Na terça-feira, funcionários de uma loja da cadeia Fred Meyer, localizada no bairro de Hollywood, em Portland, tiveram de deitar fora milhares de produtos perecíveis porque a loja, como outras na região, foi afectada por um apagão que a deixou sem electricidade, na sequência de uma tempestade.
Nas redes sociais, surgiram imagens e vídeos de dois grandes contentores cheios de comida embalada, pacotes de sumo e produtos lácteos.
Por volta das 14h30, começaram a aparecer pessoas com o intuito de levar alguns dos produtos desperdiçados. Mas, pouco tempo depois, várias pessoas reportaram a presença de agentes da Polícia de Portland junto aos contentores, para as impedir de retirar a comida.
De acordo com a Polícia, os agentes responderam a uma chamada de um funcionário da Fred Meyer, cerca das 16h, na qual este terá afirmado que a situação estava a «ficar fora de controlo». Ainda segundo a Polícia, quando os agentes chegaram ao local, o funcionário disse-lhes que «a comida estava estragada e imprópria para consumo ou doação».
Por seu lado, Morgan Mckniff, residente no bairro, disse que os empregados já estavam a guardar os contentores quando as pessoas apareceram para levar a comida para ali atirada. Então, começou a filmá-los e estes ameaçaram chamar a Polícia – algo que o responsável da loja fez pouco depois, informa The Oregonian.
Ter-se-ão juntado umas 15 pessoas no local, segundo o residente em Hollywood, que acusa a Polícia de ter ido para ali para impedir que elas pudessem levar a comida.
Uma atitude difícil de «racionalizar»
Juniper Simonis, bióloga e jornalista que acorreu ao local para documentar a presença policial, disse que, quando apareceram, os agentes ameaçaram prender quem ali estava e que as pessoas foram para o outro lado da rua, informa o jornal.
Depois de lhes mostrar a carteira de jornalista, Simonis aproximou-se para tirar fotografias, mas a Polícia ameaçou detê-la se não se fosse embora. «Eu estava a documentar a Polícia, não o que estava nos contentores», disse Simonis a The Oregonian.
Os agentes acabaram por se ir embora e, por volta das 18h30, cerca de duas dezenas de pessoas regressaram aos contentores, levando cada qual vários produtos. Os funcionários do Fred Meyer voltaram a chamar a Polícia, mas esta não voltou ao local.
Simonis disse que a comida estava ainda em boas condições, até por causa do muito frio. Tanto ela como Mckniff sublinharam que tentar impedir as pessoas de levar a comida dos contentores é revelador do valor que a cidade atribui à ajuda a quem dela necessita.
As pessoas apareceram porque, com a tempestade e o apagão, muitos ficaram sem nada nos frigoríficos. Simonis sublinha ainda que havia pessoas ali «sem ser por razões egoístas» e que algumas pessoas junto dos contentores fazem parte de grupos que dão ajuda e recursos em centros de acolhimento.
Para a jornalista, é difícil «racionalizar» a acção da Polícia e da loja. «Nada disto faz sentido excepto através da lente do policiamento severamente arraigado e de uma cultura de desrespeito pela dignidade humana», disse.
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