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Carlos Costa quer Novo Banco nas mãos de abutres

O governador do Banco de Portugal aposta na venda do Novo Banco a fundo abutre e diz-se satisfeito com o BCP e o BPI em mãos estrangeiras, em entrevista ao Público.

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Na segunda parte da entrevista ao Público, depois de ontem ter assumido que conhecia a delicada situação do Grupo Espírito Santo muito antes da falência do BES, Carlos Costa defendeu a recomendação de venda do Novo Banco ao fundo abutre Lone Star.

O regulador coloca a venda do sucessor do BES no quadro geral do sistema financeiro português: o capital do BCP está dividido entre a Fosun (China) e a Sonangol (Angola), e o BPI está nas mão do Caixabank (Espanha); restam as sucursais de bancos espanhóis (Santander Totta, Bankinter) ou angolanos (BIC). À excepção do Montepio Geral, banco nacional só o público: a Caixa.

Para o governador, o fundo abutre, especializado em comprar barato para vender rapidamente e com lucro, será um «accionista forte, que além disso assegura diversidade do ponto de vista de origem dos capitais». 

BES caiu perante passividade do Banco de Portugal

Na primeira parte da entrevista, publicada ontem, Carlos Costa assumiu que conhecia a situação de exposição das empresas do Grupo Espírito Santo ao BES desde o Verão de 2013, portanto, um ano antes da falência do banco. No entanto, remete o conhecimento total da situação do banco para uma semana antes da apresentação dos resultados do primeiro semestre de 2014, apresentando um prejuízo de 3,7 mil milhões de euros.

Uma reportagem de Pedro Coelho, emitida pela SIC na semana passada, mostrou documentos internos do Banco de Portugal alertando para a situação do banco, pelo menos desde Outubro de 2013. Até meados de Julho, poucas semanas antes da resolução do BES, o governador do Banco de Portugal assegurava a solidez do banco, tendo contribuído para o sucesso do aumento de capital de mil milhões de euros concretizado em Junho de 2014.

A argumentação que Carlos Costa apresenta centra-se na impossibilidade legal de retirar a idoneidade a um conjunto de administradores do BES, entre eles Ricardo Salgado. Na entrevista, vai mais longe e reclama «um acto de grande afirmação da independência», lembrando que disse aos banqueiros do BES, entre o final de 2013 e início de 2014, que «os senhores não têm idoneidade para continuar à frente de uma instituição».

Enquanto «pressionava» os administradores do BES à porta fechada, tendo em conta os elementos compilados pelos serviços do Banco de Portugal sobre os banqueiros, nomeadamente José Maria Ricciardi (que se manteve à frente do BES Investimento após a falência, hoje Haitong), Carlos Costa dizia aos microfones da imprensa que tudo estava bem na instituição financeira.

A fragilidade dos mecanismos de supervisão do sector financeiro é confessada pelo homem responsável pela sua concretização. O governador afirma que «foi mão humana que fez com que o BES caísse de um momento para o outro», ou seja, que existiu uma desvalorização do banco no período imediatamente anterior à saída de Ricardo Salgado e da família Espírito Santo da administração.

Costa confessa que foi possível provocar perdas através da fuga de mais de 3 mil milhões de euros em poucos dias, sem que o regulador sequer se apercebesse do que se estava a passar.

«Não é um problema de má gestão, é um problema da natureza da banca privada»

Em entrevista ao AbrilAbril, em Julho, Miguel Tiago denunciava esta situação. «O que o supervisor faz é, na prática, apresentar-se como um biombo que não deixa ver o que se passa dentro dos bancos e que, para fora, dá sempre a imagem de que está tudo bem. Não há um caso de um supervisor que tenha vindo dizer que há problemas num banco.»

O deputado comunista exemplifica: «O Banco de Portugal não consegue estar em todo o lado, não consegue estar num escritório de um banco quando alguém carrega na tecla enter para mandar 5 milhões de euros para um offshore.» Ou seja, «o sistema está feito para funcionar assim».

Ainda assim, Miguel Tiago denunciava que «as regras são insuficientes, os governadores, em geral, são negligentes, ou mesmo cúmplices com o que se passa dentro da banca». 

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