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Um vírus no cerne de grandes mudanças? (II)

Multinacionais e farmacêuticas pressionam os governos para serem subsidiadas com verbas chorudas e disporem de condições protegidas de investigação e desenvolvimento, à escala doméstica e universal.

Trabalhadores de um laboratório de detecção do coronavírus COVID-19, em Wuhan, na província de Hubei, China, a 22 de Fevereiro de 2020
CréditosCheng Min / Xinhua

Entretanto, as multinacionais e farmacêuticas continuam a pressionar cada vez mais os governos para serem subsidiadas com verbas chorudas para disporem de condições protegidas de investigação e desenvolvimento à escala doméstica e universal a preços proibitivos para os utentes dos serviços de saúde. Estão a tomar medidas para lucrarem chorudamente à custa das desgraças provocadas pela COVID-19.

Escolhendo, entre outros que pressionam esta corrente de opinião, dois professores de finanças da universidade de Stanford que recomendam a atitude da administração norte-americana quanto à procura de uma vacina contra a COVID-19, Hanno Lustig e Jeffrey Zwiebel, passamos a citar o seu raciocínio.

«Se queremos que uma vacina ou tratamento medicamentoso pare o coronavírus, o governo deve ignorar os que reclamam dos lucros das empresas farmacêuticas e deve comprometer-se com uma enorme recompensa que incentive mais empresas a desenvolvê-los. Não seria apenas salvar vidas. Isso poderia salvar a economia global».

(…) «Aqui está uma maneira simples de ver isso. Os gastos dos EUA em todo o sector de I&D farmacêuticos em 2020 foram projectados em 80 mil milhões de dólares – o equivalente a três semanas da perda anual da produção económica dos EUA – com apenas uma pequena fracção desse valor direccionada a doenças infecciosas. Em 1967, 26 empresas farmacêutica produziram vacinas, mas em 1980, só 17 o fizeram. Hoje apenas quatro realizam uma produção significativa hoje – GlaxoSmithKline, Merck, Pfizer e Sanofi Pasteur.

(…) O governo dos EUA, talvez trabalhando com outras pessoas, deve garantir um pagamento financeiro significativo a quem primeiro desenvolver uma vacina. Uma maneira de fazer isso seria comprometer-se com um preço alto por cada dose administrada de uma vacina ou terapia de tratamento eficaz. Como exemplo, se o governo dos EUA prometesse um preço de 190 dólares por dose administrada às empresas que garantissem a investigação e desenvolvimento, gastando um máximo de 62,5 mil milhões de dólares para vacinar ou tratar todos os cidadãos americanos, a sociedade teria recuperado o seu investimento.

(…) O governo poderia estimular ainda mais a colaboração, comprometendo-se com grandes prémios por ensaios clínicos bem-sucedidos, desde que as investigações fossem totalmente divulgadas. Se a União Europeia assumisse um compromisso semelhante com esse preço por dose administrada, os incentivos totais poderiam ser fortalecidos com outros 100 mil milhões de dólares».

A pretensão destes autores e das empresas prontas para a corrida de garantirem a exclusividade de direitos sobre as soluções genéticas encontradas, têm hoje, porém, sérios concorrentes quer quanto ao tratamento da doença quer no que respeita à criação da vacina.

Desde logo a China que desde o primeiro momento desenvolveu a investigação.

Outros países atingidos pela COVID-19 a estão a procurar desenvolver. São os casos dos EUA, da Alemanha, da França, Reino Unido, Rússia, Irão, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Austrália.

Os cientistas chineses isolaram, entretanto, vários anticorpos que consideram «extremamente eficazes» para impedir que o novo coronavírus penetre nas células humanas.

Zhang Linqi, membro da Universidade Tsinghua em Pequim, diz que o medicamento desenvolvido por anticorpos que sua equipe descobriu pode ser usado com mais eficácia do que as abordagens existentes, incluindo tratamentos a plasma, limitados por tipo de sangue de cada paciente.

