A Aliança Atlântica move-se em todos os tabuleiros para tirar o máximo partido possível da desorientação em que vive a União Europeia, agravada pelos resultados do referendo que ditaram a saída do Reino Unido.
Mantendo uma neutralidade cúmplice perante as diligências que Hillary Clinton e os seus partidários fazem no sentido de uma intervenção militar aberta dos Estados Unidos no teatro de conflito da Síria, Barack Obama tem dado instruções para que o Pentágono multiplique pressões no sentido de impor a mensagem segundo a qual depois do Brexit a importância da NATO «é maior do que nunca».
O recado começou a fazer o seu caminho ainda antes do referendo britânico, na reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança em 13 e 14 de Junho – e na qual o regime fascista da Ucrânia foi acolhido como se fosse membro de pleno direito –, mas principalmente depois do encontro em Bruxelas entre o secretário de Estado John Kerry e o secretário geral Jens Stoltenberg.
Nesta reunião, realizada em vésperas da cimeira europeia para determinar a estratégia perante a saída do Reino Unido, o secretário de Estado de Obama e o secretário-geral da NATO prepararam a cimeira de Varsóvia mas, sobretudo, a abusiva e provocatória presença de Stoltenberg na própria cimeira da União Europeia. Ao aceitarem esta participação, os chefes de Estado e governo da União Europeia colocaram-se ainda mais sob a tutela do bloco político, militar e económico norte-americano, em fase de reforço devido ao papel crescente da NATO, «maior do que nunca», e à capitulação da União Europeia através do Tratado Transatlântico (TTIP).
«Vinte e sete anos depois de a queda do muro de Berlim ter aberto o caminho à dissolução dos blocos militares, sobretudo a partir da extinção do Tratado de Varsóvia, a importância do papel da NATO «é maior do que nunca», proclamam os dirigentes do atlantismo globalizado.»
A mensagem que Stoltenberg levou à cimeira europeia ilustra a rápida e oportunista estratégia atlantista de adaptação à situação criada pelo Brexit: o Reino Unido sai da União Europeia «mas continua a desempenhar o seu papel dirigente na NATO», pelo que esta Aliança «é mais importante do que nunca, como base de cooperação entre os aliados europeus e entre a Europa e a América do Norte».
Ou seja, o Brexit é usado como mais um pretexto dos Estados Unidos e de Bruxelas para prosseguirem a militarização da União Europeia como entidade subsidiária da Aliança Atlântica, de tal modo que, segundo as evidências, nem se aplicam à vertente belicista as medidas de asfixia orçamental dentro da União, tão rigorosas quando se trata do obsessivo controlo dos défices orçamentais e de sacrificar os cidadãos através da austeridade.
Foi assim que, na mesma reunião de 13 e 14 de Junho, os ministros da Defesa dos membros da NATO não hesitaram em aumentar o orçamento da Aliança em três mil milhões de dólares já este ano, para gastar quase por inteiro nas operações de cerco e provocação à Rússia. Vem a propósito recordar a notícia escabrosa – e ainda não desmentida – do compromisso assumido pelo ministro da Defesa de Portugal de contribuir com 200 mil euros para ajuda militar ao regime golpista e fascista da Ucrânia. Como insulto às vítimas da austeridade e à Constituição da República, o ministro Lopes esmerou-se.
Tanta movimentação e orçamentação da NATO têm objectivos a curto prazo, a adoptar já na cimeira de Varsóvia, e nenhum deles é pacífico a não ser na perspectiva de construir a paz através da guerra, nem que seja com recurso a armas nucleares – nesse caso já seria uma paz dos cemitérios. Objectivos que na agenda de trabalhos aparecem envolvidos no mistificador léxico tecnocrático, mas são resumíveis em palavras cruas e duras: reforçar os dispositivos nucleares da NATO na Europa; aumentar as capacidades operacionais da Aliança no Médio Oriente, em África e na Ásia, neste caso para lá do Afeganistão; integrar cada vez mais as forças europeias na NATO, sob comando operacional dos Estados Unidos.
Vinte e sete anos depois de a queda do muro de Berlim ter aberto o caminho à dissolução dos blocos militares, sobretudo a partir da extinção do Tratado de Varsóvia, a importância do papel da NATO «é maior do que nunca», proclamam os dirigentes do atlantismo globalizado.
Afirmam-no depois de terem absorvido todos os antigos membros do pacto rival, a maioria dos quais agora entregues a governos fascistas, fascizantes e aparentados.
E diz-se que o Brexit foi um terramoto na Europa.
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