A denúncia parte da Sociedade Portuguesa de Reumatologia que, numa avaliação feita nos últimos meses sobre a capacidade dos hospitais públicos, concluiu que 51,8% dos portugueses não tem acesso à especialidade de reumatologia devido à deficiente cobertura da rede hospitalar.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Sociedade de Reumatologia, Luís Cunha Miranda, frisou que são apenas cinco os hospitais do SNS com o quadro completo de especialistas: Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Oeste, Hospital Garcia da Orta, Hospital de Ponte de Lima e São João, no Porto.
O problema não é só de agora, reconhece o médico, indicando que se trata de uma questão quase estrutural, que se tem arrastado ao longo dos anos, e que faz da reumatologia uma especialidade «esquecida e negligenciada».
80
De acordo com a Sociedade de Reumatologia, faltam, pelo menos, mais de 80 especialistas nos hospitais públicos para cobrir as necessidades da população.
Em mais de 40% dos hospitais públicos não há sequer um único especialista em reumatologia. O que significa que cinco milhões de portugueses, metade dos quais com uma doença reumática, não tem acesso a um especialista no SNS.
Isto não ocorre apenas no Interior do país ou em zonas onde tradicionalmente é mais difícil colocar médicos, acrescenta Luís Cunha Miranda, dando como exemplos de unidades sem reumatologistas o Hospital de Guimarães, o Santo António (Porto) e o Amadora-Sintra.
Só na área de abrangência de Amadora e Sintra há 900 mil pessoas que não têm qualquer reumatologista. Luís Cunha Miranda avisa ainda que se vai criar um novo hospital em Sintra, mas que na sua lista de especialidades a abrir não consta a reumatologia, sublinhando que cabe à Administração Central do Sistema de Saúde definir um plano.
«Enorme impacto social e económico»
O presidente da Sociedade recorda que 56% da população portuguesa tem queixas reumáticas, sendo que se estima que 35% dos doentes não sabe que tem uma doença reumática.
Luís Cunha Miranda recorda que as doenças reumáticas têm um enorme impacto social e económico. Só em termos de reformas antecipadas, as doenças reumáticas custam mais de 900 milhões de euros por ano ao Estado, o que significa 0,5% do PIB nacional.
Já o absentismo provocado por doenças reumáticas se traduz em custos de quebra de produtividade de cerca de 200 milhões por ano. «O acesso a um especialista pode ajudar a melhorar a vida dos doentes e pode ajudar a mudar este panorama», considera o médico.
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