No início de Janeiro, o grupo liderado por Zhang colaborou com outros médicos de Shenzhen para começar a testar anticorpos do sangue colhido de vários pacientes que tinham recuperado da COVID-19. Esses especialistas conseguiram isolar 206 anticorpos monoclonais que mostraram uma capacidade «forte» de se ligar às proteínas do coronavírus, conforme descrito por Zhang Linqi. Os investigadores realizaram um novo teste para verificar se eles poderiam impedir a entrada do vírus nas células: dos primeiros vinte ou mais anticorpos testados, quatro foram capazes de bloquear esse microrganismo e dois deles foram «extremamente bons» no fazê-lo. Neste momento, os cientistas liderados por Zhang estão focados na identificação de anticorpos mais poderosos para os combinar para atenuar o risco de o vírus sofrer mutação – o SARS-CoV-2 é o nome do vírus, portanto do género masculino, a COVID-19 é a doença que gera, portanto de género feminino.

Zhang Linqi, que publicou as suas descobertas on-line, espera que os anticorpos possam ser testados em humanos dentro de seis meses.

Nesta passada terça-feira, o ministério da Defesa da China anunciou que foi desenvolvida «com êxito» uma vacina contra o novo coronavírus e que a mesma recebeu luz verde para entrar em fase de testes em humanos. A vacina terá sido desenvolvida pela empresa CanSino Biologics Inc. em parceria com a Academia Militar de Ciências. Segundo a Bloomberg, a CanSino Biologics explicou em comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, na passada quarta-feira, que ia começar a fase de testes em Wuhan, o epicentro de toda esta contaminação que, à escala mundial, registava mais de 190 mil infectados e 7800 mortos a 18 de Março, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A epidemiologista Chen Wei foi escolhida para liderar a equipa multidisciplinar que criou um produto que pode muito bem só vir a ser «utilizável» daqui a um ano — de novo sugerindo a impossibilidade de se chegar a uma cura ainda em 2020.

Também em França foram anunciados os primeiros ensaios bem-sucedidos do tratamento com coronavírus baseado em drogas. Se tudo correr bem, esses anticorpos serão produzidos em massa para testes, primeiro em animais e depois em humanos. O grupo de especialistas fez uma parceria com a biotecnológica chinesa-americana Brii Biosciences para «propor múltiplos candidatos» para «uma intervenção profilática e terapêutica», disse a empresa.

A Big Pharma, através de um dos seus laboratórios em Paris, a Sanofi, tem confrontado a eficácia e os eventuais riscos do uso da cloroquina, utilizada por Didier Raoult, especialista reconhecido internacionalmente, quando este fármaco foi usado com êxito no tratamento da COVID-19 em França, na China, em vários países do sudeste asiático. Em França os stocks existentes foram roubados.

Claro que a Sanofi se prepara para registá-lo como um fármaco saído dos seus laboratórios e ter o exclusivo da sua venda a preços muito superiores aos preços baixos.

Sempre, mas sempre, o objectivo de atingir a China

Depois do exemplo da China ter provocado uma reacção internacional muito positiva, desde a forma de ataque pelas quarentenas impostas, a construção em três dias apenas de novos hospitais, a disciplina quase militar, as investigações e publicações respectivas partilhadas com as comunidades científicas de todo o mundo, agora tem sido o fornecimento de quantidades gigantescas de materiais médicos fundamentais para a contensão do vírus, acompanhados por médicos chineses como consultores para o combate contra a COVID-19 eem muitos países do mundo.

A China tem um estado fortemente centralizado, que se relaciona bem com as autoridades regionais das suas 23 províncias, cinco regiões autónomas, quatro cidades administrativas e duas zonas administrativas. E atacou o problema conduzindo uma grande operação militar para a qual estava preparada, mas que os países ocidentais não tinham preparado para poder ser montada em todos esses países.

Quanto a datas, em 26 de Dezembro vários médicos chineses identificaram o que lhes pareceria ser uma pneumonia muito séria, até então desconhecida.

Quatro dias depois, no dia 30, comunicaram isso ao organismo de estado competente e à OMS. E da China foi lançado um alerta geral para todo o mundo, tendo a OMS feito o mesmo, dizendo que uma nova doença se estava a espalhar pelo mundo.

