A reunião magna do Montepio Geral - Associação Mutualista (AM), que decorreu na noite passada, no Coliseu dos Recreios em Lisboa, ficou marcada pelas críticas à gestão da instituição pela actual administração liderada por Tomás Correia, que preside à instituição desde 2008.
Na sua intervenção, a que o AbriAbril teve acesso, o economista Eugénio Rosa pediu o afastamento da administração da AM, apontando a «destruição de valor e de confiança que já causou ao Montepio, pela sua cegueira e falta de competência que já deu provas, e pelo facto de ser arguido em vários processos». Para o candidato da lista C à presidência, nas últimas eleições, Tomás Correia «não é a pessoa capaz e adequada para inspirar confiança aos associados e para recuperar o Montepio».
Apesar de as contas consolidadas de 2015 e as contas individuais da AM de 2016 terem sido aprovadas por larga maioria, Eugénio Rosa lembrou os prejuízos de 754 milhões de euros e a perda de valor de 853 milhões entre 2013 e 2015 (os anos em relação aos quais estão publicadas contas consolidadas). A conta resulta da evolução da diferença entre o activo e o passivo, com uma redução dos capitais próprios totais (de todo o grupo Montepio, que inclui 20 empresas) de 883 milhões de euros para 30 milhões.
A empresa mais representativa do grupo Montepio, com maior peso nas contas da AM, é a Caixa Económica «onde está a maior parcela dos fundos, mais de 80%». O economista lembrou as decisões tomadas a partir de 2011 na Caixa Económica, então sob a direcção de Tomás Correia (lugar que abandonou apenas no ano passado), começando na compra do Finibanco por 341 milhões de euros pela AM, posteriormente transferido para a Caixa Económica através de um aumento de capital de 450 milhões.
Este processo iniciou uma alteração do modelo de gestão do banco, que passou a ser «um banco de empresas e, nomeadamente, de grandes empresas», afastando-se do seu «ADN original – banco de crédito à habitação, às famílias, às pequenas e médias empresas e às instituições da área social». O resultado, apontou Eugénio Rosa, foram imparidades totais de 1,6 mil milhões de euros entre 2012 e 2015, cerca de mil milhões de crédito não recebido e 718 milhões de prejuízos acumulados.
Para cobrir a situação criada na Caixa Económica, a AM recapitalizou-a com 720 milhões de euros de poupanças dos associados, a somar aos 450 milhões injectados aquando da compra do Finibanco.
Banco pode mudar de nome e ter capital aberto a outras instituições
Nas últimas semanas tem sido noticiado que o Banco de Portugal, que supervisiona a Caixa Económica, está a forçar a instituição financeira a alterar a sua designação, iniciando um processo que visa separá-la da AM. Em simultâneo, deverá ser aberto o capital da Caixa Económica a outras instituições, num primeiro momento da área social, perfilando-se já a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (que chegou a mostrar interesse em participar num consórcio para comprar o Novo Banco).
Na sua última entrevista ao Público, o governador Carlos Costa deixou claro que a situação não o preocupa já que, caso surjam necessidades de capital na Caixa Económica, outras instituições podem supri-las, como em qualquer outro banco. A ideia parece ser transformar o Montepio (com uma nova designação) num banco como qualquer outro.
No entanto, esta solução não responde aos problemas que a AM enfrenta, com as avultadas perdas acumuladas nos últimos anos. Na assembleia geral da noite passada, Eugénio Rosa revelou que «muitos associados» lhe têm «perguntado se é possível recuperar a AM da enorme destruição de valor que sofreu». «A minha resposta é afirmativa, mas não com a administração de Tomás Correia», concluiu.
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