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Filas da fome em Nova Iorque: mais de 1,5 milhão dependem de ajuda

Cerca de 1,5 milhão de nova-iorquinos recorrem aos bancos alimentares para conseguir sobreviver. A pandemia agravou a desigualdade e a pobreza nos EUA: mais oito milhões de pobres desde Maio.

Créditos / @CityHarvest

A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona as debilidades do sistema sanitário e económico nos Estados Unidos da América. Milhões ficaram sem trabalho e viram-se em situação de pobreza. As desigualdades inerentes ao sistema aprofundaram-se e Nova Iorque foi e é uma das cidades mais afectadas.

Na Primavera, numa das fases de maior impacto do surto, muitos agricultores do estado de Nova Iorque viram-se forçados a parar as colheitas ou a deitá-las fora, ao deixarem de ter como escoar a produção, na sequência do encerramento da grande maioria das lojas e restaurantes que abasteciam.

Em Nova Iorque, muitos trabalhadores perderam o emprego e ficaram sem rendimentos, tendo começado a recorrer aos bancos alimentares da cidade para fazer frente à fome e sobreviver.

As filas que então se viam junto aos bancos alimentares – e que hoje continuam a existir – «mostraram que as políticas alimentares para a cidade mais habitada do país eram insuficientes», afirma o portal lacalletv.com, e deixaram ver igualmente que o estado «nunca esteve preparado» para «enfrentar uma crise desta dimensão», também a nível sanitário, «embora o governador Cuomo tenha então afirmado que Nova Iorque tinha o melhor sistema de saúde do país».

Actualmente, cerca de um 1,5 milhão de nova-iorquinos dependem dos bancos alimentares da cidade para poderem subsistir, revelou uma reportagem recente do diário espanhol El País.

Entre Março e Agosto, com a crise sanitária, os bancos alimentares nova-iorquinos receberam 12 milhões de visitas, cerca de três milhões ou 36% mais que o registado em igual período do ano anterior, segundo revelou a organização não governamental City Harvest.

«Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários»

A procura de comida grátis é tal que foi criada uma aplicação online para procurar despensas comunitárias por zonas. Estes dados são reveladores da dimensão da crise que a cidade atravessa, num caldo em que se misturam pandemia de Covid-19, capitalismo, desigualdade, desemprego e pobreza.


Neste contexto, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, realizou um estudo segundo o qual pelo menos oito milhões de norte-americanos passaram a viver em situação de pobreza desde Maio último, quando terminou o plano de ajudas económicas, como um cheque de 1200 dólares e um subsídio extra mensal de 600 dólares para os desempregados.

Em declarações ao jornal espanhol, Jessica Ramos, senadora democrata pelo estado de Nova Iorque, expressou a dimensão «preocupante» da pobreza na cidade: «Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários, e hoje, no melhor dos casos, são vendedores ambulantes e com isso não podem alimentar a sua família», disse, referindo-se ainda a «muitas pessoas que, por não terem documentos, não podem pedir ajuda».

«Ainda que a pandemia seja uma novidade, não o é o défice estrutural, ignorado durante demasiados anos, e que a Covid apenas ajudou a pôr em destaque», afirmou.

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