As mulheres têm salários inferiores aos dos homens em todas as profissões, em todos os países da Europa, desigualdade que se prolonga pela vida fora, com saídas precoces do mercado de trabalho, pensões baixas e maior risco de pobreza.
Estes e outros dados constam de um estudo divulgado hoje, e ao qual a agência Lusa teve acesso, da autoria de sete investigadores.
Em declarações à Lusa, a coordenadora do estudo salientou que uma das novidades desta investigação está no facto de trazer uma perspectiva prolongada no tempo, estudando três fases da vida, desde a infância e juventude (entre os 15 e os 29 anos), passando pela rush hour of life (dos 30 aos 49 anos) e terminando na fase tardia da vida activa (dos 50 aos 64 anos).
De acordo com Anália Torres, uma das constatações que «chocou perceber» foi que apesar de as mulheres serem, em média, mais escolarizadas do que os homens, entram no mercado de trabalho em desvantagem, ganhando salários mais baixos e com empregos mais precários, um fenómeno que em Portugal é «bastante acentuado».
Particularmente na rush hour of life, a «jornada de trabalho das mulheres é pesadíssima», com elas a acumularem horas do emprego com as horas de trabalho doméstico ou de assistência à família, sendo as mães portuguesas «as que mais trabalham na Europa».
«Em todos os países da Europa e em todas as profissões, as mulheres ganham menos do que os homens», constatou a coordenadora do Centro Interdisciplinar de Estudos de Igualdade de Género da Universidade de Lisboa.
Apesar de a rush hour of life ser a fase da vida em que os salários/hora são mais elevados, os homens e as mulheres portuguesas «são dos mais mal pagos no contexto europeu», sendo as mulheres «especialmente atingidas pelos salários baixos», já que «em todos os países analisados os homens têm um salário médio/hora superior ao das mulheres».
Olhando para a disparidade salarial, Portugal apresenta um valor inferior à média da União Europeia. Anália Torres destacou, por outro lado, que o fosso salarial entre homens e mulheres em Portugal atinge tanto os salários mais elevados como os mais baixos, havendo nos quadros dirigentes uma diferença salarial que ronda os 600 euros. «É brutal, é muito dinheiro, e nos salários baixos esta desigualdade é fortíssima», sublinhou Anália Torres.
O estudo constatou que as desigualdades se mantêm ao longo da vida e ao chegar à fase tardia da vida activa, as mulheres têm pensões mais baixas, consequência de terem descontado menos, já que tinham salários mais baixos. «A probabilidade de, no fim da linha, entrar na pobreza, é grande», salientou Anália Torres.
Tarefas domésticas não têm género
Para a coordenadora do estudo, para se conseguir acabar com as desigualdades é preciso primeiro ter consciência que elas existem, apontando que às vezes pode haver alguma resistência devido à ideia de que muita coisa mudou em relação ao passado.
«Acho que o estudo traz uma consciência real para perceber que de facto, apesar de muita coisa ter mudado, há ainda um longo caminho a percorrer», defendeu a investigadora.
Nesse sentido, deu como exemplo a família, apontando que tanto homens como mulheres deveriam ver os seus direitos reconhecidos de modo a poderem constituir família e cuidar dos filhos, acrescentando que as chamadas tarefas domésticas não têm género.
Sublinhou, por outro lado, que há uma «batalha» a fazer junto das empresas para a as convencer da necessidade de haver discriminação positiva, defendendo que também aqui haja quotas na distribuição dos cargos directivos.
A este propósito vale a pena realçar que o estudo é patrocinado pela fundação, dona do Pingo Doce, onde, no mês passado, os trabalhadores se concentraram junto à sede para exigir o fim das discriminações, horários dignos e o fim do banco de horas na empresa.
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