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Presença brasileira no Festival de Berlim é de «resistência e luta»

A Berlinale 2020 fica marcada pelo número recorde de filmes brasileiros seleccionados (19) e também pelas críticas dos artistas às políticas do governo de Jair Bolsonaro.

O filme brasileiro «Todos os Mortos» concorre ao Urso de Ouro do Festival de Berlim
Créditos / Brasil de Fato

Com 19 produções e co-produções seleccionadas, a participação brasileira no Festival Internacional de Cinema de Berlim, que decorre até 1 de Março, tem sido um espaço de «resistência do cinema» brasileiro e de críticas dirigidas pela classe artística ao governo de Jair Bolsonaro.

A equipa da longa-metragem Todos os Mortos, que concorre ao Urso de Ouro, o prémio principal do certame, aproveitou a estreia do filme, no sábado passado, para «tecer duras críticas em relação à situação actual do cinema nacional», revela o Brasil de Fato.

Em entrevista ao portal, a produtora, Sara Silveira, afirmou: «Hoje temos uma problema enorme com um presidente de extrema-direita, que ataca a nossa cultura, a nossa educação e o nosso audiovisual.»

Acrescentou que «a indústria brasileira de cinema tem 500 mil pessoas que com ela trabalhavam e trabalham directa ou indirectamente», mas que estão a ser «totalmente tolhidos, freados por um governo que não entende, talvez por lhe faltar inteligência». «Já que são tão neoliberais porque não entendem que proporcionamos empregos, ideias, diversidade e, sobretudo, resistência», destacou a produtora.

Por seu lado, Caetano Gotardo, um dos realizadores do filme, disse ao Brasil de Fato que «existe hoje no Brasil uma tentativa diária para se conter a força expressiva da arte brasileira». Os «artistas estão sendo alvos de ataques directos, de notícias falsas, perseguições pessoais ou perseguições às suas obras e circulação de mentiras», acusou.

Gotardo sublinhou ainda que a presença do maior número de filmes brasileiros neste evento fortalece a classe cinematográfica num momento delicado para o país sul-americano.

«É muito importante haver aqui, em Berlim, todos estes filmes brasileiros; é muito importante o cinema brasileiro estar no cenário internacional e inclusive no cenário nacional, porque isso dá-nos uma sensação da força que tem a arte brasileira e dá-nos energia para lutarmos contra esses ataques cotidianos, inclusive com acenos à censura em certos temas e censura contra certos artistas», frisou.

«Tudo isso estamos vivendo hoje e a nossa presença aqui tem uma força simbólica muito grande, de resistência e de luta, para continuarmos vivendo do nosso trabalho artístico», disse o co-realizador ao Brasil de Fato.

Situação de crise

A crise no cinema brasileiro esteve em destaque, dia 22, no jornal francês Le Monde. O periódico afirmou que o sector vive «uma das piores crises da sua história, ligada à ascensão ao poder do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro».

Destacou o facto de a Ancine (Agência Nacional do Cinema) ser um dos principais alvos do governo, referindo que o orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que permite o financiamento de filmes no Brasil, sofreu um corte de 43% em 2020.

O realizador pernambucano Kleber Mendonça Filho, escolhido para integrar o júri internacional da actual edição do Festival de Berlim, deixou expressa, num encontro com a imprensa, a preocupação com a situação do cinema brasileiro, tendo lembrado que «600 projectos audiovisuais estão neste momento congelados por burocracia».

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