Gândara
I
Gândara sem uma ruga de vento.
Sol e marasmo.
Silàncio feito de troncos
e de pasmo.
Campos, pinheiros e campos
quietos. Tanto,
o sol parado
encheu-me os olhos de espanto.
II
Sapos Ö beira da lagoa.
Quedos.
As águas negras
fazem dos sapos,
adormecidos em calhaus,
monstros sobre penedos.
Dorida, a terra dorme
a noite duma vez.
E sujo e baáo,
enorme,
anda o luar
sobre a planície de aáo.
III
Já nem as aves cantam pela marÉ cheia
da tarde.
À flor da areia
só o silàncio arde.
IV
Ao lume da estrumeira
lagos esverdeados.
Passam os meninos a tarde inteira
a olhar os lagos encantados.
Os vermes que apodrecem
aconchegam-nos nas mãos avaras:
os dedos dos meninos enegrecem,
os lagos ficam mais claros.
Já esqueceram a lagoa e a maneira
de atirar pedras Ös águas calmas como um manto.
Enfeitiáados, os lagos da estrumeira
trazem-nos naquele encanto.
V
Sol e vento,
lábios de maresia
na lagoa a coalhar,
onda sobre onda, mar
e dia.
VI
À beira de água as vergas.
Verdes, fà-las o frio.
Envergonhadas, despem a verdura
aos olhos do estio.
E verde foi a vida.
Vergas secas sem a asa duma ave.
Só tu. E nos teus braáos
quanta fartura cabe.
VII
Vai na lagoa um cheiro de marÉ,
cheiro de juncos, o que a tarde teve.
Mulheres da monda mondam na marÉ,
de joelhos nus, ao sol dum dia breve.
Aquieta-se em modorra a planície,
os olhos das mulheres gotejam sono.
ê quase raiva a praga que se disse
Ö carne arrepiada do outono.
Asas descem o dia, um olhar estreita
aves e campos. Sob os cÉus doirados,
juncos colhidos a um sol de mágoa.
Corre a lagoa um frio de maleita.
E córas. Os sapos abismados
espreitam teus seios pelo espelho da água.
Carlos Oliveira
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