maduro. Este disse à direita «golpista, intervencionista que não se fie no império gringo; eles não têm amigos, têm interesses e ambições pelo petróleo, o gás e o ouro venezuelano».

«Peço a todo o povo da Venezuela que defenda activamente o direito à paz, à concórdia e à tranquilidade. Digamos não à guarimba (acções de violência política nas ruas) e ao golpismo», declarou o chefe de Estado, que instou também o povo «a manter-se unido e a não se deixar intimidar perante as tentativas constantes de agressão».

Guaidó, à frente de um órgão «em desobediência», autoproclama-se presidente

Nicolás Maduro, o presidente da República Bolivariana da Venezuela, eleito com 67,84% dos votos nas eleições realizadas em Maio de 2018, sublinhou que os EUA «dirigem uma operação para promover um golpe de Estado com um governo-fantoche» no país, já depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, ter reconhecido Juan Guaidó – actual presidente da Assembleia Nacional (AN) venezuelana – como o presidente interino do país sul-americano.


A AN venezuelana permanece em situação de «desobediência» perante o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) desde 2016, depois de ter juramentado, ilegalmente, três candidatos a deputados do Amazonas acusados de participar num processo fraudulento (compra de votos). O STJ declarou então que, enquanto a juramentação ilegal referida continuasse vigente naquela assembleia, todos os seus actos seriam considerados «nulos».

Ou seja, Juan Guaidó, que ontem se autoproclamou presidente interino da Venezuela, garantindo, nessa qualidade, que assumiria as competências do governo do país, não só não concorreu às eleições presidenciais – pertence à oposição que, em Fevereiro do ano passado, boicotou um acordo de convivência com o governo, após meses de negociações na República Dominicana –, como preside a um órgão cuja situação de «desobediência» se arrasta, actuando à margem da lei e da Constituição do país.

Guaidó «autoproclamou-se» no decorrer de uma marcha antichavista, convocada pela direita submissa aos interesses de Washington.

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Por seu lado, o representante da Colômbia falou em nome da Austrália, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, El Salvador, Equador, Estados Unidos, Geórgia, Guatemala, Honduras, Ilhas Marshall, Israel, Paraguai e Reino Unido, afirmando que o seu apoio à resolução «não devia ser interpretado como uma aceitação tácita do reconhecimento do governo de Nicolás Maduro ou dos seus representantes na assembleia».

Sobre o reconhecimento de ontem, na ONU, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Félix Plasencia, disse que se trata de uma «vitória contundente do direito internacional e uma bofetada contra a ingerência e a agressão imperialista».

«Um banho de realidade para quem insiste em dar oxigénio a uma fantasia política moribunda, com a intenção de continuar a lucrar com os activos roubados ao país», escreveu o diplomata na sua conta de Twitter.

Depois da autoproclamação de Guiadó numa praça de Caracas, milhares de milhões de dólares do país ficaram retidos no estrangeiro. O dinheiro depositado no Novo Banco, em Portugal, a companhia petrolífera Citgo, nos EUA, ou as reservas de ouro no Banco de Inglaterra estão entre os activos espoliados à Venezuela.

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