Isto deita pela base a primeira acusação feita pelos EUA à China, mais tarde, de que a China tinha escondido ao mundo esse acontecimento.

No dia 8 de Janeiro os chineses já tinham sequenciado o vírus, que passou a ser designado por SARS-CoV-2, que deu origem ao nome da doença COVID-19. Os cientistas chineses passaram a publicar em 12 de Janeiro os primeiros estudos com base nos seus habitantes afectados pela nova doença.

E em 22 de Janeiro anunciaram os 50 novos infectados e 17 mortos, todos de Wuhan.

Nessa altura já se sabia que o vírus não teria sua origem no mercado de frutos do mar de Wuhan, como base em artigos científicos da China, de Taiwan e do Japão. Esta fake new baseou-se documentalmente na identificação falsa de um vídeo que circulou em todo o mundo – um grupo de chineses a comerem sopa de morcego – mas foi gravado em Palau, no Pacífico Sul, e não na China, onde este «petisco» é proibido.

Mas na China consideravam-se as consequências da decisão e foi mesmo instaurada uma quarentena rigorosa na província de Hubei, principal origem da produção e riqueza chinesas. No dia 23 de Janeiro os chineses decidiram encerrar Wuhan e Hubei. E em dois meses (!) sustiveram a expansão do vírus.

A partir do momento em que investigadores chineses conseguiram sequenciar o código genético deste SARS-CoV-2, em Fevereiro, essa informação foi distribuída pelo mundo inteiro e é com base nisso que os esforços internacionais para descobrir vacinas têm surgido.

No intervalo entre o alerta de 30 de Dezembro e as medidas vigorosas de quarentena de 23 de Janeiro, milhões de chineses viajaram de Wuhan para outros pontos da província e do país, tendo havido grande movimento em sentido contrário. E nessas viagens foi espalhado o vírus dentro do país e para vários países do sudeste asiático.

A mentira de que a China tinha escondido ou falseado informações quanto ao desenvolvimento da então epidemia, ficou desacreditada, mas algumas cabeças duras em Washington renovam ciclicamente a mentira para afectar o prestígio mundial que a China adquiriu neste combate e na ajuda em médicos, materiais de prevenção, testes e ventiladores.

Em 16 de Março Mike Pompeo acusou a China de «semear informações falsas e rumores absurdos» sobre a origem do novo coronavírus.

Em causa esteve a afirmação em 12 março do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, sugerindo que uma equipa de atletas do exército norte-americano teria introduzido o vírus em Wuhan, a cidade onde a pandemia se iniciou, quando ali se deslocou para os Jogos Militares Mundiais, realizados na cidade entre 18 e 27 de Outubro passado. Foram, de facto, cerca de 300 militares norte-americanos, que tinham treinado perto do Laboratório de Armas Biológicas das Forças Armadas dos EUA, em Fort Detrick (que fora fechado pelo CDC dos EUA, em Julho, devido a uma fuga de patógenos (organismos que são capazes de causar doença em um hospedeiro), que poderão ter-se desenvolvido após esse encerramento.

Estiveram hospedados num hotel de Wuhan a 300 metros do mercado dos frutos do mar. Os médicos registaram febres altas em alguns, que foram contagiando sucessivamente técnicos de hotelaria e feirantes do mercado, aonde se deslocaram. Os chineses informaram disso os norte-americanos, revelando a pista em solo chinês de uma doença que foi assinalada como uma gripe forte… Em troca, o governo chinês pediu aos EUA que revelasse qual tinha sido o seu «paciente número um» no seu território mas, até agora, «moita carrasco», ou seja, aqueles não respondem à questão, fragilizando a percepção de que este acontecimento possa ser acidental e reforçando suspeitas de que poderia ter sido propositado… Toda esta questão encontra-se desenvolvida num texto recente do professor visitante da Universidade Fudan de Xangai, Larry Romanoff.

Três países foram os grandes difusores da doença importada: China, Irão e Itália. Sabendo nós que a Itália aceitou integrar as rotas da seda que a China lançou, fica-nos a inquietação sobre se foi por acaso que esses três países ficaram naquela situação.

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