Para debater e entender o processo de «escalada autoritária» a que o Brasil assiste, a Editora Expressão Popular e a Fundação Rosa Luxemburgo uniram-se para realizar o curso, que será on-line, com acesso gratuito e terá início sempre às 19h30.
Participam, como ministrantes, Luís Felipe Miguel, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília e autor do livro Democracia e resistência: desafios para uma política emancipatória, e Maria Caramez Carlotto, professora da Universidade Federal do ABC e membro do grupo de pesquisa Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia, sediado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
De acordo com os docentes, o objectivo do curso é «caminhar sobre o processo que culminou justamente na saída de Rousseff, em 2016, da Presidência do Brasil, e na ascensão do bolsonarismo», noticia o Brasil de Fato.
Os debates também irão girar em torno dos desafios colocados para o futuro pelo actual governo, como o neoliberalismo de Paulo Guedes.
A afirmação é de Carlos Bellé, cuja trajectória de vida se mistura com a da editora Expressão Popular, que ajudou a fundar. São já 20 anos a contribuir para a formação política no Brasil. A livraria e editora Expressão Popular surgiu em 1999 no seio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na sequência da campanha de construção da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Numa entrevista que concedeu ao Brasil de Fato há dois anos, Carlos Bellé, que integra a equipa da editora desde o seu início, falou sobre o seu surgimento: «Estávamos naquele recuo político da queda do Muro de Berlim, do "não existe alternativa", "o capitalismo venceu", "não tem mais outro jeito", "vai ter que viver nessa miséria de divisão da sociedade entre ricos e pobres"», disse, referindo-se ao contexto em que nasce a Expressão Popular. Em seu entender, o surgimento da editora decorreu também do declínio que então se verificava ao nível da formação em organizações populares, sociais e político-partidárias da esquerda brasileira que tinham surgido no período da redemocratização. A Expressão Popular nasceu então com o intuito de «fornecer subsídio político e ideológico para formar a militância e a classe trabalhadora». Bellé sublinha que a editora, com as suas características, «só tem sentido se contribuir para a formação de um militante entendido em todas as suas necessidades, desde a formação humana até a capacitação intelectual e política». O preço acessível dos livros é um objectivos da editorial, para que, assim, possa «apoiar militantes e trabalhadores que queiram aprimorar as suas formações», refere o Brasil de Fato, explicando que muitos autores que «se identificam com a missão da editora e querem contribuir para um projecto de transformação social» não cobram direitos. Ao longo do seu percurso, a Expressão Popular passou por diversos momentos de agitação política, dando sempre o seu contributo para a «disputa de ideias». Quando nasceu, o Brasil passava pelo governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente, durante os governos petistas (2003-2015), assumiu «o papel de debater e ajudar a compreender o modelo de actuação política», apontando temas para a discussão com a militância, refere o portal brasileiro. Mais recentemente, viveu o golpe contra Dilma Rousseff e enfrenta agora o governo de Jair Bolsonaro. «A nossa militância precisa de ler para entender o momento actual, se organizar melhor, desenvolver melhor a luta e projectar uma sociedade alternativa e socialista», afirma Carlos Bellé. Para esse efeito, a editora adequa-se aos períodos históricos que os trabalhadores enfrentam. Miguel Yoshida, coordenador editorial, explica que o processo de escolha dos temas passa pela abordagem à luta de classes contemporânea, à agroecologia, à pedagogia socialista – que abarca as experiências de educação, cultura e literatura emancipadoras ao longo da história – e inclui a publicação de livros clássicos marxistas. Actualmente, a editora conta com 587 títulos publicados, 150 pontos de distribuição em todo o país, e prossegue a missão de chegar a cada vez mais trabalhadores. Entre os autores publicados contam-se Paulo Freire, Florestan Fernandes, Augusto Boal, Ademar Bogo, Eduardo Galeano, Rosa Luxemburgo, entre muitos outros. Em Junho de 2017, nasceu o Clube do Livro. A ideia é criar uma rede de leitores que tenham acesso mensal a títulos, a partir de uma assinatura fixa mensal, a fim de enriquecer os debates políticos sobre a conjuntura. «O Clube é um grande instrumento de formação política em termos de Brasil», diz Bellé. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
«A nossa militância precisa de ler para entender o momento e se organizar melhor»
Duas décadas de vida
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«A ameaça de fechamento autoritário é real e grave, o que dá força ao canto de sereia dos que querem afastar Bolsonaro, mas manter Guedes, por assim dizer: restaurar uma democracia liberal que, no entanto, seja impotente para resistir aos avanços do ultraliberalismo que retira direitos da classe trabalhadora, empobrece o povo e vende o país. É urgente o desafio de pensar a conjuntura na perspectiva do campo popular, tendo como horizonte a construção de um país menos injusto e menos violento», afirma Luís Felipe Miguel.
As aulas serão transmitidas pelas redes sociais da Expressão Popular e da Fundação Rosa Luxemburgo, bem como pela página de Facebook do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
Trata-se do terceiro módulo do Curso Emergências, organizado a partir da colectânea de livros «Coleção Emergências», também publicados pela editora em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo.
Nos módulos anteriores, foram abordados temas relacionados com a Amazónia e as guerras híbridas na América Latina. Os responsáveis pela iniciativa prevêem ainda realizar mais três módulos nos próximos meses.
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